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“São José: Caminho para a Misericórdia” #6: V Domingo da Quaresma

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#6: V Domingo da Quaresma

Guião disponível para descarregar aqui.

Pai na coragem criativa | Vestir os nus * Dar bons conselhos

Pai na coragem criativa, in Carta Apostólica Patris Corde, Papa Francisco

Pai na coragem criativa: Se a primeira etapa de toda a verdadeira cura interior é acolher a própria história, ou seja, dar espaço no nosso íntimo até mesmo àquilo que não escolhemos na nossa vida, convém acrescentar outra caraterística importante: a coragem criativa. Esta vem ao de cima sobretudo quando se encontram dificuldades. Com efeito, perante uma dificuldade, pode-se estacar e abandonar o campo, ou tentar vencê-la de algum modo. Às vezes, são precisamente as dificuldades que fazem sair de cada um de nós recursos que nem pensávamos ter.

Frequentemente, ao ler os «Evangelhos da Infância», apetece-nos perguntar por que motivo Deus não interveio de forma direta e clara. Porque Deus intervém por meio de acontecimentos e pessoas: José é o homem por meio de quem Deus cuida dos primórdios da história da redenção; é o verdadeiro «milagre», pelo qual Deus salva o Menino e sua mãe. O Céu intervém, confiando na coragem criativa deste homem que, tendo chegado a Belém e não encontrando alojamento onde Maria possa dar à luz, arranja um estábulo e prepara-o de modo a tornar-se o lugar mais acolhedor possível para o Filho de Deus, que vem ao mundo (cf. Lc 2, 6-7). Face ao perigo iminente de Herodes, que quer matar o Menino, de novo em sonhos José é alertado para O defender e, no coração da noite, organiza a fuga para o Egito (cf. Mt 2, 13-14).

Numa leitura superficial destas narrações, a impressão que se tem é a de que o mundo está à mercê dos fortes e poderosos, mas a «boa notícia» do Evangelho consiste precisamente em mostrar como, não obstante a arrogância e a violência dos dominadores terrenos, Deus encontra sempre a forma de realizar o seu plano de salvação. Às vezes também a nossa vida parece à mercê dos poderes fortes, mas o Evangelho diz-nos que Deus consegue sempre salvar aquilo que conta, desde que usemos a mesma coragem criativa do carpinteiro de Nazaré, o qual sabe transformar um problema numa oportunidade, antepondo sempre a sua confiança na Providência.

Se, em determinadas situações, parece que Deus não nos ajuda, isso não significa que nos tenha abandonado, mas que confia em nós com aquilo que podemos projetar, inventar, encontrar.

Trata-se da mesma coragem criativa demonstrada pelos amigos do paralítico que, desejando levá-lo à presença de Jesus, fizeram-no descer pelo teto (cf. Lc 5, 17-26). A dificuldade não deteve a audácia e obstinação daqueles amigos. Estavam convencidos de que Jesus podia curar o doente e, «não achando por onde introduzi-lo, devido à multidão, subiram ao teto e, através das telhas, desceram-no com a enxerga, para o meio, em frente de Jesus. Vendo a fé daqueles homens, disse: “Homem, os teus pecados estão perdoados”» (5, 19-20). Jesus reconhece a fé criativa com que aqueles homens procuram trazer-Lhe o seu amigo doente.

O Evangelho não dá informações relativas ao tempo que Maria, José e o Menino permaneceram no Egito. Mas certamente tiveram de comer, encontrar uma casa, um emprego. Não é preciso muita imaginação para colmatar o silêncio do Evangelho a tal respeito. A Sagrada Família teve que enfrentar problemas concretos, como todas as outras famílias, como muitos dos nossos irmãos migrantes que ainda hoje arriscam a vida acossados pelas desventuras e a fome. Neste sentido, creio que São José seja verdadeiramente um padroeiro especial para quantos têm que deixar a sua terra por causa das guerras, do ódio, da perseguição e da miséria.

No fim de cada acontecimento que tem José como protagonista, o Evangelho observa que ele se levanta, toma consigo o Menino e sua mãe e faz o que Deus lhe ordenou (cf. Mt 1, 24; 2, 14.21). Com efeito, Jesus e Maria, sua mãe, são o tesouro mais precioso da nossa fé.[21]

No plano da salvação, o Filho não pode ser separado da Mãe, d’Aquela que «avançou pelo caminho da fé, mantendo fielmente a união com seu Filho até à cruz». [22]

Sempre nos devemos interrogar se estamos a proteger com todas as nossas forças Jesus e Maria, que misteriosamente estão confiados à nossa responsabilidade, ao nosso cuidado, à nossa guarda. O Filho do Todo-Poderoso vem ao mundo, assumindo uma condição de grande fragilidade. Necessita de José para ser defendido, protegido, cuidado e criado. Deus confia neste homem, e o mesmo faz Maria que encontra em José aquele que não só Lhe quer salvar a vida, mas sempre A sustentará a Ela e ao Menino. Neste sentido, São José não pode deixar de ser o Guardião da Igreja, porque a Igreja é o prolongamento do Corpo de Cristo na história e ao mesmo tempo, na maternidade da Igreja, espelha-se a maternidade de Maria.[23] José, continuando a proteger a Igreja, continua a proteger o Menino e sua mãe; e também nós, amando a Igreja, continuamos a amar o Menino e sua mãe.

Este Menino é Aquele que dirá: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40). Assim, todo o necessitado, pobre, atribulado, moribundo, forasteiro, recluso, doente são «o Menino» que José continua a guardar. Por isso mesmo, São José é invocado como protetor dos miseráveis, necessitados, exilados, aflitos, pobres, moribundos. E pela mesma razão a Igreja não pode deixar de amar em primeiro lugar os últimos, porque Jesus conferiu-lhes a preferência ao identificar-Se pessoalmente com eles. De José, devemos aprender o mesmo cuidado e responsabilidade: amar o Menino e sua mãe; amar os Sacramentos e a caridade; amar a Igreja e os pobres. Cada uma destas realidades é sempre o Menino e sua mãe.

 


Reflexão de São José

Meus estimados filhos,

Este V Domingo da Quaresma será memorável para todos vós, portugueses, e para todos nós que estamos no céu. Quero manifestar-vos a minha comunhão e ação de graças por poderdes voltar a participar presencialmente na Santa Eucaristia nas vossas comunidades paroquiais. É uma grande alegria! O céu alegra-se convosco. Há um ano que estais a viver em sociedade e na igreja tantas limitações causadas pela pandemia de Covid 19. Mas eu sei que nenhum de vós se resignou, muito pelo contrário, tantas foram as formas como as dioceses, as paróquias, os movimentos e cada um de vós nas vossas famílias se empenharam por fazer um caminho com o meu Filho Jesus, com a minha esposa Maria de Nazaré e comigo neste ano a mim dedicado, com tanta criatividade e dedicação. Sou testemunha de que nenhum de vós se resignou, mas com uma coragem rezada, diria mesmo como afirma o Papa Francisco, com uma “coragem criativa” puderam chegar a tantas pessoas.

No céu testemunhamos como o meu Filho Jesus foi anunciado de forma tão criativa e diversificada, e como cada um de vós fez chegar a sua mensagem às famílias confinadas nas suas casas, aos idosos residentes em lares, aos doentes hospitalizados, aos profissionais de saúde a quem foi dada tanta palavra de conforto, carinho e “companhia” na oração e no encorajamento…. Enfim, o céu é testemunha da vossa criatividade construtiva. Faz-me lembrar as vicissitudes que tive de enfrentar desde que o Senhor Deus de Israel me desafiou a ser o “Guarda do Redentor”: desde o momento da conceção no seio de Maria, passando pelo nascimento de Jesus numa gruta em Belém por não haver lugar na hospedaria, na fuga para o Egipto, na apresentação do Menino no Templo e no encontro com o velho Simeão, na perda e no encontro de Jesus no Templo em Jerusalém entre os doutores da lei e, enfim, em tantos outros desafios que de forma criativa tive, ou melhor, como família tivemos de enfrentar na nossa vida oculta em Nazaré até à manifestação publica de Jesus.

Fomos confrontados a viver com dificuldades e preocupações, mas também, com muitas alegrias e graças que recebíamos do nosso Bom Deus. Aliás, tínhamos Jesus connosco: o Deus que salva. Maria e eu fomos e somos um casal tão abençoado, pois tivemos a graça de viver a experiência de encontro, da adoração e do convívio familiar com o “Esperado das Nações”. Mas tantos foram os desafios que enfrentámos. Partilho convosco dois deles iluminados em duas obras de misericórdia: “vestir os nus” e “dar bons conselhos”.

Quantas pessoas víamos na nossa terra de Nazaré que precisavam de roupa. E nós, humilde e pobre família, tantas vezes também nós necessitados, fomos em auxílio dos mais carenciados, não partilhando o que já não queríamos, mas renunciando ao que gostávamos. Crescemos interiormente na partilha do que mais gostamos: é uma forma de despojamento. Lembro-me de “termos vestido” algumas pessoas que eram marginalizadas pela sua história de vida que estavam manchadas na sua dignidade e nós, com a nossa presença e com nossas as palavras de conforto, “vestíamos cada um deles”. Sim, caros filhos, “vestir os nus” não se pode limitar à partilha de roupa a quem não conhecemos, mas deve alargar-se à possibilidade de podermos dignificar cada pessoa humana, cada pobre no encontro: é o desafio duma pastoral do encontro. Como o Papa Francisco, ao longo destes 8 anos de pontificado, nos tem chamado à atenção deste “vestir os nus”! Esta obra de misericórdia possibilita a restituição da dignidade a todas as pessoas, criadas à imagem e semelhança de Deus. Sim, todas as pessoas!

Aprendemos de Jesus que não só o povo que era erámos descendestes – Povo de Israel –  era querido por Deus, mas todos os outros povos gozavam desta mesma dignidade. Sim, aprendemos isto de Jesus na nossa casa em Nazaré, mas mais tarde o apóstolo S. Paulo irá dizer isso mesmo na sua carta aos Gálatas: «Todos vós sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, porque todos vós que fostes baptizados em Cristo, fostes revestidos de Cristo. Não hã judeu nem grego, não há escrava nem livre, não há homem nem mulher; todos vós sois um só em Cristo Jesus» (Gal 3, 26-28).

E a outra obra de misericórdia: “dar bons conselhos”. Se vivermos centrados em Deus – na humildade de vida e na obediência de querermos cumprir a Sua vontade – estamos familiarizados com o discernimento quotidiano do que Deus quer de nós em cada momento da nossa vida. Este modo de vida constrói-se na oração diária, na vida sacramental, na leitura da Palavra de Deus e no aconselhamento de “bons conselhos” a pessoas que são, para nós, referência humana e espiritual: um diretor espiritual, um amigo, um familiar…. Gostamos de receber bons conselhos de pessoas credíveis pelas suas experiências e testemunhos de vida. Assim devemos ser nós também: na obediência à fé e ao projeto de vida que Deus tem para cada um de nós, temos o dever de ajudar os outros a discernir o caminho que Deus tem para eles. Dar um bom conselho exige de nós oração, humildade e discernimento. Atitudes próprias de quem segue Jesus.

Lembro-me tão bem como, na adoração dos Magos, eu me revia em cada um deles: “prostraram-se e ofereceram”. Sendo eu o pai na obediência e no acolhimento de Jesus, não me arroguei deste privilégio, muito pelo contrário, sempre me prostrei diante de Jesus e adorei-O. Só assim pude dar bons conselhos a todos aqueles que me pediam. Era esta mesma atitude que eu via em Jesus de Nazaré: infância, adolescência e juventude foram vividas na normalidade de vida própria da idade, mas sempre centrada na confiança e na obediência ao Pai. Por isso, tantos foram aqueles que visitaram a nossa casa em Nazaré para nos pedirem “bons conselhos”. Éramos credíveis pelo testemunho da nossa vida pessoal e familiar: modesta, humilde e centrada na oração. Se a nossa casa falasse, bem poderia testemunhar e autenticar o que digo!

Bem, tenho de terminar esta partilha de hoje convosco, mas como me está a fazer bem recordar estas vivências. Como é bom recordar o tempo em que a Sagrada Família viveu a vida oculta em Nazaré. Desafio-vos, meus diletíssimos filhos, a reverem também a vossa história escondida, oculta em Jesus e a porem em prática estas duas obras de misericórdia que vos apresentei: “vestir os nus” e “dar um bom conselho”.

Não se esqueçam que o tempo da Quaresma que estamos a viver é uma excelente oportunidade para cada um de vós se aproximar mais de Deus e de conformar a sua vida com o Evangelho.

Depois, peço-vos que desafieis todos aqueles que vos estão confiados a porem em prática estas mesmas duas obras de misericórdia com diligência, dedicação e empenho. Não se esqueçam que estas obras de misericórdia não se limitam às palavras que parecem dizer, mas com uma coragem criativa, atualizem, nos vossos modos de vida, a possibilidade de viverem com grandeza e fidelidade a sua exigência, adaptadas aos tempos em que vivemos.

Ah, ia-me esquecendo: peçam sempre um bom conselho a quem para vós é uma referência na vivência da vida cristã alicerçada numa espiritualidade encarnada.

Bom regresso às vossas comunidades paroquiais. Será um feliz momento de reencontro com todos os que seguem o meu Filho Jesus até à Pascoa rica em misericórdia. Confessem-se, comunguem Jesus, sejam santos.

 


Sugestão Cultural

Vamos avançando, semana a semana, na direção da festa da Misericórdia. Esta semana começamos por te propor uma Oração de Quaresma e, para além dos pontos que temos vindo a partilhar, deixamos o desafio de 10 atos de misericórdia que podemos experimentar cada dia desta semana.

Como sugestão de leitura partilhamos dois livros com propostas diferentes, uma sobre a Quaresma, de Fabio Bartoli, “Felizmente há a Quaresma!”, e um segundo sobre as Obras de Misericórdia com 14 testemunhos improváveis de Joana Carneiro a João Gil, passando por José Diogo Quintela, Vítor Baía, João Pereira Coutinho ou D. Isabel de Bragança, cada um deles sobre cada uma das obras corporais e espirituais. Finalmente, desafiamos a que pares durante 2 minutos e 48 minutos, e aprecies o Pater Noster gravado na Igreja de São Roque em Lisboa – um momento de serenidade nos nossos acelerados dias…

 

PARA REZAR

Oração de Quaresma

Pai nosso, que estais no céu, durante esta época de arrependimento, tende misericórdia de nós. Com a nossa oração, o nosso jejum e as nossas obras, transformai o nosso egoísmo em generosidade. Abri os nossos corações à vossa palavra, curai as nossas feridas do pecado, ajudai-nos a fazer o bem neste mundo.

Que transformemos a escuridão e a dor em vida e alegria.

Concedei-nos estas coisas por Nosso Senhor Jesus Cristo.

Amén.

 

PARA FAZER

10 Simples Atos de Misericórdia para Todos os Dias

Recuperámos um artigo da Aleteia que ainda vem do Ano da Misericórdia. Embora tendo já terminado esse período, continua viva a necessidade de colocar a nossa compaixão em ação, perdoar os outros e lembrar as providências e misericórdias de Deus. Como disse, então, o Papa Francisco: “Seremos renovados pela misericórdia de Deus… e nos tornaremos agentes dessa misericórdia”.

 

PARA LER

As 14 Obras de Misericórdia de vários autores, Aletheia Editores

“Este livro reúne um conjunto de testemunhos improváveis sobre as 14 obras de misericórdia, a quem foi lançado o desafio de escrever à luz do quotidiano sobre os diferentes actos de misericórdia corporais e espirituais: o chef de cozinha João Pupo Lameiras, dedica-se a «dar de comer a quem tem fome»; a maestrina Joana Carneiro escreve sobre «dar de beber a quem tem sede», a jornalista Inês Teotónio Pereira «veste os nús»; o músico João Gil dá «pousada aos peregrinos»; o jornalista televisivo Júlio Magalhães visita os enfermos; o ex-presidiário e fundador da Amademia Johnson Johnson Semedo visita os presos; o jornalista Pedro Sousa Pereira «enterra os mortos»; enquanto o actor Rúben Gomes dá «bons conselhos»; já o colunista João Pereira Coutinho «ensina os ignorantes»; a professora universitária Felisbela Lopes escreve sobre «corrigir com caridade os que erram»; o humorista José Diogo Quintela consola os aflitos; o ex-futebolista Vítor Baía tem a missão de «perdoar as injúrias»; o cronista Henrique Raposo  suporta «com paciência as fraquezas do nosso próximo; e D. Isabel de Bragança reza «a Deus por vivos e defuntos».”

Pode comprar este livro numa livraria próxima de si, ou online, aqui.

 

Felizmente há a Quaresma! de Fabio Bartoli, Paulinas

Felizmente há a Quaresma! é uma reflexão densa, irresistível e surpreendente sobre as atitudes e os gestos que a Igreja recomenda no tempo quaresmal. Felizmente, ou por graça, há um tempo em que somos convidados a reentrar em nós mesmos. «Tu…tens vontade de culpar o mundo que é mau, a família que te educou, ou a quem te apetecer; no fim, se fores honesto contigo mesmo, não podes deixar de admiti-lo: fui eu, fui eu que errei. Pode parecer uma palavra dura, mas, na realidade, é o pressuposto da salvação, porque, se eu sou responsável, isso significa que posso mudar.» Escrita como uma carta enviada a «Marcos», a quem o padre Bartoli se dirige afetuosamente como a «um dos meus rapazes mais brilhantes, embora, depois de te teres licenciado, te tenhas afastado um pouco…», esta reflexão sobre o significado da Quaresma faz-nos redescobrir os aspetos «fundamentais» da fé cristã.”

Pode comprar este livro numa livraria próxima de si, ou na loja online das Paulinas.

 

PARA ESCUTAR

Pater Noster

 

Quaresma/Páscoa: Dinâmica “São José: Caminho para a Misericórdia”

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16 de Março de 2021