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A Palavra do Papa: a luz que acolhemos, a alegria de dar, a arte desfrutada e o fogo do Espírito

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Na semana em que o Papa assinalou 8 anos de pontificado, realçou o Amor de Deus na doação última e na existência do Espírito Santo. Recebeu o nosso Presidente da República, celebrou pelos 500 anos da evangelização das Filipinas e fez novos apelos à paz no Myanmar, na Síria e no Paraguai.

Francisco recebeu Marcelo Rebelo de Sousa

Na sexta-feira, 12 de março, o Papa Francisco recebeu em audiência, no Vaticano, o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, na sua primeira visita ao exterior depois da reeleição, em janeiro de 2021.

No decorrer do encontro, segundo nota da Sala de Imprensa da Santa Sé, expressou-se satisfação pelas boas relações entre a Santa Sé e Portugal, como também pela contribuição da Igreja à vida do país, com referência especial à gestão da atual crise na área da saúde, à defesa da vida e à pacífica convivência social.

No âmbito da presidência portuguesa da União Europeia, falou-se sobre algumas questões de caráter regional e internacional, entre os quais o multilateralismo, a superação da emergência pandémica e o empenho pela paz.

O Santo Padre presenteou o presidente português com uma coletânea de 7 volumes da sua autoria, uma cópia do Documento sobre a Fraternidade assinado em Abu Dhabi, uma cópia da Mensagem da Paz 2021 assinada e uma escultura em bronze representando um aperto de mãos.

Angelus: a prática do bem sempre vem à luz

Na oração mariana do Angelus do IV Domingo de Quaresma, o Papa Francisco refletiu sobre o Evangelho do dia que nos diz que Deus amou tanto o mundo que entregou o Seu único Filho. Por essa razão é o domingo “Laetare” “, ou seja, “Alegrai-vos”.

O dom de Deus é para que “todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. O Papa explicou que “esta alegre mensagem está no coração da fé cristã: o amor de Deus encontrou o seu ápice ao doar o Filho à humanidade fraca e pecadora”.

Francisco continuou: “Jesus coloca em crise esta expectativa ao se apresentar sob três aspetos: o do Filho do homem exaltado na cruz; o do Filho de Deus enviado ao mundo para a salvação; e o da luz que distingue os que seguem a verdade dos que seguem a mentira”.

Deus Pai ama os homens ao ponto de “dar” o seu Filho: ele o deu na Encarnação e o deu ao entregá-lo à morte. O objetivo do dom de Deus é a vida eterna dos homens: de facto, Deus envia o seu Filho ao mundo não para condená-lo, mas para que o mundo possa ser salvo por meio de Jesus. A missão de Jesus é uma missão de salvação, para todos”.

“A vinda de Jesus ao mundo provoca uma escolha: quem escolhe as trevas enfrentará um julgamento de condenação, quem escolhe a luz terá um julgamento de salvação” afirma o Papa, acrescentando que “o julgamento é a consequência da livre escolha de cada um: quem pratica o mal procura as trevas, quem faz a verdade, ou seja, pratica o bem, vem à luz.”

Nesta Quaresma, afirmou o Santo Padre, somos chamados a fazer isso, ou seja, “aproximarmo-nos da luz para fazer boas obras”. “Acolher a luz na nossa consciência, para abrir os nossos corações ao infinito amor de Deus, à sua misericórdia cheia de ternura e de bondade. Desta forma, encontraremos a verdadeira alegria e poderemos alegrar-nos com o perdão de Deus que regenera e dá vida”.

Depois da oração do Angelus, o Papa Francisco fez um caloroso apelo pela Síria, que no dia 15 completou 10 anos de guerra, nas suas palavras “uma das maiores catástrofes humanitárias do nosso tempo”.

Renovo o meu premente apelo às partes em conflito para que manifestem sinais de boa vontade, de modo a que se possa abrir um sinal de esperança para a população que sofre. Também espero um compromisso decisivo e renovado, construtivo e solidário por parte da comunidade internacional, para que, uma vez depostas as armas, a situação social possa ser melhorada e que seja encaminhada a reconstrução e a recuperação económica”.

Em seguida o Papa convidou todos a rezar pela Síria: “Oremos todos ao Senhor para que tanto sofrimento na nossa amada e atormentada Síria não seja esquecido e que a nossa solidariedade reavive a esperança. Rezemos juntos pela nossa amada e martirizada Síria. Ave Maria…”.

São José: inicia o Ano da Família “Amoris Laetitia”

No final, o Papa recordou ainda o início do Ano da Família “Amoris Laetitia”, na próxima sexta-feira, 19 de março, Solenidade de São José, um “ano especial para crescer no amor familiar”.

Convido a um renovado e criativo impulso pastoral para colocar a família no centro das atenções da Igreja e da sociedade. Rezo para que cada família possa sentir na sua própria casa a presença viva da Sagrada Família de Nazaré, para que ela possa preencher as nossas pequenas comunidades domésticas com amor sincero e generoso, uma fonte de alegria mesmo em provações e dificuldades.”

O Ano da “Família Amoris laetitia” começa justamente no aniversário de 5 anos da Exortação Apostólica do Papa Francisco, ou seja, a 19 de março de 2021. Neste período serão promovidas várias iniciativas além de serem oferecidos subsídios pastorais para se “reencontrar a mensagem do Papa” destinada às famílias. O Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida será o promotor dos eventos durante esse período.

Filipinas: levar o anúncio cristão com amor e alegria

“Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho único” (Jo 3, 16). Aqui está o coração do Evangelho, aqui está o fundamento de nossa alegria”. Foi deste modo que iniciou o Santo Padre a sua homilia na Eucaristia, realizada na manhã deste domingo, na Basílica de São Pedro, por ocasião dos 500 anos da evangelização das Filipinas.

“Primeiramente, Deus amou tanto”, explicou Francisco dizendo que “Ele sempre nos olhou com amor, e por amor veio entre nós na carne de seu Filho. N’Ele veio procurar-nos nos lugares onde estávamos perdidos; n’Ele veio levantar-nos das nossas quedas; n’Ele chorou as nossas lágrimas e curou as nossas feridas; n’Ele abençoou as nossas vidas para sempre.”

Se a escuta do Evangelho e a prática da nossa fé não nos alarga o coração para nos fazer compreender a grandeza deste amor (…) é um sinal de que precisamos parar e ouvir novamente o anúncio da boa nova.”

Ao falar sobre a segunda palavra: Deus “deu” o seu Filho, o Papa disse que “precisamente porque Ele nos ama tanto, Deus doa a si mesmo e nos oferece a sua vida. Quem ama, sempre sai de si mesmo. O amor sempre se oferece, se doa, gasta-se a si mesmo”. “A força do amor – continua o Papa – é precisamente esta: esmigalha a casca do egoísmo, quebra as margens da segurança humana muito calculadas, derruba muros e supera medos, para se fazer dom”.

Para Francisco “quanto mais se ama mais somos capazes de doar”, afirmando que esta é a chave para compreender a nossa vida porque: “O que conta não é apenas o que podemos produzir ou ganhar, mas acima de tudo o amor que sabemos dar”. “Esta é a fonte da alegria!”

Ao falar sobre o primeiro anúncio cristão nas Filipinas, o Sumo Pontífice afirmou que esta “alegria pode ser vista no vosso povo, pode ser vista nos seus olhos, nos seus rostos, nos seus cantos e nas suas orações. Quero agradecer-lhes pela alegria que vocês levam ao mundo inteiro e às comunidades cristãs.”

Neste aniversário, o Papa exorta os filipinos a não pararem a sua obra de evangelização, que não é proselitismo. “Se Deus ama tanto que Ele mesmo se doa, também a Igreja tem esta missão: ela não é enviada para julgar, mas para acolher; não para impor, mas para semear; não para condenar, mas para levar Cristo que é salvação”, concluiu.

Palácio Lateranense: “que a arte e a beleza sejam desfrutadas”

Em carta dirigida ao Vigário da Diocese de Roma, Francisco destinou os edifícios anexos à Basílica Papal de São João de Latrão para atividades museológicas e culturais. A estrutura é conhecida há séculos como o Patriarcado Lateranense.

“A Igreja ao longo dos séculos sempre trabalhou para promover o que é fruto do génio e do domínio dos artistas, muitas vezes um testemunho de experiências de fé e como instrumentos para dar honra a Deus. Isto foi feito não apenas por amor à arte, mas também para salvaguardar o património cultural diante de desafios e perigos que o teriam privado da sua função e valor”. Assim começa a Carta escrita pelo Papa Francisco ao Cardeal Vigário de Roma Angelo De Donatis.

“Tal responsabilidade especial, acompanhada de cuidadosa solicitude em considerar lugares, edifícios e obras como expressões do espírito humano e parte integrante da cultura da humanidade, permitiu aos meus antecessores”, escreve o Papa na carta, “entregá-los às várias gerações e trabalhar para preservá-los e torná-los disponíveis aos visitantes e estudiosos. Uma tarefa que hoje também compromete o Bispo de Roma em tornar utilizável a beleza e a importância dos bens e do património artístico confiado à sua proteção”.

“Confio a Vossa Eminência, meu Vigário para a Diocese de Roma, a tarefa de realizar, no complexo que foi conhecido durante séculos como o Patriarcado Lateranense, atividades museológicas e culturais nas diversas formas e conteúdos, dando o arranjo que for necessário “confiando nas nobres tradições artísticas que a Igreja Católica ostenta” (Tratado de Latrão, art. 16), autoriza o Sumo Pontífice.

Audiência-Geral o Espírito Santo é a memória de Deus em nós

O Papa Francisco concluiu as catequeses sobre o tema da oração na Audiência Geral desta quarta-feira, realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico, intitulada “A oração e a Trindade”.

O primeiro dom de cada existência cristã é o Espírito Santo. Não é um dos muitos dons, mas o Dom fundamental. O Espírito é o dom que Jesus prometeu enviar. Sem o Espírito, não há relação com Cristo e com o Pai. Porque o Espírito abre o nosso coração à presença de Deus e atrai-o para aquele “vórtice” de amor que é o coração do próprio Deus.”

“Todo trabalho espiritual dentro de nós em relação a Deus é obra do Espírito Santo. Ele trabalha em nós para levar adiante a nossa vida cristã em direção ao Pai com Jesus”, disse ainda o Papa.

“Podemos dizer que é a nossa memória trinitária, a memória de Deus em nós, e que torna presente a Jesus, para que não seja reduzido a um personagem do passado, ou seja, o Espírito traz no presente Jesus em nossa consciência. Se Cristo estivesse apenas distante no tempo, estaríamos sozinhos e desorientados no mundo. Sim, recordaremos Jesus, distante, mas é o Espírito que o traz hoje, agora, neste momento no meu coração. No Espírito tudo é vivificado: está aberta aos cristãos de todos os tempos e lugares está aberta a possibilidade de encontrar Cristo.”

Francisco disse ainda que “a primeira tarefa dos cristãos é precisamente manter vivo este fogo, que Jesus trouxe à terra. E qual é este fogo? O Amor de Deus, o Espírito Santo. Sem o fogo do Espírito, as profecias extinguem-se, a tristeza suplanta a alegria, o hábito substitui o amor, o serviço transforma-se em escravidão.”

Muitas vezes acontece que não rezamos, ou não temos vontade de rezar, ou não sabemos ou rezamos como papagaios, com a boca, mas o coração distante. Este é momento de dizer ao Espírito Santo: Vem, vem Espírito Santo, aquece o meu coração. Vem e ensina-me a rezar, ensina-me a olhar o pai, a olhar o filho. Ensina-me o caminho da fé. Ensina-me como amar, sobretudo ensina-me a ter um comportamento de esperança. Invocar o Espírito continuamente para que esteja presente na nossa vida.”

“Portanto, é o Espírito que escreve a história da Igreja e do mundo. Nós somos páginas abertas, disponíveis para receber a sua caligrafia. E em cada um de nós o Espírito compõe obras originais, porque nunca há um cristão que seja completamente idêntico a outro.”

“Não nos esqueçamos: o Espírito está presente em nós, invoquemos o Espírito. Ele é o presente que Deus nos deu. Espírito Santo não sei qual é o teu rosto, mas sei que Tu és a minha força, a minha luz, vem Espírito Santo”, concluiu o Papa.

No final da Audiência Geral, o Papa Francisco fez um dramático apelo pelo fim da violência em Myanmar, que tem vitimado especialmente muitos jovens. E a exemplo das cenas de religiosos ajoelhados suplicando a polícias birmaneses para evitar a violência, Francisco disse que também ele estende os seus braços e pede que “prevaleça o diálogo”:

Mais uma vez e com grande tristeza, sinto a urgência de evocar a dramática situação em Myanmar, onde muitas pessoas, especialmente jovens, estão a perder a vida por oferecer esperança ao seu país. Eu também me ajoelho nas ruas de Myanmar e digo: pare a violência! Também eu estendo os meus braços e digo: prevaleça o diálogo!”

O Papa Francisco também manifestou a sua preocupação com as notícias que chegam do Paraguai, para as quais o Santo Padre pede “um caminho de diálogo sincero a fim de encontrar soluções adequadas para as dificuldades atuais, e assim construir juntos a paz tão almejada. Lembremos que a violência é sempre autodestrutiva. Através dela nada se ganha, mas muito se perde” disse o Santo Padre.

De facto, milhares de paraguaianos têm vindo a protestar nas ruas há dias e tem havido confrontos violentos com a polícia para exigir a renúncia do presidente Mario Abdo Benítez, uma vez que consideram ser má a administração do governo em relação à crise sanitária e económica resultante da pandemia do coronavírus.

JM (com recursos da agência noticiosa Vatican News)

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17 de Março de 2021