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A Palavra do Papa: o coração de pai, o silêncio de Maria, a cruz, o mestre e o poeta da misericórdia

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Os últimos dias foram marcados pelo início do Ano da Família “Amoris Laetitia”. O Papa convidou ainda a rezar com Maria, condenou as mais recentes manifestações de racismo, enalteceu as figuras de São Afonso de Ligório e Dante Alighieri.

Vocações: São José, Santo da porta ao lado e guardião das vocações

Foi divulgada, na passada sexta-feira, 19 de março, a mensagem do Papa Francisco para o 58º Dia Mundial de Oração pelas Vocações que será celebrado a 25 de abril próximo, IV Domingo de Páscoa.

Intitulada «São José: o sonho da vocação», a mensagem recorda que o Pai putativo de Jesus é uma “figura extraordinária e, ao mesmo tempo, «tão próxima da condição humana de cada um de nós», escreve o Papa, citando um trecho da introdução da Carta Apostólica Patris Corde.

São José não sobressaía, não estava dotado de particulares carismas, não se apresentava especial aos olhos de quem se cruzava com ele. Não era famoso, nem se fazia notar: dele, os Evangelhos não transcrevem uma palavra sequer. Contudo, através da sua vida normal, realizou algo de extraordinário aos olhos de Deus. Deus vê o coração e, em São José, reconheceu um coração de pai, capaz de dar e gerar vida no dia a dia. É isto que as vocações tendem a fazer: gerar e regenerar vidas todos os dias”, ressalta o Papa no texto.

Na mensagem, o Papa apresenta a vida de São José em função de três palavras-chave: o sonho de amor, que dá sentido à vida; o serviço como regra de vida diária e dom de sim mesmo; e a fidelidade, segredo da alegria.

Como diz um hino litúrgico, na casa de Nazaré reinava «uma alegria cristalina». Era a alegria diária e transparente da simplicidade, a alegria que sente quem guarda o que conta: a proximidade fiel a Deus e ao próximo.”

“Como seria belo se a mesma atmosfera simples e radiante, sóbria e esperançosa, permeasse os nossos seminários, os nossos institutos religiosos, as nossas residências paroquiais!”, assume Francisco.

Francisco: ouvir o grito dos pobres faz-nos partícipes de um mundo melhor

Testemunhar Cristo com competência e profissionalismo, oferecendo à Igreja apoio voluntário para o desenvolvimento humano integral. Este é o trabalho realizado há quarenta anos pela FIDESCO – Federação Internacional para o Desenvolvimento Económico e Social através da Cooperação – uma ONG católica voluntária, nascida da Comunidade Emmanuel em 1981 e atualmente em atividade em quatro continentes.

Em peregrinação nestes dias a Roma, uma representação de voluntários e dirigentes foi recebida na manhã de sábado em audiência pelo Papa.

Segundo o pontífice, tratam-se de “homens e mulheres em busca do “bem dos outros”, dos irmãos e irmãs “mais distantes, menos afortunados, mais desfavorecidos, com menos oportunidades que vocês, mas igualmente amados por Deus e dotados de dignidade”.

Diante deste compromisso que há quarenta anos marca a vida dos voluntários da FIDESCO, o Papa expressa o seu agradecimento pela missão encarnada com “ternura e compaixão” e pelo testemunho “dado a Cristo”, e encoraja todos a perseverarem neste caminho “permanecendo enraizados na doutrina social da Igreja”.

“Hoje é mais importante do que nunca que os fiéis de Cristo sejam testemunhas de ternura e compaixão. Ouvir o grito dos pobres que ressoa dentro de nós, deixar-se provocar pelo sofrimento dos outros e decidir sair para tocar as suas feridas – que são as feridas de Cristo – não só nos faz participar da construção de um mundo mais bonito, mais fraterno, mais evangélico, mas fortalece a Igreja na sua missão de apressar o estabelecimento do Reino de Deus”.

Knock: o silêncio de Nossa Senhora

Numa mensagem de vídeo divulgada esta sexta-feira, 19 de março, por ocasião da elevação do Santuário de Nossa Senhora de Knock a Santuário Mariano e Eucarístico Internacional, o Papa Francisco recorda que “desde a aparição de 21 de agosto de 1879, quando a Virgem Maria apareceu a alguns habitantes do povoado de Knock juntamente com São José e São João Apóstolo, o povo irlandês expressou a sua devoção aonde quer que esteja”.  

“Vocês foram um povo de missionários. É bom lembrar quantos sacerdotes deixaram as suas terras para se tornarem evangelizadores. Também não podemos esquecer os muitos leigos que emigraram para tantas terras e mantiveram viva a sua devoção a Nossa Senhora de Knock.”

Elevar o Santuário Nacional de Nossa Senhora de Knock a Santuário Internacional de especial devoção eucarística e mariana é uma grande responsabilidade”, afirma o Papa, recordando que os irlandeses se “comprometem a estar sempre de braços abertos” para acolher todo o peregrino, “reconhecendo-o como irmão e irmã que deseja partilhar a mesma experiência de oração em fraternidade comum”.

“Que o mistério da Eucaristia que nos une em comunhão com o Senhor Ressuscitado e uns com os outros seja sempre o sustento para viver fielmente a nossa vocação de discípulos missionários, assim como foi a Virgem Maria, que se tornou peregrina do Evangelho de seu Filho. Que ela nos proteja e nos console com seu rosto misericordioso”, conclui Francisco.

Ano da Família: “a Igreja está com vocês”

Somos chamados a acompanhar, a ouvir, a abençoar o caminho das famílias; não apenas a delinear a direção, mas a fazer o caminho com elas; a entrar nas casas com discrição e com amor, para dizer aos esposos: a Igreja está com vocês, o Senhor se faz próximo de vocês, queremos ajudá-los a custodiar o dom que receberam.”

É o que diz o Papa Francisco na mensagem enviada aos participantes no Simpósio “O nosso amor quotidiano”, organizado pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida junto com a Diocese de Roma e o Pontifício Instituto Teológico João Paulo II, para abrir o Ano do Família, por ocasião do quinto aniversário de publicação da Amoris laetitia, esta sexta-feira, 19 de março, na solenidade de São José.

O Papa enfatiza que o Ano dedicado à família será um tempo propício para levar adiante a reflexão sobre a Exortação apostólica pós-sinodal Amoris laetitia. Olhando para estes cinco anos transcorridos, o Santo Padre afirma que a exortação traçou o início de um caminho buscando incentivar uma nova abordagem pastoral para a realidade da família. “A principal intenção do Documento – destaca – é comunicar, num tempo e cultura profundamente mudados, que hoje é necessário um novo olhar sobre a família por parte da Igreja.”

“Não basta reiterar o valor e a importância da doutrina, se não nos tornarmos guardiões da beleza da família e cuidar compassivamente da sua fragilidade e das suas feridas”, prossegue o Papa na sua mensagem, destacando que a franqueza do anúncio evangélico e a ternura do acompanhamento são os dois aspetos coração de toda pastoral familiar.

“Por um lado – realça -, anunciamos aos casais, aos cônjuges e às famílias uma Palavra que os ajuda a compreender o significado autêntico de sua união e de seu amor, sinal e imagem do amor trinitário e da aliança entre Cristo e a Igreja.”

“Apoiemos a família! Defendamo-la daquilo que compromete sua beleza. Aproximemo-nos deste mistério de amor com admiração, discrição e ternura. E nos comprometamos a salvaguardar seus preciosos e delicados laços: filhos, pais, avós… Há necessidade desses laços para viver e viver bem, para tornar a humanidade mais fraterna” conclui o Papa.

O Papa Francisco: quem quiser ver Jesus, olhe para a cruz

No Angelus deste domingo o Papa recordou “a grande responsabilidade de nós cristãos e das nossas comunidades”. Nós também”, frisou o Pontífice, “devemos responder com o testemunho de uma vida que se doa no serviço”. “Enquanto a semente morre, é o momento em que a vida brota”.

Ainda hoje muitas pessoas, muitas vezes sem dizer isso, de forma implícita, gostariam de “ver Jesus”, encontrá-lo, conhecê-lo. Disso compreendemos a grande responsabilidade de nós cristãos e das nossas comunidades. Também nós devemos responder com o testemunho de uma vida que se doa no serviço.”

“Não com condenações teóricas, mas com gestos de amor”. Então o Senhor, com a sua graça, faz-nos dar frutos, mesmo quando o terreno é árido por causa de incompreensões, dificuldades ou perseguições ou pretensões de moralismos clericais: este é um terreno árido. Precisamente, então na provação e na solidão, enquanto a semente morre, é o momento – enfatiza o Papa – no qual a vida brota, para produzir frutos maduros em seu próprio tempo.

É neste entrelaçamento de morte e vida – continuou o Papa – que podemos experimentar a alegria e a verdadeira fecundidade do amor que sempre se doa no estilo de Deus.

Faz-nos pensar no sinal da cruz, – continuou o Papa – que ao longo dos séculos se tornou o emblema por excelência dos cristãos. Aqueles que querem “ver Jesus” hoje, talvez vindo de países e culturas onde o cristianismo é pouco conhecido, o que eles veem antes de tudo? Qual é o sinal mais comum que eles encontram? O crucifixo. Nas igrejas, nos lares dos cristãos, até mesmo usando no seu próprio corpo. O importante é que o sinal seja coerente com o Evangelho: a cruz não pode deixar de expressar o amor, o serviço, o dom de si sem reservas. Só assim é verdadeiramente a “árvore da vida”, da vida superabundante.

Francisco: o racismo e a água

Por ocasião do Dia Internacional para a eliminação da discriminação racial, o Pontífice enfatizou no Twitter que “as expressões de racismo renovam em nós a vergonha”.

O racismo é um vírus que se transforma facilmente e, em vez de desaparecer, se esconde, mas está sempre à espreita. As manifestações de racismo renovam em nós a vergonha, demonstrando que os progressos da sociedade não estão assegurados de uma vez por todas”.

Já no Dia Mundial da Água, numa mensagem em nome de Francisco, assinada pelo cardeal Parolin e dirigida aos responsáveis da FAO e da UNESCO, o Pontífice reitera o valor deste recurso indispensável, a urgência de mudar os estilos de vida e a linguagem para protegê-la, e a necessidade de uma colaboração global para permitir sua distribuição justa em qualidade e quantidade em todo o mundo.

Santo Afonso de Ligório: “pai e mestre de misericórdia”

O Papa Francisco enviou uma mensagem ao Superior Geral da Congregação do Santíssimo Redentor (Congregação dos Redentoristas), padre Michael Brehl, por ocasião dos 150 anos da proclamação de Santo Afonso Maria de Ligório como Doutor da Igreja, feita pelo Papa Pio IX a 23 de março de 1871.

Cento e cinquenta anos após esta alegre data, a mensagem de Santo Afonso Maria de Ligório, patrono dos confessores e moralistas, e modelo para toda a Igreja em saída missionária, indica ainda vigorosamente a estrada-guia para aproximar as consciências do rosto acolhedor do Pai, pois “a salvação que Deus nos oferece é a obra da sua misericórdia”, afirma o Santo Padre na sua mensagem.

A experiência missionária nas periferias existenciais do seu tempo, a busca dos distantes e a escuta das confissões, a fundação e liderança da nascente Congregação do Santíssimo Redentor, e ainda as responsabilidades como Bispo de uma Igreja particular, o levaram a tornar-se pai e mestre de misericórdia, certo de que o “paraíso de Deus é o coração do homem”, lê-se.

Neste aniversário especial, conclui Francisco, “encorajo a Congregação do Santíssimo Redentor e a Pontifícia Academia Afonsiana, como sua expressão e centro de alta formação teológica e apostólica, a colocar-se em diálogo construtivo com todas as instâncias provenientes de cada cultura, a fim de buscar respostas apostólicas, morais e espirituais em favor da fragilidade humana, sabendo que o diálogo é marturya”.

Audiência Geral: Maria estava e está presente na oração

“Rezar em comunhão com Maria” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, 24 de março, véspera da Solenidade da Anunciação.

“Cristo é o Mediador, Cristo é a ponte que atravessamos para nos dirigirmos ao Pai” explicou o Papa, salientando que “da mediação única de Cristo adquirem significado e valor as outras referências que o cristão encontra para a sua oração e devoção, em primeiro lugar à Virgem Maria, a mãe de Jesus”, disse ainda o Papa. “Ela ocupa um lugar privilegiado na vida e, portanto, também na oração do cristão, porque é a Mãe de Jesus. As Igrejas do Oriente representaram-na frequentemente como a Odigitria, aquela que “indica o caminho”, ou seja, o Filho Jesus Cristo”.

Segundo Francisco, “este é o papel que Maria desempenhou ao longo de toda a sua vida terrena e que conserva para sempre: ser a humilde serva do Senhor. Numa certa altura, nos Evangelhos, Ela parece quase desaparecer; mas volta nos momentos cruciais, como em Caná, quando o Filho, graças à sua intervenção solícita, fez o primeiro “sinal”, e depois no Gólgota, ao pé da Cruz”.

“Jesus estendeu a maternidade de Maria a toda a Igreja quando lhe confiou o discípulo amado, pouco antes de morrer na cruz. A partir daquele momento, fomos todos colocados debaixo do seu manto, como vemos em certos afrescos ou quadros medievais.”

Maria está sempre ali, com a sua ternura maternal. As orações a Ela dirigidas não são vãs. Mulher do “sim”, que aceitou prontamente o convite do Anjo, responde também às nossas súplicas, ouve as nossas vozes, até aquelas que permanecem fechadas no coração, que não têm a força para sair mas que Deus conhece melhor do que nós”, disse o Papa na sua catequese.

“Maria está sempre presente à cabeceira dos seus filhos que deixam este mundo. Se alguém se encontra sozinho e abandonado, Ela está ali perto, tal como estava próxima do seu Filho quando todos o tinham abandonado”, acrescentou ainda o Santo Padre.

No final da Audiência Geral, Francisco recordou as vítimas dos recentes ataques no Níger, das recentres inundações na Austrália e o Dia Mundial de Luta contra a tuberculose, celebrado na quarta-feira.

Dante, profeta de esperança e poeta da misericórdia

Na Carta apostólica “Candor lucis aeternae”, publicada esta quinta-feira, o Papa recorda o VII centenário da morte de Dante Alighieri, destacando a atualidade, a perenidade e a profundidade de fé da “Divina Comédia”.

Passados 700 anos da sua morte, ocorrida em 1321 em Ravena, em doloroso exílio da amada Florença, Dante ainda nos fala. Fala a nós, homens e mulheres de hoje, e pede-nos para não somente ser lido e estudado, mas também, e sobretudo, ouvido e imitado no seu caminho rumo à felicidade, isto é, ao Amor infinito e eterno de Deus.”

Dividida em nove parágrafos, a Carta apostólica abre-se com uma breve revisão do pensamento de diversos Pontífices sobre Dante. Na sequência, o Papa detém-se sobre a vida de Alighieri, definindo-a “paradigma da condição humana” e destacando “a atualidade e a perenidade” da sua obra. Esta, com efeito, é “parte integrante da nossa cultura – escreve o Papa –, remete-nos para as raízes cristãs da Europa e do Ocidente, representa o património de ideais e valores” propostos também hoje pela Igreja e pela sociedade civil como “base da convivência humana”, na qual podemos e devemos “reconhecer-nos todos irmãos”.

Dois são os temas centrais da “Divina Comédia” – explica ainda Francisco – ou seja, “o desejo, presente no ânimo humano” e “a felicidade, dada pela visão do Amor que é Deus”.

Por isso, Dante é “profeta de esperança”: porque com a sua obra, impulsiona a humanidade a libertar-se da “selva escura” do pecado para reencontrar “a reta via” e alcançar, assim, a “plenitude de vida na história” e a “bem-aventurança eterna em Deus”.  O caminho indicado por Dante, uma verdadeira “peregrinação” – evidencia o Pontífice – é “realista e possível” para todos, porque “a misericórdia de Deus oferece sempre a possibilidade de mudar, converter-se”.

JM (com recursos aos conteúdos noticiosos do portal Vatican News)

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25 de Março de 2021