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Páscoa: “Celebração de Libertação, Solidariedade e Esperança” – Mensagem de D. José Ornelas, Bispo de Setúbal

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Páscoa da Ressurreição do Senhor

Desde as suas origens até hoje, a Páscoa tem sempre o gosto amargo e, por vezes, dramático das situações difíceis de onde parte, mas igualmente da doçura e da energia do tempo novo a que dá origem para a renovação da vida e da esperança. A origem bíblica da nossa celebração da Páscoa parte de uma situação de escravidão, de sofrimento e de opressão e cria um processo de libertação, dignificação e novo mundo, com um povo renovado. Esta festa de primavera é como que uma “passagem” entre essas duas situações. Nela se narra e celebra que Deus “passou” na terra da escravidão, libertou aqueles que se encontravam humilhados e aflitos, restituindo-lhes dignidade e capacidade para enfrentarem as dificuldades do deserto, e formarem juntos um povo livre, marcado pela justiça, a solidariedade e a paz, como sinal da sua presença no mundo.

A Páscoa cristã, tem o mesmo dinamismo libertador de Deus, agora realizado em Cristo. Ele assumiu o nosso drama de dor, injustiça, fome e guerra, passou através do drama da nossa morte e abre, para cada pessoa e para todos, as portas da fraternidade, da alegria e da vida sem limites, nas mãos de Deus poderoso e misericordioso. É isso que celebramos e anunciamos, particularmente nestes dias solenes da Páscoa.

Ao longo dos séculos, através dos diferentes povos e culturas, a Páscoa assume, em cada ano, as dores e alegrias da humanidade; iluminando-as com a luz do Senhor Jesus, morto e ressuscitado, indicando e tornando possível o fundamento da esperança, para reconstruir as ruínas e construir o futuro sobre o fundamento da Palavra de Deus e do seu Espírito. O fruto da Páscoa vem de Deus, pois só Ele pode dar a vida sem limites, mas é igualmente obra de cada pessoa que acolhe e se deixa transformar por este anúncio.

Este ano, já na segunda Páscoa marcada pela pandemia que está sufocando o mundo inteiro, bem precisamos desta mensagem da presença libertadora do Senhor ressuscitado, no qual se pode encontrar força e luz para vencer as enormes dificuldades em que fomos mergulhados e para encontrar caminhos de verdadeira reconstrução e de esperança, geradores de novas soluções para o futuro.

Como na Páscoa de Jesus, partimos de uma situação difícil e universal. No contacto com Ele, deixamo-nos transformar, para não fechar os olhos à crise que nos afeta e para encetar o caminho do futuro. Não fechamos o coração aos que partiram, vítimas do vírus e de outras doenças e crises; entregamo-los nas mãos do Senhor que é mais poderoso do que a morte e dá também esperança aos que choram a sua perda e sentem a sua falta. Não voltamos as costas a quem foi afetado pela crise sanitária e económica, afetiva e religiosa, e encara o futuro com grande preocupação e menos esperança. O pão que recebemos e ganhamos, o amor que nos reúne e nos dá força, deve ser repartido. A fé que professamos e celebramos é para ser anunciada e partilhada, de modo a que ninguém seja excluído do difícil mas dignificador caminho da reconstrução pessoal, da família, do trabalho digno, dos afetos, da presença viva e transformadora de Deus.

Este ano, celebramos a Páscoa ainda com limitações, que são sinal da nossa participação responsável no esforço comum de superar a crise, mas também na alegria pela presença do Senhor Ressuscitado entre nós, na esperança ativa e no compromisso concreto de construir um mundo onde todos possamos fazer parte de uma sociedade mais fraterna e solidária, aberta à Alegria do Senhor Ressuscitado.

Desejo a todos uma Feliz Páscoa da Ressurreição!

+ José Ornelas Carvalho

Bispo de Setúbal

 

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31 de Março de 2021