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A Palavra do Papa: os dons da Misericórdia, a “mulher excecional” e a grande escola de oração

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Nestes dias, o Santo Padre exortou a que tenhamos uma fé em doação. “As mudanças na Igreja sem oração não são mudanças na Igreja. São mudanças de grupo”, afirmou na Audiência Geral.

Divina Misericórdia: “não vivamos uma fé pela metade”

O Papa Francisco presidiu à celebração eucarística no II Domingo de Páscoa, 11 de abril, Domingo da Divina Misericórdia, na Igreja de Santo Espírito, em Sassia, Santuário da Divina Misericórdia, localizado nas proximidades do Vaticano.

Jesus ressuscitado aparece aos discípulos várias vezes; com paciência, conforta os seus corações desanimados. E assim, depois da sua ressurreição, realiza a «ressurreição dos discípulos». Na Páscoa, “Jesus levanta-os com a misericórdia; eles, obtendo misericórdia, tornam-se misericordiosos”, disse Francisco na sua homilia.

Segundo o Papa, “os discípulos obtêm a misericórdia mediante três dons: Jesus oferece-lhes a paz, depois o Espírito e, por fim, as chagas”.

Em primeiro lugar, dá-lhes a paz. Segundo o Papa, não uma paz que “elimina os problemas, mas uma paz que infunde confiança dentro. Não uma paz exterior, mas a paz do coração. Aqueles discípulos desanimados recuperam a paz consigo mesmos. A paz de Jesus suscita a missão. Não é tranquilidade, nem comodidade; é sair de si mesmo.”

Em segundo lugar, Jesus usa de misericórdia com os discípulos oferecendo-lhes o Espírito Santo. Dá a eles a remissão dos pecados. “Temos sempre diante de nós o nosso pecado. Sozinhos, não podemos cancelá-lo. Só Deus o elimina; só Ele, com a sua misericórdia, faz-nos sair das nossas misérias mais profundas. Como aqueles discípulos, precisamos de nos deixar perdoar. O perdão no Espírito Santo é o dom pascal para ressuscitar interiormente”, disse ainda o Pontífice.

Neste momento, Francisco exortou os presentes a pedir a graça de acolher o Sacramento do Perdão, “não para nos deprimir mas para fazer-nos levantar” pois “é o Sacramento da ressurreição, é pura misericórdia”.

O terceiro dom, segundo o Papa, são as chagas, “canais abertos entre Ele e nós, que derramam misericórdia sobre as nossas misérias. São os caminhos que Deus nos patenteou para entrarmos na sua ternura e tocar com a mão quem é Ele”.

Tendo obtido misericórdia, os discípulos tornaram-se misericordiosos. Como conseguiram mudar assim? “Viram no outro a mesma misericórdia que transformou a sua vida. Descobriram que tinham em comum a missão, o perdão e o Corpo de Jesus: a partilha dos bens terrenos aparecia-lhes como uma consequência natural. Os seus medos dissolveram-se ao tocar as chagas do Senhor, agora não têm medo de curar as chagas dos necessitados, porque ali veem Jesus, porque ali está Jesus”, disse o Papa.

“Não vivamos uma fé pela metade, que recebe mas não doa, que acolhe o dom mas não se faz dom. Obtivemos misericórdia, tornemo-nos misericordiosos. Com efeito, se o amor acaba em nós mesmos, a fé evapora-se num intimismo estéril. Sem os outros, torna-se desencarnada. Sem as obras de misericórdia, morre. Deixemo-nos ressuscitar pela paz, o perdão e as chagas de Jesus misericordioso. E peçamos a graça de nos tornar testemunhas de misericórdia. Só assim será viva a fé; e a vida unificada. Só assim anunciaremos o Evangelho de Deus, que é Evangelho de misericórdia” concluiu a homilia.

Ao final da missa, o Papa Francisco rezou a oração do Regina Coeli e agradeceu “a todos aqueles que colaboraram para prepará-la e transmiti-la ao vivo”. Saudou também todos aqueles que participaram da celebração através dos meios de comunicação e os presentes na celebração.

O pesar do Papa pela morte do Príncipe Filipe

O Sumo Pontífice endereçou à Rainha Isabel II uma mensagem de condolências pelo falecimento do seu consorte, Príncipe Filipe, Duque de Edimburgo, aos 99 anos.

O Papa Francisco enviou um telegrama de pesar, assinado pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, no qual expressa as mais sinceras condolências à Sua Majestade e aos membros da Família Real.

“Lembrando a dedicação do príncipe Felipe ao matrimónio e à família, sua eminente história de serviço público e o seu compromisso com a educação e a promoção das gerações futuras”, o Papa “o confia ao amor misericordioso de Cristo nosso Redentor”.

Sobre a Rainha e todos aqueles que choram a morte do Príncipe Filipe na esperança segura da Ressurreição, Francisco invoca as bênçãos de consolação e paz do Senhor.

Colômbia: a proximidade do Papa às vítimas da violência

Num telegrama assinado pelo Secretário de Estado Vaticano Pietro Parolin e dirigido ao presidente da Conferência Episcopal Colombiana, D. Oscar Urbina Ortega, arcebispo de Villavicencio, Francisco recorda a situação dramática na parte sul da Colômbia.

O Papa Francisco condena os “episódios de violência e expressa a sua proximidade às pessoas que vivem no meio de tanto sofrimento” na região do sudoeste do Pacífico colombiano. No documento recorda também “o compromisso dos bispos, padres, religiosos e leigos na busca incessante de construir laços de paz em toda a região”.

Nas últimas semanas, registaram-se no sul do país uma série de episódios violentos. A 26 de março passado, dezenas de pessoas ficaram feridas em Corinto, no sudoeste da Colômbia, numa explosão em frente à Câmara Municipal, um dos lugares simbólicos da comunidade indígena local.

Santa Teresa de Ávila: “exemplo do papel das mulheres na Igreja e na sociedade”

O exemplo de Santa Teresa de Jesus não é apenas para os que sentem o chamamento à vida religiosa, mas “para todos os que desejam progredir no caminho da purificação de toda a mundanização”: são palavras do Papa Francisco, na sua Mensagem dirigida ao Congresso Internacional “Mulher Excecional” por ocasião do 50º aniversário do Doutorado da Santa de Ávila.

Assinada na Solenidade de São José, e lido na abertura do Congresso, a mensagem do Sucessor de Pedro recorda a figura da santa de Ávila, que recebeu de São Paulo VI a 27 de setembro de 1970 o título de Doutora da Igreja, sendo a primeira mulher a receber o título que, como escreve o Santo Padre, “reconhece o precioso ensinamento que Deus nos deu nos seus escritos e no testemunho da sua vida”.

Com as palavras de Paulo VI, Francisco recorda a natureza excecional desta mulher, cuja coragem, inteligência, tenacidade, à qual ela uniu “uma sensibilidade pela beleza e uma maternidade espiritual para com todos os que se aproximavam da sua obra”, são “um exemplo único do papel extraordinário que a mulher desempenhou ao longo da história na Igreja e na sociedade”.

O Santo Padre afirma que Santa Teresa “continua a falar-nos hoje através dos seus escritos”. A sua mensagem – acrescenta – está aberta a todos, para que, conhecendo-a e contemplando-a, possamos ser seduzidos pela beleza da palavra e pela verdade do conteúdo, e possa fazer surgir em nós o desejo de avançar no caminho da perfeição.”

Audiência geral: “Igreja, grande escola de oração”

“A Igreja mestra de oração” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira, 14 de abril, realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico.

“A Igreja é uma grande escola de oração. Muitos de nós aprendemos a silabar as primeiras orações enquanto estávamos no colo dos pais ou dos avós. Talvez conservemos a memória da mãe e do pai que nos ensinavam a recitar as orações antes de dormir. Estes momentos de recolhimento são frequentemente aqueles em que os pais ouvem algumas confidências íntimas dos filhos e podem dar os seus conselhos inspirados pelo Evangelho”, salientou o Pontífice.

A seguir, o Papa recordou que “no caminho do crescimento, há outros encontros, com outras testemunhas e mestres de oração”.

A vida de uma paróquia e de cada comunidade cristã é cadenciada pelos tempos da liturgia e da oração comunitária. Aquele dom, que na infância recebemos com simplicidade, compreendemos que é um património grande e muito rico, e que a experiência da oração merece ser aprofundada cada vez mais.”

“O sopro da fé é a oração: crescemos na fé tanto quanto aprendemos a rezar. Depois de certas passagens da vida, compreendemos que sem fé não poderíamos ter bom êxito e que a oração foi a nossa força. Não só a oração pessoal, mas também a dos irmãos e irmãs, e da comunidade que nos acompanhou e apoiou”, sublinhou Francisco.

“Também por este motivo na Igreja florescem continuamente comunidades e grupos dedicados à oração. Alguns cristãos sentem até o chamamento de fazer da oração a ação principal dos seus dias. Na Igreja existem mosteiros, conventos e eremitérios onde vivem pessoas consagradas a Deus e que muitas vezes se tornam centros de irradiação espiritual, comunidades de oração que irradiam espiritualidade. Pequenos oásis em que se partilha uma oração intensa e se constrói a comunhão fraterna dia após dia. Trata-se de células vitais, não apenas para o tecido da Igreja, mas para a própria sociedade. Tudo na Igreja nasce na oração, e tudo cresce graças à oração. Quando o Inimigo, o Maligno, quer combater contra a Igreja, fá-lo primeiro procurando secar as suas fontes, impedindo-as de rezar”, disse ainda Francisco, acrescentando:

“Por exemplo, vemos isso em certos grupos que concordam em realizar reformas eclesiais, mudanças na vida da Igreja, organização, e os meios de comunicação que informam. Mas a oração não se vê, não se reza. Devemos mudar isso, temos que tomar decisões um pouco fortes. É interessante a proposta. É interessante! Somente com discussão, somente com os média. Mas onde está a oração? A oração abre a porta ao Espírito Santo que inspira a ir adiante. As mudanças na Igreja sem oração não são mudanças na Igreja. São mudanças de grupo.”

“As mulheres e os homens santos não têm uma vida mais fácil do que os outros, pelo contrário, também eles têm os próprios problemas para enfrentar e, além disso, são frequentemente objeto de oposições. Os santos, que muitas vezes contam pouco aos olhos do mundo, na realidade são aqueles que o sustentam, não com as armas do dinheiro e do poder, mas com as armas da oração”, frisou o Papa.

Uma pergunta que nós, cristãos, devemos nos fazer é: eu rezo? Rezamos? Como rezo? Como papagaio ou rezo com o coração? Rezo com a certeza de que estou na Igreja ou rezo um pouco de acordo com minhas ideias e faço com que minhas ideias se tornem oração? Esta é uma oração pagã, não cristã”, acrescentou.

“Esta é uma tarefa essencial da Igreja: rezar e educar para rezar. Transmitir de geração em geração a lâmpada da fé com o óleo da oração. A lâmpada da fé que ilumina, arruma realmente as coisas como são, mas só pode ir adiante com o óleo da fé. Ao contrário, apaga-se. Sem a luz desta lâmpada, não poderíamos ver o caminho para evangelizar; não poderíamos ver os rostos dos irmãos dos quais nos devemos aproximar e servir; não poderíamos iluminar a sala onde nos encontramos em comunidade. Sem fé, tudo se desmorona; e sem a oração, a fé extingue-se. Por isso a Igreja, que é casa e escola de comunhão, é casa e escola de oração”, concluiu.

JM (com recursos do portal Vatican News)

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14 de Abril de 2021