Caríssimos membros do Clero, Responsáveis de Comunidades e Agentes de Pastoral,
O Governo do nosso país acaba de decretar um novo regime de desconfinamento que entra hoje em vigor. Como era de esperar, o documento não contém novas orientações específicas, no que toca às medidas precaucionais a adotar nas celebrações e em outros eventos da nossa atividade religiosa, que continuarão a regular-se pelas normas acordadas com as autoridades nacionais de saúde e publicadas pela CEP a 8 de maio de 2020.
O território da nossa Diocese está todo abrangido pelas normas que possibilitam uma nova abertura, no que diz respeito a deslocações e realização de atividades, sem as restrições aplicadas aos Concelhos que tem números mais elevados de pessoas contagiadas.
Como realçam as análises e recomendações publicadas, devemos todos ter em conta que o perigo não foi ainda ultrapassado e que as medidas precaucionais têm de ser aplicadas, como temos feito ao longo de toda a crise, para evitar que a maior abertura que se verifica venha a aumentar os contágios e a levar ao recuo no processo de desconfinamento. Recomenda-se especial cuidado nos ajuntamentos depois das celebrações, à saída e na sacristia, que, sendo desejáveis habitualmente, não são aconselháveis nesta situação.
A celebração dos sacramentos não comporta riscos especiais, desde que sejam observadas as precauções especificamente indicadas. Tenha-se, porém, em conta as celebrações familiares e sociais que normalmente se lhes seguem, insistindo com todas as pessoas implicadas na necessidade de seguir as normas em vigor.
No que diz respeito à catequese, seguimos as indicações emanadas no início do ano pastoral, que faziam depender a presencialidade das crianças da possibilidade de dispor de ambientes capazes de assegurar o distanciamento e a higienização. Use-se a criatividade para encontrar meios de contato com as crianças e envolva-se, o mais possível os pais na determinação dos modos mais adequados a cada situação.
Quanto a atividades com grande número de pessoas, como procissões e festas de grupos, de catequese e de movimentos, devem ser, para já evitadas. Quando tal for possível, cumpram-se as normas para eventos, segundo as orientações das autoridades competentes.
Os funerais e rituais fúnebres têm normas próprias em cada Concelho. Além disso, os condicionamentos das instalações de cada paróquia determinarão, com a necessária cautela e bom senso, a forma correta de atuação, sem renunciar ao conforto da fé na celebração do luto, no respeito pela saúde de todos os que participam.
Estas precauções não provêm do medo ou de uma autocontenção egoísta, mas da expressão da caridade que cuida de todos, especialmente dos mais frágeis. Mas têm de ser acompanhadas de medidas positivas de contato, de acompanhamento e criatividade adaptadas às circunstâncias, de modo que o desconfinamento seja igualmente sinal de revitalização das nossas comunidades paroquiais, movimentos e grupos pastorais.
Particular atenção e criatividade deve ser dedicada às crianças e aos jovens, para que voltem a percorrer o caminho da comunidade e da igreja, para já nas celebrações e, à medida que as condições sanitárias o vão permitindo, nas outras atividades que comportem maior presença e convívio.
A meta da JMJ 2023 deve servir de mobilização dos nossos jovens e das estruturas paroquiais e vicariais. Estão em curso dinamismos de convocação e formação para as Jornadas e a organização logística está também a dar passos, à medida que o desconfinamento avança. Dentro de pouco, as paróquias serão contatadas para verificar a sua disponibilidade para participar nas ações de preparação e acolhimento de peregrinos e iniciativas. Certamente que os jovens se encontram na primeira linha destas iniciativas.
Outro foco de especial atenção e carinho será o das pessoas isoladas e doentes. Com a segurança necessária adaptada a cada caso, é possível fortalecer a ligação desses irmãos e irmãs com a Igreja e oferecer-lhes o dom da comunhão e, possivelmente em breve, da visita do Pároco ou dos Ministros da Eucaristia.
As consequências económicas da pandemia, vão fazer-se sentir com ulterior severidade na vida de muitas famílias, com o fim das moratórias. Será necessário continuar e reforçar o esforço que as comunidades cristãs estão a fazer para ajudar os mais fragilizados. Isso vai requerer de nós maior atenção, discernimento e coordenação. A nível diocesano, o Departamento Sóciocaritativo e a Cáritas, estão a preparar modos de acompanhamento da situação e de coordenação das ajudas, numa atitude de partilha de meios, para que não falte o essencial a quem precisa, em cada uma das nossas paróquias. O encaminhamento de pedidos de ajuda é já possível, diretamente para a Cáritas.
Parte desta partilha vem da Renúncia Quaresmal deste ano, que se destina a Cabo Delgado – Moçambique e aos mais carenciados na nossa Diocese. Peço, pois, a todos os párocos que enviem, sem muitas delongas, o produto desta recolha quaresmal, de modo que se possa ir ao encontro de quem precisa.
Partimos de uma situação difícil, no campo pastoral, relacional e económico. Mas não esqueçamos que vivemos, especialmente neste tempo, em Clima Pascal. O Senhor Jesus sabe bem o que significam as dificuldades, o sofrimento e mesmo a morte. Por isso, não nos abandona, particularmente nessas situações mais difíceis, mas também nos conduz para a libertação e superação do mal e até da morte. Ele está connosco e reúne-nos para que, em seu nome e guiados pelo seu Espírito, possamos ultrapassar as dificuldades, e sair delas mais fortes e renovados, pela fé na sua presença, pelo caminho feito em seu nome e em conjunto, e pela solidariedade do amor que se torna próximo de quem mais precisa.
Bom caminho de Páscoa para todos, para que a cada um chegue o anúncio da presença do Senhor Ressuscitado e força do Espírito que renova a Igreja e a conduz à missão!
+ José Ornelas Carvalho, Bispo de Setúbal