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Sesimbra: “O Senhor das Chagas é a imagem da pandemia que vivemos”

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O Bispo de Setúbal presidiu à Eucaristia Solene das Festas do Senhor Jesus das Chagas, assinaladas de forma limitada face ao contexto pandémico, mas vividas “com a mesma fé, o mesmo amor, o mesmo carinho.”

A Igreja Matriz e o adro encheram-se, dentro dos limites de capacidade definidos. Sem procissão, a comunidade sesimbrense teve a possibilidade de acompanhar as celebrações por via digital e pela transmissão em direto no Cineteatro Municipal.

“É o segundo ano em que vivemos e celebramos a festa maior desta linda terra de Sesimbra de modo limitado mas celebramo-la com a mesma fé, o mesmo amor, o mesmo carinho e, precisamente por isso, com redobrada responsabilidade e cuidado para que seja realmente uma festa em honra do Senhor e não um motivo de termos mal entre nós, porque Ele [Jesus das Chagas] vem só para nos trazer o bem”, afirmou D. José Ornelas no início da Eucaristia a que presidiu.

“Celebramos esta festa com a consciência do tempo que vivemos: tempo de contenção e de sofrimento, mas que tem de ser transformado num tempo de esperança. Isso dá-nos entusiasmo e alento” destacou o prelado, deixando uma mensagem de apreço à Irmandade do Senhor Jesus das Chagas e à Câmara Municipal de Sesimbra pelo trabalho realizado na preparação da festa.

 

Na sua homilia, o bispo diocesano referiu que o Senhor das Chagas é um “senhor ferido” como tantas pessoas andam feridas neste tempo:

Um mundo ferido é aquele em que nos encontramos. A imagem do Senhor das Chagas é a imagem da pandemia: um Jesus crucificado que, com as mãos e os pés perfurados pelos pregos, o peito trespassado por uma lança, reflete os sofrimentos que sentimos.  Nos vestígios que ainda temos da doença, esta é a imagem do Senhor que veio”.

O prelado explica que a cruz de Jesus resume a condição humana do que nós somos: “frágeis, sempre sujeitos ao sofrimento, à doença, à solidão, ao isolamento e à saudade dos que sentem duramente a falta da companhia da família, dos que lhes são mais próximos”.

Porém, “esta cruz de Jesus mostra uma condição ainda mais dolorosa: é que a dor não é só aquela que experimentamos pela doença, pelas catástrofes naturais ou pela morte, que chega para todos: é a dor e o sofrimento provocados pela injustiça, pelo abuso, pela prepotência, pelo ódio, pela exploração, pela guerra, pela miséria, pelas desavenças e pelas tiranias”.

Estas são as feridas de Jesus e ele assume esta condição. Ele, que era de condição divina, não sujeito ao sofrimento e à morte, sujeitou-se à nossa condição humana. Foi perseguido desde o nascimento, fez-se igual a nós, até na morte, na morte mais iníqua, a morte na Cruz”, realçou.

Para D. José Ornelas, Jesus fê-lo porque Deus o colocou na terra para dar vida: “Deus tinha um projeto que era trazer uma vida nova para nós. Mas não ficou simplesmente lá em cima e atirou uma corda para nós; veio cá abaixo e carregou-nos às costas.”

O bispo diocesano advertiu que, estas chagas, apesar de dolorosas, ajudam-nos também a transformar-nos em pessoas melhores, mais responsáveis e mais atentas aos outros, de modo que são, para nós, um verdadeiro “desafio”.

A Festa do Senhor da Jesus das Chagas não é simplesmente uma comoção: é uma forjadora de atitude. É uma festa do desafio, da confiança, da energia, do inconformismo, do não resignar-se ao que está mal. Lutar por aquilo que traz sentido à vida: a justiça, a dignidade, a fraternidade… Lutar junto a Cristo. É deixar que a nossa vida passe para os braços de Deus, como Jesus fez.”

“Que o Senhor das feridas do amor, da vida, da justiça e da paz, no dê a força que nós precisamos para sair da pandemia”, terminou.

 

A Missa Solene foi presidida pelo Bispo de Setúbal e concelebrada pelo Pároco de Sesimbra, Padre Manuel Silva, pelo Pároco do Castelo de Sesimbra, Padre Eduardo Nobre, e pelo Padre Tiago Pinto, natural da vila e Pároco do Miratejo-Laranjeiro.

O culto ao Senhor Jesus das Chagas em Sesimbra remonta ao século XVI, mais concretamente a 4 de maio de 1534, quando, de acordo com a tradição oral passada de geração em geração, a representação do Senhor das Chagas existente na vila terá sido trazida por correntes marítimas durante a afirmação da igreja protestante em Inglaterra, quando todas as imagens católicas foram deitadas ao mar.

A imagem foi encontrada por pescadores e encontra-se atualmente na capela da Santa Casa da Misericórdia. Todos os anos, a 4 de maio, a imagem sai e percorre as ruas da vila em procissão, até à Igreja Matriz. A data é feriado municipal.

JM

Fotos: Câmara Municipal de Sesimbra

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06 de Maio de 2021