comprehensive-camels

A Palavra do Papa: o “nós” do tamanho da humanidade, as esperanças partilhadas, os caminhos enganosos e o combate da oração

20210512-a-palavra-do-papa-francisco

Um apelo a um “nós cada vez maior” foi deixado pelo Papa na mensagem para o Dia do Migrante e Refugiado. O Sumo Pontífice encontrou-se com os novos recrutas da Guarda Suíça, falou num concerto online e sobre a “conceção tripartida do corpo” numa conferência. Na Audiência-Geral, com presença de fiéis, confessou que não gosta de falar para a câmara e prefere o encontro “face a face”.

Migrantes e Refugiados: “companheiros da mesma viagem”

“Rumo a um nós cada vez maior”: é o título da Mensagem do Papa para o 107º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que será celebrado a 26 de setembro de 2021. Francisco dirige um duplo apelo para criar um “nós” cada vez maior: aos católicos e a todos os homens e mulheres de boa vontade.

O Pontífice inspira-se na sua encíclica Fratelli Tutti, quando expressa a preocupação de que, passada a crise sanitária, a pior reação seria cair ainda mais num consumismo febril, em novas formas de autoproteção egoísta, em nacionalismos fechados e individualismos radicais.

Na realidade, estamos todos no mesmo barco e somos chamados a empenhar-nos para que não existam mais muros que nos separam, nem existam mais os outros, mas só um nós, do tamanho da humanidade inteira.”

Aos católicos, “no encontro com a diversidade dos estrangeiros, dos migrantes, dos refugiados e no diálogo intercultural que daí pode brotar, é-nos dada a oportunidade de crescer como Igreja, enriquecer-nos mutuamente” afirma o Pontífice, referindo que hoje a Igreja é chamada “a sair pelas estradas das periferias existenciais para cuidar de quem está ferido e procurar quem anda extraviado, sem preconceitos nem medo, sem proselitismo, mas pronta a ampliar a sua tenda para acolher a todos.”

“É o ideal da nova Jerusalém, explica Francisco, onde todos os povos se encontram unidos, em paz e concórdia, celebrando a bondade de Deus e as maravilhas da criação.” Mas, diz o Papa, para alcançar este ideal, devemos todos empenhar-nos para derrubar os muros que nos separam e construir pontes que favoreçam a cultura do encontro.

A mensagem de Francisco encerra-se com palavras audaciosas: “Somos chamados a sonhar juntos. Não devemos ter medo de sonhar e de o fazermos juntos como uma única humanidade, como companheiros da mesma viagem, como filhos e filhas desta mesma terra que é a nossa Casa comum, todos irmãs e irmãos” (cf. Fratelli tutti, 8).

Guarda Suíça: testemunho de acolhimento da Igreja

Trinta e quatro novos recrutas da Guarda Suíça Pontifícia, fundada pelo Papa Júlio II em 1506 e responsável pela segurança pessoal do Pontífice, prestaram juramento na quinta-feira, 6 de maio.

Durante uma audiência especial na Sala Clementina com os soldados e as suas famílias, Francisco descreveu o serviço que irão prestar, com devoção e fidelidade à Sé Apostólica, numa oportunidade também para bem receber os peregrinos que vêm a Roma: “nunca esqueçam da cortesia e da disponibilidade que representam um belo testemunho e são um sinal de acolhimento da Igreja.”

Desde a criação da Guarda Suíça, “muitos jovens realizaram com empenho e fidelidade aquela peculiar missão” que continuam a desempenhar até hoje: “alguns chegaram ao ponto de sacrificar a própria vida para defender o Papa”, lembrou Francisco.

O Papa Francisco também disse apreciar a “capacidade de combinar os aspetos profissionais e espirituais, expressando assim a devoção e fidelidade à Sé Apostólica”. O desejo, enfim, do Pontífice para que os novos recrutas aproveitem o novo período dentro da Guarda Suíça para aprofundar “a fé e um amor ainda mais forte pela Igreja”.

Vax Live: “Esperanças partilhadas”

O Papa une-se às vozes das estrelas da música e do cinema, ao presidente dos EUA, Joe Biden, à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e ao primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, no papel de presidente do G20, na defesa da distribuição justa de vacinas contra a Covid-19.

Francisco enviou uma videomensagem para o “Vax Live – The Concert To Reunite the World”, evento em Los Angeles. O início da mensagem de Francisco teve um toque de humor pessoal: “Recebam uma saudação cordial deste idoso, que não dança nem canta como vocês”.

Referiu na mensagem que, diante de tanta escuridão e incerteza, precisamos de luz e esperança. Precisamos de caminhos de cura e salvação”.

Refiro-me a uma cura na raiz, que cura a causa do mal e não se limita apenas aos sintomas. Nessas raízes doentes encontramos o vírus do individualismo, que não nos torna mais livres ou mais iguais, nem mais irmãos, mas nos transforma em pessoas que são indiferentes ao sofrimento dos outros” sublinhou.

O Papa criticou “as leis do mercado ou da propriedade intelectual” que são colocadas “acima das leis do amor e da saúde da humanidade”, acentuando a injustiça social. Defendeu o acesso universal às vacinas e a suspensão temporária dos direitos de propriedade intelectual: um espírito de comunhão que nos permite gerar um modelo económico diferente, mais inclusivo, justo e sustentável.

A oração final do Papa é a Deus “para que nos conceda o dom de uma nova fraternidade, de uma solidariedade universal e para que possamos reconhecer o bem e a beleza que Ele semeou em cada um de nós, para fortalecer laços de unidade, de projetos comuns e de esperanças partilhadas”.

Regina Coeli: Papa alerta para caminhos enganosos de “amor”

No Regina Coeli deste domingo Francisco reafirmou que “amar como Cristo significa dizer não a outros “amores” que o mundo nos propõe: amor pelo dinheiro – quem ama o dinheiro não ama como ama Jesus – amor pelo sucesso, pela vaidade, pelo poder”.

Estes caminhos enganosos de “amor” – continuou o Papa da janela do Palácio Apostólico – afastam-nos do amor do Senhor e levam-nos a tornar cada vez mais egoístas, narcisistas e prepotentes.

E a prepotência leva a uma degeneração do amor, a abusar dos outros, a fazer a pessoa amada sofrer. Penso no amor doentio que se transforma em violência – e em quantas mulheres são vítimas disso hoje em dia, das violências. Isto não é amor”.

Amar como o Senhor nos ama – destacou Francisco – significa apreciar a pessoa que está ao nosso lado e respeitar a sua liberdade, amá-la como ela é, não como queremos que fosse; como é, gratuitamente.

No Evangelho deste domingo, recordou o Santo Padre, Jesus, depois de se comparar com a videira e nós com os ramos, explica que o fruto que produzem aqueles que permanecem unidos é o amor. Ele retoma o verbo-chave: permanecer. Ele convida-nos a permanecer no seu amor para que a sua alegria esteja em nós e a nossa alegria seja plena.

Após o Regina Coeli, o Papa pediu para rezar “pelas vítimas do atentado terrorista ocorrido numa escola em Cabul” e pelas suas famílias. Expressou palavras de particular preocupação com a escalada de tensão em Jerusalém, rezando para que a Cidade Santa seja “um lugar de encontro e não de confronto” e pedindo por “soluções partilhadas”.

Também dirigiu o seu pensamento para a Colômbia: “Também quero expressar a minha preocupação com as tensões e conflitos violentos na Colômbia que causaram mortes e feridos. Há muitos colombianos aqui, rezemos pela sua pátria”.

Por fim, o Pontífice antecipou o Dia Mundial da Fibromialgia, assinalado a 12 de maio: “exprimo a minha proximidade e espero que cresça a atenção para esta doença às vezes negligenciada”.

Saúde: pensar o cuidado da pessoa humana na conceção “mente, corpo, alma”

O Papa enviou uma videomensagem aos participantes da conferência online “Explorando a Mente, Corpo e Alma”, organizada pelo Pontifício Conselho para a Cultura.

É precisamente da mente, corpo e alma, a “conceção tripartida” assumida por muitos Padres da Igreja e depois por vários pensadores modernos, que se desdobra a reflexão do Pontífice.

Pensar e manter a pessoa humana no centro também requer uma reflexão sobre modelos de sistemas de saúde abertos a todos os doentes, sem nenhuma desigualdade” ponderou Francisco.

No seu discurso em vídeo, o Papa também aplaude as modernas ciências médicas que, “sem dúvida abriram diante de nós um horizonte de conhecimentos e interações que há alguns séculos atrás nem sequer eram concebíveis”.

O ser humano, não devemos esquecer, é composto de “corpo, mente e alma”: três categorias, observa o Papa, que “não correspondem à visão cristã ‘clássica’, cujo modelo mais conhecido é o da pessoa, entendida como uma unidade inseparável de corpo e alma, que, por sua vez, é dotada de inteligência e vontade”.

Não somos espíritos puros. Para cada um de nós, tudo começa com o nosso corpo, mas não só: desde a conceção até a morte não temos simplesmente um corpo, mas somos um corpo e a fé cristã diz-nos que o seremos também na ressurreição” explicou.

Obra do mestre Fiorito é “uma mina para entrar na alma dos exercícios espirituais de Santo Inácio”

Francisco divulgou na segunda-feira uma mensagem em vídeo para comentar a recente obra de autoria do seu pai espiritual, Miguel Ángel Fiorito, falecido em 2005, que consiste num guia prático para os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola.

O Papa procurou divulgar a obra, organizada pelos jesuítas da revista italiana “La Civiltà Cattolica”, enaltecendo a dimensão prática na qual foi escrita, com “pequenas notas para o exercício”, para que possa ajudar na “reforma da vida de todos aqueles que querem fazer os exercícios”, disse Francisco. De facto, essa é a finalidade do livro, composto por cerca de 200 fichas de leitura “espirituais e iluminadas”, “simples, mas necessárias”, como descreveu o Pontífice no prefácio, destinadas a auxiliar o praticante.

A obra de Fiorito é, segundo o Pontífice, “uma verdadeira mina para entrar na alma dos exercícios espirituais de Santo Inácio” através de uma “estrutura aberta e interativa” que fizeram bem ao próprio Papa e que podem ajudar outras pessoas.

São frutos que, nas mãos de Fiorito, se transformaram naquilo que o praticante “pode e deve assimilar em cada etapa dos próprios exercícios”, “não se limitando a estudá-los”, alertou o Pontífice. O objetivo é dar a si mesmo o tempo para sentir “a emoção do espírito e buscar em termos concretos a vontade de Deus através da reforma da própria vida”.

Audiência Geral: “é bom vermo-nos face a face”

“O combate da oração” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, 12 de maio, realizada no Pátio São Dâmaso, no Vaticano, com a presença de alguns fiéis de várias partes do mundo.

Estou feliz em retomar estes encontros face a face, pois digo-lhes uma coisa: não é bom falar diante do nada, diante de uma câmara. Encontrar as pessoas, encontrar vocês, cada um com a sua história, ver cada um de vós, para mim é uma alegria. Obrigado pela vossa presença e pela vossa visita. Levem a mensagem do Papa a todos. A mensagem do Papa é que rezo por todos, e peço que rezem por mim unidos em oração.”, começou o Pontífice.

Segundo Francisco, “a oração cristã, como toda a vida cristã, não é um “passeio”. Nenhum dos grandes orantes que encontramos na Bíblia e na história da Igreja teve uma oração “confortável”. Sim, é possível rezar como papagaios, mas isso não é oração. Certamente ela concede uma grande paz, mas através de uma luta interior, por vezes dura, que pode acompanhar até longos períodos da vida. Rezar não é algo fácil.”

Nós temos inimigos que nos enganam e nos afastam da oração, mas que “os piores inimigos estão dentro de nós” disse o Santo Padre, citando o Catecismo da Igreja Católica que os chama de: «Desânimo na aridez, tristeza por não dar tudo ao Senhor, porque temos “muitos bens”, deceção por não sermos atendidos segundo a nossa própria vontade, o nosso orgulho ferido que se endurece perante a nossa indignidade de pecadores, alergia à gratuitidade da oração».

“Muitas vezes a oração é um combate”, disse o Papa, contando um episódio que aconteceu numa diocese na Argentina. Francisco recordou que um casal tinha uma filha doente por causa de uma infeção. Segundo os médicos, a menina morreria ainda naquela noite. O homem era um operário. Ele saiu do hospital a chorar. Apanhou o comboio e viajou 70 km e foi à Basílica de Nossa Senhora de Luján. Quando chegou, a Basílica estava fechada e agarrou-se às grades do portão. Rezou a noite inteira e, de manhã, a igreja abriu e ele entrou para saudar Nossa Senhora. Essa cena é indelével: “Eu a vi! Eu a vivi”, disse o Papa. O combate daquele pai na oração precede um sorriso: o de sua esposa que lhe disse, quando voltou para casa, que a sua filha foi inexplicavelmente curada. “Nossa Senhora o ouviu”.

A oração faz milagres”, concluiu o Papa.

Após a catequese, o Papa Francisco saudou cordialmente os polacos, recordando que nesta quinta-feira, dia 13, celebra-se a memória litúrgica da Bem-Aventurada Virgem Maria de Fátima. “Coloquemo-nos com confiança sob a sua proteção materna, sobretudo quando encontramos dificuldades na nossa vida de oração”, disse o Pontífice.

O Papa recordou também que esta quinta-feira, celebra-se “o 40º aniversário do atentado a São João Paulo II”. “Ele sublinhou com convicção que devia a sua vida à Senhora de Fátima. Este acontecimento dá-nos a consciência de que a nossa vida e a história do mundo estão nas mãos de Deus”, disse Francisco, convidando, mais uma vez, a rezar o Terço pelo fim da pandemia.

JM (com recursos jornalísticos do portal Vatican News)

Partilhe nas redes sociais!
12 de Maio de 2021