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A Palavra do Papa: a verdade no diálogo, o Paráclito, a primavera do Evangelho e a pretensão da magia

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Por ocasião do Pentecostes, o Papa explicou a palavra “Paráclito”, consolador e advogado. Refletiu sobre a importância da unidade na diversidade e o uso desregrado da tecnologia. Participou ainda no lançamento da plataforma “Laudato Si”, por uma ecologia integral.

Covid-19: superar a crise promovendo a “cultura do cuidado” é uma questão de justiça

Os efeitos da crise provocada pela pandemia guiaram o discurso do Papa Francisco a um grupo de embaixadores que iniciam o seu trabalho diplomático junto à Santa Sé. “Estes problemas não são só políticos ou económicos”, afirmou Francisco, mas são questões de justiça.

O Papa recebeu em audiência os novos embaixadores de Singapura, Zimbabwe, Bangladesh, Argélia, Sri Lanka, Barbados, Suécia, Finlândia e Nepal para a apresentação das suas credenciais.

A pandemia tornou-nos mais conscientes da nossa interdependência enquanto membros da única família humana, como também da necessidade de estar atentos aos pobres e aos indefesos que existem entre nós.”

Para Francisco, a crise deve ser enfrentada com passos concretos e corajosos que levem a desenvolver uma «cultura do cuidado» global. Isso significa criar novas relações e estruturas de cooperação a serviço da solidariedade.

Na ocasião, o Sumo Pontífice abordou a questão do conflito armado na Terra Santa. “Agradeço a Deus pela decisão de deter os confrontos armados e espero que se percorram os caminhos do diálogo e da paz”, disse, apelando à oração, nessa noite, na Vigília de Pentecostes na Igreja de Santo Estevão, em Jerusalém.

Diversidade cultural: juntos, procurar a verdade no diálogo

No Twitter, o Papa lembrou o Dia Mundial da Diversidade Cultural, para o Diálogo e o Desenvolvimento, instituído pela Unesco e assinalado na sexta-feira, dia 21 de maio.

Francisco afirma: “Podemos procurar juntos a verdade no diálogo, na conversa tranquila ou na discussão apaixonada. É um caminho perseverante, feito também de silêncios, capaz de recolher pacientemente a vasta experiência das pessoas e da diversidade cultural dos povos.”

A data instituída pela Unesco celebra, assim, não apenas a riqueza das culturas do mundo, mas também o papel essencial do diálogo intercultural para transformar a sociedade e alcançar a paz entre línguas e religiões diferentes.

Educação: “Que a experiência da pandemia possa estimular um maior sentido crítico no uso da tecnologia”

O Papa Francisco recebeu em audiência na manhã de sábado, no Vaticano, dirigentes e estudantes do Instituto “Ambrosoli” da cidade de Codogno, que fica na região da Lombardia, norte da Itália, local de início dos contágios de coronavírus na Europa. Foi por isso que Francisco fez questão de realizar esta audiência que, segundo ele, é um sinal de esperança.

No contexto do ensino à distância, o Papa citou diversas experiências positivas realizadas no campo educativo, demonstrando que quando se encontram a bagagem dos professores com os sonhos dos estudantes, “não há vírus que possa detê-los”.

A dimensão relacional entre os estudantes foi penalizada nos longos meses de ensino à distância, mas agora “faço votos de que vocês possam retomá-la plenamente”, afirmou Francisco.

Que a experiência da pandemia, com esta ‘abstinência’ das relações de amizade, possa estimular em vós um maior senso crítico no uso desses instrumentos tecnológicos; para que permaneçam tais, isto é, instrumentos sujeitos à nossa inteligência e vontade.”

Antes de se despedir, o Santo Padre recordou que os jovens não são o futuro, mas sim o presente. “Vocês serão o futuro se forem o presente. Vocês são o presente na sociedade. sem os jovens, uma sociedade é quase morta. Vocês são o presente porque trazem vida nova: não se esqueçam disto”.

Pentecostes: O Paráclito, consolador e advogado

O Santo Padre presidiu à Eucaristia na Solenidade de Pentecostes, na Basílica de São Pedro. Na homilia, o Pontífice inspirou-se no trecho proposto pela liturgia, extraído do Evangelho de João: «Virá o Paráclito, que Eu vos hei de enviar da parte do Pai» (cf. Jo 15, 26). E foi justamente a esta palavra – Paráclito – que Francisco dedicou a sua reflexão, explicando os seus dois significados: Consolador e Advogado.

Hoje, Jesus oferece-nos o “Consolador perfeito”, pois todos nós procuramos consolações em momentos difíceis. Todavia, explicou o Papa, as consolações do mundo são como os anestésicos: oferecem um alívio momentâneo, mas não curam o mal profundo que temos por dentro. Já o Espírito Santo age no íntimo dos nossos corações.

Os discípulos são o exemplo de que tudo muda quando recebem o Paráclito: os problemas e defeitos permanecem os mesmos, mas eles já não os temem.

O Papa convidou os fiéis a tornarem-se paráclitos, consoladores, e isto é possível não fazendo grandes discursos, mas aproximando-se das pessoas; não com palavras empolgadas, mas com a oração e a proximidade.

Na sequência, Francisco explicou o segundo significado do termo Paráclito: o Advogado. Não se trata de falar pelo acusado, mas de inspirar pensamentos e sentimentos. E o Espírito fá-lo com delicadeza, propondo, não se impondo. O Papa então identificou três sugestões típicas que o Paráclito oferece, que são antídotos contra três tentações atualmente difusas: viver no presente, procurar o conjunto e colocar Deus antes do eu.

Francisco concluiu a sua homilia com uma oração:

Espírito Santo, Espírito Paráclito, consolai os nossos corações. Fazei-nos missionários da vossa consolação, paráclitos de misericórdia para o mundo. Ó nosso Advogado, suave Sugeridor da alma, tornai-nos testemunhas do hoje de Deus, profetas de unidade para a Igreja e a humanidade, apóstolos apoiados na vossa graça, que tudo cria e tudo renova.”

Regina Coeli: “A Igreja é para todos. O Espírito de Deus é harmonia, não divisão”

Foi o que disse o Papa Francisco aos fiéis reunidos na Praça São Pedro para a oração do Regina Coeli na Solenidade de Pentecostes. Na sua alocução, propôs o trecho extraído do Evangelho de João que narra a descida do Espírito Santo sobre Maria e os discípulos reunidos no Cenáculo, que se manifesta como um “sopro”.

Esta experiência revela que o Espírito Santo é como um vento forte e livre; isto é, dá-nos força e liberdade. Não pode ser controlado, detido nem medido; nem mesmo podemos prever a sua direção. Não se deixa enquadrar nas nossas exigências humanas, nos nossos esquemas nem preconceitos. O Espírito procede de Deus Pai e do seu Filho Jesus Cristo e irrompe sobre a Igreja – sobre cada um de nós – dando vida às nossas mentes e aos nossos corações.”

No dia de Pentecostes, explicou o Papa, os discípulos ainda estavam desorientados e amedrontados. O mesmo acontece connosco, que preferimos permanecer na nossa zona de conforto. Mas o Senhor sabe como nos alcançar e abrir as portas do nosso coração.

Ao enviar o Espírito Santo, todas as nossas defesas, hesitações e falsas seguranças são abatidas e tornamo-nos novas criaturas, ultrapassando os confins culturais e religiosos. “O Espírito é universal, não nos tira as diferenças culturais, as diferenças de pensamento, não: é para todos, mas cada um entende na própria cultura, na própria língua.”

O Espírito Santo, prosseguiu o Pontífice, coloca em comunicação pessoas diferentes, realizando a unidade e a universalidade da Igreja.

E hoje nos diz tanto esta verdade, esta realidade do Espírito Santo onde na Igreja existem grupinhos que buscam sempre a divisão, separar-se dos outros. Este não é o Espírito de Deus: o Espírito de Deus é harmonia, é unidade, une as diferenças”, terminou.

Entre os vários apelos no Regina Coeli deste domingo, o Papa Francisco também dirigiu o seu pensamento à população da República Democrática do Congo, atingida pela erupção de um vulcão no início da noite de sábado, pedindo a oração de todos.

Dominicanos: inspirados no fundador, criar nova primavera do Evangelho

Numa carta por ocasião dos 800 anos da morte de São Domingos Gusmão, o Papa exorta a Igreja a ser desafiada pela mensagem evangélica do fundador da Ordem dos Pregadores, ao inaugurar “uma nova primavera do Evangelho”: que os frades dominicanos cheguem à frente na missão de pregar o amor misericordioso de Deus, como aconteceu naquela época, sendo capazes “de falar ao coração dos homens e mulheres do nosso tempo e despertar neles uma sede pela vinda do Reino de Cristo de santidade, justiça e paz!”.

Com a celebração do Ano Jubilar, o Papa faz bons votos a todos os membros da grande família dominicana, esperando que seja inaugurada “uma nova primavera do Evangelho” já que Domingos respondia “à necessidade urgente do seu tempo não apenas por uma pregação renovada e vibrante do Evangelho, mas também, igualmente importante, por um testemunho convincente dos seus apelos à santidade”. Francisco recorda na carta que o santo se dedicava a “iluminar as mentes” de novos pregadores, encorajando a seguir esse modelo de apostolado:

No nosso tempo, caracterizado por grandes mudanças e novos desafios à missão evangelizadora da Igreja, Domingos pode, portanto, servir de inspiração a todos os batizados que são chamados, como discípulos missionários, a alcançar cada ‘periferia’ do nosso mundo com a luz do Evangelho e o amor misericordioso de Cristo.”

Uma mensagem evangélica que, segundo o Pontífice, deveria desafiar a Igreja de hoje “a fortalecer os laços de amizade social, a superar as estruturas económicas e políticas injustas e a trabalhar para o desenvolvimento integral de cada indivíduo e de cada povo”.

Ano Inaciano: sigamos o caminho que Jesus nos indica, como fez Santo Inácio

O episódio da conversão de Santo Inácio guiou a mensagem em vídeo do Papa Francisco por ocasião d0 início do Ano Inaciano, nos 500 anos da conversão de Santo Inácio de Loyola, que tem como tema “Ver novas todas as coisas em Cristo”.

Na videomensagem, o Papa recorda o caminho realizado por Santo Inácio. A conversão, destaca Francisco, é uma questão quotidiana: “a conversão de Inácio começou em Pamplona, mas não terminou ali. Converteu-se durante toda a sua vida, dia após dia. E isso significa que por toda a sua vida colocou Cristo no centro. E fê-lo através do discernimento. O discernimento não consiste em conseguir à primeira, mas de navegar e ter uma bússola para poder empreender o caminho que tem muitas curvas e percalços, mas deixando-se guiar sempre pelo Espírito Santo, que nos conduz ao encontro com o Senhor”.

Nesta peregrinação sobre a terra, encontramos outras pessoas, como fez Inácio na sua vida. Essas pessoas são sinais que nos ajudam a manter a rota e que nos convidam a converter-nos sempre de novo. São irmãos, são situações, e Deus fala-nos através deles. Ouçamos os outros também nós, mostrando o caminho de Deus.”

Por fim, o Papa expressa um desejo: que este ano “seja realmente uma inspiração para caminhar pelo mundo, ajudar as almas, vendo todas as coisas novas em Cristo. E também uma inspiração para nos deixar ajudar. Ninguém se salva sozinho: ou nos salvamos em comunidade ou não nos salvamos. Ninguém indica ao outro o caminho. Só Jesus nos indicou o caminho”.

Laudato Si: “nova abordagem ecológica”

Em mensagem no vídeo de lançamento da Plataforma de Ação Laudato si’, Francisco renova o apelo à humanidade para agir em prol de uma ecologia integral em favor da natureza e do homem na sua totalidade porque “o egoísmo, a indiferença e os estilos irresponsáveis estão ameaçando o futuro dos jovens”. Existe esperança, insiste o Papa, para “preparar um amanhã melhor para todos. Das mãos de Deus recebemos um jardim; aos nossos filhos não podemos deixar um deserto”.

O vídeo foi publicado na sequência do encerramento do Ano Especial do quinto aniversário da encíclica Laudato si’ do Papa Francisco, com o lançamento de uma Plataforma de Ação que vai guiar as iniciativas por uma ecologia integral, abrangendo sete realidades distintas: famílias; paróquias e dioceses; escolas e universidades; hospitais; empresas comerciais e agrícolas; organizações, grupos e movimentos; e institutos religiosos.

O Papa, então, renova o convite para que todos cuidem da “nossa casa comum”, sobretudo com as consequências impostas pela pandemia de Covid-19 que amplificou o grito da natureza e o dos pobres, enaltecendo que “tudo está interligado e é interdependente e que a nossa saúde não está separada da saúde do meio ambiente em que vivemos”:

“Precisamos, portanto, de uma nova abordagem ecológica”, insiste Francisco na mensagem em vídeo, que seja direcionada à ecologia humana integral para envolver tanto questões ambientais como o homem na sua totalidade. Essa é a nossa grande responsabilidade diante das futuras gerações, concluiu o Santo Padre.

Audiência Geral: “a oração não faz magias, é preciso rezar com humildade”

“A certeza de sermos ouvidos.” Este foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, realizada com a presença de fiéis no Pátio interno do Palácio Apostólico.

O Pontífice acrescentou mais um capítulo à sua série sobre a oração, falando das preces que parecem permanecer desatendidas, algo que podemos interpretar como um escândalo. Francisco citou as inúmeras orações pelo fim dos conflitos, com guerras em andamento em muitos países, como no Iémen e na Síria.  

Mas pode-se questionar: “Se Deus é Pai, por que não nos ouve? Todos nós fazemos esta experiência”, disse Francisco.

Uma boa resposta está contida no Catecismo, afirmou o Papa, pois adverte para o risco de transformar a relação com Deus em algo mágico, e não numa autêntica experiência de fé. “A oração não é uma varinha de condão, mas um diálogo com Deus.”

Com efeito, podemos cair na pretensão de que Deus deve nos servir, e não o contrário. Que Ele deve realizar os nossos desejos, sem que admitamos outros projetos. Mas a humildade é a primeira condição. Jesus teve a grande sabedoria de colocar sobre os lábios o “Pai-Nosso”, pedindo que se realizasse a vontade do Pai no mundo.”

Francisco adverte ainda para as súplicas por motivos duvidosos, como o de derrotar o inimigo em guerra, sem se questionar o que Deus pensa daquela guerra.

Todavia, permanece o escândalo: quando homens rezam com coração sincero, quando uma mãe reza por um filho doente, por que às vezes Deus parece não ouvir?

Para o Pontífice, para responder a esta pergunta é preciso meditar com calma os Evangelhos. Às vezes, Jesus cura imediatamente um doente que pede piedade, outras vezes não, como com a mulher de Cananeia.

“Todos tivemos esta experiência. Quantas vezes pedimos uma graça, um milagre e nada aconteceu. Depois, com o tempo, as coisas se ajustaram, mas segundo o modo de Deus, o modo divino, não segundo o que eu queria naquele momento. O tempo de Deus não é o nosso tempo.”

Aprendamos esta paciência humilde de esperar a graça do Senhor, esperar o último dia. Muitas vezes o penúltimo é terrível, porque os sofrimentos humanos são terríveis. Mas o Senhor está ali. E no último dia Ele resolve tudo.”

Na ocasião da Audiência Geral, Lidia Maksymowicz, polaca de origem bielorrussa sobrevivente aos campos de concentração nazis e às experiências de Mengele, mostrou a Francisco o número da sua deportação para o campo de concentração: “70072”.

O Papa Francisco olhou para ela por alguns momentos. A seguir, inclinou-se e deu-lhe um beijo naquele número que depois de 76 anos a lembra diariamente o horror que lá viveu. Nenhuma palavra, como fez o Pontífice naquela visita ao campo de concentração, em 2016, mas apenas um gesto espontâneo, instintivo e afetuoso.

No final, o Papa recordou ainda o fundador da Congregação do Oratório, São Filipe Neri, evangelizador na Roma do século XVI: “Que a alegria reconfortante, dom do Senhor, acompanhe e enriqueça o caminho de cada um de vós”.

JM (com recursos jornalísticos do portal de notícias Vatican News)

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26 de Maio de 2021