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“Comunhão na Diversidade”: 50 anos de presença Scalabriniana na Amora (1971-2021)

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Reflexão do Padre Pio Décimo Fantinato, da Comunidade Scalabriniana da Amora. A Paróquia assinala este ano o cinquentenário da presença dos Missionários de São Carlos na comunidade.

Uma Congregação Religiosa, embora pequena, é sempre um Dom de Deus para a Igreja diocesana e para o mundo. É o que procurou ser, antes para o Patriarcado de Lisboa (de 1971 até 1975), depois para a nossa Diocese de Setúbal, com a maior disponibilidade possível e privilegiando sempre a pastoral das Migrações, carisma específico da Congregação dos Missionários de São Carlos.

Sobretudo na Amora, onde os migrantes eram e são muitos numerosos, há um atendimento específico e particular a cada realidade. Cabo-verdianos, são-tomenses, guineenses, timorenses, goeses, moçambicanos, angolanos, brasileiros e imigrantes do Leste Europeu: os povos enriquecem a nossa pastoral, sempre com grande respeito às suas tradições culturais e religiosas.

Procurámos ser um pequeno sinal de Deus, caminhando e inserindo-nos na Igreja local, para ela estar sempre mais atenta, presente e atuante no mundo das Migrações, ao recordar que todos somos migrantes, a caminho de “Novos Céus e Nova terra”. A Congregação é chamada a ser “Migrante com os Migrantes”, partilhando a mesma vida, procurando aliviar sacrifícios e dores ligados às tantas formas de migração, com diversas iniciativas e o testemunho da sua abertura, acolhimento e fraternidade, consciente que é uma “pequena gota no imenso oceano das migrações”.

Encontramos a identidade scalabriniana na Regra de Vida, que assim nos define:

A Congregação Scalabriniana é uma Comunidade Apostólica de Religiosos, inserida na atividade missionária, que Cristo continua na Igreja, para a realização do plano divino no mundo e na história. Esse plano foi revelado plenamente em Cristo, enviado pelo Pai, “ para anunciar a Boa Nova aos Pobres” e para que os filhos de Deus dispersos fossem reconduzidos à unidade. Isso manifesta-se ainda hoje nos acontecimentos, exigências e aspirações dos homens. O Mundo, ao qual somos chamados a anunciar o mistério da salvação é o dos migrantes. Para cumprir a nossa missão partilhamos com eles da mesma vida e das vicissitudes da migração, a exemplo de Cristo, que por sua encarnação se ligou ao ambiente social, cultural em que viveu”.

O Carisma da Congregação brotou do coração do Beato João Baptista Scalabrini, Bispo e Fundador, já no longínquo ano de 1887, pelo seu espírito missionário e sensibilidade para o fenómeno migratório. Viu a situação de muitos migrantes, interveio e agiu. Entre as muitas respostas, empenhou leigos e fundou duas Congregações Religiosas para os Migrantes. Hoje a Congregação Scalabriniana está presente em 32 nações com diversos serviços, com casas de migrantes, paróquias étnicas, centros de estudos, serviços diocesanos de migração, apostolado do mar, seminários e outros.

Paróquia de Amora, 2016

Foi em março de 1971, com a chegada dos três primeiros Missionários Scalabrinianos, vindos de Brasil e França, já com uma longa experiência entre os migrantes, que a Congregação veio a fixar-se em Portugal, mais precisamente na Amora.

Os objetivos desta presença foram concordados entre a Congregação e a Conferência dos Bispos Portugueses: presença missionária numa Paróquia situada numa área de forte mobilidade humana; ajuda nos organismos eclesiais do Episcopado para a migração e formação de sacerdotes e outros agentes pastorais inspirados pelo carisma de Scalabrini.

Em carta enviada ao Superior Geral da Congregação, de 3 de fevereiro de 1968, D. António Rodrigues, bispo-auxiliar de Lisboa, dizia: “Pensei que a Congregação dos Padres Scalabrinianos poderia ser uma ajuda preciosa na ação apostólica em favor dos Emigrantes para a Igreja do meu País, pobre em clero. A Igreja sentir-se-ia muito honrada com o estabelecimento da Congregação em Portugal”.

Passaram-se 50 anos. A vida continua, assim como as várias formas de Migração continuam e até agravaram-se. O carisma mantém-se vivo e atual para toda a Igreja e para a Congregação. Durante os 50 anos esteve presente na Amora, mas por diversos anos também nas Paróquias de Telões (diocese de Vila Real) e de Pardilhó (diocese de Aveiro) e na direção da Obra Católica Portuguesa de Migrações, em Lisboa. Sempre teve a ajuda de muitos leigos e a preciosa colaboração das Irmãs Scalabrinianas, presentes desde 1982.

Ao recordar os 50 anos de presença em Portugal, os Missionários Scalabrinianos querem louvar e agradecer a Deus por estes serviços e com a sua Graça retomar a caminhada, servindo a Deus e aos migrantes.

Certamente surgirá uma pergunta: Que reflexo pastoral está a deixar nesta terra? Na Amora? Na Diocese?

Nestes 50 anos, a Congregação foi um pequeno sinal, uma pequena voz, a recordar que os migrantes são parte viva de uma Igreja, que é mãe e acolhe a todos, que não faz diferenças, até ama com mais ternura os que são rejeitados e mais sofrem. “Era migrante e tu me acolheste”. A Paróquia sempre privilegiou o aspeto social da vida da Comunidade, em todas as suas formas e colaboração possíveis, particularmente para os mais necessitados. Sempre atenta aos bairros e periferias, a Paróquia tem favorecido a vida das comunidades migrantes nas suas tradições e típicas formas de religiosidade, na sensibilização, animação e diálogo entre todos, num caminho gradual e seguro para a integração. 

Parece-nos que o Carisma da Congregação ajudou a formação de um espirito mais forte de acolhimento, de compreensão e apreço da “unidade na diversidade”, o que tornou mais forte a fraternidade entre todos, num enriquecimento recíproco.

A Comunidade Scalabriniana de Amora procurará continuar a ser sempre uma presença significativa para as Migrações, sendo situada numa área periférica da grande Lisboa, onde o cuidado dos Migrantes faz parte da nossa pastoral e merece uma atenção especial.

Amora poderá ser um lugar bom para estágios e preparação de pessoas com o objetivo de servir melhor sobretudo nas muitas Missões de Língua Portuguesa no mundo.

Procurará ter também uma preocupação para que haja jovens, que se abrem, através de um discernimento vocacional, para a vida sacerdotal, religiosa ou laical, empenhados na pastoral migratória.

Procurará ser um lugar de Missionariedade e de Solidariedade, uma Comunidade acolhedora e empenhada, pedindo que o Espírito do Senhor a mantenha sempre aberta e criativa, favorecendo a “Comunhão na Diversidade”.

Padre Pio Décimo Fantinato, Comunidade Scalabriniana da Amora

Foto de destaque: Paróquia de Amora, 2018

A Paróquia está a recolher testemunhos em vídeo dos 50 anos de presença scalabriniana na Amora. Assista aqui »

 

Amora: Scalabrinianos assinalam 50 anos de presença em Portugal

 

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31 de Maio de 2021