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A Palavra do Papa: os animadores da comunidade, a Eucaristia que cura, São Norberto, o pastor sonhador e o “respiro da vida”

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Na Eucaristia, “Jesus mostra-nos que o objetivo da vida é doar-se” explicou o Papa no Corpo de Deus. Apelou aos jovens para construírem uma economia menos consumista, convidou sacerdotes “ao encontro gratuito” com os “corações atribulados” e desafiou os fiéis à oração “ao ritmo do dia”.

Ambiente: restaurar a natureza danificada significa restaurar a nós mesmos

O Papa Francisco enviou uma mensagem à ONU por ocasião do lançamento da Década da Restauração de Ecossistemas, promovida pela organização. A mensagem foi lida em vídeo pelo cardeal Parolin: a degradação “é um claro resultado da disfunção económica”.

Com criatividade e coragem, o Santo Padre exorta a tornarmo-nos uma “geração da restauração” para os ecossistemas. “Restaurar a natureza que danificamos”, na verdade, significa em primeiro lugar, restaurar “a nós mesmos”.

É necessário “cuidarmos uns dos outros e dos mais vulneráveis entre nós”. “Injusto e insensato” é continuar no caminho da destruição do homem e da natureza. “Isto é o que uma consciência responsável nos diria”, enfatiza o Papa na mensagem.

Portanto, é necessário agir “com urgência” para nos tornarmos administradores cada vez mais responsáveis com as gerações futuras: todos nós fazemos parte do “dom da criação”, como nos lembra a Bíblia. Esta interconexão com referência à ecologia integral é o fio condutor da mensagem de Francisco, na qual é mencionada várias vezes a Laudato si’.

Juventude: trabalhar por um modelo de economia alternativo ao consumista

“A partilha, a fraternidade, a gratuidade e a sustentabilidade são os pilares sobre os quais se baseia uma economia diferente”, disse Francisco na audiência de sábado passado, na qual recebeu os jovens do “Projeto Policoro” pelos seus 25 anos de fundação.

Francisco sublinhou que “o Projeto Policoro foi e continua a ser um sinal de esperança, especialmente para muitas áreas carentes de trabalho no sul da Itália”. “Este importante aniversário realiza-se num momento de grave crise socioeconómica devido à pandemia”, frisou o Papa.

A seguir, Francisco sugeriu quatro verbos que podem ajudar os jovens no seu caminho: animar, habitar, apaixonar-se e acompanhar: “Nunca como neste tempo sentimos a necessidade de jovens que, à luz do Evangelho, saibam dar alma à economia, porque sabemos que «aos problemas sociais se responde com as redes comunitárias». Este é o sonho que também a iniciativa “Economia de Francisco” está a cultivar”, sublinhou.

Os jovens do “Projeto Policoro” são chamados “animadores de comunidades”. “De fato, as comunidades devem ser animadas a partir de dentro através de um estilo de dedicação: para serem construtoras de relações, tecelãs de uma humanidade solidária”.

“A vós, jovens, não falta criatividade: eu encorajo-vos a trabalhar por um modelo de economia alternativo ao consumista, que produz descartes.”

“Que os 25 anos do Projeto Policoro sejam um recomeço: encorajo-vos a “sonhar juntos” pelo bem da Igreja na Itália”, concluiu o Papa.

Angelus: a Eucaristia não é o prémio dos santos, mas o pão dos pecadores

O Papa Francisco conduziu a oração mariana do Angelus, neste domingo, 6 de junho, Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo em Itália. Em Portugal a data foi assinalada quinta-feira, dia 3.

O Evangelho apresenta-nos o relato da Última Ceia. Como refere o Santo Padre, as palavras e os gestos do Senhor tocam os nossos corações. Ele toma o pão nas suas mãos, pronuncia a bênção, parte-o e entrega-o aos discípulos, dizendo: “Tomai, este é o meu Corpo”.

É assim, com simplicidade, que Jesus nos doa o maior dos sacramentos. É um gesto humilde de dom, um gesto de partilha. No auge da sua vida, Ele não distribui pão em abundância para alimentar as multidões, mas parte-se na ceia pascal com os discípulos. Desta forma, Jesus mostra-nos que o objetivo da vida é doar-se, que a maior coisa é servir. E hoje encontramos a grandeza de Deus num pedaço de Pão, numa fragilidade que transborda amor, transborda partilha.”

Segundo o Papa, “há outra força que se destaca na fragilidade da Eucaristia: a força de amar quem erra. É na noite em que ele é traído que Jesus nos dá o Pão da Vida: Ele responde ao “não” de Judas com o “sim” da misericórdia.”

Francisco disse que “cada vez que recebemos o Pão da vida, Jesus vem para dar um novo sentido às nossas fragilidades. Ele lembra-nos que, aos seus olhos, somos mais preciosos do que pensamos. Ele diz-nos que fica feliz se partilhamos as nossas fragilidades com Ele. Ele repete-nos que a sua misericórdia não tem medo das nossas misérias.”

“A Eucaristia é um remédio eficaz contra esses fechamentos. O Pão da Vida, na verdade, cura a rigidez e a transforma em docilidade. A Eucaristia cura porque nos une a Jesus: faz-nos assimilar o seu modo de viver, a sua capacidade de partir-se e doar-se aos seus irmãos e irmãs, de responder ao mal com o bem” disse ainda o Papa.

Que a Eucaristia faça de nós um dom para todos”, concluiu.

Após a oração mariana, o Papa recordou a descoberta chocante dos restos mortais de 215 crianças na Escola Residencial Indígena Kamloops: “a triste descoberta aumenta ainda mais a nossa consciência das dores e sofrimentos do passado. Que as autoridades políticas e religiosas do Canadá continuem a trabalhar com determinação para esclarecer este triste caso e a se comprometerem humildemente por um caminho de reconciliação e cura”, disse Francisco.

A seguir, o Papa assegurou as suas orações “pelas vítimas do massacre perpetrado na noite de sexta-feira para sábado numa pequena cidade de Burkina Faso”. “Estou próximo aos familiares e a todo o povo burquinense que sofre muito com estes repetidos ataques. A África precisa de paz, não de violência”, acrescentou.

Francisco recordou ainda a beatificação, neste domingo, em Chiavenna, na Diocese de Como, Itália, da irmã Maria Laura Mainetti, das Filhas da Cruz, assassinada há 21 anos por três jovens influenciadas por uma seita satânica.

A seguir, o Papa recordou que na terça-feira, 8 de junho, a Ação Católica Internacional convidou a dedicar um minuto pela paz, cada um segundo a sua tradição religiosa. “Rezemos em particular pela Terra Santa e por Myanmar”, finalizou o Papa.

Corpus Christi: a sede de Deus nos leva ao altar

O Papa Francisco presidiu a Eucaristia da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, celebrada em Itália ao Domingo.

“Jesus manda aos seus discípulos que vão preparar o lugar para celebrar a Ceia Pascal. Foram eles que perguntaram: Mestre, «onde queres que façamos os preparativos para comeres a Páscoa?» Enquanto contemplamos e adoramos a presença do Senhor no Pão Eucarístico, somos chamados também nós a interrogar-nos: Em que «lugar» queremos preparar a Páscoa do Senhor? Quais são os «lugares» da nossa vida onde Deus nos pede para o hospedarmos?”, perguntou o Papa na sua homilia.

Para celebrarmos a Eucaristia, é preciso primeiramente reconhecer a nossa própria sede de Deus. O drama atual é que muitas vezes se exauriu a sede. Apagaram-se as perguntas sobre Deus, afrouxou o anseio por Ele. Deus deixou de atrair, porque já não nos damos conta da nossa sede profunda. É a sede de Deus que nos leva ao altar. Se faltar a sede, as nossas celebrações tornam-se áridas. Deste modo, também como Igreja, não nos podemos contentar com o grupinho daqueles que habitualmente se reúnem para celebrar a Eucaristia; devemos ir pela cidade, encontrar as pessoas, aprender a reconhecer e despertar a sede de Deus e o anseio do Evangelho”, disse o Pontífice.

Explica Francisco que Deus faz-se pequeno como um bocado de pão e, por isso mesmo, é preciso um coração grande para o poder reconhecer, adorar e acolher. A presença de Deus é tão humilde, escondida, por vezes invisível, que precisa de um coração preparado, desperto e acolhedor para ser reconhecida.

Por fim, salientou o sacrifício de Jesus: “Na Eucaristia, contemplamos e adoramos o Deus do amor. É o Senhor que não fraciona ninguém, mas fraciona-se a si mesmo. É o Senhor que não exige sacrifícios, mas sacrifica-se a si mesmo. É o Senhor que não pede nada, mas dá tudo”.

Para celebrar e viver a Eucaristia, também nós somos chamados a viver este amor. Porque não podes partir o Pão do domingo, se o teu coração estiver fechado aos irmãos. Não podes comer este Pão, se não deres o pão aos famintos. Não podes partilhar deste Pão, se não partilhas os sofrimentos de quem passa necessidade.”

“A procissão com o Santíssimo Sacramento, caraterística da festa do Corpo de Deus, mas que no momento ainda não podemos realizar, lembra-nos que somos chamados a sair levando Jesus. Sair com entusiasmo, levando Cristo àqueles que encontramos na vida quotidiana. Tornemo-nos uma Igreja com o cântaro na mão, que desperta a sede e leva a água. Abramos amorosamente o coração, para sermos a sala espaçosa e acolhedora onde todos possam entrar para encontrar o Senhor. Repartamos a nossa vida na compaixão e na solidariedade, para que o mundo veja, através de nós, a grandeza do amor de Deus”, concluiu o Papa.

Papa aos Premonstratenses: tenham o coração aberto à acolhida

Por ocasião do Jubileu proclamado pelos 900 anos da fundação da abadia de Premontrè, em França, o Papa Francisco escreveu uma carta ao Abade Wouters, em memória de São Norberto. O Papa exorta as comunidades espalhadas pelos cinco continentes a se deixarem guiar sempre pelo Evangelho, escutando Deus e os seus irmãos.

Apóstolo da paz, da Eucaristia, pregador incansável com um coração aberto para os que pediam ajuda ou uma simples oração. O Papa Francisco destaca as muitas características de São Norberto na sua carta ao Padre Jozef Wouters, abade geral dos Cónegos Regulares Premonstratenses.

Francisco recorda São Norberto, nascido em 1075 em Xanten, Alemanha, como “um dos mais solícitos artífices da reforma gregoriana”, traçando a sua vida e vocação que surgiram enquanto uma nova sensibilidade crescia na Igreja. “Não faltaram”, escreve o Papa, “homens e mulheres, inspirados por Deus, que começaram a questionar os laços dos ministros da Igreja com os interesses meramente mundanos. Norberto foi um desses”. Daí a escolha de renunciar à vida de corte e seguir o caminho dos apóstolos, abraçando a Regra de Santo Agostinho.

As comunidades da sua Ordem aceitaram esta herança e, durante nove séculos, cumpriram sua missão no espírito da Regra de Santo Agostinho, em fidelidade à meditação e à pregação do Evangelho, inspirando-se no Mistério Eucarístico, fonte e ápice da vida da Igreja.

Ao dar sua bênção, o Papa exorta os Premonstratenses, agora espalhados em cinco continentes, a permanecerem constantemente fiéis à vida escolhida, a exemplo dos apóstolos.

O Papa: as fragilidades são um lugar teológico. Os sacerdotes super-homens terminam mal

O Papa Francisco recebeu em audiência, na segunda-feira, no Vaticano, os sacerdotes do Colégio de São Luís dos Franceses, em Roma.

“Numa sociedade marcada pelo individualismo, autoafirmação e indiferença, vocês fazem a experiência de viverem juntos com os seus desafios quotidianos. Situada no coração de Roma, a vossa casa, com o vosso testemunho de vida, pode comunicar às pessoas que a frequentam os valores evangélicos de uma fraternidade variada e solidária, especialmente quando alguém passa por um momento difícil”, disse Francisco no seu discurso.

Neste ano dedicado a São José, o Papa convidou-os “a redescobrirem o rosto deste homem de fé, este pai terno, modelo de fidelidade e de abandono confiante ao plano de Deus”.

Francisco encorajou-os “a viverem os preciosos momentos de partilha e oração comunitária numa participação ativa e alegre, e também os momentos de gratuidade, de encontro gratuito”.

O sacerdote é um homem que, à luz do Evangelho, espalha o gosto de Deus ao seu redor e transmite esperança aos corações atribulados” sublinha o Papa, convidando-os a serem “pastores com o cheiro das ovelhas” e “a terem sempre horizontes grandes, a sonharem com uma Igreja inteiramente a serviço, e um mundo mais fraterno e solidário”, a serem com Cristo apóstolos da alegria, cultivando neles “a gratidão de estarem a serviço dos irmãos e da Igreja”.

Audiência Geral: a oração é o respiro da vida

«Rezem sem cessar. Deem graças em todas as circunstâncias». Estes versículos da Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses nortearam a penúltima catequese do Papa Francisco sobre o tema da oração na Audiência Geral desta quarta-feira, realizada no Pátio São Dâmaso.

Citando o itinerário espiritual do Peregrino russo, que começa quando se depara com esta frase do Apóstolo dos Gentios, Francisco sublinhou que as palavras de Paulo “comovem aquele homem que se questiona como é possível rezar sem interrupção, dado que a nossa vida é fragmentada em tantos momentos diferentes, que nem sempre tornam possível a concentração”. Assim, ele “começa a sua busca, que o levará a descobrir a oração do coração”.

Consiste em repetir com fé: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!” É uma oração que, pouco a pouco, se adapta ao ritmo da respiração e se estende ao longo do dia. Com efeito, a respiração nunca para, nem sequer quando dormimos. A oração é o respiro da vida.”

A oração é uma espécie de pauta musical, onde colocamos a melodia da nossa vida. Não está em contraste com o trabalho diário, não contradiz as muitas pequenas obrigações e compromissos, mas é o lugar onde cada ação encontra o seu sentido, o seu porquê e a sua paz”.

Quando, no Evangelho de Lucas, Jesus diz a Marta que a única coisa realmente necessária é ouvir Deus, não significa de modo algum que despreza os muitos serviços que ela estava a realizar com tanto empenho”, disse Francisco.

Ao mesmo tempo, uma oração que está alienada da vida não é saudável. A oração que nos afasta da realidade do viver torna-se espiritualismo, ou pior, ritualismo”, sublinhou o Papa, recordando “que Jesus, depois de ter mostrado a sua glória aos discípulos no monte Tabor, não quis prolongar aquele momento de êxtase, mas desceu com eles do monte e retomou o caminho diário”.

Segundo Francisco, “aquela experiência devia permanecer nos corações como luz e força da sua fé. Também uma luz e força para os dias próximos, os dias da Paixão”. “Assim, os tempos dedicados a estar com Deus reavivam a fé, que nos ajuda na realidade da vida, e a fé, por sua vez, alimenta a oração, sem interrupção. Nesta circularidade entre fé, vida e oração, o fogo do amor cristão que Deus espera de cada um de nós mantém-se aceso”, concluiu o Papa.

JM (com recursos jornalísticos do portal noticioso Vatican News)

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09 de Junho de 2021