O Bispo de Setúbal participou na sessão de encerramento da Conferência “Devolver o Futuro à Península de Setúbal” que discutiu as possibilidades de desenvolvimento económico da região, em particular no acesso a fundos europeus.
Promovido pela Associação da Indústria da Península de Setúbal (AISET), o encontro decorreu no dia 4 de junho no Instituto Politécnico de Setúbal (IPS), com o objetivo de debater as soluções políticas para a viabilização da criação da NUTS II Península de Setúbal.
D. José Ornelas apelou a um processo que leve a “pensar a fundo” o desenvolvimento regional, preparando o futuro para além dos programas europeus.
“Assistimos diariamente aos efeitos nefastos do atual enquadramento da Península de Setúbal no acesso ao quadro dos fundos europeus, em especial nas condições de sustentabilidade e desenvolvimento da atividade económica, com consequências que estão à vista de todos, nas famílias, no desemprego” alertou o prelado.
NUTS é a abreviatura de “Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos”, um sistema de organização geográfica do país que é utilizado na alocação de fundos de investimento no âmbito dos programas europeus.
De acordo com a AISET, a Península de Setúbal é “uma das regiões mais pobres do país no mapa dos fundos europeus” pelo facto de estar integrada na Área Metropolitana de Lisboa. A associação aponta uma perda a rondar os 2 mil milhões de euros por cada quadro comunitário, o que compromete o investimento e o desenvolvimento do território.
“É um problema de que sentimos as consequências todos os dias. Vim descobrir uma cidade e uma região que tem bolsas de pobreza que nos envergonham e preocupam, mas também um dinamismo enorme que precisa de incentivos e condições para se desenvolver” afirmou o bispo diocesano.
Acredita D. José Ornelas que existem na região de Setúbal inúmeras potencialidades: “a riqueza regional da Península não fica atrás da Mesopotâmia. Temos trunfos para jogar dos quais muito nos orgulhamos. Temos empresas e capacidades que podem ter futuro. O problema tem a ver com a maneira de pensar o país.”
“Precisamos de outra atitude, que não é simplesmente criar um balão de oxigénio, é pensar a fundo na questão, preparando o futuro para além dos programas europeus. O desafio é sermos autónomos e sermos capazes de dar um contributo à sociedade a todos os níveis, contando com o investimento público, a criatividade e empenho das empresas e o voluntariado das instituições, com vista à rentabilização sustentável do território”, salientou.
Alertou ainda para uma falta de visão e articulação interna, para além de um olhar centralizador que “não ajuda nem Lisboa nem Setúbal”.
“Há que mudar a maneira de pensar! É preciso mudar. Somos área metropolitana de Lisboa onde é que está a rede de metropolitano na margem sul? Servirmos para ser dormitório? Se nós tivéssemos grandes serviços, centros de investigação aqui neste lado, Lisboa ficaria melhor e nós também.”
O Bispo de Setúbal elogiou a aparente convergência política no sentido da criação da NUTS II Península de Setúbal, que “faz falta mas que peca por ser tardia”. Apelou a uma “visão integral” do projeto de desenvolvimento regional, com sustentabilidade, respeito pela criação, justiça, valorização do património e preocupação com a integração dos muitos imigrantes que escolhem a Margem Sul do Tejo para viver e trabalhar.
A Conferência Devolver o Futuro à Península de Setúbal surgiu no seguimento da estratégia da AISET para recolocar a Península de Setúbal no mapa das regiões e assim aceder a mais fundos europeus. O momento contou com diferentes contributos de investigadores, agentes sociais, instituições e decisores políticos.
JM