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A Palavra do Papa: a Casa de Nazaré, a força da semente, os pobres que são sacramento e a oração de Jesus

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“Sempre tereis pobres entre vós” é o tema da mensagem do Dia Mundial dos Pobres, apresentada esta semana. O Pontífice apontou São José como exemplo aos formadores de seminário, admitiu o muito que há para reformar na Igreja e no mundo em matéria de proteção de menores. “O bem sempre cresce de maneira humilde, escondida, muitas vezes invisível”, disse na Audiência Geral de quarta-feira.

Seminário: “Que seja como a casa de Nazaré”

O Papa Francisco recebeu em audiência, na quinta-feira, dia 10 de junho, na Sala Clementina, alguns membros da Comunidade do Pontifício Seminário Regional Marchigiano Pio XI de Ancona.

No seu discurso, o Pontífice enfatizou o tema da vocação, inspirada na pessoa de São José, ao qual foi dedicado um Ano especial, e ao chamamento de Deus. Segundo o Papa, o sacerdote é um discípulo que caminha continuamente nas pegadas do Mestre. “Por isso, a sua formação é um processo em evolução, iniciado na família, que depois prossegue na paróquia, consolidando-se no seminário e que dura por toda a vida. A figura de São José é o modelo mais bonito ao qual os seus formadores são chamados a se inspirar a fim de proteger e cuidar da sua vocação”.

Aos seminaristas, disse o Pontífice: “Que o Seminário para vós também seja como a casa de Nazaré, onde o Filho de Deus aprendeu de seus pais a humanidade e a proximidade. Não se contentem em ser hábeis em utilizar as redes sociais e a media para se comunicar. Somente transformados pela Palavra de Deus vocês poderão comunicar palavras de vida”.

O mundo está sedento de sacerdotes capazes de comunicar a bondade do Senhor a quem experimentou o pecado e o fracasso, de sacerdotes especialistas em humanidade, de pastores dispostos a partilhar as alegrias e as fadigas dos seus irmãos e irmãs, de homens que se deixam marcar pelo grito daqueles que sofrem”.

América Central: o amor ao próximo, indispensável para uma integração universal

Na sua mensagem ao Evento de Solidariedade no 30º Aniversário do Sistema de Integração Centro-Americano (SICA) que se realizou em Costa Rica, o Papa Francisco exortou os participantes à cooperação multilateral para administrar as fronteiras recordando sempre o valor do amor ao próximo para uma saudável integração universal.

Recordando os objetivos da iniciativa, o Papa escreveu que “visa mobilizar apoio para melhorar a situação das pessoas deslocadas à força e das comunidades que as acolhem na região da América Central e do México”. E destaca: “A palavra solidariedade, que está no centro deste evento, assume um significado ainda maior neste tempo de crise pandémica, uma crise que colocou à prova o mundo inteiro, tanto os países ricos como os pobres”.

“A crise sanitária, económica e social causada pela Covid-19 – continuou o Papa – recordou a todos que os seres humanos são como o pó. Mas pó valioso aos olhos de Deus, que nos constituiu como uma única família humana.  E assim como a família natural educa para a fidelidade, sinceridade, cooperação e respeito, promovendo o planeamento de um mundo habitável e para acreditar em relações de confiança, mesmo em condições difíceis, também a família das nações é chamada a dirigir a sua atenção comum a todos, especialmente aos membros menores e mais vulneráveis, sem ceder à lógica da concorrência e dos interesses particulares”.

Papa rejeita a renúncia de Marx: “Continua como arcebispo de Munique”

Carta de Francisco ao cardeal demissionário por causa da situação da Igreja alemã diante de abusos de menores: “Obrigado pela sua coragem cristã que não tem medo de ser humilhado diante da tremenda realidade do pecado. Assumir a crise, pessoal e comunitariamente, é o único caminho frutuoso.”

Se és tentado a pensar que, ao confirmar a tua missão e não aceitar tua demissão, este Bispo de Roma (teu irmão que te ama) não te compreende, pensa no que Pedro sentiu diante do Senhor quando, à sua maneira, apresentou a sua renúncia” colocando-se como um pecador e ouviu como resposta “Apascenta as minhas ovelhas”.

Esta imagem conclui a carta com a qual o Papa Francisco rejeitou a renúncia apresentada pelo arcebispo de Munique e Freising, cardeal Reinhard Marx, que a 21 de maio escreveu uma carta – posteriormente publicada – explicando que saía pela resposta, por si julgada insuficiente, ao escândalo de abusos na Alemanha.

Francisco lembra que “toda a Igreja está em crise por causa do caso de abusos” que “a Igreja hoje não pode dar um passo adiante sem assumir esta crise” porque “a política do avestruz não leva a lugar algum, e a crise deve ser assumida pela nossa fé pascal”.

Para o Pontífice, a “triste história dos abusos e a maneira como a Igreja tem lidado com ela até recentemente” é uma catástrofe: “Não podemos ficar indiferentes a este crime. Aceitar significa colocar-se em crise”, salientou.

O Papa recorda o “mea culpa” já repetido muitas vezes “diante de tantos erros históricos do passado”. Hoje, explica, “é nos pedido uma reforma” e essa reforma é “feita por homens e mulheres que não tiveram medo de entrar em crise e deixar-se reformar pelo Senhor”.

Francisco define “urgente” deixar “o Espírito nos conduzir ao deserto da desolação, à cruz e à ressurreição”. É o caminho do Espírito que devemos seguir, e o ponto de partida é a humilde confissão: erramos, pecamos.

Trabalho Infantil: o amanhã pertence às crianças que protegemos hoje

As crianças são o futuro da família humana: cabe a todos nós promover o seu crescimento, saúde e serenidade”. Com este tweet na sua conta @Pontifex, o Papa Francisco recordou o Dia Mundial contra o Trabalho Infantil celebrado neste dia 12 de junho em todo o mundo.

Naquele que as Nações Unidas estabeleceram como o ano dedicado ao combate a este fenómeno, 2021 regista 160 milhões de menores que passam os seus dias a trabalhar em vez de ir à escola e viver a sua infância com alegria.

De acordo com dados fornecidos pelo Instituto de Estudos Políticos Internacionais (ISPI), a maior parte dos menores entre os 5 e os 17 anos envolvidos em trabalho infantil, mais de 86 milhões, encontram-se na África Subsaariana. Na Ásia, o trabalho infantil afeta mais de 50 milhões de crianças, principalmente no Sudeste Asiático e, mesmo na Europa e América do Norte, existem quase 4 milhões de menores a trabalhar.

Após rezar o Angelus neste domingo, Francisco voltou a falar sobre esta tragédia da exploração do trabalho infantil: “Não é possível fechar os olhos à exploração das crianças, privadas do direito de brincar, estudar e sonhar”, afirmou considerando o fenómeno uma “tragédia”.

“Renovemos todos juntos o esforço para eliminar esta escravidão dos nossos tempos” apelou.

Papa: a nós cabe semear, mas a força da semente é divina

As duas parábolas do Evangelho de Marcos, proposto pela Liturgia no XI Domingo do Tempo Comum, ofereceram ao Papa a ocasião para nos encorajar a seguir com as boas obras e a ter total confiança na ação do Senhor, mesmo quando não a percebemos, pois “os resultados da semeadura não dependem das nossas capacidades”, mas sim “da ação de Deus”.

Francisco começou explicando aos presentes que as duas parábolas falam de factos quotidianos, revelando assim “o olhar atento de Jesus, que observa a realidade”. E por meio dessas pequenas imagens do dia-a-dia, Ele “abre janelas sobre o mistério de Deus e sobre a vida humana”.

“Assim, também nós temos necessidade de olhos atentos, para saber buscar e encontrar Deus em todas as coisas”, realçou.

Para nós, muitas vezes, a semente das nossas boas obras pode parecer pequena. No entanto, tudo o que é bom pertence a Deus e, portanto, humilde e lentamente, dá frutos. O bem – recordemos – sempre cresce de maneira humilde, de maneira escondida, muitas vezes invisível.”

Com essa parábola, de facto – disse Francisco – Jesus quer inspirar confiança em nós:

Em tantas situações da vida pode acontecer de ficarmos desanimados, porque vemos a fraqueza do bem em relação à aparente força do mal. E podemos nos deixar paralisar pela desconfiança quando constatamos que nos comprometemos, mas os resultados não chegam e as coisas parecem não mudar nunca. A nós – disse o Papa – cabe semear, com amor, empenho, paciência. Mas a força da semente é divina. O bem sempre cresce de maneira humilde, escondida, muitas vezes invisível.”

No final do Angelus, Francisco recordou as tragédias que ceifam a vida de milhares de migrantes na travessia do Mar Mediterrâneo, cujo símbolo é um barco naufragado em 2015 com mais de mil vítimas, e que na Sicília – local de desembarque – se transforma agora no “Jardim da Memória”, para despertar consciências e como símbolo das tragédias que envolvem homens, mulheres e crianças que abandonam as suas terras em busca de uma vida melhor.

Que este símbolo de tantas tragédias no Mar Mediterrâneo continue a interpelar a consciência de todos e favoreça o crescimento de uma humanidade mais unida, que abata o muro da indiferença. Pensemos nisso: que o Mediterrâneo se tornou o maior cemitério da Europa.”

O Papa recordou ainda que na segunda-feira, dia 14 de junho, é assinalado o Dia Mundial do Doador de Sangue: “Agradeço de coração aos voluntários e os encorajo a continuarem o seu trabalho, testemunhando os valores da generosidade e da gratuidade.”

Dia Mundial dos Pobres: “a pobreza não é fruto do destino, é consequência do egoísmo”

Na mensagem para o Dia Mundial dos Pobres que será celebrado no próximo dia 14 de novembro o Papa Francisco indicou como título as palavras: “Sempre tereis pobres entre vós” do Evangelho de São Marcos. E contextualiza a situação, recordando que foram pronunciadas por Jesus, alguns dias antes da Páscoa, por ocasião duma refeição em Betânia na casa de Simão, chamado ‘o leproso’. Francisco fala sobre as duas interpretações da ação da mulher que derramou o perfume sobre Jesus.

A de Judas preocupado pelo dinheiro que o perfume poderia render e a do próprio Jesus que permite individualizar o sentido profundo do gesto realizado pela mulher. “Jesus recorda-lhes que Ele é o primeiro pobre, o mais pobre entre os pobres, porque os representa a todos”. 

Esta forte ‘empatia’ entre Jesus e a mulher e o modo como Ele interpreta a sua unção, em contraste com a visão escandalizada de Judas e doutros, inauguram um fecundo caminho de reflexão sobre o laço indivisível que existe entre Jesus, os pobres e o anúncio do Evangelho”.  

Os pobres, afirma o Papa, “têm muito para nos ensinar. Além de participar do sensus fidei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja”.

“Os crentes, quando querem ver Jesus em pessoa e tocá-Lo com a mão, sabem aonde dirigir-se: os pobres são sacramento de Cristo, representam a sua pessoa e apontam para Ele”.

Recordando os flagelos sociais agravados pela pandemia, o Papa não deixa de apontar alguns caminhos, como acabar com um “estilo de vida individualista”: “a pobreza não é fruto do destino; é consequência do egoísmo. Portanto é decisivo dar vida a processos de desenvolvimento onde se valorizem as capacidades de todos, para que a complementaridade das competências e a diversidade das funções conduzam a um recurso comum de participação”, apontando para “uma abordagem diferente da pobreza” e “capaz de enfrentar novas formas de pobreza que invadem o mundo”.

Francisco: “Agir para o desenvolvimento de todos é realizar um trabalho de conversão”

O Papa Francisco enviou uma mensagem em vídeo, na terça-feira 15 de junho, aos participantes da 16ª edição do Fórum Globsec Bratislava, na Eslováquia, sobre o tema “Reconstruamos melhor o mundo”, com participação de políticos, empresários e organizações internacionais.

Ver, julgar e agir. Estes três verbos citados pelo Papa Francisco na videomensagem, indicam o caminho para que o mundo saia melhor da crise causada pela pandemia de coronavírus.

Segundo o Papa, o primeiro passo a ser dado é ver o mundo que entrou em crise, analisar o seu passado, reconhecer “as carências sistémicas”, os “erros cometidos” também em relação à Criação. A partir disso, “desenvolver uma ideia de retomada” que reconstrói, corrige “o que não funcionava antes da chegada do coronavírus e que contribuiu para piorar a crise”.

Agir para o desenvolvimento de todos é realizar um trabalho de conversão. E, antes de tudo, decisões que convertem a morte em vida, as armas em alimento. Todos nós precisamos empreender também uma conversão ecológica. A visão de conjunto inclui a perspetiva da criação entendida como uma “casa comum” e exige uma ação urgente para protegê-la” conclui.

O Papa: a oração de Jesus é o modelo da nossa oração

“A oração pascal de Jesus por nós” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, realizada no Pátio São Dâmaso.

A oração é uma das caraterísticas mais marcantes da vida de Jesus. Jesus rezava, e rezava muito. No decurso da sua missão, Jesus imergiu-se na oração, pois o diálogo com o Pai era o núcleo incandescente de toda a sua existência”, sublinhou Francisco, ressaltando que “os Evangelhos testemunham que a oração de Jesus se tornou ainda mais intensa e densa na hora da sua paixão e morte”.

De facto, estes acontecimentos culminantes constituem o âmago da pregação cristã, o kerygma: as últimas horas vividas por Jesus em Jerusalém são o coração do Evangelho e por isso encontramos Jesus nestes momentos totalmente imerso na oração:

Ele reza de forma dramática no Jardim do Getsémani, acometido por uma angústia mortal. No entanto, naquele exato momento, Jesus dirige-se a Deus, chamando-lhe “Abbá”, Pai. Esta palavra aramaica, o idioma de Jesus, expressa intimidade e confiança. Quando sente as trevas que se adensam à sua volta, Jesus as atravessa com aquela pequena palavra: Abbá! Pai”.

“Jesus reza também na cruz, envolto no silêncio obscuro de Deus. No meio do drama, na dor atroz da alma e do corpo, Jesus reza com as palavras dos salmos; com os pobres do mundo, especialmente os esquecidos por todos, ele pronuncia as trágicas palavras do salmo 22: «Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?». Ele sentia o abandono e rezava. Na Cruz realiza-se o dom do Pai, que oferece o amor, ou seja, realiza-se a nossa salvação. Tudo é oração nas três horas da Cruz. Jesus reza nas horas decisivas da Paixão e da morte. Com a ressurreição, o Pai responderá à sua oração. A oração de Jesus é intensa, a oração de Jesus é única, e torna-se o modelo da nossa oração.”

O Papa reiterou que Jesus “rezou por mim, por cada um de nós. Cada um de nós pode dizer que Jesus na cruz rezou por mim. Rezou! Jesus pode dizer a cada um de nós que rezou por mim na última ceia e no madeiro da cruz. Até mesmo no mais doloroso do sofrimento não estamos sozinhos, a oração de Jesus está connosco. Que com a sua palavra possamos ir adiante”.

Para o Santo Padre, o mais bonito a recordar, na conclusão deste ciclo de catequeses sobre a oração, é “a graça que não só imploramos, mas que, por assim dizer, fomos “implorados”, já somos acolhidos no diálogo de Jesus com o Pai, na comunhão do Espírito Santo”.

JM (com recursos jornalísticos do portal de notícias Vatican News)

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17 de Junho de 2021