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A Palavra do Papa: a cura dos afetos, os guardiães da fé, as testemunhas livres e os arquitetos do diálogo

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Na véspera do seu período de descanso, o Santo Padre dedicou os últimos dias ao diálogo ecuménico e inter-religioso. Nas suas intervenções, apelou ao diálogo, à economia baseada nas pessoas e incentivou a sermos livres como Paulo e Pedro. “A maior doença da vida é a falta de amor” salientou no Angelus de domingo.

Ecumenismo: “Jesus acompanha-nos no caminho do conflito à comunhão”

O Papa Francisco recebeu em audiência, na sexta-feira, 25 de junho, uma delegação da Federação Luterana Mundial, pela comemoração da leitura da Confessio Augustana, texto que deu origem à Igreja Luterana e à separação da Igreja Romana.

Segundo o Papa, “no primeiro artigo, a Confessio Augustana professa a fé no Deus Uno e Trino, referindo-se ao Concílio de Nicéia”, que constitui uma “expressão vinculante de fé não só para católicos e luteranos, mas também para os irmãos ortodoxos e para muitas outras comunidades cristãs”.

“Tudo aquilo que a graça de Deus nos dá a alegria de experimentar e partilhar, a crescente superação das divisões, a cura progressiva da memória, a colaboração reconciliada e fraterna entre nós, encontra o seu fundamento no único batismo para a remissão dos pecados”.

“O ecumenismo não é um exercício de diplomacia eclesial, mas um caminho de graça” – diz o Papa, defendendo que “ele não se apoia em mediações e acordos humanos, mas na graça de Deus, que purifica a memória e o coração, vence a rigidez e se orienta para uma comunhão renovada: não para acordos diminutivos ou sincretismos conciliantes, mas para uma unidade reconciliada nas diferenças”.

“Nesta perspetiva, gostaria de encorajar todos aqueles que estão envolvidos no diálogo católico-luterano a prosseguir com confiança na oração incessante, no exercício da caridade partilhada e na paixão pela busca de uma maior unidade entre os vários membros do Corpo de Cristo”, desafiou.

Cáritas: “ser uma Igreja da ternura, onde os pobres são os bem-aventurados”

Francisco recebeu em audiência na manhã de sábado os membros da Cáritas Italiana no 50º aniversário da sua fundação. O discurso do Papa aos presentes foi precedido por um momento de fraternidade, testemunhos e reflexões partilhadas com foco na etapa de dois anos feita em vista do Jubileu de 50 anos.

Vocês são uma parte viva da Igreja, vocês são “a nossa Cáritas”, como gostava de dizer São Paulo VI, que a quis e planeou. Ele encorajou a Conferência Episcopal Italiana a criar um organismo pastoral para promover o testemunho da caridade no espírito do Concílio Vaticano II, para que a comunidade cristã fosse sujeito de caridade. Eu confirmo a vossa tarefa: no atual momento de mudanças há muitos desafios e dificuldades, há cada vez mais rostos dos pobres e situações complexas no território.”

Salientando que o 50º aniversário é “uma etapa para agradecer ao Senhor pelo caminho feito e para renovar, com a sua ajuda, o impulso e os compromissos”, o Papa indica “três caminhos, três estradas para continuar a viagem”. Eles são o caminho dos últimos, dos “frágeis e indefesos”; o caminho “irrenunciável” do Evangelho, que nos mostra que Jesus “está presente em cada pobre” e que nos exorta a “ser uma Igreja da ternura, onde os pobres são os bem-aventurados”; e o caminho da criatividade, repleto de “sonhos de fraternidade e sinais de esperança”.

“Contra o vírus do pessimismo, imunizem-se, partilhando a alegria de ser uma grande família. Nesta atmosfera fraterna, o Espírito Santo, que é criador e criativo, sugerirá novas ideias, adequadas para os tempos em que vivemos”, sugeriu, agradecendo o empenho de trabalhadores, padres e voluntários.

Angelus: “a maior doença da vida é a falta de amor”

Neste domingo Francisco rezou a oração mariana do Angelus com os fiéis reunidos na Praça São Pedro. “Hoje, no Evangelho, Jesus depara-se com as nossas duas situações mais dramáticas, morte e doença”, disse o Papa.

Delas ele liberta duas pessoas: uma menina, que morre enquanto o pai foi pedir ajuda a Jesus; e uma mulher, que perde sangue há muitos anos. Jesus deixa-se tocar pela nossa dor e morte, e realiza dois sinais de cura para nos dizer que nem a dor nem a morte têm a última palavra. Ele diz-nos que a morte não é o fim. Ele vence este inimigo, do qual não podemos nos libertar sozinhos”.

“Concentremo-nos, no entanto, neste período em que a doença ainda está no centro das crónicas, no outro sinal, a curada mulher”, sublinhou. “Mais do que a sua saúde, eram os seus afetos a serem comprometidos: ela tinha perda de sangue e, portanto, de acordo com a mentalidade da época, era considerada impura. Ela era, portanto, marginalizada, não podia ter relações, um marido, uma família e relações sociais normais. Ela vivia sozinha, com o coração ferido”.

A maior doença da vida é a falta de amor, é não ser capaz de amar. E a cura mais importante é a dos afetos”.

“Também nós, quantas vezes nos lançamos em remédios errados para satisfazer a nossa falta de amor”. “Pensamos que a nos fazer felizes sejam o sucesso e o dinheiro, mas o amor não se compra, é gratuito. Refugiamo-nos no virtual, mas o amor é concreto. Nós não nos aceitamos como somos e nos escondemos por detrás dos truques da exterioridade, mas o amor não é aparência. Procuramos soluções em magos e gurus, para depois nos encontrarmos sem dinheiro e sem paz”.

Francisco disse ainda que muitas vezes “gostamos de ver as coisas ruins das outras pessoas. Quantas vezes caímos na tagarelice, que é fofocar sobre os outros. Que horizonte de vida é este”? “Não julgue a realidade pessoal e social dos outros”, reiterou ele, “não julgue e deixe os outros viverem”. “Olhe ao seu redor: você verá que tantas pessoas que vivem ao seu lado se sentem feridas e sozinhas, elas precisam se sentir amadas. Dê o passo. Jesus lhe pede um olhar que não se detém na exterioridade, mas vai ao coração; um olhar que não julga, deixemos de julgar os outros, Jesus pede-nos um olhar que não julga, mas acolhedor. Porque só o amor cura a vida”.

Após a recitação mariana do Angelus, Francisco pediu orações pela região do Médio Oriente. Pediu ainda uma oração especial. “O Papa”, disse ele, “precisa de suas orações”. “Peço-lhes que rezem pelo Papa”. O Pontífice também expressou proximidade à população da República Checa abalada por um forte furacão.

Médio Oriente: guardiães e testemunhas da fé

Numa Carta para o Dia da Paz para o Oriente, convocado neste domingo por ocasião da celebração do 130º aniversário da Rerum Novarum, Francisco exorta a Igreja do Médio Oriente a inspirar-se na Sagrada Família, à qual se consagrou nesse dia, a perseverar na fé e a viver a profecia da fraternidade, contribuindo para a construção do bem comum.

A consagração à Sagrada Família convoca cada um de vocês a redescobrir como indivíduos e como comunidade a sua vocação de ser cristãos no Médio Oriental, não apenas pedindo o justo reconhecimento dos seus direitos como cidadãos originários dessas amadas terras, mas vivendo a sua missão como guardiães e testemunhas das primeiras origens apostólicas”: foi o que escreveu o Papa na sua Carta enviada aos Patriarcas Católicos do Médio Oriente.

O Médio Oriente – repete Francisco, usando uma imagem já conhecida desde a sua viagem ao Iraque – é como um “tapete”, fruto do entrelaçamento de “numerosos fios que somente juntos lado a lado se tornam uma obra-prima”.

O convite final, portanto, aos Patriarcas católicos do Oriente Médio é a serem “sal das suas terras”, de acordo com os princípios da Doutrina Social da Igreja e a “viverem a profecia da fraternidade humana”.

LGBT: “proximidade, compaixão e ternura”

O Papa Francisco escreveu uma breve carta manuscrita em espanhol enviada ao padre jesuíta James Martin, que realiza o seu apostolado entre as pessoas LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transsexuais), por ocasião do webinar “Outreach 2021”, realizado no sábado.

O sacerdote publicou a carta no Twitter, na qual o Papa o incentiva a continuar o seu trabalho apostólico, ao estilo de Deus que se caracteriza pela sua “proximidade, compaixão e ternura”.

Esta é a maneira como Ele se aproxima de cada um de nós. Pensando no seu trabalho pastoral, vejo que continuamente tenta imitar este estilo de Deus. Você é um sacerdote para todos e todas, como Deus é Pai de todos e todas. Rezo por si para que possa continuar assim, estando próximo, compassivo e com muita ternura”.

Francisco agradeceu ao Padre Martin pelo seu zelo pastoral e assegurou a sua oração por “todos aqueles que o Senhor colocou ao seu lado para que possa cuidar deles, protegê-los e fazê-los crescer no amor de nosso Senhor Jesus Cristo”.

Papa Francisco: “só uma Igreja liberta é uma Igreja credível”

Na Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo (29 de junho), o Papa Francisco celebrou a Eucaristia com a bênção dos pálios. No decorrer do último ano foram nomeados 34 novos arcebispos mas por causa da pandemia apenas estavam presentes doze.

Na sua homilia, o Papa recordou que o pálio é “sinal de unidade com Pedro que recorda a missão do pastor que dá a vida pelo rebanho”. Francisco iniciou a homilia convidando a observar de perto Pedro e Paulo, duas testemunhas da fé pois “no centro da sua história, não está a própria destreza, mas o encontro com Cristo que lhes mudou a vida”. “Pedro e Paulo – continuou – são livres unicamente porque foram libertados. Detenhamo-nos neste ponto central”.

Do que os Apóstolos foram libertados, iniciou o Pontífice:

Pedro, o pescador da Galileia, foi libertado em primeiro lugar da sensação de ser inadequado e da amargura de ter falido, e isso verificou-se graças ao amor incondicional de Jesus”. Jesus encorajou-o, disse o Papa, “a não desistir, a lançar novamente as redes ao mar, a caminhar sobre as águas, a olhar com coragem para a sua própria fraqueza, a segui-Lo pelo caminho da Cruz, a dar a vida pelos irmãos, a apascentar as suas ovelhas”.

Em seguida, o Papa descreve a libertação de Paulo: “Também o apóstolo Paulo experimentou a libertação por obra de Cristo. Foi libertado da escravidão mais opressiva, a de si mesmo, e de Saulo, tornou-se Paulo, que significa ‘pequeno’. Foi libertado também daquele zelo religioso que o tornara fanático na defesa das tradições recebidas e era violento ao perseguir os cristãos: foi libertado“.

O Papa recorda que “a Igreja olha para estes dois gigantes da fé e vê dois Apóstolos que libertaram a força do Evangelho no mundo, só porque antes foram libertados pelo encontro com Cristo. Ele não os julgou, nem humilhou, mas partilhou de perto e afetuosamente a sua vida”.

Tocados pelo Senhor, também nós somos libertados. E sempre temos necessidade de ser libertados, porque só uma Igreja liberta é uma Igreja credível.”

Por fim, o Papa descreve: “Pedro e Paulo oferecem-nos a imagem duma Igreja confiada às nossas mãos, mas conduzida pelo Senhor com fidelidade e ternura; duma Igreja débil, mas forte com a presença de Deus; duma Igreja libertada que pode oferecer ao mundo aquela libertação que ele, sozinho, não se pode dar a si mesmo”.

Angelus: “A exemplo de Pedro e Paulo, abandonar as máscaras por uma Igreja mais missionária”

No Angelus de terça-feira (dia 29), Solenidade de São Pedro e São Paulo, Francisco encorajou a seguir o testemunho de vida dos apóstolos: vamos “abandonar as nossas máscaras, renunciar às meias-medidas, às desculpas que nos tornam mornos e medíocres”.

Os Santos que hoje celebramos fizeram esta passagem, tornando-se testemunhas. Não eram admiradores, mas imitadores de Jesus. Não eram espetadores, mas protagonistas do Evangelho. Não acreditavam em palavras, mas nos atos. Pedro não falou de missão, era pescador de homens; Paulo não escreveu livros eruditos, mas cartas vivas, enquanto viajava e testemunhava. Ambos gastaram a vida pelo Senhor e pelos irmãos.”

O Papa, assim, encorajou a aceitarmos essa provocação, seguindo o testemunho de vida dos Apóstolos que nem sempre foram “exemplares”, mas “transparentes” já que tiveram toda a “história nua e crua nos Evangelhos, com todas as misérias”.

Depois do Angelus, o Papa Francisco recordou com muito afeto os 70 anos da ordenação sacerdotal do Papa Emérito Bento XVI: “A si, Bento, querido pai e irmão, segue o nosso afeto, a nossa gratidão e a nossa proximidade. Ele vive num mosteiro, dentro do Vaticano, um lugar que foi construído para abrigar as comunidades contemplativas, para que pudessem rezar pela Igreja. Atualmente, é ele o contemplativo do Vaticano, que passa a sua vida rezando pela Igreja e pela diocese de Roma, da qual ele é bispo emérito. Obrigado, Bento, querido pai e irmão. Obrigado pelo seu testemunho confiável. Obrigado pelo seu olhar continuamente voltado para o horizonte de Deus: obrigado!”

Audiência Geral: “A graça divina transforma a nossa vida”

O Papa Francisco realizou a sua última catequese antes da pausa de verão. De facto, durante todo o mês de julho estão suspensas as audiências públicas do Santo Padre.

“Paulo, verdadeiro apóstolo” foi o tema da segunda catequese do Papa dedicada à Carta aos Gálatas.

Na quarta-feira passada, ao inaugurar o novo ciclo, o Pontífice comentou as dificuldades enfrentadas pelo discípulo na obra de evangelização na Galácia. Em primeiro lugar, Paulo sente-se obrigado a recordar que é um verdadeiro apóstolo não por causa do seu mérito, mas devido ao chamamento de Deus. Ele próprio conta a história da sua vocação e conversão, que coincidiu com o aparecimento do Cristo Ressuscitado durante a viagem a Damasco (cf. At 9, 1-9).

Paulo evidencia assim a verdade da sua vocação através do contraste flagrante que tinha sido criado na sua vida: de perseguidor dos cristãos porque não observavam as tradições e a lei, tinha sido chamado a tornar-se apóstolo para anunciar o Evangelho de Jesus Cristo. “Vemos que Paulo é livre: é livre para anunciar o Evangelho e também é livre para confessar os seus pecados. ‘Eu era assim’: é a verdade que dá liberdade ao coração, é a liberdade de Deus”, explicou Francisco.

Pensando nesta sua história, Paulo está cheio de admiração e gratidão. É como se quisesse dizer aos Gálatas que podia ter sido tudo menos apóstolo. No entanto, algo inesperado aconteceu: Deus revelou-lhe o seu Filho para que pudesse tornar-se o seu arauto entre os gentios (cf. Gl 1, 15-16).

“Quão imperscrutáveis são os caminhos do Senhor!”, disse o Papa. Tocamos esta experiência com as nossas mãos todos os dias, especialmente se pensarmos nos momentos em que o Senhor nos chamou.

Ele tece a nossa história, a Sua chamada envolve sempre uma missão à qual estamos destinados; por isso, é nos pedido que nos preparemos seriamente, sabendo que é o próprio Deus que nos envia e apoia com a Sua graça.

“Irmãos e irmãs, deixemo-nos conduzir por esta consciência: o primado da graça transforma a existência e a torna digna de ser colocada a serviço do Evangelho. O primado da graça perdoa todos os pecados, transforma os corações, transforma a vida, faz-nos ver novos caminhos. Não nos esqueçamos disto. Obrigado.”

No final das saudações aos fiéis e peregrinos presentes no Pátio São Dâmaso, o Papa Francisco surpreendeu a todos ao fazer um agradecimento especial a Renzo Cestiè, o seu motorista que se vai reformar, pedindo uma salva de palmas.

Oração de julho: “sejamos arquitetos do diálogo e da amizade”

“A amizade social” é o tema da vídeo-mensagem do Papa Francisco com a intenção de oração para o mês de julho, divulgada esta quarta-feira.

“A Bíblia diz que quem encontra um amigo encontra um tesouro”, diz o Pontífice na mensagem de vídeo, exortando a rezar pela construção do bem comum através da ação de homens e mulheres que dialogam, e que também se mantêm ao lado dos mais pobres e vulneráveis.

Na mensagem, Francisco destaca o diálogo como “forma de ver a realidade de uma maneira nova, de viver com entusiasmo os desafios da construção do bem comum”. O Papa pede o fim da polarização que divide a sociedade e reza para que “não haja espaços de inimizade e de guerra”.

“Sejamos arquitetos do diálogo, arquitetos da amizade, corajosos e apaixonados, homens e mulheres que sempre estendem a mão”, pede.

A empresários cristãos: “Seguir o caminho da economia social”

O Papa Francisco enviou uma mensagem em vídeo para a Associação Cristão de Diretores de Empresas – ACDE – com sede na Argentina, por ocasião da reunião anual com o tema “Hacia un capitalismo más humano”. 

Devemos seguir o caminho da economia social” realçou o Pontífice, afirmando que está na hora de “retornar à economia do concreto, para não perder o concreto. E o concreto é a produção, o trabalho de todos, que não falte emprego, as famílias, a pátria, a sociedade. O concreto.”

“Numa sociedade onde existe uma margem muito grande de pobreza, é preciso perguntar-se como vai a economia, se é justa, se é social, ou se simplesmente busca interesses pessoais. A economia é social”, acrescentou.

O Santo pediu ainda “clareza, transparência e produção” nos investimentos feitos para que haja maior “confiança social”. “É muito difícil construir sem confiança social”, concluiu.

JM (com recursos jornalísticos do portal de notícias Vatican News)

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01 de Julho de 2021