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Testemunho: Sobre a vida e ministério do Padre João Luís Paixão

2021-07-12_PeJoaoLuisPaixao (2)

Sem uma palavra entre nós, conheci o futuro Padre João Luís Paixão ainda seminarista na Peregrinação Jubilar às Jornadas Mundiais da Juventude, a Roma, no ano 2000. Não trocámos uma palavra, embora a imagem que me tenha ficado dele viesse a ser completamente alterada, após a sua ordenação presbiteral, no dia 23 de Junho de 2002, na Igreja de Vale de Figueira – ano em que a Sé de Setúbal esteve em obras.

Quer por via do carácter que o Sacramento imprime, quer por via da personalidade deste homem que o Senhor escolheu para seu ministro, a vontade que o Padre João tinha de servir Jesus foi sempre superior às sua forças. Da já longa colaboração que tinha com os Cursilhos de Cristandade, transportou para a Pastoral Juvenil da Diocese, que herdou do Padre Pedro Quintela, a vontade de mudar a vida dos jovens dando-lhes a conhecer Aquele que eles procuravam[1]: Jesus.

Os tempos, como os petiscos, eram outros em 2003, quando o novo Secretário juntou na Pastoral Juvenil, para o apoiar, jovens com elevado networking a nível vicarial. As iniciativas atraíam centenas dos jovens de então, na nossa Diocese. Mas consciente de que o alcance o ultrapassava, sempre nos lembrou que dar a conhecer Jesus aos jovens era mais importante do que qualquer técnica pedagógica ou dinâmica juvenil. Tenho por isso sempre presente nas actividades, a Eucaristia e a Adoração ao Santíssimo ao Sacramento.

No limite das suas forças e da sua frágil saúde, o Padre João sempre se apoiou no talento dos vários jovens que o rodeavam na Pastoral Juvenil, convencido que o Espírito Santo fazia-os instrumentos da vontade divina, mesmo que, não poucas vezes, as opiniões divergissem das suas. A humildade no reconhecimento dos seus limites, em lugar de afastar, permitiu que muitos se aproximassem dele. Estava como que revestido das palavras de São Paulo “Quando sou fraco é que sou forte” (2 Cr 12,10).

Lembro de que quando lhe pedi para deixar a Pastoral Juvenil para fundar uma Associação de Ajuda a Grávidas em dificuldade – VIVAHÁVIDA -, ele me respondeu com um olhar triste, que se era isso que Nosso Senhor me pedia, que seguisse esse caminho. No dia do seu funeral, não pude deixar de notar que num painel da sua igreja paroquial, continuava um dos cartazes da Associação VIVAHÁVIDA.

Era reconhecido o seu apoio incondicional à Vida desde a Concepção até à Morte natural (agora: mesmo depois da morte) e aos outros valores não-negociáveis[2]. Muitos lembrar-se-ão de que em 2006, antes do referendo ao Aborto, acabou por ser identificado, depois de penetrar num chat de um sítio de Internet de um partido político que defendia o Aborto. Aí deixou opiniões que escalaram um aceso debate que levou ao encerramento do mesmo chat. Relevo este episódio, não só para ilustrar o seu compromisso com a Vida, mas para mostrar aquilo que esperamos de um cristão viril: ousadia e convicção nas verdades da Fé! E como ambas faltam hoje!

 

Sob o aparente fracasso das assembleias vazias nas Igrejas, dos escândalos entre o Clero e do sofrimento das comunidades, o Padre João lembrava que é o Senhor quem tem sempre a última palavra. Palavra que nos criou e Palavra que nos levanta no silêncio, quando o mundo já nada quer connosco.

O Martirológio não indica (ainda) nenhum santo com memória obrigatória em Portugal para o dia 8 de Julho, dia que é o primeiro da Novena de Nossa Senhora do Carmo, padroeira da Diocese. Uma diocese que vive as vicissitudes dos tempos. Tempos que têm horror à morte, se não for ‘desejada’. E eis que a morte do Padre João, no passado dia 8 de Julho, foi tudo menos indolor.

No entanto, tenho a intuição de que, no seu ministério sacerdotal, o Padre João viveu essa dor em união com o sofrimento do seu Jesus, para lenimento da sua alma, resgate de outras almas e santificação da nossa Diocese. Suporto-me nos muitos testemunhos dos que o acompanharam com orações até à hora derradeira.

A prudência da Igreja não canoniza ninguém após a sua morte, antes procura sufragar a alma. Isso não nos impede de pedir agora a intercessão do Padre João e quem sabe… Dia 8 de Julho está livre.

Manuel Cruz, antigo membro da Equipa da Pastoral Juvenil de Setúbal

 

[1] Cit. Homilia Papa João Paulo II Missa de encerramento da JMJ 2000

[2] Cit. Discurso Papa Bento XVI no Congr. promovido pelo PPE, Mar. 2006: defesa da Vida, concepção à morte natural; casamento entre um homem e uma mulher; direito dos pais a educarem os seus filhos.

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13 de Julho de 2021