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A Palavra do Papa: a catequese do olhar, a unidade do Corpo, o descanso em Deus e o cuidado do coração

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Esta semana o Santo Padre apontou o “grande valor social” do cinema. Encorajou os frades menores a ir ao encontro dos que sofrem, publicou novas normas para o uso do Missal de 1962 e alertou para o perigo do ativismo exacerbado e a necessidade de descanso.

Papa: depois da pandemia, precisamos de novos olhos para olhar para a realidade

“Ver é um ato que é feito apenas com os olhos, para olhar precisa-se dos olhos e do coração”. São palavras do Papa Francisco na entrevista do Monsenhor Dario Viganò e publicada no seu último livro: “Lo sguardo: porta del cuore. Il neorealismo tra memoria e attualità” (ed. Effatà). O Pontífice convida a redescobrir através do cinema uma educação ao olhar puro e a importância de preservar a memória através de imagens.

Na entrevista, como se estivesse a folhear um álbum de recordações, o Santo Padre volta no tempo à sua infância na Argentina, quando com os seus pais ouviam óperas na rádio ou ia ver filmes nas salas de cinema do seu bairro, em Buenos Aires.

Foi com os filmes que o Papa conheceu a autêntica história do neorrealismo, “entre os dez e doze anos”, recorda, “acho que vi todos os filmes com Anna Magnani e Aldo Fabrizi”. Filmes muito importantes que permitiram às crianças da época compreender em profundidade, além das histórias de migrantes, a grande tragédia da guerra mundial. Para o Papa, os filmes do neorrealismo formaram e ainda formam o coração, porque “ensinaram-nos a olhar para a realidade com novos olhos”.

Considera o Santo Padre que o cinema também é uma forma de olhar para pandemia, podendo tornar-se uma esfera, um meio e uma oportunidade para uma “catequese do olhar”, porque precisamos de “uma pedagogia para os nossos olhos que muitas vezes são incapazes de contemplar no meio da escuridão a ‘grande luz’ (Is 9,1) que Jesus traz”.

Num mundo atravessado pela média digital, que “pode expor ao risco de dependência, isolamento e progressiva perda do contato com a realidade concreta”, Francisco aponta o grande valor social do cinema como meio de agregação e educação e vê no neorrealismo uma lupa que “toca a realidade como ela é”, cuida dela e, portanto, “se relaciona”.

Franciscanos: misericórdia oferecida aos últimos e sofredores, raiz da espiritualidade franciscana

Vocês têm uma herança espiritual de riqueza inestimável, enraizada na vida evangélica e caracterizada pela oração, a fraternidade, a pobreza, a minoridade e a itinerância. Não se esqueçam que receberam um olhar renovado, capaz de nos abrir ao futuro de Deus, da proximidade com os pobres, as vítimas da escravidão moderna, os refugiados e os excluídos deste mundo. Eles são seus mestres. Abracem-nos como São Francisco!”

Esta foi a exortação do Papa Francisco na mensagem enviada aos participantes do Capítulo Geral da Ordem dos Frades Menores que elegeu o novo Ministro Geral, Padre Massimo Giovanni Fusarelli, que sucede ao Padre Michael A. Perry, ambos saudados pelo Santo Padre no início da mensagem.

Celebrar o Capítulo Geral neste tempo difícil e complexo “já é motivo de louvor e de agradecimento a Deus”, disse o Pontífice dirigindo-se aos Frades Menores e dizendo ser esta “uma palavra de ressurreição, que os enraíza na dinâmica pascal, porque não há renovação e não há futuro senão em Cristo ressuscitado”. Neste sentido, agradecidos, os frades devem estar abertos “para acolher os sinais da presença e ação de Deus e redescobrir o dom do seu carisma e da sua identidade fraterna e minoritária.”

Fazendo menção ao Testamento de São Francisco, onde conta que o princípio da própria conversão foi o encontro com os leprosos”, o Papa disse que na raiz da espiritualidade dos franciscanos “está este encontro com os últimos e com os sofredores, no sinal de ‘fazer misericórdia’”:

A renovação da vossa visão só pode partir deste novo olhar com o qual contemplar o irmão pobre e marginalizado, sinal, quase sacramento da presença de Deus. Deste olhar renovado, desta experiência concreta de encontro com o próximo e com as suas feridas, pode nascer uma renovada energia para olhar para o futuro”.

O Papa então encorajou os Frades Menores “a ir ao encontro dos homens e mulheres que sofrem na alma e no corpo, para oferecer a sua presença humilde e fraterna, sem grandes discursos, mas fazendo sentir a sua proximidade de irmãos menores”.

Novas normas sobre a missa antiga, com mais responsabilidades para o bispo

O Papa Francisco, após consultar os bispos do mundo, decidiu mudar as normas que regem o uso do missal de 1962, que foi liberalizado como “Rito Romano Extraordinário” há catorze anos por Bento XVI. O Pontífice publicou sexta-feira passada o motu proprio “Traditionis custodes”, sobre o uso da liturgia romana anterior a 1970, acompanhando-o com uma carta na qual explica as razões da sua decisão.

A responsabilidade de regulamentar a celebração segundo o rito pré-conciliar volta para o bispo, moderador da vida litúrgica diocesana: “é da sua exclusiva competência autorizar o uso do Missale Romanum de 1962 na diocese, seguindo as orientações da Sé Apostólica”. O bispo deve certificar-se de que os grupos que já celebram com o antigo missal “não excluam a validade e a legitimidade da reforma litúrgica, os ditames do Concílio Vaticano II e o Magistério dos Sumo Pontífices”.

As missas com o rito antigo não serão mais realizadas nas igrejas paroquiais; o bispo determinará a igreja e os dias de celebração. As leituras devem ser “na língua vernácula”, utilizando traduções aprovadas pelas Conferências episcopais. O celebrante deve ser um sacerdote delegado pelo bispo. O bispo também é responsável por verificar se é ou não oportuno manter as celebrações de acordo com o antigo missal, verificando a sua “utilidade efetiva para o crescimento espiritual”.

Na carta que acompanha o documento, o Papa Francisco explica que as concessões estabelecidas pelos seus predecessores para o uso do antigo missal foram motivadas sobretudo pelo desejo de acolher generosamente as “justas aspirações” dos fiéis que solicitavam o uso daquele missal, “tinha, portanto, uma razão eclesial de recomposição da unidade da Igreja”.

O Papa diz ficar triste com um “uso instrumental do Missale Romanum de 1962, cada vez mais caracterizado por uma crescente rejeição não só da reforma litúrgica, mas do Concílio Vaticano II, com a afirmação infundada e insustentável de que ele traiu a Tradição e a ‘verdadeira Igreja'”. Duvidar do Concílio, explica Francisco, “significa duvidar das próprias intenções dos Padres, que exerceram solenemente seu poder colegial cum Petro et sub Petro no Concílio ecuménico, e, em última análise, duvidar do próprio Espírito Santo que guia a Igreja”.

Por fim, Francisco acrescenta uma razão final para a sua decisão de mudar as concessões do passado: “é cada vez mais evidente nas palavras e atitudes de muitos que existe uma relação estreita entre a escolha das celebrações de acordo com os livros litúrgicos anteriores ao Concílio Vaticano II e a rejeição à Igreja e as suas instituições em nome do que eles julgam ser a ‘verdadeira Igreja’. Este é um comportamento que contradiz a comunhão, alimentando aquele impulso à divisão… contra o qual o Apóstolo Paulo reagiu com firmeza. É para defender a unidade do Corpo de Cristo que sou obrigado a revogar a faculdade concedida pelos meus predecessores”.

Angelus: descanso, contemplação e compaixão para uma “ecologia do coração”

Descanso e compaixão, dois aspetos importantes da vida que guiaram a reflexão do Papa Francisco no Angelus deste XVI Domingo do Tempo Comum, que voltou a ser rezado da janela do apartamento pontifício.

O Papa inspirou-se no Evangelho de Marcos proposto pela liturgia do dia para chamar a atenção que Jesus se preocupa com o cansaço físico e interior dos seus discípulos. Prova disso, é que ao ouvir os seus relatos jubilosos pelos “prodígios da pregação” durante a missão, Jesus faz-lhes um convite: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”, convida ao repouso.

Ele quer alertá-los de um perigo, que sempre está à espreita também para nós: o perigo de deixar-se cair no frenesi do fazer, cair na armadilha do ativismo, onde o mais importante são os resultados que obtemos e o sentir-se protagonistas absolutos.”

E isso, observou Francisco, acontece também na Igreja, “estamos atarefados, corremos, pensamos que tudo depende de nós e, no final, corremos o risco de negligenciar Jesus e estarmos sempre nós no centro. Por isso, convida os seus para repousar um pouco à parte, com Ele”.

Mas o fato de Jesus se retirar a cada dia na “oração, no silêncio, na intimidade com o Pai”, não impede que Ele esteja atento às necessidades da multidão, e o convite dirigido aos seus discípulos, deveria acompanhar também a nós, que deveríamos parar “a correria frenética que dita as nossas agendas”.

Aprendamos a parar, a desligar o telemóvel, a contemplar a natureza, a regenerar-nos no diálogo com Deus”, afirmou.

No final da oração mariana, o Pontífice manifestou sua proximidade à população de Cuba, pedindo “paz, diálogo e solidariedade”: “Exorto todos os cubanos a se entregarem à materna proteção da Virgem Maria da Caridade do Cobre. Ela os acompanhará neste caminho.” Há uma semana, milhares de cubanos protestam contra a deterioração da situação económica e social que atravessa o país e que se agravou acentuadamente com a pandemia.

O Papa Francisco falou ainda sobre as graves desordens que agitam a África do Sul: “Junto com os bispos do país, dirijo um premente apelo a todos os responsáveis envolvidos para que trabalhem pela paz e colaborem com as autoridades na assistência aos necessitados. Que não seja esquecido o desejo que guiou o povo sul-africano a renascer na concórdia entre todos os seus filhos.”

Gemelli: uma obra de misericórdia

O Santo Padre enviou uma carta, nesta segunda-feira, ao presidente da Fundação Hospital Universitário Agostino Gemelli, Carlo Fratta Pasini, agradecendo-lhe a atenção pelos dias que ficou internado no hospital, onde foi submetido a uma cirúrgica no cólon.

Francisco manifesta a sua gratidão e afeto a Pasini e “a todos aqueles que formam a grande família do Gemelli”. “Como numa família, experimentei um acolhimento fraterno e um cuidado cordial, que me fizeram sentir em casa”, ressalta o Papa.

Pude ver pessoalmente como a sensibilidade humana e o profissionalismo científico são essenciais no cuidado da saúde. Agora carrego no meu coração muitos rostos, histórias e situações de sofrimento. O Gemelli é realmente uma pequena cidade na Urbe (cidade), onde milhares de pessoas vêm todos os dias, trazendo as suas expectativas e preocupações”, escreve ainda Francisco.

Segundo o Papa, no Hospital Gemelli “além do cuidado do corpo, realiza-se o cuidado do coração”. Francisco reza para que isso aconteça sempre, “através de um cuidado integral e atento à pessoa, capaz de infundir consolo e esperança nos momentos de provação”.

Por fim, Francisco renova a sua gratidão e concede a toda família do Hospital Gemelli a sua bênção apostólica.

Alemanha: o pesar do Papa Francisco

O Papa Francisco manifestou o seu pesar pelas inúmeras mortes e estragos causados pelas cheias na Alemanha. O telegrama foi assinado pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, e endereçado ao presidente da República Federal da Alemanha, Franz-Walter Steinmeier.

No texto, lê-se que o Santo Padre ficou “profundamente tocado” com a notícia das inundações na Renânia do Norte-Vestfália e na Renânia-Palatinado.

O Papa “recorda na oração as pessoas que perderam a vida e expressa aos familiares a sua profunda solidariedade”.

Francisco reza de modo especial pelas “pessoas que ainda estão desaparecidas, pelos feridos e por aqueles que sofreram danos ou perderam os próprios bens em decorrência da força da natureza”.

O Pontífice expressa-lhes, e também aos que trabalham no resgate, a sua proximidade espiritual, implorando sobre todos “a ajuda e a proteção de Deus”.

Pelo menos 90 pessoas morreram e dezenas estão desaparecidas na Alemanha. As enchentes atingiram também outros países da Europa ocidental, como Bélgica, Luxemburgo e o nordeste da França.

JM (com recursos jornalísticos do Vatican News)

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21 de Julho de 2021