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Frei Agostinho da Cruz: Comemorações do IV Centenário da morte do poeta encerraram em Eucaristia presidida por D. José Ornelas

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No passado sábado, dia 17 de julho, encerram-se, oficialmente, as comemorações do IV Centenário da morte de Frei Agostinho da Cruz iniciadas em março de 2019. O encerramento foi assinalado com a celebração da Eucaristia presidida pelo Bispo de Setúbal, D. José Ornelas, na Igreja de São Lourenço, em Azeitão, e concelebrada por sacerdotes da Ordem dos Frades Menores. 

Na ocasião, o Prelado apresentou Frei Agostinho da Cruz como inspiração para uma “revolução a partir de dentro, do coração”.

“No mundo complexo e em constante e radical transformação em que vivemos, esta atitude de integração e de busca de sentido faz muita falta e Frei Agostinho da Cruz e a sua Arrábida continua a apelar à busca dessa chave de interpretação que integra o local e o universal”, disse D. José Ornelas.

O bispo sadino evocou Frei Agostinho da Cruz como “o nome mais emblemático da tradição contemplativa da Arrábida, que ainda hoje continua com a sua poesia, a ressoar na vida e na oração da Igreja e a atrair quem quer que se interrogue sobre o sentido da vida e do mundo”.

O bispo de Setúbal observou que Frei Agostinho da Cruz e os seus colegas eremitas se mudaram a partir de dentro e mudaram a montanha onde se inseriram: “a montanha que eles admiraram sem destruir, o mar que cantaram sem poluir, ainda hoje falam, nas toscas construções que, há séculos, embelezam a paisagem e convidam a embrenhar-se no ser de si próprio e do mundo, para perceber a sua beleza, nobreza e também rudeza, como apelo a uma leitura integrada da vida, do mundo e do seu Criador”.

Ruy Ventura, comissário das comemorações, assinalou “o exemplo de vida e a poesia de Frei Agostinho da Cruz – esse franciscano arrábido que se recolheu, afirmando o seu amor a Deus enquanto liberdade e protestando contra a prepotência dos poderosos e a cegueira dos fanáticos – estão vivos, continuam muito incómodos e conservam uma enorme actualidade nestes tempos tão cinzentos”.

A celebração encerrou com a declamação de dois poemas de Frei Agostinho da Cruz por Dina Barco e a interpretação musical, na voz de Teresa Salgueiro, de um poema do frade arrábido musicado pelo Padre Rodrigo Mendes, pároco de Santa Maria (Barreiro).

Na celebração esteve presente a Presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, e o vereador da Cultura, Pedro Pina. A presidente da Junta de Freguesia de Azeitão, Celestina Neves, não marcou presença em virtude de se encontrar no seu período de férias, mas saudou o encerramento das comemorações de forma muito cordial.

Estiveram ainda presentes entidades, tais como, Santa Casa da Misericórdia de Azeitão, Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão (LASA) e Fundação Oriente.

Leia, em seguida (depois das fotos), o texto completo de Ruy Ventura, comissário da Diocese de Setúbal para as comemorações o IV Centenário da morte de Frei Agostinho da Cruz

AGRADECER

No dia 13 de Junho de 2018, D. José Ornelas Carvalho assinou um decreto pelo qual nomeou um tal Ruy Ventura como comissário diocesano responsável pela celebração da memória do poeta Frei Agostinho da Cruz (1540 – 1619), nos 400 anos da sua morte e nos 480 do seu nascimento. O objectivo era – assim se lê no documento – “dar a conhecer a sua personalidade profundamente contemplativa, a sua obra literária de elevado fervor místico e o seu contributo para a evangelização das nossas terras de Setúbal”.

A nomeação, talvez de propósito, foi assinada em dia de Santo António, o homem que casou a pobreza franciscana com a sua elevada cultura. E, embora o responsável encarregado de levar a barca a bom porto fosse (seja) apenas um poeta e investigador migrante, um exilado nas terras arrábidas, procurando conhecê-las para entender o quanto foram importantes como eixo espiritual e cultural de Portugal, um aprendiz eterno, a comemorações tomaram caminho e foram-se conduzindo. Nem sempre como esperava, mas caminhando sempre… e pelo melhor caminho.

Publicaram-se quatro livros, organizaram-se celebrações e conferências, apresentou-se uma exposição, fizeram-se palestras e visitas guiadas, escreveram-se artigos, ensaios, crónicas aqui e além, participou-se em programas de televisão, motivaram-se leitores de Frei Agostinho a expressarem a sua leitura e a importância da sua poesia, estimularam-se pequenas homenagens (quantas vezes discretas). Incitaram-se instituições da sociedade civil e da Igreja, comunidades, pessoas, muitas pessoas. Houve gratíssimas surpresas de adesão e entusiasmo. Houve resistências, desinteresses e simulações.

Houve de tudo entre 13 de Junho de 2018 e 17 de Julho de 2021. Houve sobretudo uma mão inefável que tudo foi conduzindo, provocando por vezes surpresas que até o responsável deixavam estupefacto, surpresas que depois se compreendia terem uma finalidade na qual ninguém havia pensado. Houve muita leitura. E, sobretudo, uma certeza: o exemplo de vida e a poesia de Frei Agostinho da Cruz – esse franciscano arrábido que se recolheu, afirmando o seu amor a Deus enquanto liberdade e protestando contra a prepotência dos poderosos e a cegueira dos fanáticos – estão vivos, continuam muito incómodos e conservam uma enorme actualidade nestes tempos tão cinzentos.

17 de Julho de 2021 (vésperas da festa de S. Bartolomeu dos Mártires, que viveu em Azeitão e marcou o mundo cristão) foi dia de encerramento das comemorações, assinalado por uma Eucaristia celebrada na igreja de São Lourenço de Azeitão, onde algumas vezes ajoelhou o poeta. Foi dia de agradecimento a todos quantos contribuíram para que estas comemorações fossem o que foram, a todas as instituições (e tantas foram!) que contribuíram para que elas marcassem quem delas se aproximou, mas sobretudo a Deus por ter feito nascer e crescer um homem e um poeta como Frei Agostinho da Cruz.

A presença de D. José Ornelas Carvalho, dos autarcas de Setúbal, dos responsáveis pela Misericórdia de Azeitão, de membros da Ordem dos Frades Menores, de Teresa Salgueiro (com a sua voz que toca tantas vezes a inefabilidade), de Dina Barco lendo poemas que há 400 anos ninguém lia, de muito povo numa serena e pacífica reunião disse muito… e ficará na memória. Também na memória ficarão as mensagens muito calorosas daqueles que não puderam estar e gostariam de ter marcado presença.

Quanto ao tal Ruy Ventura, que um decreto episcopal fez responsável e servo das comemorações, afirma como uma escritora do Alto Alentejo (do seu Alto Alentejo), Maria Tavares Transmontano:

“Fiz o que julguei ‘star certo,
Fiz o que pude fazer,
E deixo o caminho aberto
A quem mais quiser dizer.”

Bem hajam todos!

Ruy Ventura

 

AS com Agência Ecclesia

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23 de Julho de 2021