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A Palavra do Papa: aliança e lei, o segredo da humildade e o ato de amor

Nestes dias de agosto, o Papa deu continuidade às suas catequeses sobre a Carta de São Paulo aos Gálatas falando sobre a Lei de Deus. Deixou palavras de proximidade às populações do Haiti e do Afeganistão, exortou-nos a pedir a humildade de Maria e apelou à vacinação, qualificando-a como “ato de amor”.

Audiência Geral: crer em Jesus Cristo nos conduz à verdadeira vida

Na Audiência de quarta-feira – 11 de agosto – o Papa Francisco continuou as suas catequeses sobre a Carta aos Gálatas com o tema de hoje “Por que, então, a Lei? Esta é a questão que, seguindo São Paulo, queremos aprofundar hoje, a fim de reconhecer a novidade da vida cristã animada pelo Espírito Santo”, explicou o Papa.

“Quando Paulo fala da Lei refere-se normalmente à Lei mosaica, à lei de Moisés, aos Dez Mandamentos. Estava relacionada com a Aliança que Deus tinha estabelecido com o seu povo”. “A Lei – segundo vários textos do Antigo testamento – é a coleção de todas as prescrições e regras que os israelitas devem observar, em virtude da Aliança com Deus”. “A observância da Lei garantiu ao povo os benefícios da Aliança e o vínculo especial com Deus”. “A ligação entre Aliança e Lei era tão estreita que as duas realidades eram inseparáveis. A lei é a expressão que uma pessoa, um povo está em aliança com Deus”.

“O Apóstolo explica aos Gálatas que, na realidade, a Aliança e a Lei não estão ligadas de modo indissolúvel. Pois a Aliança estabelecida por Deus com Abraão estava fundamentada sobre a fé no cumprimento da promessa e não sobre a observância da Lei, que ainda não existia. Pois, se a herança se obtivesse pela Lei, já não proviria da promessa.”

“Dito isto, não se deve pensar que São Paulo era contra a Lei mosaica. No entanto, a Lei não dá vida, não oferece o cumprimento da promessa, pois não está em condições de a poder cumprir. Aqueles que procuram a vida precisam olhar para a promessa e para a sua realização em Cristo”, acrescentou.

Por fim Francisco conclui que “esta primeira exposição do Apóstolo aos Gálatas apresenta a novidade radical da vida cristã: todos aqueles que têm fé em Jesus Cristo são chamados a viver no Espírito Santo, que liberta da Lei e ao mesmo tempo a leva a cumprimento segundo o mandamento do amor”.

“Isto é muito importante, a lei leva-nos a Jesus. Mas alguns de vocês podem me dizer: “Mas, Padre, uma coisa: isto significa que se eu rezar o Credo, não tenho que cumprir os mandamentos”? Não, os mandamentos são atuais no sentido de que são ‘pedagogos’ que levam ao encontro com Jesus”.

Angelus: a humildade é o segredo para alcançar o Céu

“No Evangelho deste domingo, Solenidade da Assunção da Santíssima Virgem Maria ao Céu, destaca-se o Magnificat. Este cântico de louvor é como uma fotografia” da Mãe de Deus. Maria ‘alegra-se em Deus, porque olhou para a humildade de sua serva’. A humildade é o segredo de Maria. É a humildade que atraiu o olhar de Deus para ela.”

Estas são palavras do Papa Francisco antes do Angelus na Solenidade da Assunção da Santíssima Virgem Maria, pronunciadas da janela do seu escritório no Palácio Apostólico do Vaticano diante dos fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro. “O olho humano – continuou o Papa – busca a grandeza e fica deslumbrado com o que é vistoso. Deus, por outro lado, não olha para as aparências, mas para o coração e encanta-se com a humildade”.

A palavra ‘humildade’ vem do latim humus, que significa ‘terra'”, disse o Papa. É paradoxal: para chegar ao topo, ao céu, você tem que permanecer baixo, como a terra!

Hoje, então, – enfatizou Francisco – podemos perguntar-nos: como vivo a humildade? Procuro ser reconhecido por outros, afirmar-me e ser elogiado, ou eu penso em servir? Eu sei escutar, como Maria, ou será que eu só quero falar para receber atenção? Eu sei ficar em silêncio, como Maria, ou eu estou sempre a falar? Será que sei dar um passo para trás, evitar brigas e discussões ou eu apenas tento me sobressair?

Maria, na sua pequenez, conquista o céu primeiro”. O segredo do seu sucesso está precisamente em se reconhecer pequena e necessitada”, sublinhou o Papa Francisco. “Para nós também, a humildade é o ponto de partida, o início da nossa fé. É fundamental ser pobre em espírito, ou seja, necessitados de Deus. Aquele que está cheio de si mesmo não dá espaço a Deus, mas aquele que permanece humilde permite que o Senhor realize grandes coisas.”

No fim, Francisco pediu que todos rezassem a Nossa Senhora para que ela nos possa acompanhar no caminho da Terra para o céu. Pediu ainda a Nossa Senhora que nos recorde que o segredo do caminho está contido na palavra humildade. E que a pequenez e o serviço são os segredos para alcançar a meta”.

Haiti: Francisco próximo das vítimas do terremoto

O Papa rezou com os fiéis no final do Angelus pelas centenas de mortos e milhares de feridos no terremoto que destruiu o sul da ilha caribenha no sábado anterior. O Papa também fez um forte apelo à participação ativa da comunidade internacional.

“Nas horas passadas, verificou-se um forte terremoto no Haiti, causando inúmeros mortos, feridos e grandes danos materiais. Gostaria de expressar a minha proximidade àquelas queridas populações que foram duramente atingidas pelo terremoto. Ao elevar as minhas orações ao Senhor pelas vítimas, dirijo a minha palavra de encorajamento aos sobreviventes, na esperança de que a comunidade internacional demonstre um interesse comum por elas e que a solidariedade de todos possa aliviar as consequências da tragédia. Rezemos juntos a Nossa Senhora pelo Haiti: Ave Maria…”

Afeganistão: encontrar soluções na mesa do diálogo

Após a oração do Angelus, Francisco uniu-se à preocupação pela situação no Afeganistão e implorou que cesse o barulho das armas. Após a capitulação das principais cidades afegãs, a capital também se rende ao avanço dos Talibãs. As embaixadas organizam a sua evacuação.

Peço-lhes que rezem comigo ao Deus da paz para que cesse o barulho das armas e as soluções possam ser encontradas na mesa do diálogo. Somente assim a martirizada população daquele país – homens, mulheres, idosos e crianças – poderá voltar para as suas casas e viver em paz e segurança no pleno respeito mútuo”.

Audiência Geral: recebemos de Deus a graça de nos tornarmos seus filhos para viver no amor

“Quando se chega à fé, a Lei esgota o seu valor propedêutico e deve dar lugar a outra autoridade.” Foi o que disse o Papa na audiência geral desta quarta-feira, 18 de agosto, na Sala Paulo VI, no Vaticano, ao falar sobre o valor propedêutico da Lei, dando prosseguimento à sua série de catequeses sobre a Carta aos Gálatas.

São Paulo ensinou-nos que os “filhos da promessa” (Gl 4, 28), através da fé em Jesus Cristo, não estão sob o vínculo da Lei, mas são chamados ao estilo de vida exigente na liberdade do Evangelho. No entanto, a Lei existe, observou o Pontífice.

Portanto, na catequese de hoje, perguntamo-nos: qual é, segundo a Carta aos Gálatas, o papel da Lei?  No trecho que ouvimos – disse o Santo Padre referindo-se à leitura proposta antes da sua catequese (Gl 3, 23-25) – Paulo diz que a Lei foi como um pedagogo. É uma bonita imagem, que merece ser compreendida no seu justo significado.

Parece que o Apóstolo sugere que os cristãos dividam a história da salvação, e também a própria história pessoal, em dois momentos: antes de se tornarem crentes e depois de terem recebido a fé. No centro está o acontecimento da morte e ressurreição de Jesus, que Paulo pregou a fim de suscitar a fé no Filho de Deus, fonte da salvação, explicou o Papa.

Por conseguinte, continuou Francisco, partindo da fé em Cristo, há um “antes” e um “depois” em relação à própria Lei. A história anterior é determinada pelo fato de estar “sob a Lei”; a história subsequente deve ser vivida seguindo o Espírito Santo (cf. Gl 5, 25). É a primeira vez que Paulo usa esta expressão: estar “sob a Lei”. O significado subjacente implica a ideia de uma servidão negativa, típica dos escravos. O Apóstolo torna-o explícito dizendo que quando se está “sob a Lei” é como estar “vigiado” e “preso”, uma espécie de custódia preventiva. Este tempo, diz São Paulo, durou muito e perpetua-se enquanto se vive em pecado.

Em síntese, a Lei leva a definir a transgressão e a tornar as pessoas conscientes do próprio pecado. Aliás, como ensina a experiência comum, o preceito acaba por estimular a transgressão.

De modo lapidário, enfatizou o Santo Padre, Paulo expõe a sua visão da Lei: “O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a Lei” (1 Cor 15, 56). Neste contexto, a referência ao papel pedagógico desempenhado pela Lei assume o seu pleno sentido.

Em suma, a convicção do Apóstolo é que a Lei tem certamente uma função positiva, mas limitada no tempo. A sua duração não pode ser prolongada para além disso, pois está ligada à maturação dos indivíduos e à sua escolha de liberdade. Quando se chega à fé, a Lei esgota o seu valor propedêutico e deve dar lugar a outra autoridade.

Francisco concluiu afirmando que “este ensinamento sobre o valor da lei é muito importante e merece ser considerado cuidadosamente para não cair em equívocos nem dar passos falsos. Far-nos-á bem perguntarmo-nos se ainda vivemos no período em que precisamos da Lei, ou se estamos bem conscientes de que recebemos a graça de nos tornarmos filhos de Deus para viver no amor.”

O Papa: vacinar-se é um ato de amor

Numa mensagem em vídeo para os povos da América Latina, o Papa Francisco convida-os a vacinar-se contra o coronavírus: um gesto simples, mas profundo, para um futuro melhor.

Com espírito fraterno, uno-me a esta mensagem de esperança por um futuro mais luminoso. Graças a Deus e ao trabalho de muitos, hoje temos vacinas para nos proteger da Covid-19. Elas dão a esperança de acabar com a pandemia, mas somente se elas estiverem disponíveis para todos e se colaborarmos uns com os outros.”

É o que afirma o Santo Padre numa mensagem em vídeo aos povos latino-americanos, lançando um apelo à consciência de cada um fazendo votos de uma atitude responsável para enfrentar juntos a pandemia.

“Vacinar-se, com vacinas autorizadas pelas autoridades competentes, é um ato de amor. E ajudar a fazer de modo que a maioria das pessoas se vacinem é um ato de amor. Amor por si mesmo, amor pelos familiares e amigos, amor por todos os povos. O amor também é social e político, há amor social e amor político, é universal, sempre transbordante de pequenos gestos de caridade pessoal capazes de transformar e melhorar as sociedades”, prossegue o Papa.

Francisco conclui afirmando que vacinar-se é uma forma simples mas profunda de promover o bem comum e de cuidar uns dos outros, especialmente dos mais vulneráveis. “Peço a Deus que cada um possa contribuir com o seu pequeno grão de areia, o seu pequeno gesto de amor. Por menor que seja, o amor é sempre grande. Contribua com estes pequenos gestos para um futuro melhor.”

O apelo do Papa é reforçado pelo apelo de vários cardeais do continente, que foram unânimes em lembrar da necessidade de vacinar contra o coronavírus.

JM (com recursos do portal Vatican News)

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20 de Agosto de 2021