comprehensive-camels

A Palavra do Papa: a fé heróica, o pão da Vida, a encíclica social e o medo da verdade

20210422-a-palavra-do-papa-francisco

Esta semana, o Santo Padre dirigiu palavras de ânimo aos cristãos coreanos e aos atletas paralímpicos e alertou para os perigos da hipocrisia na sociedade e na Igreja. “Não nos surpreendamos se Jesus Cristo nos coloca em crise”, disse na oração do Angelus.

Coreia: “Continuem como artesãos de paz”

”Faço votos de que aqueles que estão a trabalhar pela reconciliação na península coreana continuem com o compromisso renovado de serem bons artesãos de paz, encorajando todos a um diálogo respeitoso e construtivo para um futuro cada vez mais brilhante”, diz o Papa Francisco na mensagem à comunidade coreana de Roma por ocasião da celebração na Basílica de São Pedro, no Vaticano, pelos 200 anos de nascimento de Santo André Kim Taegon, primeiro sacerdote católico coreano.

Deus Pai quis dar na pessoa de Santo André Kim um testemunho exemplar de fé heroica e um apóstolo incansável da evangelização em tempos difíceis, marcados pela perseguição e pelo sofrimento do seu povo”, refere o Santo Padre, acrescentando que o santo, juntamente com os seus companheiros, “mostrou com alegre esperança que o bem prevalece sempre, porque o amor de Deus vence o ódio”.

“Também hoje, diante das muitas manifestações do mal que desfiguram o belo rosto do homem, criado à imagem e semelhança de Deus, precisamos redescobrir a importância da missão de cada batizado, que é chamado a ser em toda parte um trabalhador de paz e de esperança, disposto, como o Bom Samaritano, a curvar-se sobre as feridas de todos aqueles que anseiam por amor, ajuda ou simplesmente um olhar fraterno”, lê-se ainda na mensagem.

Angelus: deixemos que Cristo nos coloque em crise

Não devemos buscar Deus em sonhos e imagens de grandeza e poder, mas devemos reconhecê-lo na humanidade de Jesus e, consequentemente, na dos irmãos e irmãs que encontramos no caminho da vida.”

Foi com estas palavras que o Papa se dirigiu aos fiéis na Praça de São Pedro na alocução que precedeu o Angelus do XXI Domingo do Tempo Comum, dia 22 de agosto.

Explicando a Liturgia do dia, Francisco destacou que o Evangelho (Jo 6, 60-69) mostra-nos a reação da multidão e dos discípulos ao discurso de Jesus após o milagre dos pães. Jesus convidou a interpretar esse sinal e a acreditar n’Ele, que é o verdadeiro pão descido do céu, o pão da vida; e revelou que o pão que Ele dará é sua a carne e o seu sangue.

Estas palavras, disse o Santo Padre, soam duras e incompreensíveis aos ouvidos do povo, tanto que, a partir daquele momento, muitos dos seus discípulos voltam atrás, ou seja, deixam de seguir o Mestre. Então Jesus pergunta aos Doze: “Não quereis também vós partir?”, e Pedro, em nome de todo o grupo, confirma a decisão de ficar com Ele: “Senhor, a quem iremos? Tens palavras de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”.

O Pontífice deteve-se brevemente na atitude daqueles que se retiram e voltam para trás: “As palavras de Jesus causam grande escândalo. Ele está a dizer que Deus escolheu manifestar-se e trazer a salvação na fraqueza da carne humana. A encarnação de Deus é o que suscita escândalo e que representa para estas pessoas – mas muitas vezes também para nós – um obstáculo. Ainda hoje, a revelação de Deus na humanidade de Jesus pode causar escândalo e não é fácil de aceitar. É o que São Paulo chama de “loucura” do Evangelho diante daqueles que buscam os milagres ou a sabedoria do mundo (cf. 1 Cor 1, 18-25).

“Não nos surpreendamos se Jesus Cristo nos coloca em crise. Aliás, preocupemos-nos se não nos coloca em crise, porque talvez tenhamos diluído a sua mensagem! E peçamos a graça de nos deixar provocar e converter pelas suas ‘palavras de vida eterna'”, frisou Francisco.

Apoio do Santo Padre ao Haiti, Bangladesh e Vietname

No Angelus de 15 de agosto o Santo Padre já havia assegurado as suas orações e proximidade espiritual ao povo haitiano. Agora, envia uma ajuda inicial de 200 mil euros às populações atingidas pelo terremoto, por meio do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. Outros 69 mil são destinados a Bangladesh, país atingido pelo ciclone Yaas e 100 mil para a população do Vietname, que enfrenta dificuldades causadas pelo coronavírus.

Esta contribuição, que acompanha a oração, em apoio à amada população haitiana, faz parte das ajudas que estão sendo realizadas em toda a Igreja Católica e que envolvem, além de várias Conferências Episcopais, numerosas organizações de caridade.

“Mais do que ambiente, a Laudato si’ é social” afirma o Papa

Francisco enviou uma videomensagem aos participantes de um Congresso na Argentina, cujo tema é “O cuidado da casa comum”, e que se realiza de 1 a 4 de setembro.

“Uma encíclica social e não somente sobre meio ambiente” frisou o Papa Francisco sobre a “Laudato si”, encíclica da qual é autor.

O Pontífice faz votos de que o evento faça progredir a consciência social e a consciencialização a respeito da proteção da casa comum, desejando que o Congresso “consiga ver todo o seu alcance e todas as suas consequências”.

O evento é organizado pelo Conselho Interuniversitário Nacional (CIN), pelo Conselho de Reitores de Universidades Privadas (CRUP) e pela Conferência Episcopal Argentina (CEA). Seis anos após a publicação da Encíclica, a finalidade do Congresso é a busca de uma nova agenda que atenda a complexidade e as diversas dimensões que atravessam esses fenómenos.

Audiência Geral: “Viver sem medo de ser verdadeiro. O hipócrita não sabe amar”

A hipocrisia foi o tema da Audiência Geral desta quarta-feira, 25 de agosto. Dando continuidade ao ciclo de catequeses sobre a Carta de São Paulo aos Gálatas, o Papa Francisco citou um episódio narrado pelo Apóstolo ocorrido em Antioquia.

O protagonista é Pedro e o que está em jogo é a relação entre a Lei e a liberdade. O objeto da crítica foi o comportamento de Pedro à mesa, que mudou de acordo com a companhia. A Lei proibia a um judeu de partilhar refeições com não judeus. Pedro estava à mesa sem qualquer dificuldade com os cristãos que tinham vindo do paganismo, mas quando alguns cristãos de Jerusalém, circuncidados, chegaram à cidade, ele já não o fez, para não incorrer nas críticas deles. Isto é grave aos olhos de Paulo, até porque Pedro estava a ser imitado por outros discípulos e o seu comportamento criou uma divisão injusta na comunidade. Na sua repreensão, Paulo usa um termo que permite entrar nos méritos da sua reação: hipocrisia (cf. Gl 2, 13).

Para Francisco, hipocrisia é o medo da verdade. As pessoas preferem fingir do que ser elas mesmas. “É como maquilhar a alma, maquilhar as atitudes, o modo de proceder: não é a verdade.”

“O fingimento leva a isto: às meias verdades”, disse ainda o Papa. E as meias verdades são um fingimento, são um modo de agir não verdadeiro e que impede a coragem, de dizer abertamente a verdade. Num ambiente em que as relações interpessoais são vividas sob a bandeira do formalismo, o vírus da hipocrisia propaga-se facilmente.

O hipócrita é uma pessoa que finge, lisonjeia e engana porque vive com uma máscara no rosto, e não tem a coragem de enfrentar a verdade. Por isso, não é capaz de amar verdadeiramente: limita-se a viver pelo egoísmo e não tem a força para mostrar o seu coração com transparência.”

Há muitas situações em que a hipocrisia pode ocorrer, adverte Francisco: no trabalho, na política e até mesmo na Igreja, onde “é particularmente detestável”. “Infelizmente, existe hipocrisia na Igreja. Há muitos cristãos e ministros hipócritas.”

Francisco encerra a sua catequese citando as palavras de Jesus: «Seja este o vosso modo de falar: sim, sim, não, não; tudo o que for além disto procede do espírito do mal» (Mt 5, 37).

Irmãos e irmãs, pensemos nisso que Paulo condena: a hipocrisia; e que Jesus condena: a hipocrisia. E não tenhamos medo de sermos verdadeiros, de dizer a verdade, de sentir a verdade, de nos conformar à verdade. Assim poderemos amar. O hipócrita não sabe amar. Agir de outra forma é pôr em perigo a unidade na Igreja, aquela pela qual o próprio Senhor rezou.”

Após a catequese da Audiência Geral, Francisco recordou os Jogos Paraolímpicos, em Tóquio, no Japão, a Solenidade da Mãe de Deus na Polônia, e as vítimas do terremoto de cinco anos atrás na Itália.

“Envio a minha saudação aos atletas e agradeço-lhes, porque oferecem a todos um testemunho de esperança e coragem. Na verdade, mostram como o compromisso desportivo ajuda a vencer as dificuldades aparentemente intransponíveis”, disse.

JM (com recursos jornalísticos do Vatican News)

Partilhe nas redes sociais!
27 de Agosto de 2021