comprehensive-camels

A Palavra do Papa: a novidade do Espírito, o encontro na Eucaristia e o anúncio libertador

20210913-a-palavra-do-papa-2 - Cópia

Nos últimos dias, Francisco esteve em Budapeste, Hungria, para presidir ao encerramento do Congresso Eucarístico Internacional e realizou uma visita oficial à Eslováquia. Nas suas audiências gerais, criticou a rigidez das normas bem como a discriminação social.

O Papa após a operação: “Nunca passou pela minha cabeça renunciar”

Francisco foi entrevistado por Carlos Herrera da Rádio COPE. Pela primeira vez, fala sobre a cirurgia que realizou em julho e também aborda temas como o Afeganistão, a China, eutanásia e a reforma da Cúria Romana.

“Ainda estou vivo”, responde Francisco avançando que tem “33 centímetros a menos de intestino”. Facto, entretanto, que não o impede de levar uma vida “totalmente normal”. “Posso comer de tudo” e, tomando os “remédios adequados”, manter a agenda lotada.

Ainda falando da própria saúde, o Papa desmente categoricamente as especulações de alguns jornais italianos e argentinos sobre uma possível renúncia ao pontificado. Questionado a este respeito, Francisco afirma: “Nunca me passou pela cabeça … Não sei de onde tiraram a ideia de que eu renunciaria!”.

Amplo espaço na entrevista foi dedicado à crise no Afeganistão: “uma situação difícil”, observa o Papa Francisco, que não entra em detalhes sobre os esforços que a Santa Sé está a realizar no plano diplomático para evitar represálias contra a população, mas elogia o trabalho da Secretaria de Estado. Quando questionado, define a retirada dos Estados Unidos do Afeganistão como “lícita”, após vinte anos de ocupação, mesmo se “o eco que existe em mim seja outra coisa”, nomeadamente o facto de “deixar o povo afegão ao seu destino”.

Do Afeganistão, o olhar permanece na Ásia, mas desloca-se para a China e ao acordo sobre nomeação dos bispos renovado por mais dois anos. “Há quem insista para que o senhor não renove o acordo que o Vaticano assinou com aquele país, porque põe em perigo a sua autoridade moral”, observa o jornalista. “A China não é fácil, mas estou convencido de que não devemos renunciar ao diálogo”, responde o Papa. “Pode-se enganar no diálogo, pode-se cometer erros, tudo isso… mas é o caminho a seguir. Mas é o caminho a seguir. O que foi alcançado até agora na China foi pelo menos o diálogo.”

Entre outras questões, ligadas à reforma da Igreja e da Cúria Romana, o Papa abordou o motu proprio Traditionis Custodes, que regula as missas em latim e que neste verão despertou algumas controvérsias nos setores eclesiásticos mais conservadores. “A preocupação” – reitera o Papa, como no texto que acompanha o motu próprio -, “que mais aparecia era que algo feito para ajudar pastoralmente aqueles que tinham vivido uma experiência anterior, se transformasse numa ideologia. Por outras palavras, uma coisa pastoral transformada numa ideologia. Por isso tivemos que reagir com regras claras… Se ler bem a carta e o decreto, verá que esta é simplesmente uma reorganização construtiva, com cuidado pastoral e evitando excessos”.

Audiência Geral: “A santidade vem do Espírito Santo”

A catequese de 1 de setembro deu início à segunda parte da Carta de São Paulo aos Gálatas na qual o “Apóstolo dos Gentios” interpela diretamente os Gálatas, colocando-os “diante das escolhas que fizeram e da sua condição atual, que poderia anular a experiência de graça que viveram”.

Segundo o Papa, o Apóstolo “faz perguntas aos Gálatas a fim de despertar as suas consciências. Trata-se de questões retóricas, pois os Gálatas sabem muito bem que a sua chegada à fé em Cristo é fruto da graça recebida através da pregação do Evangelho. A palavra que ouviram de Paulo centrou-se no amor de Deus, plenamente manifestado na morte e ressurreição de Jesus. Os Gálatas devem olhar para este evento, sem se deixarem distrair por outros anúncios. A intenção de Paulo é colocar os cristãos em condições para que percebam o que está em jogo e não se deixem encantar pela voz das sereias que os querem conduzir a uma religiosidade baseada unicamente na observância escrupulosa dos preceitos”.

Os Gálatas experimentaram também a ação do Espírito Santo nas comunidades. “Ao serem colocados à prova, tiveram de responder que quanto tinham vivido era fruto da novidade do Espírito. No início da sua chegada à fé, portanto, estava a iniciativa de Deus e não a dos homens. O Espírito Santo tinha sido o protagonista da sua experiência; colocá-lo agora em segundo plano a fim de dar primazia às próprias obras seria uma insensatez. A santidade vem do Espírito Santo e essa é a gratuidade da redenção de Jesus: isso nos justifica”, disse ainda o Papa.

Sempre na história e também hoje, acontecem coisas semelhantes ao que aconteceu aos Gálatas. Também hoje, ouvimos alguém que diz: “Não, a santidade está nesses preceitos, nessas coisas, vocês têm que fazer isso ou aquilo, e isso nos leva a uma religiosidade rígida, de rigidez que nos tira aquela liberdade no Espírito que a redenção de Cristo nos dá. Cuidado com a rigidez que lhe é proposta. Por trás de toda rigidez existe algo ruim, não há o Espírito de Deus.”

Francisco concluiu a sua catequese, dizendo que, apesar de todas as dificuldades que possamos colocar à sua ação do Espírito, “não obstante os nossos pecados, Deus não nos abandona, mas permanece connosco com o seu amor misericordioso.”

Vídeo do Papa: “avançar com os jovens para estilos de vida que respeitam o meio ambiente”

Na mensagem em vídeo correspondente à oração de setembro, Francisco volta a falar da crise ambiental que a humanidade atravessa, com destaque para os jovens, pois considera que eles estão na vanguarda das questões ecológicas: “têm a grandeza de empreender projetos de melhoria ambiental e social”.

A edição de setembro do Vídeo do Papa faz parte da celebração anual, global e ecuménica do Tempo da Criação que teve início a 1 de setembro, Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, e prossegue até 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, padroeiro da ecologia.

Nós, adultos, podemos aprender muito com os jovens, porque, em tudo o que diz respeito ao cuidado do planeta, os jovens estão na vanguarda. Aproveitemos o seu exemplo, reflitamos, especialmente nestes momentos de crise, crise sanitária, crise social, crise ambiental, reflitamos sobre o nosso estilo de vida” referiu o Pontífice.

O Santo Padre convida-nos a questionar a forma como vivemos e utilizamos os bens materiais: “Vamos escolher mudar! Vamos avançar com os jovens para estilos de vida mais simples e que respeitam o meio ambiente”, diz Francisco na videomensagem.

Audiência Geral: “ser cristão é superar discriminações”

“Somos filhos de Deus”: este foi o tema da catequese do Papa Francisco de quarta-feira, 8 de setembro, na Sala Paulo VI, dando continuidade ao ciclo sobre a Carta de São Paulo aos Gálatas.

“As diferenças e os contrastes que criam separação não deveriam existir entre os fiéis em Cristo. Pelo contrário, a nossa vocação é tornar concreta e evidente a chamada à unidade de toda a raça humana”, disse o Papa Francisco.

Nós, cristãos – comentou o Papa -, damos frequentemente por certa esta realidade de ser filhos de Deus. Ao contrário, é bom recordar sempre com gratidão o momento em que nos tornamos tais, o do nosso batismo, para viver com maior consciência o grande dom recebido.”

Nas suas Cartas, São Paulo refere-se várias vezes ao batismo. Para ele, ser batizado equivale a participar de modo efetivo e real no mistério de Jesus. Portanto, não é apenas um rito externo. Aqueles que o recebem são transformados nas profundezas do seu ser, no seu íntimo, e possuem uma nova existência, precisamente a vida que lhes permite dirigir-se a Deus.

Francisco define como audaciosas, chocantes e revolucionárias as afirmações do Apóstolo na época, pois, através do batismo, a filiação divina prevalece sobre as diferenças culturais, sociais e religiosas: “Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher”.

Sobre estes conceitos, o Papa afirmou com pesar que, no caso da escravidão, esta existe ainda hoje, bem como expressões de desprezo ao sexo feminino.

A nossa vocação é tornar concreta e evidente a chamada à unidade de toda a raça humana. Tudo o que exacerba as diferenças entre as pessoas, muitas vezes causando discriminação, tudo isto, perante Deus, já não tem qualquer substância, graças à salvação realizada em Cristo”, concluiu.

Vida religiosa: Papa recebeu os membros dos Capítulos Gerais dos Missionários Claretianos e dos Frades Carmelitas Descalços

Papa Francisco recebeu no Vaticano, os cerca de 100 membros do Capítulo Geral dos Missionários filhos do Coração Imaculado da B.V. Maria (Claretianos).

“A vida consagrada requer ousadia e precisa de pessoas idosas que resistam ao envelhecimento da vida, e de jovens que resistam ao envelhecimento da alma”: foi o que disse o Papa Francisco recebendo no final da manhã de quinta-feira, 9 de setembro, na Sala Clementina, no Vaticano aos Filhos do Coração Imaculado da B. V. Maria (Claretianos).

Já na audiência à Ordem dos Frades Carmelitas Descanços afirmou: “Arraigados na relação com Deus, Trindade de Amor, vocês são chamados a cultivar os relacionamentos no Espírito, numa saudável tensão entre estar sozinhos e estar com os outros”.

Ouvir, discernir e tornar-se testemunha. Foram as diretrizes do discurso do Papa Francisco: “Ouvir é a atitude fundamental do discípulo, de quem se coloca na escola de Jesus e quer responder ao que Ele nos pede neste momento difícil, mas sempre belo, porque é o tempo de Deus.”

Congresso Eucarístico: diante de nós está a Eucaristia, para nos recordar quem é Deus

O Papa Francisco celebrou, este domingo, 12 de setembro, a missa de encerramento do 52º Congresso Eucarístico Internacional, na Praça dos Heróis, em Budapeste, na Hungria. Segundo as autoridades locais, participaram da missa cem mil pessoas nos setores organizados.

«E vocês, quem dizem que eu sou?» Esta pergunta de Jesus aos discípulos e também a nós hoje norteou a homilia do Santo Padre.

Esta pergunta de Jesus, dirigida a cada um de nós, “pede não apenas uma resposta exata do ponto de vista do Catecismo, mas uma resposta pessoal, de vida. Dessa resposta, nasce a renovação do discipulado”. Segundo o Papa, esta “renovação realiza-se através de três passagens que fizeram os discípulos e que podemos realizar também nós: o anúncio de Jesus, o discernimento com Jesus e o caminho atrás de Jesus”.

A resposta de Pedro a essa pergunta de Jesus é «Tu és o Messias». “Em poucas palavras, Pedro disse tudo. A resposta está certa, mas surpreendentemente, depois de tal reconhecimento, Jesus ordena severamente que «não dissessem isto a ninguém».” Por quê? “Por uma razão concreta: dizer que Jesus é o Messias, o Cristo, é exato, mas incompleto. Existe sempre o risco de anunciar um falso messianismo: aquele segundo os homens e não segundo Deus. Por isso, a partir daquele momento, Jesus começa a revelar a sua identidade: a identidade pascal, aquela que encontramos na Eucaristia. Explica que a sua missão havia certamente de culminar na glória da ressurreição, mas passando pela humilhação da cruz. Jesus impõe silêncio sobre a sua identidade messiânica, mas não sobre a cruz que o espera.”

Perante este anúncio de Jesus, um anúncio surpreendente, também nós podemos sentir-nos apavorados. Nós também, gostaríamos de um messias poderoso, em vez dum servo crucificado. Diante de nós está a Eucaristia, para nos recordar quem é Deus; não o faz com palavras, mas de modo concreto, mostrando-nos Deus como Pão partido, como Amor crucificado e doado.

“Diante do anúncio do Senhor, a reação de Pedro é tipicamente humana: quando aparece a cruz, a perspetiva do sofrimento, o homem se revolta. Pedro se escandaliza com as palavras do Mestre e tenta dissuadi-Lo de prosseguir o seu caminho. A cruz nunca está na moda: ontem, como hoje. Mas cura por dentro”, disse o Papa, acrescentando:

Jesus sacode-nos, não se contenta com declarações de fé, pede-nos que purifiquemos a nossa religiosidade diante da sua cruz, diante da Eucaristia. Faz-nos bem permanecer em adoração diante da Eucaristia, para contemplarmos a fragilidade de Deus. Dediquemos tempo à adoração”, disse ainda o Papa.

“Deixemos que o encontro com Jesus na Eucaristia nos transforme, como transformou os grandes e corajosos Santos Estêvão e Santa Isabel. À semelhança deles, não nos contentemos com pouco; não nos resignemos com uma fé que vive de ritos e repetições, abramo-nos à novidade escandalosa de Deus crucificado e ressuscitado, Pão partido para dar vida ao mundo”, concluiu.


Eslováquia: “Que o anúncio do Evangelho seja libertador”

Após presidir à celebração de encerramento do Congresso Eucarístico Internacional, em Budapeste (Hungria), o Papa Francisco deslocou-se à Eslováquia, onde realizou uma visita de três dias.

Começou por fazer visita de honra à presidente do país, Zuzana Čaputová, no Palácio Presidencial em Bratislava. Ali, Francisco assinou o Livro de Honra onde deixou a seguinte mensagem: “Peregrino em Bratislava, abraço com afeto o povo eslovaco e rezo por este país de raízes antigas e com rosto jovem, para que seja uma mensagem de fraternidade e de paz no coração da Europa”.

Ali mesmo, no Palácio Presidencial, o Pontífice pronunciou o seu discurso às Autoridades, à Sociedade Civil e ao Corpo Diplomático.

Vim como peregrino a um país jovem, mas com uma história antiga, a uma terra com raízes profundas situada no coração da Europa”, disse o Papa, citando o nascimento da Eslováquia há 28 anos.

Segundo o Pontífice, embora “jovens”, os eslovacos cultivam duas expressões da hospitalidade eslava: o pão, escolhido por Deus para Se tornar presente entre nós, e o sal, que dá sabor dissolvendo-se como a generosidade e solidariedade.

Francisco aproveitou para mencionar a pandemia que considera “provação do nosso tempo”, que nos ensinou que somos todos frágeis e necessitados dos outros.

Seja como indivíduo seja como nação, ninguém se pode isolar. Acolhamos esta crise como um apelo a repensar os nossos estilos de vida. (…) Espero que o façais com os olhos voltados para o alto, como quando contemplais os vossos esplêndidos montes Tatra. (…) Cultivai esta beleza, a beleza do conjunto. Isto requer paciência e fadiga, coragem e partilha, zelo e criatividade. Mas é a obra humana que o Céu abençoa.”

O Papa concluiu o seu discurso arriscando algumas palavras em eslovaco, pedindo a Deus que abençoe o país: Nech Boh žehná Slovensko [Deus abençoe a Eslováquia!].

Igreja, fonte de esperança e sinal de liberdade e acolhimento

Depois, reuniu-se na Catedral de São Martinho, na capital eslovaca com uma representação da igreja eslovaca, constituída por bispos, sacerdotes, religiosos, seminaristas e catequistas.

“Estou aqui para partilhar o seu caminho”, afirmou o Santo Padre, acrescentando que a Igreja se faz em conjunto, percorrendo as estradas da vida com a chama do Evangelho acesa.

A Igreja de Cristo não quer dominar as consciências e ocupar os espaços, quer ser uma «fonte» de esperança na vida das pessoas. (..) Que ninguém se sinta oprimido. (…) Que o anúncio do Evangelho seja libertador, nunca opressivo; e a Igreja, sinal de liberdade e acolhimento”, disse o Papa aos membros da Igreja eslovaca.

“A Igreja não é uma fortaleza, um castelo. “Aqui, em Bratislava, o castelo já existe. E é belo!” Mas a Igreja é a comunidade que deseja atrair para Cristo mediante a alegria do Evangelho. Então é lícito perguntar: O que é que se espera da Igreja? Francisco respondeu com três palavras: liberdade, criatividade e diálogo.”

Memória e caridade

Na tarde de segunda-feira (dia 13), o Papa encontrou-se com a Comunidade Judaica da Eslováquia na Praça Rybné, onde recordou os sofrimentos do povo judeu e afirmou “a vossa história é a nossa história, os vossos sofrimentos são os nossos sofrimentos”.

“A memória não pode nem deve ceder lugar ao esquecimento, porque não haverá alvorada duradoura de fraternidade sem antes se ter compartilhado e dissipado as trevas da noite”, acrescentou.

Visitou ainda o Centro Belém, a oito quilómetros de Bratislava, um espaço de assistência aos padres administrado pelas Missionárias da Caridade. Dirigiu algumas palavras de agradecimento e encorajamento aos presentes, dizendo estar contente pela visita:

“Boa tarde a todos vocês. Estou contente em visitá-los, de estar entre vocês. Estou muito contente! Obrigado por me receberem. Agradeço muito as irmãs, o trabalho que fazem, trabalho de acolhimento, de ajuda, de acompanhamento. Muito obrigado. Mas também agradeço aos pais, às mães que estão aqui com os jovens e agradeço a todos os jovens aqui presentes neste momento. E também o Senhor está connosco. Quando estamos juntos, assim felizes, o Senhor está connosco. Ele também está connosco quando estamos em momento de provação. Nunca nos abandona. O Senhor sempre está próximo de nós. Podemos vê-lo, podemos não vê-lo, mas sempre nos acompanha no caminho da vida. Não se esqueçam disso, sobretudo nos momentos difíceis. Muito obrigado, muito obrigado!”

A não instrumentalização da Cruz

No terceiro dia de visita, o Papa Francisco viveu um dos momentos mais significativos de sua viagem à Eslováquia: no campo desportivo de Prešov presidiu a Divina Liturgia Bizantina de São João Crisóstomo.

Toda a homilia do Pontífice foi voltada a meditar o “escândalo” e a “loucura” da morte de Jesus.

A cruz era instrumento de morte, e contudo dela veio a vida”, disse o Papa. Por isso, o santo povo de Deus a venera. Aos olhos do mundo, a cruz é um fracasso. Quantas vezes, disse Francisco, “aspiramos a um cristianismo de vencedores, a um cristianismo triunfalista, que tenha relevância e importância, receba glória e honra. Mas um cristianismo sem cruz é mundano, e torna-se estéril”.

Alguns santos, acrescentou o Papa, ensinaram que a cruz é como um livro que, para o conhecer, é preciso abri-lo e ler. Significa deter o olhar sobre Crucificado, deixar-se impressionar pelas suas chagas, se comover e chorar diante de Deus ferido de amor por nós.

“Se não fizermos assim, a cruz permanece um livro não lido, cujo título e autor são bem conhecidos, mas que não influencia a vida. Não reduzamos a cruz a um objeto de devoção, e menos ainda a um símbolo político, a um sinal de relevância religiosa e social”, recomendou o Papa.

Da contemplação do Crucifixo, ensinou Francisco, provém o segundo passo: dar testemunho: “A cruz não quer ser uma bandeira elevada ao alto, mas a fonte pura de uma maneira nova de viver. Qual? A do Evangelho, a das Bem-aventuranças.”

O amor, para lá da aparência 

No último compromisso na Eslováquia, o Papa encontrou-se com milhares de jovens no Estádio Lokomotiva em Košice. As suas palavras foram respostas a perguntas dos jovens.

Hoje a verdadeira originalidade, a verdadeira revolução é rebelar-se contra a cultura do provisório, é ir além do instinto e do instante, é amar por toda a vida e com todo o próprio ser”, afirmou.

Depois de recordar que nas grandes histórias sempre estão presentes o amor, a aventura e o heroísmo afirmou: “Para tornar grande a vida, precisamos de ambos: amor e heroísmo. Fixemos Jesus, contemplemos o Crucifixo: estão presentes os dois, um amor sem limites e a coragem de dar a vida até ao fim, sem meias medidas”.

E o Papa sugere aos jovens: “Sonhem uma beleza que vá para além da aparência, para além das tendências da moda. Sem medo, sonhem formar uma família, gerar e educar filhos, passar uma vida inteira partilhando tudo com outra pessoa, sem sentir vergonha das próprias fragilidades, porque existe ele, ou ela, que as acolhe e ama, que te ama tal como és”

Em seguida adverte os jovens sobre os que vendem ilusões como bens de consumo considerando-os “manipuladores de felicidade”.

E respondendo a outra pergunta sobre o que fazer quando nos sentimos tristes Francisco sugere, a Confissão. “Mas – pergunto a vocês – são verdadeiramente os pecados o centro da Confissão?”. “Não vamos confessar-nos como pessoas castigadas que se devem humilhar, mas como filhos que correm para receber o abraço do Pai. E o Pai levanta-nos em qualquer situação, perdoa-nos todos os pecados”. E também recorda que “é importante que os padres sejam misericordiosos. Nunca curiosos, nunca inquisidores, por favor, mas irmãos que dão o perdão do Pai”.

O agradecimento do Santo Padre, aos pés da Senhora das Dores

Por fim, o Papa Francisco presidiu à celebração eucarística na Esplanada do Santuário Nacional de Nossa Senhora das Dores, em Šaštin. Na homilia, o Pontífice, centralizou-se na figura de Maria, “a Mãe que nos dá o Filho Jesus. Maria é o caminho que nos introduz no Coração de Cristo, que deu a vida por nosso amor”. “Podemos olhar para Maria como modelo da fé”, disse ainda o Papa, “e na sua fé reconhecemos três caraterísticas: o caminho, a profecia e a compaixão”.

No final da missa, o Papa Francisco despediu-se da Eslováquia com uma saudação.  

Queridos irmãos e irmãs!

Chegou a hora de me despedir do seu país. Nesta Eucaristia, dei graças a Deus por ter-me concedido a graça de vir estar com vocês e concluir a minha peregrinação no devoto abraço do seu povo, celebrando juntos a grande festa religiosa e nacional da Padroeira, Nossa Senhora das Dores.

Por fim, o Papa agradeceu ao povo eslovaco pelo acolhimento e a todos aqueles que colaboraram de diversos modos, especialmente com a oração, na preparação da sua visita ao país.

“Aborto é homicídio. A Igreja deve ser próxima e compassiva, não política”

Na viagem de regresso, como é habitual, o Papa conversou com os jornalistas. Falou do diálogo com as autoridades húngaras, do antissemitismo e das vacinas, assim como da comunhão aos políticos que aprovam leis a favor do aborto.

Questionado sobre a recusa de alguns bispos americanos em dar a comunhão aos funcionários políticos pró-aborto, o Papa diz que a comunhão “não é um prémio para os perfeitos, é um dom, é presente, é a presença de Jesus a Igreja e na comunidade”. Ainda assim, diz o Santo Padre que o “aborto é homicídio” e a Igreja não muda a sua posição, mas “todas as vezes que os bispos administraram um problema não como pastores, tomaram uma posição política”.

Sobre o casamento homossexual, o Papa referiu que o “matrimónio é um sacramento, a Igreja não tem poder para mudar os sacramentos como o Senhor os instituiu”. Salientou a importância dos Estados terem leis de proteção civil mas casamento é casamento.

Isto não significa condená-los, eles são nossos irmãos e irmãs, devemos acompanhá-los. Todos são irmãos e irmãs iguais, o Senhor é bom, Ele quer a salvação de todos, mas por favor, não faça a Igreja negar a sua verdade. Muitas pessoas com orientação homossexual aproximam-se da penitência, pedem conselhos ao padre, a Igreja as ajuda, mas o sacramento do matrimónio é outra coisa.”

Por fim, o Santo Padre regressou a Roma na tarde de quarta-feira, dirigindo-se, como é habitual, à Basílica de Santa Maria Maior, para rezar diante do ícone de Nossa Senhor Salus Populi Romani.

JM (com recursos jornalísticos do portal de notícias Vatican News)

Partilhe nas redes sociais!
16 de Setembro de 2021