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Apostolado do Mar na Paróquia da Moita nasce com ligação ao rio, à fé e atividades náuticas

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O Apostolado do Mar da Paróquia da Moita (A.M.P.M.), nasceu este domingo com uma ligação ao Rio Tejo. Uma celebração da palavra e a bênção da imagem de São Telmo marcaram o seu início.

“Surge com a vontade de um grupo de pessoas ligadas ao rio do ‘Beira Mar Náutica’, uma associação criada há pouco tempo, que queríamos levar a fé mais além”, disse Jorge Picoto, do A.M.P.M, à Agência ECCLESIA, no final da celebração que decorreu no Parque das Canoas, no Gaio.

O elemento da equipa do Apostolado do Mar da Paróquia da Nossa Senhora da Boa Viagem (Moita) acrescentou que a ideia deste núcleo nasceu no ‘Beira Mar Náutica’ para terem “uma ala cristã”, porque são “pessoas muito ligadas à fé católica”, e o pároco apresentou-lhes o Apostolado do Mar.

“O Apostolado do Mar na Paróquia da Moita e particularmente nesta zona ligada ao rio, e de uma forma muito especial dentro de um setor ainda mais concreto que é um clube naval, é dizer que o Apostolado do Mar é abrangente, não tem só uma expressão”, assinalou o padre Sílvio Couto.

À Agência Ecclesia, o pároco da Moita, que também já foi o responsável nacional por esta obra pastoral da Igreja Católica, explica que este projeto no contexto da Moita pretende “alertar” que o Apostolado do Mar “também tem a ver com os rios, com áreas fluviais”, destaca que é necessária “uma sensibilidade à dimensão da água”, e, no futuro, querem “aprofundar o que são as expressões religiosas ligadas à água”.

O padre Sílvio Couto, que presidiu à celebração da palavra e benzeu a imagem de São Telmo, padroeiro do A.M.P.M, recordou a expressão “uma fé com sabor a sal”: “É isso que temos que refletir, estar ao pé do mar, estar ao pé da água, ou no meio do monte, não é a mesma coisa”.

Jorge Picoto adianta que para além das pessoas ligadas ao rio também contam com “pintores, músicos, fotógrafos”, que gostam desta vivência do rio, sendo a maioria do Gaio, da Moita, do Rosário, de Sarilhos Pequenos e Alhos Vedros, mas também localidades da margem norte do rio Tejo.

“Muitas pessoas da Paróquia da Moita, do Gaio, Rosário, fazem a sua vida no rio e no mar. É muito difícil entrar num barco da Soflusa ou da Transtejo que não esteja um mestre, um marinheiro dessa vivência, e também queremos trazer essas pessoas para junto da nossa fé e do Apostolado do Mar”, acrescentou.

Na celebração o padre Sílvio Couto desafiou à cedência do moinho de vento do Gaio para este movimento da Igreja e Jorge Picoto explicou que o querem para “a sede do A.M.P.M e a capela de São Telmo”, fica no “ponto mais alto” desta localidade e “está em ruínas”.

O Apostolado do Mar da Paróquia da Moita tem o objetivo de “organizar e dinamizar” vários encontros e eventos marítimos religiosos, e querem congregar três vertentes numa celebração, a festa local do Gaio, do movimento e do seu patrono São Telmo.

Para o diretor nacional do Apostolado do Mar, Armando Oliveira, “foi uma prenda que o Senhor deu” mais um setor que entra para esta obra pastoral, para que “engrandeça”, seja um movimento “mais forte”.

“Espero que apareçam mais, vão dar mais força e mais alegria em trabalhar com mais pessoas, mais setores para termos uma diversidade maior”, referiu à Agência Ecclesia, adiantando que no contexto da pandemia nos “últimos dois anos foi muito complicado”.

O ‘Apostolado do Mar’ (Stella Maris) existe em Portugal desde 1935; atualmente, está presente em Viana do Castelo, nas Caxinas, Arquidiocese de Braga, Nazaré e Peniche, Patriarcado de Lisboa, em Sesimbra, Setúbal – Paróquias da Anunciada e de São Sebastião, Moita, e Fuzeta, Diocese do Algarve, e existem ‘Casas Stella Maris’ em Leça da Palmeira e Buarcos.

O Apostolado do Mar da Paróquia da Moita tem como patrono o sacerdote castelhano Pedro Rodrigues Telmo [São Telmo – Frómista (Palencia), 1190 — Tui, 14 de abril de 1246].

Na celebração no Parque das Canoas (Gaio-Moita) esteve uma delegação da Confraria do Corpo Santo de Massarelos (Porto), que tem como padroeiro São Telmo, à Agência Ecclesia, José Santos, recordou a história de vida o santo que ia para a vida diocesana mas acabou por fazer “voto de pobreza e ingressou no Dominicanos”.

“Na Galiza fez a maior parte da vida junto de comunidades piscatórias, fez milagres. Ainda em vida ficou conhecido como patrono dos homens do mar, que em alturas de aflição, quando há borrascas, trovoadas, mau tempo, invocam São Telmo e pedem intervenção porque têm muita fé”, explicou o vice-juiz da confraria.

José Santos contextualiza que Massarelos era uma zona do Porto, junto do rio Douro, “de estaleiros navais destinados à Marinha Mercante” e fazia viagens comerciais para Inglaterra, e, num regresso de Londres, no Golfo da Biscaia “aconteceu uma tempestade tremenda, andaram três dias a navegar sem condições”, invocaram São Telmo e “conseguiram chegar a Vigo”, foram a Tui onde o santo está sepultado na catedral, e prometeram “erigir uma capela e formar uma confraria de marinheiros, fundada a 20 de dezembro de 1394.

© Agência Ecclesia

 

‘Apostolado do mar’… na Moita: Reflexão do Padre António Sílvio Couto

Os marítimos vão p’ró mar
sempre cheios de confiança
e nunca deixam de rezar.
Têm fé que hão de voltar
porque Vós sois sua esp’rança
’.

Esta segunda estrofe do hino a Nossa Senhora da Boa Viagem como que pode ilustrar o momento de iniciação do ‘Apostolado do mar’ na Moita.

No passado domingo, dia 19 de setembro, naquilo que seria o último dia da ‘semana da festa’ da Moita, se as coisas decorressem de forma normal, teve lugar um momento celebrativo do grupo paroquial do ‘Apostolado do mar’, no Parque das Canoas’, no Gaio, Moita.

Mais do que alguns convidados e de presenças de ocasião, foi importante a expressão de fé católica que pode e deve envolver. Sob a proteção de São Pedro Gonçalves Telmo – ‘São Telmo’ – reuniram-se algumas dezenas de pessoas para testemunharem o momento solene de apresentação deste novo grupo paroquial com caraterísticas muito específicas e também de novidade dentro do ‘Apostolado do mar’.
Vamos tentar responder a algumas questões que se nos podem colocar: que significado tem um grupo do ‘Apostolado do mar’ numa localidade ligada mais ao rio? Quem são os destinatários do ‘Apostolado do mar’? Qual a razão de ter um santo protetor? Como organizar um grupo deste teor, no presente e para o futuro?

Uma fé com sabor a sal

Esta expressão ouvimo-la várias vezes, quando contatamos pessoas ligadas ao mar e à sua expressão em fé católica. Com efeito, há e deve haver uma forma de viver e de exprimir a fé católica a partir do lugar onde se vive: se à beira-mar (ou rio), se no alto de serrra, se no campo ou mesmo na cidade ou na aldeia… Isto passa não só pela decoração do espaço, mas também pela atitude celebrativa…em comunhão católica, onde o essencial é tido em conta e a sua forma de o manifestar pode variar. Isto tem a ver tanto com as pessoas em geral como também com os padres: será totalmente diferente ser ‘de sequeiro’ (fora do espaço marítimo) ou com sensibilidade às vertentes da água… Por vezes nota-se alguma confusão até na forma de colocar quem serve as paróquias ou comunidades!

Ora, estando a Moita situada no espaço de proximidade ao rio Tejo, será muito útil não perder essa referência à dimensão marítima. Isso mesmo está subentendido na estrofe do hino a Nossa Senhora da Boa Viagem, supra citado. Urge, por isso, redescobrir a relação com o rio e não só por haver outros interesses em marcha, mas para que algo identitário possa ser assimilado por quem aqui vive e, sobretudo, por quem aqui celebra a sua fé.

No âmbito da Igreja católica existe um trabalho de atenção às especificidades culturais – humanas e geográficas – de quem vive, trabalha, sente e cuida do mar. Isto chama-se: ‘Apostolado do mar’, uma obra católica de alcance mundial em que se procura levar a mensagem do Evangelho a todas as pessoas e em todos os espaços.  

Destinatários do ‘Apostolado do mar’

Por este tempo estão a ser revistos os estatutos do ‘Apostolado do mar’, em Portugal. Embora se pareça caminhar para designar este serviço pastoral da Igreja com a expressão ‘Stella maris’ – era um setor específico de apoio em terra às pessoas essencialmente ligadas à marinha mercante – podemos e devemos elencar quem são os destinatários desta ação da Igreja católica: 

– as pessoas e organizações ligadas ao mar (ou ainda aos rios), seja ao nível profissional (marinha mercante ou pesca) bem como às atividades lúdicas e de lazer e ainda as agremiações de defesa e conservação do mar e dos rios;

– deve atender-se também às famílias destes setores;

– outro tanto se deve considerar para com as atividades com implicações culturais e religiosas de índole marítima e fluvial.

Uma breve referência, por exemplo à diocese de Setúbal: serão menos de meia dúzia as paróquias que não tenham relação direta com a água, tanto do mar como dos rios Tejo e Sado…

São Pedro Gonçalves Telmo: patrono do grupo da Moita

Não deixa de ser um tanto específico que o grupo paroquial do ‘Apostolado do mar’ na Moita tenha aparecido com um santo protetor. Além de ser um grupo com ligação ao rio, não é costume surgir sob o patrocínio de um santo. Aqui, desde a primeira hora, surgiu São Telmo, naquilo que ele tem de particular na defesa dos navegantes e como alguém a quem podem socorrer-se os ‘marítimos’ do Gaio, pois foi a seção de vela do ‘Clube naval do Gaio’ quem mais se empenhou na prossecução deste trabalho do ‘Apostolado do mar’ agora emergente.

Espaço de evangelização

Este grupo paroquial do ‘Apostolado do mar’ na Moita deverá ser um trabalho de presença da Igreja àqueles que vivem, sentem e participação nas atividades humanas, culturais, profissionais ou lúdicas do lugar onde está sediado. Independentemente de ser concretizada uma sugestão de ser colocada a imagem de São Telmo no moinho do Gaio, deverão ser desenvolvidas ações de formação na fé, na dimensão cultural e mesmo promovendo atividades que façam cuidar mais e melhor do rio e das suas margens. Em breve o grupo deverá reunir para calendarizar tais iniciativas.

Desde a primeira hora a implementação deste grupo do ‘Apostolado do mar’ teve e tem o apoio do diretor nacional. 

Padre António Sílvio Couto, Pároco da Moita

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21 de Setembro de 2021