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Reflexão/Migrações: “Rumo a um nós cada vez maior”

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Reflexão do Padre Pedro Cerantola, scalabriniano, diretor do Secretariado Diocesano da Pastoral das Migrações, a propósito do 107º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, este ano celebrado a 26 de setembro.

 

Há quase 50 anos atrás aconteceu para Portugal a “viragem histórica” do 25 de Abril.

No entanto, várias centenas de milhares de portugueses já tinham fugido “a salto” para o estrangeiro, autênticos “refugiados”, na aventura de escapar da guerra nas ex-colónias e no sonho de uma vida melhor do que na sua terra natal. Só nas “bidonvilles” da região de Paris eram mais de meio milhão.

Chegado em julho de 1974, uns meses depois tive que assumir a Paróquia de Amora… e vivi em cheio na paróquia e da recém-criada Diocese de Setúbal a experiência dos quase 800 mil “retornados” a Portugal das ex-colónias, autênticos “refugiados”, emigrantes na sua terra pátria. Sabemos como só uns afortunados conseguiram trazer algo para recomeçar a sua vida. A maioria vinha com a roupa que tinha no corpo e com a trágica experiência de ter que fugir da terra onde sonhavam construir a sua vida.

Mas em todos mantinha-se viva a força e a vontade de “recomeçar a viver”.

Hoje, o mundo continua com essas tragédias de povos inteiros a fugir da guerra, da fome, de tudo … deixando muitas vezes a família e os amigos, para “recomeçar a viver”.

Esta gente vem para a Europa, sonhando um “paraíso” que lhes custa caro, na travessia dos desertos e dos mares, perdendo amigos e familiares pelo caminho, enfrentando muros e mil obstáculos, para enfim encontrar um “campo” ou uma prisão, onde são guardados como “animais”, antes de entrar na vida comum de todos os seres humanos.

E não se trata de umas centenas de milhares de seres humanos. Os números conhecidos, sempre inferiores à realidade, dizem que no mundo há 250 milhões de emigrantes, sendo mais de 80 milhões os que conseguiram “fugir” da sua terra natal.

Nem os animais e as sementes, que migram pelo mundo desde a criação do planeta, enfrentaram e enfrentam tanto sofrimento, especialmente mulheres, crianças e famílias destruídas, vítimas da violência deste fenómeno da globalização humana.

No entanto, as remessas económicas dos emigrantes no estrangeiro e a chegada dos braços de trabalho e novas energias dos “retornados”, fizeram de Portugal um país de qualidade “europeu”, e hoje, onde os emigrantes e refugiados são acolhidos e tratados como “cidadãos” com direitos e deveres, ajudados a se legalizar, há uma riqueza “en plus”, pois são garantidos os serviços dos trabalhos mais pesados que ninguém quer e menos remunerados, há maior recolha de impostos para a Previdência Social, há sangue novo e juventude que entra no mundo do trabalho… Há uma infinidade de benefícios para os povos envelhecidos e de pouca natalidade que os acolhem … afinal devemos dizer, sem pretender que nos considerem profetas, que o futuro será dos países e povos que acolhem “emigrantes e refugiados”.

Jesus insistiu a pôr os “estrangeiros” como categoria de pessoas que devem ter prioridade de acolhimento.

O Bem-Aventurado João Batista Scalabrini pregava há uns 150 anos que a emigração é um sinal de Providência Divina para fazer da humanidade uma grande nação de povos fraternos e dizia que “se o emigrante não é nosso irmão, também Deus não é nosso Pai”.

Papa Francisco vem mais uma vez com sua “mensagem” a fazer apelo à “fraternidade”. E  diz-nos:

Passada a crise sanitária da pandemia, a pior reacção seria cair ainda mais num consumismo febril e em formas de autoproteção egoístas. Oxalá já não existam os “outros”, mas apenas um “nós”. E quer todos “RUMO A UM NÓS, CADA VEZ MAIOR”. 

Pelo Secretariado Diocesano da Pastoral das Migrações 

Padre Pietro Cerantola, cs

Nota: A Igreja celebra o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado desde 1914, a partir de 2019 no último domingo de setembro. O tema da Mensagem do Papa para este ano é “Rumo a um “nós” cada vez maior”. Leia a mensagem do Papa aqui.

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23 de Setembro de 2021