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A Palavra do Papa: a Igreja acolhedora e aberta, a potencialidade jovem e os justificados pela graça

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Esta semana o Papa publicou a mensagem para a Jornada Mundial da Juventude 2021. Celebrou com os bispos da Europa (CCEE), alertou para a crise social e ambiental. Somos pecadores “mas na base, somos justos” referiu o Pontífice na Audiência Geral.

Europa: “trabalhar para que a Igreja seja cada vez mais acolhedora”

O Papa Francisco presidiu à celebração eucarística na Basílica de São Pedro, na tarde de 23 de setembro, por ocasião da Assembleia Plenária do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) no seu 50° aniversário de fundação.

Francisco iniciou a sua homilia, usando três verbos, oferecidos pela Palavra de Deus, que interpelam os cristãos e os pastores na Europa: refletir, reconstruir e ver.

“Refletir é a primeira coisa que o Senhor convida a fazer por meio do profeta Ageu”, disse o Papa. «Reflitam bem no vosso comportamento», repete o Senhor duas vezes ao seu povo. «Então vocês acham que é tempo de morar tranquilos em casas bem cobertas, enquanto o Templo está em ruínas?», diz ainda o Senhor.

Este convite a refletir interpela-nos: de facto, também hoje na Europa nós, cristãos, somos tentados a acomodar-nos nas nossas estruturas, nas nossas casas e nas nossas igrejas, na segurança das tradições, na satisfação por um certo consenso, enquanto ao redor os templos se esvaziam e Jesus fica cada vez mais esquecido.

Reflitamos! Quantas pessoas deixaram de ter fome e sede de Deus! Não porque sejam más, mas porque falta quem lhes abra o apetite da fé e reacenda a sede que há no coração do homem: aquela que a ditadura do consumismo – leve, mas sufocante – tenta extinguir. Muitos são levados a sentir apenas necessidades materiais, não a falta de Deus”, disse ainda Francisco.

O segundo passo é reconstruir. «Reconstrua o Templo», pede Deus através do profeta. “E o povo reconstrói o templo. Cessa de contentar-se com um presente tranquilo, e trabalha para o futuro”. É disto que precisa a casa comum europeia, refere o Papa: “deixar as conveniências do imediato” e “olhar juntos o futuro”.

A seguir, o Papa agradeceu ao Conselho das Conferências Episcopais da Europa “por estes primeiros 50 anos a serviço da Igreja e da Europa. Somos chamados pelo Senhor a trabalhar para que a sua casa seja cada vez mais acolhedora, para que cada um possa entrar e viver nela, para que a Igreja tenha as portas abertas a todos e ninguém se sinta tentado a concentrar-se apenas em olhar e trocar as fechaduras”.

Focolares: “criar unidade sem anular a diversidade”

O Papa Francisco recebeu este sábado, 25 de setembro, um grupo de Bispos amigos do Movimento dos Focolares. Depois de uma breve saudação aos presentes recordou que “a Obra de Maria, ou Movimento dos Focolares, sempre cultivou, através do carisma recebido de sua fundadora Chiara Lubich, o sentido e o serviço da unidade: unidade na Igreja, unidade entre todos os crentes, unidade em todo o mundo, ‘em círculos concêntricos’”.

“Em meio às lacerações e às destruições da guerra – disse o Papa – o Espírito colocou no coração jovem de Clara uma semente de fraternidade e comunhão. Uma semente que daquele grupo de amigas, em Trento, se desenvolveu e cresceu, atraindo homens e mulheres de todas as línguas e nações com a força do amor de Deus, que cria unidade sem anular a diversidade, ao contrário, valorizando-a e harmonizando-a”.

Queridos irmãos, podemos dizer, que este é o ‘sonho’ de Deus. É seu plano reconciliar e harmonizar em Cristo tudo e todos. Este é também o ‘sonho’ da fraternidade, ao qual dediquei a Encíclica Fratelli tutti.”

Por fim, o Papa saudou os presentes, agradecendo o seu compromisso e lembrando-os que este caminho de amizade que levam avante de ser “sempre aberto, nunca exclusivo – a fim de crescer a serviço da comunhão”. 

Angelus: “comunidades abertas e humildes evitam males”

No Angelus deste domingo, o Papa Francisco destacou um breve diálogo entre Jesus e o apóstolo João que fala em nome de todo o grupo de discípulos (Mc 9, 38-41). João fala de um homem que expulsava o demónio em nome do Senhor, e o impediram de fazê-lo porque não fazia parte do grupo deles. Então o Papa recordou que Jesus convidou a não dificultar os que fazem o bem porque contribuem para a realização do projeto de Deus, explicando:

As palavras de Jesus revelam uma tentação e oferecem uma exortação. A tentação é a do fechamento. Os discípulos gostariam de impedir uma obra do bem só porque a pessoa que o fez não pertencia ao seu grupo”.

“Cada fechamento mantém à distância os que não pensam como nós. Isto – como sabemos – é a raiz de tantos males da história: do absolutismo que muitas vezes gerou ditaduras e de tanta violência contra aqueles que são diferentes”, afirmou.

Francisco colocou a questão em relação à Igreja recordando a todos “precisamos estar vigilantes também quanto ao fechamento na Igreja” e detalhou “o diabo, que faz a divisão – é isso que a palavra “diabo” significa – sempre insinua suspeitas a fim de dividir e excluir as pessoas.

Às vezes, nós também, em vez de sermos comunidades humildes e abertas, podemos dar a impressão de sermos ‘os melhores da classe’ e manter os outros à distância; em vez de tentar caminhar com todos, podemos exibir a nossa ‘carteira de crentes’ para julgar e excluir.”

“Peçamos a graça – continuou o Santo Padre – de superar a tentação de julgar e catalogar, e que Deus nos preserve da mentalidade do ‘nicho’, da mentalidade de nos guardarmos ciosamente no pequeno grupo dos que se consideram bons. O Espírito Santo não quer fechamentos; ele quer abertura, comunidades acolhedoras onde haja lugar para todos”.

Depois da Oração do Angelus, o Papa recordou o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado:

Hoje celebramos o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que este ano tem como tema “Rumo a um nós cada vez maior”. É necessário caminhar juntos, sem preconceitos e sem medo, ao lado daqueles que são mais vulneráveis: migrantes, refugiados, deslocados, vítimas do tráfico e abandonados. Somos chamados a construir um mundo cada vez mais inclusivo, que não exclua ninguém.”

Por fim, recordou ainda a beatificação em Bolonha do sacerdote mártir Giovanni Fornasini e manifestou a sua solidariedade aos afetados pelo vulcão nas Canárias.

Mensagem do Papa para a JMJ diocesana

Foi publicada a mensagem do Papa Francisco aos jovens por ocasião da XXXVI Jornada Mundial da Juventude, jornada a ser celebrada a nível diocesano no próximo dia 21 de novembro, Solenidade de Cristo Rei. O tema da sua mensagem: “Levanta-te! Eu te constituo testemunha do que viste!” (cf. At 26, 16), ilustra o longo texto escrito pelo Papa, que inicia com um convite: “Gostaria de tomar-vos pela mão, mais uma vez, para continuarmos juntos na peregrinação espiritual que nos conduz rumo à Jornada Mundial da Juventude de Lisboa em 2023”.

Depois de falar da provação sofrida pelas limitações causadas pela pandemia Francisco consolou: “Mas, graças a Deus, este não é o único lado da moeda. Se a provação pôs a descoberto as nossas fragilidades, fez emergir também as nossas virtudes, nomeadamente a predisposição à solidariedade”.

Quando cai um jovem de certo modo cai a humanidade. Mas também é verdade que, quando um jovem se levanta, é como se o mundo inteiro se levantasse. Queridos jovens, que grande potencialidade tendes nas vossas mãos! Que força trazeis nos vossos corações!”

“Por isso, hoje, Deus diz a cada um de vós mais uma vez: “Levanta-te!” Espero de todo o coração que esta mensagem ajude a preparar-nos para tempos novos, para uma página nova na história da humanidade. Mas não há possibilidades de recomeçar sem vós, queridos jovens. Para levantar-se, o mundo precisa da vossa força, do vosso entusiasmo, da vossa paixão”.

Francisco: “vida e saúde são valores fundamentais para todos”

O Pontífice recebeu em audiência, na segunda-feira, na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes da assembleia plenária da Pontifícia Academia para a Vida.

O tema da saúde pública foi escolhido para estes três dias de trabalho. Um tema atual “no horizonte da globalização”, sublinhou o Papa, reiterando que “a crise pandêmica fez ressoar ainda mais forte «tanto o grito da terra quanto o grito dos pobres»”. “Não podemos permanecer surdos a este duplo grito, devemos ouvi-lo bem! E é isso que vocês se propõem a fazer”, ressaltou.

Analisar as várias questões graves que emergiram nos últimos dois anos não é uma tarefa fácil. De um lado, estamos esgotados pela pandemia da Covid-19 e pela inflação de discursos gerada: quase não queremos mais ouvir falar disso e estamos com pressa de passar para outros assuntos. Mas, por outro lado, é essencial refletir com calma a fim de examinar em profundidade o que aconteceu e ver o caminho para um futuro melhor para todos. Na verdade, “pior do que esta crise há apenas o drama de desperdiçá-la”.

O Papa recordou que a reflexão que a Pontifícia Academia para a Vida vem fazendo nos últimos anos sobre “a bioética global está a revelar-se preciosa”. Segundo o Pontífice, “o horizonte da saúde pública permite-nos focalizar aspetos importantes para a convivência da família humana e para o fortalecimento de um tecido de amizade social”, temas centrais na Encíclica Fratelli tutti.

No final do encontro, o Papa agradeceu o compromisso e a contribuição que a Academia deu ao participar ativamente na Comissão Covid do Vaticano, confiando a Maria os trabalhos dessa Assembleia e todas as atividades da Academia para a defesa e promoção da vida.

Ecologia: escolhamos estilos de vida sóbrios, respeitosos com a Criação

O Papa lançou esta quarta-feira duas publicações na rede social Twitter sobre a questão da ecologia integral. Um convite a refletir sobre o uso dos bens materiais em relação ao ambiente e a apreciar as coisas pequenas. As mensagens são inspiradas no “Tempo da Criação”, iniciativa anual em andamento até 4 de outubro e que visa conscientizar os cristãos sobre o compromisso com a defesa da Terra, nossa Casa comum.

No primeiro, o Papa escreve:

Nestes tempos de crise – na saúde, social e ambiental – vamos refletir sobre como nosso uso de tantos bens materiais é muitas vezes prejudicial à Terra. Optemos por mudar e caminhemos rumo a estilos de vida mais simples que respeitem a criação.”

E no segundo: “A espiritualidade cristã propõe a sobriedade e a simplicidade que nos permitem parar e saborear as pequenas coisas, agradecer as possibilidades que a vida nos oferece sem nos apegarmos ao que temos nem entristecermos por aquilo que não possuímos.”

Audiência Geral: “justificados pela graça, sejamos ativos no amor a Deus e ao próximo”

O Papa Francisco reuniu-se na manhã de quarta-feira com milhares de fiéis na Sala Paulo VI para a Audiência Geral, onde retomou o ciclo sobre a Carta aos Gálatas e comentou um tema que ele mesmo definiu “difícil, mas importante”: o da justificação.

O que é a justificação? Nós, como pecadores, tornamo-nos justos. Quem nos fez justos? Este processo de transformação é a justificação. Nós, diante de Deus, somos justos.”

Certamente somos pecadores, “mas na base somos justos”, explicou Francisco, e quem nos justificou foi Jesus Cristo. Paulo insiste no facto de que a justificação vem da fé em Cristo. No seu pensamento, a justificação é a consequência da “misericórdia de Deus que oferece o perdão”. “E este é o nosso Deus, assim tão bom! Misericordioso, paciente e repleto de misericórdia, que continuamente oferece o perdão. Continuamente.”

De facto, através da morte de Jesus, Deus destruiu o pecado e deu-nos o perdão e a salvação de uma forma definitiva. Assim justificados, os pecadores são acolhidos por Deus e reconciliados com Ele. Francisco citou novamente o estilo de Deus, que resumiu em três atitudes: proximidade, compaixão e ternura.

“E a justificação é justamente a maior proximidade Deus para connosco, homens e mulheres, a maior compaixão de Deus para connosco, homens e mulheres, a maior ternura do Pai. A justificação é este dom de Cristo, da morte e ressurreição de Cristo que nos torna livres. (…) Permitam-me a palavra: somos santos na base. Mas depois, com a nossa obra, nos tornamos pecadores. Mas na base somos santos.”

E o Papa concluiu:

Vamos em frente com esta confiança: todos fomos justificados, somos justos em Cristo. Devemos aplicar aquela justiça com as nossas obras.”

No final da Audiência, na sua saudação em várias línguas, o Papa recordou a memória litúrgica dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael.

Francisco fez também um apelo em prol da paz na Nigéria, depois dos ataques domingo passado contra os vilarejos de Madamai e Abun, no norte do país. “Rezo por quem perdeu a vida, por quem ficou ferido e por toda a população nigeriana. Faço votos de que seja sempre garantida no país a incolumidade de todos os cidadãos.”

Youth4climate: “tomar decisões sábias para o bem da humanidade”

Queridos jovens, quero agradecer-lhes pelos sonhos e projetos de bem que vocês têm e pelo fato de se preocuparem tanto com as relações humanas e com o cuidado com o meio ambiente.”

Estas são as palavras do Papa Francisco na mensagem em vídeo, divulgada esta quarta-feira por ocasião da Youth4climate, conferência dos jovens pelo clima, que teve início, em Milão,  na terça-feira, 28, e prossegue até 30 de setembro, organizada pelo Governo italiano em parceria com o Reino Unido, em vista da Cop26 de Glasgow, na Escócia, em novembro próximo.

Segundo o Papa, os jovens têm “uma preocupação que faz bem a todos. Essa visão é capaz de colocar o mundo dos adultos em crise, pois mostra que vocês não estão apenas preparados para agir, mas estão disponíveis para a escuta paciente, o diálogo construtivo e a compreensão recíproca”.

Francisco os encorajou “a unir os esforços através de uma ampla aliança educativa para formar gerações de bem, maduras, capazes de superar as fragmentações e reconstruir o tecido das relações de modo que possamos chegar a uma humanidade mais fraterna”.

O Santo Padre ressaltou que “é o momento de tomar decisões sábias para que as muitas experiências adquiridas nos últimos anos possam ser aproveitadas, a fim de tornar possível uma cultura do cuidado, uma cultura de partilha responsável”.

Por fim, o Papa encorajou os jovens “a desenvolverem o seu trabalho para o bem da humanidade”.

JM (com recursos do portal de notícias Vatican News)

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30 de Setembro de 2021