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A Palavra do Papa: a missão no quotidiano, a coragem necessária, o pequeno e o cristão livre

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O Papa deu iniciou ao mês missionário com fortes apelos à sinodalidade, à resiliência e criatividade dos jovens, ao respeito pela humanidade e pelos professores. Sobre os abusos em França, o Papa assume a sua “vergonha” e pede para que estes dramas não se repitam, ao mesmo tempo que as responsabilidades pelos crimes passados sejam assumidas.

O Papa: sejamos discípulos missionários na vida quotidiana

Neste mês de outubro, em que começa o Caminho Sinodal e se celebra o Dia Mundial das Missões, o Papa Francisco mergulha no tema da evangelização da Igreja e chama-nos a ser discípulos missionários.

“Jesus pede a todos nós, e a ti também, que sejamos discípulos missionários. Estás preparado?” Esta é a pergunta que o Papa Francisco faz na mensagem em vídeo com a intenção de oração para o mês de outubro.

Segundo o Pontífice, a missão a que todos nós batizados somos chamados centra-se, sobretudo, em “estarmos disponíveis ao seu chamamento e vivermos unidos ao Senhor nas coisas mais quotidianas, no trabalho, nos encontros, nas ocupações diárias, nas casualidades de cada dia, deixando-nos sempre guiar pelo Espírito Santo”.

Dentro de alguns dias começará o Caminho Sinodal da Igreja, um apelo a caminhar juntos, como “Povo de Deus peregrino e missionário”. Este mês, o Papa reforça este apelo, convidando homens e mulheres a deixarem-se “mover” por Cristo.

Pede o Santo Padre que recordemos que a missão não é fazer proselitismo. A missão baseia-se no encontro entre as pessoas, no testemunho de homens e mulheres que dizem: “Eu conheço Jesus, gostaria que tu também O conhecesses”.

Por fim, o Papa convida a rezar “para que cada batizado participe na evangelização e que cada batizado esteja disponível para a missão através do seu testemunho de vida. E que este testemunho de vida tenha o sabor do Evangelho”.

“Economia de Francisco”: “o mundo precisa da coragem de vocês, agora”

“Renovo a vocês jovens a tarefa de colocar a fraternidade no centro da economia” para demonstrar, “guiados pelo amor do Evangelho”, que “uma economia diversa existe”, e que ela pode ser “mais justa, sustentável e solidária, ou seja, mais comum”. Assim se dirigiu o Papa Francisco aos jovens empresários e economistas que foram os protagonistas do segundo evento mundial da “Economia de Francisco”.

Na sua mensagem em vídeo no final dos trabalhos, o Papa renova para eles a tarefa de “buscar novas formas de regenerar a economia” após a pandemia, para que ela possa ser “mais justa, sustentável e solidária, ou seja, mais comum”.

Francisco falou de numerosas “falhas no cuidado da casa e da família comuns” durante os quase dois anos da pandemia e denunciou que “muitas vezes esquecemos a importância da cooperação humana e da solidariedade global”, assim como “a existência de uma relação de reciprocidade responsável entre nós e a natureza”.

O Papa Francisco frisou que é necessário “um novo paradigma integral” para formar as novas gerações de economistas e empresários ao “respeito pela nossa interconectividade com a Terra”.

Vocês, disse o Pontífice aos jovens, “talvez sejam a última geração que pode nos salvar: eu não estou a exagerar”. Precisamos da vossa “criatividade e resiliência” para “corrigir os erros do passado e nos conduzirmos a uma nova economia mais solidária, sustentável e inclusiva”.

Vocês não são o futuro, vocês são o presente”. Outro presente. O mundo precisa da coragem de vocês. Agora”, concluiu.

Angelus: “Quem busca Deus encontra-O nos pequenos e necessitados”

“Jesus, fazendo o gesto de abraçar uma criança, identificou-se com os pequenos”: foi o que disse o Papa Francisco na sua alocução que precedeu a oração mariana do Angelus na Praça São Pedro ao meio-dia deste domingo, 3 de outubro.

Destacando o Evangelho do dia, o Papa disse que vemos uma reação bastante incomum de Jesus: ele está indignado. E o que é mais surpreendente é que sua indignação não é causada pelos fariseus que o testam com perguntas sobre a legalidade do divórcio, mas pelos seus discípulos que, para protegê-lo da multidão, repreendem algumas crianças que são levadas a Ele. Por outras palavras, o Senhor não está zangado com aqueles que discutem com Ele, mas com aqueles que, a fim de aliviá-lo da fadiga, distanciam d’Ele as crianças. Por quê?, pergunta o Papa.

Explica o Pontífice que Jesus “identificou-se com os pequenos: ele ensinou que são precisamente os pequenos, ou seja, aqueles que dependem dos outros, que estão necessitados e não podem retribuir, que devem ser servidos primeiro. Aqueles que buscam a Deus o encontram ali, nos pequenos, nos necessitados: não só de bens, mas de cuidados e conforto, como os doentes, os humilhados, os prisioneiros, os imigrantes e os encarcerados. Ele está ali. É por isso que Jesus está indignado: todo o insulto feito a um pequeno, a uma pessoa pobre, a uma pessoa indefesa, é feito a Ele”.

O Papa Francisco destacou em seguida que hoje o Senhor retoma este ensinamento e o completa. De facto, ele acrescenta: “Quem não acolher o Reino de Deus como o acolhe uma criança, não entrará nele”.

Eis a novidade: o discípulo não deve servir apenas aos pequenos, mas reconhecer-se, ele mesmo, pequeno. Saber-se pequeno, saber-se necessitado de salvação, é indispensável para acolher o Senhor. É o primeiro passo para nos abrirmos a Ele. Mas muitas vezes esquecemos disso”.

Na prosperidade, – disse Francisco – no bem-estar, temos a ilusão de sermos autossuficientes, de sermos suficientes a nós mesmos, de não precisarmos de Deus. Isto é um engano, porque cada um de nós é um ser necessitado, um ser pequeno.

Na vida, reconhecer-se pequeno é o ponto de partida para se tornar grande. Se pensarmos nisso, crescemos não tanto com base nos sucessos e nas coisas que temos, mas sobretudo nos momentos de luta e fragilidade. Ali, na necessidade, amadurecemos; ali abrimos nosso coração a Deus, aos outros, ao sentido da vida”.

O Santo Padre sublinhou que “quando nos sentimos pequenos diante de um problema, de uma cruz, de uma doença, quando sentimos cansaço e solidão, não devemos desanimar” porque “é precisamente na fragilidade que descobrimos o quanto Deus cuida de nós”.

Após a oração do Angelus neste domingo o Papa falou da sua tristeza pelo ocorrido nos últimos dias na prisão de Guayaquil, Equador. Uma terrível explosão de violência entre presos pertencentes a gangues rivais deixou mais de cem mortos e muitos feridos. Antes de se despedir dos fiéis recordou que naquele dia, na cidade italiana de Catanzaro, Maria Antonia Samà e Gaetana Tolomeo, duas mulheres forçadas à imobilidade física ao longo de suas vidas, foram beatificadas. Sustentadas pela graça divina, abraçaram a cruz da sua enfermidade, transformando a sua dor em louvor ao Senhor.

Fé e Ciência: “respeitemos o ser humano, a criação e o Criador”

No dia do primeiro aniversário da Encíclica Fratelli tutti, dedicada à fraternidade humana, o Papa Francisco reuniu cientistas, especialistas e líderes religiosos no Vaticano para o encontro “Fé e Ciência” que pretendia refletir e preparar a Cop 26, conferência climática anual da ONU programada para se realizar, em Glasgow, na Escócia, de 31 de outubro a 12 de novembro.

No meio de música e momentos de silêncio, discursos e debates em vários idiomas, todos os presentes assinaram um apelo conjunto no qual ilustraram vários percursos educacionais e de formação a serem desenvolvidos em favor do cuidado da Casa comum.

No discurso do Papa, que não foi lido mas entregue aos presentes, o Pontífice recorda que o encontro reforça “a consciência de que somos membros de uma única família humana”.

Francisco indica três conceitos-chave para refletir sobre esta colaboração recíproca:

O olhar de interdependência e partilha, o motor do amor e a vocação ao respeito.”

“Tudo está interligado, tudo no mundo está intimamente conexo”: ciência e fé, homem e criação, refere. Portanto, é necessário adotar comportamentos e ações modelados na “interdependência” e “corresponsabilidade” e, sobretudo, no “respeito” recíproco, a fim de combater aquelas “sementes de conflito” tais como ganância, indiferença, ignorância, medo e violência que causam feridas tanto no ser humano quanto no meio ambiente.

O Papa: “A educação compromete-nos a acolher o outro como ele é”

“Hoje, no Dia Mundial dos Professores instituído pela UNESCO, queremos como Representantes das Religiões manifestar a nossa proximidade e gratidão a todos os professores e, ao mesmo tempo, a nossa solicitude pela educação.”

Foi o que disse o Papa Francisco no discurso de terça-feira na Sala Clementina, no Vaticano, no Encontro “Religiões e Educação: Pacto Educativo Global”. Pela primeira vez, representantes das religiões se encontraram para partilhar o seu compromisso em âmbito educacional.

O Santo Padre lembrou que há dois anos – no dia 12 de setembro de 2019 –, dirigiu um apelo a todos aqueles que intervêm, por variados títulos, no campo da educação para “dialogar sobre o modo como estamos construindo o futuro do planeta e sobre a necessidade de investir os talentos de todos”, porque “toda a mudança precisa duma caminhada educativa para fazer amadurecer uma nova solidariedade universal e uma sociedade mais acolhedora”.

Francisco explicou que, com esta finalidade, promoveu a iniciativa dum Pacto Educativo Global, “para reavivar o compromisso em prol e com as novas gerações, renovando a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de escuta paciente, diálogo construtivo e mútua compreensão”, advogando uma “formação integral que se resume no conhecer-se a si mesmo, ao próprio irmão, à criação e ao Transcendente”.

O Papa frisou ainda que as religiões sempre tiveram uma relação estreita com a educação, acompanhando as atividades religiosas com as educativas, escolares e acadêmicas. “Como no passado – acrescentou -, também hoje queremos, com a sabedoria e a humanidade das nossas tradições religiosas, ser estímulo para uma renovada ação educativa que possa fazer crescer no mundo a fraternidade universal.”

Audiência Geral: “Ninguém pode ser feito escravo em nome de Jesus”

A liberdade cristã foi o tema da catequese do Papa Francisco, que se reuniu com milhares de fiéis na Sala Paulo para a Audiência Geral. O Pontífice deu continuidade ao ciclo sobre a Carta aos Gálatas, comentando alguns versículos do quarto capítulo, em que o Apóstolo afirma que “é para a liberdade que Cristo nos libertou”.

O Papa explicou que Paulo não podia suportar que aqueles cristãos, depois de terem conhecido e acolhido a verdade de Cristo, se deixassem atrair por propostas enganosas, passando da liberdade à escravidão: da presença libertadora de Jesus à escravidão do pecado, do legalismo e assim por diante. “Não se pode forçar em nome de Jesus, ninguém pode ser feito escravo em nome de Jesus que nos torna livres”, disse Francisco. “Uma pregação que impedisse a liberdade em Cristo nunca seria evangélica.”

O Papa prosseguiu explicando que a liberdade cristã é fundada sobre dois pilares fundamentais: primeiro, a graça do Senhor Jesus, fruto da sua morte e ressurreição: “Ali mesmo, onde Jesus se deixou cravar, Deus colocou a fonte da libertação radical do ser humano. Este é o mistério do amor de Deus! Jesus realiza a sua plena liberdade ao entregar-se à morte; sabe que só assim pode obter vida para todos.”

O segundo pilar da liberdade é a verdade. É preciso recordar que a verdade da fé não é uma teoria abstrata, mas a realidade de Cristo vivo:

Quantas pessoas que não estudaram, que não sabem ler ou escrever, mas que entenderam bem a mensagem de Cristo, têm esta sabedoria que as torna livres, sem estudo. É a sabedoria de Cristo que entrou através do Espírito Santo no Batismo. Quantas pessoas encontramos que vivem a vida de Cristo mais do que os grandes teólogos, por exemplo. Elas são um grande testemunho da liberdade do Evangelho”, disse o Papa.

“A liberdade torna livres na medida em que transforma a vida de uma pessoa e a direciona para o bem”, acrescentou Francisco.

Sobre os abusos em França, o Papa: “É o momento da vergonha, minha e nossa”

Após a catequese, na sua saudação aos peregrinos francófonos presentes na audiência geral, o Papa expressou a sua proximidade com as vítimas da pedofilia na Igreja na França, à luz dos “números consideráveis” apresentados na terça-feira no Relatório da Comissão encarregada pelos bispos e religiosos franceses.

“Desejo expressar às vítimas a minha tristeza e o meu pesar pelos traumas sofridos e a minha vergonha, a nossa vergonha, pela demasiada longa incapacidade da Igreja em colocá-las no centro das suas preocupações, assegurando-lhes as minhas orações. Rezo e todos nós rezamos juntos: “A ti, Senhor, a glória, a nós a vergonha”: este é o momento da vergonha.

“Encorajo os bispos e vocês, queridos irmãos que vieram aqui para partilhar este momento, encorajo os bispos e superiores religiosos a continuarem a fazer todos os esforços para garantir que dramas semelhantes não se repitam. Expresso aos sacerdotes da França proximidade e apoio paternal diante desta provação, que é dura, mas saudável, e convido os católicos franceses a assumirem as suas responsabilidades para garantir que a Igreja seja uma casa segura para todos”, acrescentou o Santo Padre.

O documento, divulgado na terça-feira e encomendado pela Conferência Episcopal e pela Conferência dos religiosos e religiosas francesas, revela dados dramáticos: entre 1950 e 2020, há pelo menos 216 mil vítimas e entre 2.900 e 3.200 sacerdotes e religiosos envolvidos em crimes de pedofilia.

JM (com recursos do portal Vatican News)

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07 de Outubro de 2021