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Aristides Sousa Mendes: «Há valores de humanismo que nos unem a todos» – D. José Ornelas

O Bispo de Setúbal afirmou esta terça-feira que conceder honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes significa celebrar valores de humanismo que “unem todos” e considerar “atitudes de vida que vão para além de ser português”.

D. José Ornelas, na qualidade de presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, participou na cerimónia de concessão de Honras de Panteão a Aristides de Sousa Mendes, o antigo Cônsul-Geral de Portugal em Bordéus (França), que concedeu milhares de vistos a judeus e outros refugiados para fugirem do regime nazi, na II Guerra Mundial, à revelia do governo português de António Oliveira Salazar.

“Foi muito, muito grato estar presente nesta celebração, primeiro como português, como pessoa, e depois como presidente da conferência episcopal: senti uma emoção muito grande, cantar-se o Hino Nacional para celebrar pessoas destas”, disse D. José Ornelas em declarações à Agência Ecclesia, acrescentando que “há valores de humanismo que nos unem a todos”.

Para o Bispo de Setúbal, é necessário “reagir” e “rebelar-se contra as ditaduras” que querem transformar uma comunidade nacional em “nacionalismo contra outros”, desvirtuando “valores sagrados para pô-los ao serviço dos seus valores”.

“Todos os ditadores quando falam de nacionalismo não estão falando do bem do povo, estão falando do seu bem e de assegurar o seu domínio sobre esse povo. Hoje o que transparece é que este homem, que em nome precisamente do ser homem, do ser humano, é capaz de rebelar-se contra ordens que são injustas porque há valores que se sobrepõem aos interesses passageiros e contextuais de quem quer que seja”, desenvolveu.

D. José Ornelas destacou que ser homem, ser mulher, nesta terra “é a base de todos os direitos” e sobre o qual se constrói a “especificidade de cada povo e de cada grupo, de cada credo”, mas onde o “respeito é fundamental” para que possam viver, “construir um mundo mais justo, mais fraterno, mais capaz”.

Foi um bom testemunho, este que fomos celebrar hoje e foi bom ver a nação, nos seus representantes, a celebrar aquilo que nos dignifica”, realçou o prelado.

A cerimónia no Panteão Nacional contou com a presença do presidente da República, do primeiro-ministro e do presidente da Assembleia da República, e membros da família de Aristides de Sousa Mendes.

“É uma atitude não é simplesmente de um passado, que se dignifica com este gesto, mas é também criar uma mentalidade para que seja possível atendermos aos grandes temas que a humanidade apresenta hoje, em termos de ecologia, em termos de justiça, em termos de saúde, de respeito, de acolhimento”, referiu o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.

A homenagem realizada hoje foi simbólica, o túmulo vai estar vazio – o cenotáfio – e o corpo do antigo cônsul está em Carregal do Sal (Distrito de Viseu).

Foi descerrada uma placa na sala dois do Panteão Nacional, onde estão sepultados o general Humberto Delgado, a poetisa Sophia de Mello Breyner, o escritor Aquilino Ribeiro e o futebolista Eusébio da Silva Ferreira.

Aristides de Sousa Mendes, que nasceu a 19 de julho de 1885, morreu em abril de 1954, no Hospital Franciscano para os Pobres, em Lisboa.

Marcelo Rebelo de Sousa condecorou o antigo cônsul, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, a 3 de abril de 2017.

O ‘Yad Vashem’ distinguiu Aristides de Sousa Mendes com o título de “Justo entre a Nações” do Memorial do Holocausto, a maior distinção para não-judeus que pode ser emitida em nome do Estado de Israel.

©Agência Ecclesia

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20 de Outubro de 2021