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Reflexão: “Processo do sínodo…em conversão”

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Texto de reflexão do Padre António Sílvio Couto

«Nós somos débeis e pecadores:
não permitais que sejamos causadores da desordem;
que a ignorância não nos desvie do caminho,
nem as simpatias humanas ou o preconceito nos tornem parciais
».

Confesso que este parágrafo da ‘oração pelo Sínodo’ me deixa perplexo, apreensivo e reconfortado. Podem parecer sentimentos – bem mais do que ideias ou pensamentos – contraditórios, mas vivo-os desde que li e agora rezo esta oração, proposta como caminho sinodal…nos próximos tempos.

Diz-se, em nota de rodapé, na pagela distribuída com esta fórmula comunitária de oração, que ela é “atribuída a Santo Isidoro de Sevilha (560-636), tem sido tradicionalmente utilizada nos concílios e nos sínodos durante séculos. A versão que se segue foi especificamente concebida para o caminho sinodal da Igreja de 2021 a 2023”. Aqui poderá estar algo que nos ajuda a situar na longa e acrisolada Tradição da Igreja e onde vamos, em momentos significativos, buscar as raízes mais fundas do nosso atuar contemporâneo.

Como nota de referência não deixa de ser significativo que esta oração-sinodal seja dirigida ao Espírito Santo, como todos sabemos é a alma da Igreja e quem lhe dá o ligâmen de unidade, de santidade, se catolicidade e de apostolicidade.

Sem pretender fazer qualquer análise hermenêutica restritiva, ouso propor uma breve reflexão sobre os quatro aspetos contidos na disposição gráfica e de aspetos conexos contidos neste parágrafo:

  1. Nós somos débeis e pecadores.

É partindo desta consciencialização – de ‘pobres pecadores ‘ – que poderemos encetar o nosso caminho de sínodo: estamos todos juntos na mesma tarefa, numa base de unidade e não na distinção de regalias ou de penachos humanos ou religiosos… subtis ou presumidos.

  1. Não permitais que sejamos causadores da desordem.

De facto, aquilo que distingue, normalmente, cria obstáculos a que nos sintamos, na linguagem paulina, ‘membros uns dos outros’, mas talvez, mais seduzidos pela leitura e vivência piramidal, que, de tantas e tão atrozes modos, tem criado problemas na Igreja e no mundo. Será uma visão menos adequada?

  1. Que a ignorância não nos desvie do caminho.

Em certos círculos (mais ou menos) eclesiásticos dói dizer-se que a ignorância é o ‘oitavo sacramento’. Ora, na componente desta oração pedimos ao Espírito divino que venha em nós vencer essa letargia em que, tantas vezes, nos consolámos, em que vivermos com o já sabido, o que foi estudado ou mesmo o que nada diz mas que nos faz sentir seguros do pouco que sabemos. Ainda, um destes dias, fiquei estarrecido de confusão, ao ouvir de um padre, que foi ordenado há quatro anos e que dizia não precisar de estudar, para já, mais…Isto foi-me ainda agravado, quando ele o disse perante uma professora jubilada de teologia – a primeira mulher assim graduada no nosso país – e que, momentos antes me tinha deliciado com uma reflexão despretensiosa sobre questões de teologia trinitária. Sim, mesmo na Igreja católica, a ignorância é um posto de relevância… e não é só dos leigos!

  1. Nem as simpatias humanas ou o preconceito nos tornem parciais.

Efetivamente, vivemos, de tantas e variadas formas sob o condicionamento de querermos agradar – na palavra e nas atitudes – para com quem nos agrada ou a quem queremos (mais ou menos) ser agradáveis. Com que facilidade corremos o risco de submeter-nos àquilo em que pode ser menos agradáveis. Certos ‘bobos da coorte’ deambulam pelas arenas eclesiais…e não são só os leigos. Com que rudeza sinto – sobre o passado e o presente – essa advertência de Jesus: ‘ai de vós, quando todos disserem bem de vós’! Se formos homens/mulheres à luz do Evangelho andaremos doridos com tais cedências às forças do mundo… ou não!

Padre António Sílvio Couto, Pároco da Moita

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21 de Outubro de 2021