comprehensive-camels

A Palavra do Papa: as feridas que ajudam a curar, a fé sem ornamentos, a oração ao Espírito e a coragem de Assis

20211111-a-palavra-do-papa-banner

O Papa encontrou-se em Assis com 500 pessoas em situação de pobreza para um momento de oração e testemunho. Pediu para se vigiar, a vaidade e a hipocrisia, “perigosa doença da alma”, recomendou a invocação do Espírito Santo nos momentos de maior desânimo e apelou aos governos para combaterem a pornografia infantil.

Papa: as crises conjugais não são uma maldição, mas uma oportunidade

Na Sala Paulo VI, Francisco encontrou no final da manhã de sábado, cerca de 600 pessoas ligadas à Associação Retrouvaille, um serviço experiencial oferecido a casais que sofrem graves problemas de relacionamento, que estão prestes a se separar ou já separados ou divorciados, e que pretendem reconstruir o seu relacionamento amoroso, trabalhando para salvar o seu matrimónio em crise, ferido e dilacerado.

Dirigindo-se aos presentes, o Papa saúda este “encontro” precisamente durante o Ano da Família Amoris Laetitia. O que devemos temer é cair no conflito – sublinha Francisco – porque é difícil encontrar uma solução no conflito. “Por outro lado, a crise faz-te dançar um pouco, às vezes faz-te ouvir coisas más, mas da crise pode-se sair, desde que dela se saia melhor”.

O Papa detém-se na palavra crise que o período pandémico infelizmente nos tornou familiar. A crise é considerada pelo Papa como “uma oportunidade de dar um salto qualitativo nas relações”. E faz referência à Exortação Amoris laetitia na parte dedicada às crises familiares (cf. 232-238). Leva em consideração então, com base nas experiências dos casais, a outra palavra-chave: feridas.

Porque as crises das pessoas produzem feridas, chagas no coração e na carne. “Feridas” é uma palavra-chave para vocês, faz parte do vocabulário diário da Retrouvaille. Faz parte da sua história: de facto, vocês são casais feridos que passaram pela crise e estão curados; e precisamente por isso são capazes de ajudar outros casais feridos. Vocês não abandonaram, vocês não foram embora. Vocês pegaram nas mãos a crise para buscar uma solução.”

Francisco agradece à Retrouvaille porque a experiência vivida pelos cônjuges é colocada ao serviço dos outros. E fala de “um dom precioso quer a nível pessoal como eclesial”, e agradece porque é um gesto que faz crescer e amadurecer outros casais.

Angelus: libertar a fé dos laços com o dinheiro

As suas moedas têm um som mais bonito do que as grandes ofertas dos ricos, porque expressam uma vida dedicada a Deus com sinceridade, uma fé que não vive de aparências, mas da confiança incondicional”.

A pobre viúva, uma mestra da fé, um modelo a ser seguido para assim sermos curados da hipocrisia, doença perigosa da alma, inspirou a reflexão do Papa que precede a recitação do Angelus.

A passagem do Evangelho de Marcos (Mc 12, 38-44) proposta pela liturgia do Domingo passado, apresenta um contraste gritante: de um lado os ricos, que dão o que é supérfluo para serem vistos, e de outro uma “pobre mulher que, sem aparecer, oferece todo o pouco que tem. Dois símbolos de comportamentos humanos”.

A cena, explicou o Papa aos milhares de fiéis e turistas reunidos na Praça de São Pedro, “passa-se dentro do Templo de Jerusalém. Jesus olha o que acontece neste lugar, o mais sagrado de todos, e vê como os escribas gostam de caminhar para ser notados, saudados e reverenciados e ter lugares de honra”. Contemporaneamente, “os seus olhos vislumbram outra cena: uma pobre viúva, precisamente uma daquelas exploradas pelos poderosos, que coloca no tesouro do Templo tudo o que tinha para viver”:

O verbo “guardar” – diz Francisco – vai resumir o ensino de Jesus sobre estas duas cenas, ou seja, devemos nos guardar daqueles que vivem a fé com duplicidade, como aqueles escribas, “para não nos tornarmos como eles”, mas olhar para a viúva e “tomá-la como modelo”. “Detenhamo-nos nisto – enfatizou o Papa – guardar-se dos hipócritas e olhar para a pobre viúva”:

Antes de tudo, guardar-se dos hipócritas, isto é, estar atentos para não basear a vida no culto da aparência, da exterioridade, no cuidado exagerado da própria imagem. E, sobretudo, estar atentos para não submeter a fé aos nossos interesses.

É uma advertência para todos os tempos e para todos, Igreja e sociedade: nunca tirar proveito da própria posição para pisar sobre os outros, nunca ganhar à custa dos mais fracos! E vigiai, para não cair na vaidade, para que não aconteça de nos fixarmos nas aparências, perdendo a substância e vivendo na superficialidade.”

Francisco convida então a nos perguntarmos: “naquilo que dizemos e fazemos, queremos ser apreciados e gratificados ou prestar um serviço a Deus e ao próximo, especialmente aos mais fracos?”. E alerta: Vigiemos as falsidades do coração, a hipocrisia, que é uma doença perigosa da alma!”:

E para sermos curados dessa doença, “Jesus convida-nos a olhar para a pobre viúva”. “O Senhor – enfatizou o Pontífice – denuncia a exploração desta mulher que, para fazer a oferta, deve voltar para casa privada até mesmo do pouco que tem para viver”.

Ela fica sem nada, mas em Deus encontra o seu tudo. Ela não teme perder o pouco que tem, porque tem confiança no muito de Deus, e este muito de Deus multiplica a alegria de quem dá.”

No final do Angelus, o Papa assegurou a sua oração pelo povo da Etiópia, atualmente em conflito, e também pelas vítimas da explosão que ocorreu em Freetown, capital da Serra Leoa, na qual morreram 98 pessoas e outras 92 ficaram feridas.

O Papa recordou ainda os três mártires que no sábado foram elevados às honras dos altares em Manresa, Espanha: Benet da Santa Coloma De Gramenet e dois companheiros.

“Foram mortos no período de perseguição religiosa do século passado na Espanha, demonstrando serem mansos e corajosas testemunhas de Cristo. Que o seu exemplo ajude os cristãos de hoje a permanecerem fiéis à sua vocação, também em tempos de provação” terminou, pedindo um aplauso para os novos beatos.

Audiência Geral: a oração ao Espírito Santo é espontânea, deve vir do coração

“A palavra de Deus é uma fonte inesgotável”, disse o Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, no final das catequeses sobre a Carta aos Gálatas, ressaltando que o Apóstolo Paulo, nesta Carta, “falou-nos como evangelizador, teólogo e pastor”.  

Segundo o Papa, Paulo “foi um verdadeiro teólogo, que contemplava o mistério de Cristo e o transmitia com a sua inteligência criativa. E foi também capaz de exercer a sua missão pastoral a uma comunidade desorientada e confusa. Ele fez isto com métodos diferentes: usou ironia, rigor e mansidão. Reivindicou a própria autoridade como apóstolo, mas ao mesmo tempo não escondeu as fraquezas do seu caráter. O poder do Espírito realmente escavou no seu coração: o encontro com Cristo Ressuscitado conquistou e transformou toda a sua vida, e ele dedicou-a inteiramente ao serviço do Evangelho”.

O Apóstolo dos Gentios “estava convencido de que tinha recebido um chamamento ao qual só ele podia responder; e queria explicar aos Gálatas que também eles foram chamados a essa liberdade, que os aliviava de todas as formas de escravidão, porque os tornou herdeiros da antiga promessa e, em Cristo, filhos de Deus”.

Consciente dos riscos que este conceito de liberdade comportava”, Paulo “nunca minimizou as consequências”. Ele “colocou a liberdade na sombra do amor e estabeleceu o seu exercício coerente ao serviço da caridade. Toda esta visão foi colocada no horizonte da vida de acordo com o Espírito Santo”.

“No final deste itinerário de catequese, parece-me que possa surgir em nós uma atitude dupla”, disse ainda Francisco. “Por um lado, o ensinamento do Apóstolo gera entusiasmo em nós; sentimo-nos impelidos a seguir imediatamente o caminho da liberdade, a «caminhar segundo o Espírito». Por outro, estamos conscientes das nossas limitações, pois sentimos todos os dias como é difícil ser dócil ao Espírito, para seguir a sua ação benéfica.”

Segundo o Papa, “neste caminho desafiador, mas fascinante, o Apóstolo lembra-nos que não nos podemos dar ao luxo de nos cansarmos de fazer o bem. Devemos confiar que o Espírito vem sempre em auxílio da nossa fraqueza e nos concede o apoio de que necessitamos”.

Qual é a oração do Espírito Santo”? A oração ao Espírito Santo é espontânea: ela deve vir de seu coração. Você deve pedir nos momentos de dificuldade: “Espírito Santo, vem”. A palavra-chave é esta: vem. Vem. É a palavra do Espírito. Invocar o Espírito. Aprendamos a invocar o Espírito Santo com mais frequência.”

Papa: governos deveriam combater pornografia infantil

Os grupos responsáveis ​​pela produção de pornografia infantil “comportam-se como máfias que se escondem e se defendem” e “os governos deveriam tomar providências” contra este fenômeno “o quanto antes”. É o que afirma o Papa na entrevista concedida a Caroline Pigozzi, da revista francesa Paris Match, oportunidade em que voltou a definir o escândalo dos abusos na Igreja como uma “vergonha”.

Quando questionado sobre o que a Igreja pode fazer para que a luta contra a Covid não beneficie alguns, como as empresas farmacêuticas que produzem vacinas, Francisco responde descrevendo o trabalho eficiente da Comissão do Vaticano criada dentro do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, que envolveu Igrejas, instituições e voluntários em ações concretas de combate à pandemia a campo.

O Papa fala a seguir de projetos futuros, dos “novos desafios aos quais se deve preparar”, da reforma da Cúria: “Desde a minha eleição à cátedra de Pedro, tentei colocar em prática o que os cardeais pediram durante as reuniões pré-Conclave. Nem tudo foi realizado até agora”.

Há também perguntas sobre a sua saúde, poucos meses depois da cirurgia a que foi submetido na Policlínica Gemelli: “Está bem – responde o Papa – levo uma vida normal e posso trabalhar no mesmo ritmo de antes”.

Assis: “Esperança e resistência partilhada”

Por ocasião do Encontro de oração e testemunho da quinta edição do Dia Mundial dos Pobres, o Papa Francisco foi a Assis esta sexta-feira, 12 de novembro. Depois de ouvir os testemunhos de alguns presentes e do momento especial de oração o Papa dirigiu algumas palavras aos presentes.

Francisco iniciou agradecendo a presença de todos em Assis e recordando que a cidade de Assis “tem impresso o rosto de São Francisco” que recebeu o chamado para viver o Evangelho à letra. E disse que embora a sua santidade de alguma forma nos assusta porque parece impossível imitá-la, devemos recordar certos momentos da sua vida sobretudo os seus sacrifícios, e o “saber contentar-se com o pouco que temos e partilhá-lo com os outros”.

Em seguida falou de acolhimento: “Acolher significa abrir a porta, a porta da casa e a porta do coração, e permitir àqueles que batem à porta de entrar. E que podem sentir-se à vontade, sem medo. Onde existe um verdadeiro sentido de fraternidade, existe também a experiência sincera de acolhimento.”

O Pontífice abordou a questão dos que afirmam que os responsáveis pela pobreza são os pobres…. além da “hipocrisia dos que querem se enriquecer para além das medidas, se coloca a culpa sobre os ombros dos mais fracos”. E para contrastar o Papa afirmou com veemência:

É tempo que seja restituída a palavra aos pobres, porque durante demasiado tempo os seus pedidos não foram ouvidos. É tempo que se abram os olhos para ver o estado de desigualdade em que vivem tantas famílias. É tempo de arregaçar as mangas para restituir dignidade através da criação de empregos. É tempo que se volte a se escandalizar diante da realidade de crianças famintas, escravizadas, tiradas das águas quando naufragam, vítimas inocentes de todo o tipo de violência. É tempo que cessem as violências contra as mulheres e as mulheres sejam respeitadas e não tratadas como mercadoria. É tempo que se rompa o círculo da indiferença para retornar a descobrir a beleza do encontro e do diálogo”.

Em seguida o Papa comentou os testemunhos das pessoas pobres agradecendo a sua coragem e sinceridade e acrescentou: “Percebi um grande sentido de esperança. A marginalização, o sofrimento da doença e da solidão, a falta de muitos meios necessários não os impediu de olharem com os olhos cheios de gratidão para as pequenas coisas que lhes permitiram de resistir.”

Por fim o Papa falou sobre resistir além da esperança: “Esta é a segunda impressão que eu percebi e que deriva da esperança. O que significa resistir? Ter a força para continuar apesar de tudo. A resistir não é uma ação passiva, pelo contrário, requer coragem para empreender um novo caminho sabendo que dará frutos”.

Concluindo disse: “Peçamos ao Senhor que nos ajude sempre a encontrar a serenidade e a alegria. Aqui na Porciúncula, São Francisco ensina-nos a alegria que vem de olhar para quem está próximo como a um companheiro de viagem que nos compreende e nos apoia, tal como nós somos para ele ou ela”.

JM (com recursos do Vatican News)

Partilhe nas redes sociais!
12 de Novembro de 2021