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A Palavra do Papa: o pontapé na exclusão, o sonhador encandeado, o rei que liberta e a presença discreta

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Em várias iniciativas, a semana do Papa foi dedicada aos jovens e à cultura. “Um jovem que não é capaz de sonhar ficou velho antes do tempo”, referiu na Eucaristia de domingo, Jornada Mundial da Juventude 2021.

Trabalho infantil: “é roubar das crianças o seu futuro”

“A pobreza extrema, a falta de trabalho e o desespero resultante nas famílias são os fatores que mais expõem as crianças à exploração no trabalho. Se quisermos erradicar a chaga do trabalho infantil, temos que trabalhar juntos para erradicar a pobreza, para corrigir as distorções do sistema económico atual, que centraliza a riqueza nas mãos de uns poucos.”

Foi o que disse o Papa Francisco ao receber em audiência na manhã de sexta-feira, 19 de novembro, na Sala do Consistório, no Vaticano, os participantes da Conferência Internacional “Erradicar o trabalho infantil, construir um futuro melhor”, promovida pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

O trabalho infantil “é a negação do direito das crianças à saúde, à educação e ao crescimento harmonioso, incluindo a possibilidade de brincar e sonhar. É roubar das crianças o seu futuro e, portanto, da própria humanidade. É uma violação da dignidade humana”, disse o Papa Francisco.

“A chaga do trabalho infantil, sobre o qual vocês hoje se encontram a refletir juntos, é de particular importância para o presente e o futuro da nossa humanidade. A forma como nos relacionamos com as crianças, a medida em que respeitamos a sua dignidade humana inata e os seus direitos fundamentais, expressa que tipo de adultos somos e queremos ser e que tipo de sociedade queremos construir”, dirigiu o Pontífice.

O jogo “Fratelli Tutti”: dar juntos “um chuto” na exclusão

Francisco recebeu em audiência os participantes do jogo amistoso de futebol, entre a equipa da Organização Mundial dos Ciganos e a “Equipa do Papa – Fratelli tutti”.

A partida de futebol, que se realizou no dia seguinte, por “um estilo de paixão desportiva vivida com solidariedade e gratuidade, com um espírito amador e inclusivo”, tinha como objetivo para angariar fundos para apoiar o projeto “Un calcio all’esclusione” (Um chuto na exclusão), promovido pela Diocese de Roma com o objetivo de encorajar a inclusão dos ciganos e das pessoas mais vulneráveis.

O Papa encorajou “com particular afeto” o projeto e manifestou os seus agradecimentos ao clube Lazio que “gentil e generosamente acolhe e apoia esta iniciativa”, confiada pelo Pontífice ao Pontifício Conselho para a Cultura.

Para o Santo Padre, este evento “tem grande significado” pois indica que “o caminho para a convivência pacífica é a integração”. Aos representantes da Organização Mundial dos Ciganos, com sede em Zagreb, o Pontífice lembrou-lhes então que os golos decisivos são aqueles que fazem vencer a esperança.

Papa aos jovens: como e com Jesus, sonhar e praticar os valores do Evangelho

Ser capazes de sonhar: foi a mensagem do Papa Francisco aos jovens, no dia em que celebra a Jornada Mundial da Juventude a nível diocesano., na Eucaristia que presidiu na Basílica de São Pedro.

Queridos jovens, contemplar na visão noturna, ou seja, ter olhos lúcidos mesmo no meio das trevas, não cessar de procurar a luz no meio das trevas que trazemos no coração e vemos ao nosso redor.”

Mas foi ao verbo “sonhar” que Francisco dedicou as passagens mais profundas da sua homilia. O Pontífice agradeceu aos jovens quando fazem de Jesus o sonho das suas vidas, quando são capazes de realizar os sonhos com coragem, quando sonham a fraternidade, a solidariedade, a justiça e a paz – sonhos que correspondem aos do Evangelho.  

Não tenham medo de se abrir ao encontro com Ele, que ama os seus mesmos sonhos e ajuda a realizá-los. Um jovem que não é capaz de sonhar ficou velho antes do tempo.”

Francisco exorta os jovens a serem livres, autênticos, com consciência crítica da sociedade para, com Jesus, reinar em prol da justiça, do amor e da paz: “Espero que cada um de vós possa sentir a alegria de dizer: ‘Com Jesus, também eu sou rei’. Sou rei: sou um sinal vivo do amor de Deus, da sua compaixão e da sua ternura. Sou um sonhador encandeado pela luz do Evangelho.”

Angelus: “Pecadores sim, corruptos jamais!”

Após celebrar a missa na Basílica Vaticana, o Papa Francisco reuniu-se com fiéis e peregrinos na Praça São Pedro para o Angelus dominical.

Na sua alocução, acompanhado de dois jovens da Diocese de Roma, o Pontífice comentou o Evangelho da Liturgia deste último Domingo do Tempo Comum, que culmina numa afirmação de Jesus: “Eu sou Rei”.

Ele pronuncia estas palavras perante Pilatos, enquanto a multidão grita para o condenar à morte. Mas como explica o Papa, a realeza de Jesus é bastante diferente da mundana:

“Ele não vem para dominar, mas para servir. Ele não vem com os sinais do poder, mas com o poder dos sinais. Não está vestido com insígnias preciosas, mas está despido na cruz. A sua realeza vai além dos parâmetros humanos.”

E nós – perguntemo-nos – sabemos como imitá-lo nisto? No que fazemos, em particular no nosso compromisso cristão, contam os aplausos ou o serviço?”

Jesus não só evita qualquer busca da grandeza terrena, como também torna livre e soberano o coração de quem o segue.

O seu reino é libertador, não há nada de opressivo. Ele trata cada discípulo como um amigo, não como um súbdito.”

O fundamento desta liberdade de Jesus vem da verdade. É a sua verdade que nos liberta:

“A vida do cristão não é uma recitação em que se possa usar a máscara que é mais conveniente. Porque quando Jesus reina no coração, ele liberta-o da hipocrisia, dos subterfúgios, das duplicidades.”

Christmas Contest: a beleza do Natal ressoa na partilha de pequenos gestos de amor concreto

O Papa Francisco recebeu em audiência na segunda-feira, os participantes e organizadores do Christmas Contest, um concurso de canções que dá voz aos jovens, convidando-os  a criar novas canções inspiradas no Natal e nos seus valores, promovido pela Fundação Pontifícia Gravissimum Educationis e Missões Dom Bosco Valdocco.

Francisco manifestou a sua alegria de encontrar os participantes da iniciativa “às portas do Advento, período que a cada ano nos introduz no Natal e ao seu mistério”.

A beleza do Natal ressoa na partilha de pequenos gestos de amor concreto. Não é alienante, não é superficial, evasiva, pelo contrário, amplia o coração, o abre para a gratuidade, palavra que os artistas podem compreender bem, ao dom de si, e pode também gerar dinâmicas culturais, sociais e educacionais”.

Para o Pontífice, “para alcançar estes objetivos requer coragem: «A coragem de colocar a pessoa no centro» e de «colocar-se a serviço da comunidade». É preciso coragem e também criatividade. Por exemplo, vocês compuseram novas músicas de Natal e as partilharam num projeto maior, um projeto que acredita na beleza como forma de crescimento humano, para juntos sonharem com um mundo melhor”.

Cultura: repensar a presença do ser humano no mundo

Numa mensagem em vídeo para a Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para a Cultura, o Papa aponta para a necessidade de redescobrir “o significado e o valor do humano em relação aos desafios que devem ser enfrentados”.

Diante da revolução que afeta “os nós essenciais da existência humana”, é necessário fazer um “esforço criativo” e “repensar a presença do ser humano no mundo”, inspirada “na Revelação bíblica, enriquecida pela herança da tradição clássica, assim como pelas reflexões sobre a pessoa humana presentes em diferentes culturas”.

Na sua opinião, está “em andamento” uma revolução que toca “os nós essenciais da existência humana” pelo que se torna importante, “sem ceder à crítica e à negação”, pensar “na presença do ser humano no mundo à luz da tradição humanista: como servidor da vida e não como seu patrão, como construtor do bem comum com os valores da solidariedade e da compaixão”.

“A Sagrada Escritura oferece-nos as coordenadas essenciais para traçar uma antropologia do ser humano na sua relação com Deus, na complexidade das relações entre homem e mulher e na ligação com o tempo e o espaço em que vive”, acrescenta.

Audiência Geral: José, homem da presença discreta que continua protegendo a Igreja

“São José na história da Salvação” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, realizada na Sala Paulo VI. Antes, porém, o Pontífice saudou, na Basílica de São Pedro, alguns grupos italianos em peregrinação.

Na semana passada, Francisco iniciou o ciclo de catequeses sobre São José e neste encontro semanal com os fiéis continuou este percurso “centrando-nos no seu papel na história da salvação. Jesus é referido nos Evangelhos como «filho de José» e «filho do carpinteiro». Os Evangelistas Mateus e Lucas, ao narrarem a infância de Jesus, dão espaço ao papel de José”.

José vive o seu protagonismo sem nunca querer apoderar-se da cena. Se pensarmos nisto, «as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns, habitualmente esquecidas, que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas. Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos».

Segundo o Papa, “todos podem encontrar em São José, o homem que passa despercebido, o homem da presença diária, discreta e escondida, um intercessor, um apoio e um guia em tempos de dificuldade. Ele lembra-nos que todos aqueles que aparentemente estão escondidos ou na “segunda linha” têm um protagonismo inigualável na história da salvação. O mundo precisa desses homens e dessas mulheres.”

No Evangelho de Lucas, de acordo com o Papa, José aparece como o guardião de Jesus e de Maria e por isso, “Guardião da Igreja”:

José, com a sua vida, parece querer nos dizer que somos sempre chamados a sentirmo-nos guardiões dos nossos irmãos, guardiões dos que nos são próximos, daqueles que o Senhor nos confia através das circunstâncias da vida.”

No final, saudou os fiéis de língua portuguesa recordando que no último domingo, foi celebrada a 36ª Jornada Mundial da Juventude Diocesana, “uma nova etapa no caminho que nos levará à Jornada Mundial da Juventude de 2023 em Lisboa”.

Nesta peregrinação espiritual, deixemo-nos fascinar pelo coração humilde e disponível de São José para com os outros. E seguindo o seu exemplo cuidemos das relações na nossa vida.”

Aos fiéis de língua polaca, o Papa recordou que no próximo domingo terá início o Tempo do Advento, “que por meio de vários símbolos nos prepara para a celebração do mistério da Encarnação do Filho de Deus e nos lembra que a vida humana é uma espera contínua”.

JM (com recursos jornalísticos do portal de notícias Vatican News)

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25 de Novembro de 2021