Preparamo-nos para celebrar o Natal, pelo segundo ano consecutivo, em ambiente da pandemia, que condiciona a vida em todo o mundo e que afeta a todos, na saúde e nas relações afetivas, sociais e económicas, obrigando a redobrados cuidados e mesmo a renúncias sérias, a fim de garantir o que é essencial para a vida e para o futuro.
Por outro lado, somos acompanhados pela palavra dos profetas e do Evangelho, que semeiam em nós o sentido da esperança e da alegria, no caminho para um possível amanhã melhor, que o Natal anuncia. Estas duas dimensões não se contradizem, antes se completam, para transmitir o verdadeiro sentido do Natal.
De facto, tanto o anúncio dos profetas, como o Natal de Jesus que celebramos, falam da luz que ilumina os que vivem nas trevas, de alegria que brota no meio da tristeza e do luto, de ruínas que são reconstruídas, de caminho árduo e esperançoso para um futuro de justiça, de solidariedade, de vida e de paz duradoras.
O Natal não ignora nem esconde as situações de sombra, de sofrimento e de desconforto, de injustiça e violência, mas insere-se no meio delas, para abrir caminhos e criar atitudes de regeneração, de reconstrução e de futuro renovado. Não existe um mundo ideal e perfeito nesta terra, mas é-nos dada a possibilidade de renovar e melhorar, para nós e para todos, a família que é o nosso berço de vida, de carinho e de crescimento, a Igreja a que fomos chamados, a sociedade que formamos juntos, o mundo que Deus nos deu. Esse é o sonho de Deus, que Ele nos confia, ao entregar-nos o Menino, seu Filho, que vem para cuidar de nós, mas que começa por pedir para cuidarmos d’Ele.
Cuidando desse Menino, que traz consigo o dom e o sonho de Deus para uma nova humanidade, aprendemos o essencial do ser humano que é o de continuar a encarnar e a tornar possível esse projeto nesta terra, abrindo-se igualmente aos horizontes de um futuro que vai para além daquele que podemos imaginar e construir sozinhos, sempre determinado e limitado pela nossa fragilidade. Cuidar daquilo e daqueles que são frágeis é o caminho para assegurar o futuro, o caminho do Natal.
Acolher, cuidar, consolar, amparar, ajudar a desenvolver-se, a crescer livre e feliz, diante de Deus, neste mundo que Ele ama, abrindo-se à plenitude da vida que nos revela; tal é o significado e a expressão autêntica do Natal. Essa foi a missão de José e Maria, os pais de Jesus, que continua, antes de mais, em cada mãe e em cada pai, mas igualmente em todas e todos os que entendem o projeto de Deus, que o Natal revela.
O Natal convida-nos e ensina-nos a sermos jardineiros da vida, da felicidade, da esperança, da fraternidade solidária, de um futuro melhor para todos, a partir da situação e das medidas incómodas em que nos encontramos. Como José e Maria, somos convidados a adaptar os nossos planos e perspetivas ao momento que enfrentamos, a fim de dar solidez e força à esperança, acolhendo e cuidando com alegria, no meio da noite, d’Aquele que é aurora de novos dias e luz de novos caminhos para o futuro anunciado em Belém, que diz: “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens que Ele ama!”.
A todos desejo
a ternura e a força,
a alegria e a Esperança,
do Natal do Senhor!
+ José Ornelas Carvalho
Bispo de Setúbal