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A Palavra do Papa: a busca da justiça, o estilo “original” de Jesus, as estradas da paz e o encontro na humildade

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Francisco celebrou 85 anos com claras mensagens de acolhimento aos sem-abrigo e aos migrantes. Nos últimos dias, apelou à cooperação internacional, a escutar as necessidades dos outros e a “quebrar o espelho da vaidade”.

Papa completou 85 anos com sem-abrigo e refugiados

Em poucos dias, o Papa Francisco viveu duas datas importantes: os 52 anos de sacerdócio no dia 13 de dezembro e agora, dia 17, os seus 85 anos de vida. É o nono aniversário como Papa. 

Felicitações de fiéis todas as partes do mundo, bem como de autoridades e líderes mundiais chegaram ao Vaticano.

Começou o dia com um encontro com moradores de rua que lhe deram de presente 85 girassóis, recordando que se deve orientar a vida em direção ao Senhor. O encontro ocorreu na Sala Paulo VI, antes da pregação de Advento do cardeal Raniero Cantalamessa.

Nessa manhã, o Papa recebeu o primeiro grupo de cerca de dez refugiados que chegaram a Itália graças a um acordo entre a Santa Sé, as autoridades italianas e cipriotas, que será diretamente apoiado pelo Santo Padre.

O Papa ouviu as suas histórias, em especial das suas viagens desde o Congo, os Camarões, a Somália e a Síria. Alguns deles são médicos e técnicos de informática. “Você salvou-nos”, disse um rapaz congolês, comovido. O Papa dirigiu-lhes individualmente algumas palavras de boas-vindas e de afeto, e agradeceu-lhes pela visita e pediu que rezassem por ele.

Os refugiados presentearam o Papa com um quadro de um refugiado afegão que retrata migrantes que tentavam atravessar o Mar Mediterrâneo.

Embaixadores: acesso rápido às vacinas. “É questão de justiça”

Moldávia, Quirguistão, Namíbia, Lesoto, Luxemburgo, Chade e Guiné-Bissau: aos novos embaixadores deste grupo de países, o Papa Francisco fez o seu discurso por ocasião da apresentação das suas credenciais.

O Pontífice faz votos de que a comunidade internacional intensifique os esforços de cooperação para que todas as pessoas tenham acesso rápido às vacinas. “Não é uma questão de conveniência ou de cortesia. É uma questão de justiça.”

A pandemia, acrescentou, recorda-nos mais uma vez que somos uma comunidade global onde os problemas de uma pessoa são os problemas de todos, “cada um de nós é responsável pelos próprios irmãos e irmãs, ninguém é excluído”.

Encorajou ainda os diplomatas no caminho do diálogo para cultivar as relações e facilitar a compreensão recíproca com pessoas de diferentes culturas e proveniências, garantindo a cooperação da Santa Sé.

Crianças: sejam “missionários do Evangelho começando nos ambientes em que vivemos”

O Papa Francisco recebeu em audiência, no sábado, na Sala Clementina do Vaticano, as crianças da Ação Católica Italiana.

“Na medida para si” é o tema, deste ano, do caminho de crescimento na fé dos adolescentes. O Papa gostou deste tema e disse: “É bonito pois cada um de nós é uma pessoa única”.

Nós não somos fotocópias, somos todos originais! A coisa má é quando queremos imitar os outros e fazer as coisas que as pessoas fazem, que os outros fazem, e passamos de originais a fotocópias. Isto é mau: cada um deve defender a sua própria originalidade.”

O Papa descreve o estilo de Deus em três palavras: proximidade, compaixão e ternura. Este é o estilo de Deus: não é outro. A seguir, disse que “é possível ser missionários do Evangelho em todos os lugares, começando dos ambientes em que vivemos: na família, na escola, na paróquia, nos locais esportivos e de diversão”.

Mas, para assumir o estilo de Jesus, para ser suas testemunhas, é preciso primeiro estar perto dele, abrir espaço para ele: “Não tenham medo de dedicar-Lhe tempo na oração, de falar com Ele, com Jesus, sobre os seus amigos, de pedir-Lhe ajuda nas dificuldades, de conversar com Ele quando estiverem felizes ou tristes”.

O Papa: olhemos nos olhos as pessoas descartadas que encontramos

Por ocasião do Dia Internacional dos Direitos dos Migrantes, a 18 de dezembro, Francisco no Twitter exorta a nos deixarmos questionar pelo sofrimento dos outros a fim de reagir contra a indiferença.

Olhemos nos olhos as pessoas descartadas que encontramos, deixemo-nos provocar pelos rostos das crianças, filhos de migrantes desesperados. Deixemos que o sofrimento deles escave dentro de nós para reagirmos à nossa indiferença.”

Angelus: levar a alegria de Jesus é o primeiro ato de caridade que podemos fazer ao próximo

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus, deste domingo, IV Domingo do Advento, com os fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro.

Na alocução, o Santo Padre recordou que o Evangelho deste domingo narra a visita de Maria a Isabel. Segundo Francisco, ao receber “o anúncio do anjo, a Virgem não fica em casa, pensando no que aconteceu e considerando os problemas e imprevistos, que certamente não faltaram. Pelo contrário, a primeira coisa que ela pensa é nos necessitados.”

Maria doa a Isabel a alegria de Jesus, a alegria que ela carregava no seu coração e no ventre. Vai até ela e proclama os seus sentimentos, e esta proclamação dos sentimentos passou depois a ser uma oração, o Magnificat que todos nós conhecemos.”

Francisco convidou-nos a deixarmo-nos guiar por estes dois verbos: “Levantar-se e caminhar às pressas.”

“Aprendamos de Nossa Senhora esta maneira de reagir: levantar-se, especialmente quando as dificuldades ameaçam nos esmagar. Levantar-se, para não ficar atolado nos problemas, afundando na autopiedade e caindo numa tristeza que nos paralisa. Olhando para dentro e ficando na tristeza. Mas, por que se levantar? Porque Deus é grande e está pronto para nos reerguer, se nós Lhe estendermos a mão.”

O Papa com as crianças do Dispensário Santa Marta: escutemos as necessidades das pessoas

O Papa Francisco viveu um momento de encontro alegre na manhã de domingo, na Sala Paulo VI, junto com aqueles que acompanham as atividades do Dispensário Pediátrico Santa Marta, num encontro com crianças apoiadas pelo projeto.

Com elas, reiterou a importância de ir ao encontro das necessidades do irmão necessitado, mesmo que “não seja uma boa pessoa ou fale mal de mim”. A prioridade”, enfatizou, “não é olhar para o outro lado, mas ajudá-lo”.

Deteve-se na palavra “ouvir”, uma palavra importante, disse. “Uma pessoa que não escuta os outros só escuta a si mesma. É uma coisa chata ouvir-se a si mesmo. É melhor ouvir os outros”, explicou o Papa.

Estamos aqui hoje, amigos que querem ajudar uns aos outros. Coragem, vamos adiante e boa festa”, concluiu o Papa no meio de aplausos e coros de felicitações.

O Dispensário Pediátrico Santa Marta foi fundado a 8 de maio de 1922, com a bênção do Papa Pio XI. Confiado às Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo que trabalham em Santa Marta no Vaticano, conta com a colaboração de médicos voluntários do Hospital Menino Jesus, com a Associação Santos Pedro e Paulo, com indivíduos particulares e outras estruturas de saúde romanas, e com voluntários leigos que ajudam a obra com o seu compromisso e apoio.

Dia Mundial da Paz: “Construir a paz com educação e trabalho”

“Diálogo entre as gerações, educação e trabalho: instrumentos para construir uma paz duradoura.” Este é o título da mensagem do Papa Francisco para o 55º Dia Mundial da Paz 2022, cujo texto foi divulgado esta terça-feira.

Ainda hoje, escreve o Papa, o caminho da paz permanece, infelizmente, arredio à vida de tantos homens e mulheres, enumerando alguns dos flagelos sociais, militares e ambientais que assolam o mundo.

Ao mesmo tempo em que a paz é uma dádiva do Alto, é também fruto de um empenho partilhado. Por isso, Francisco fala de «arquitetura» e de um «artesanato» da paz, que diz respeito a cada um de nós.

A primeira etapa envolve o diálogo entre as gerações: “é preciso encorajar o diálogo e voltar a recuperar a confiança recíproca”.

Depois, a educação, como fator de liberdade, responsabilidade e desenvolvimento. “Instrução e educação são os alicerces de uma sociedade coesa, civil, capaz de gerar esperança, riqueza e progresso.”

E, por fim, o trabalho, para uma plena realização da dignidade humana e que constituiu um “fator indispensável para construir e preservar a paz”. “O trabalho é uma necessidade, faz parte do sentido da vida nesta terra”, recorda o Pontífice.

O Papa conclui a Mensagem com um agradecimento e um apelo. Um agradecimento a quantos se empenharam na promoção da paz. E um apelo aos governantes e a quantos têm responsabilidades políticas e sociais e eclesiais para caminharmos, juntos, por estas três estradas com coragem e criatividade.

“Oxalá sejam cada vez mais numerosas as pessoas que, sem fazer rumor, com humildade e tenacidade, se tornam dia a dia artesãs de paz. E que sempre as preceda e acompanhe a bênção do Deus da paz!”

O Papa sobre as mulheres abusadas em casa: “problema quase satânico”

Na Casa Santa Marta, o Papa Francisco conversou com quatro pessoas “invisíveis” e abordou – diante das câmaras da rede italiana Mediaset – os problemas ligados à violência, à pobreza, às consequências da pandemia, e à vida dos prisioneiros.

O encontro, coordenado pelo vaticanista Fabio Marchese Ragona, contou com a presença de Giovanna, uma mãe que perdeu o seu emprego e cuja vida familiar é feita de violência; Maria, uma mulher sem casa; Maristella, uma escuteira de 18 anos a quem a pandemia tirou a alegria; Pierdonato, ex-condenado à prisão perpétua e que cumpriu 25 anos de pena.

A Giovanna, que perguntou como recuperar a sua dignidade, o Papa, depois de descrever o problema da violência como “quase satânico”, respondeu: “É humilhante, muito humilhante. É humilhante quando um pai ou uma mãe bate no rosto de uma criança.”

O Papa lembrou o exemplo da Virgem Maria, “ela que não perdeu a sua dignidade e olhar para esta imagem em momentos difíceis como o seu de humilhação e quando se sente perder a dignidade, olhar para aquela imagem dá-nos força… Olhe para Nossa Senhora, fique com essa imagem de coragem”.

A Maria, que pergunta por que razão a sociedade é tão cruel para com os pobres, Francisco classificou essa como uma “bofetada dura da sociedade” que é a “cultura da indiferença”.

Pierdonato perguntou ao Papa se há esperança para quem deseja uma mudança. Francisco respondeu com a frase da Bíblia: “a esperança nunca desilude”. “Há Deus, não em órbita, mas Deus ao seu lado, porque o estilo de Deus é proximidade, compaixão e ternura… Deus está com cada um dos presidiários, com qualquer pessoa que passe por dificuldades… Você não diz, mas sabe no fundo do coração que foi perdoado e que tem a esperança que não desilude… É por isso que eu lhe posso dizer uma coisa: Deus perdoa sempre.”

Em conclusão, o Papa dirigiu-se diretamente aos telespectadores: “O Natal é Jesus que vem, Jesus que vem tocar o seu coração, Jesus que vem tocar a sua família, que vem até si, à sua casa, ao seu coração, à sua vida. É fácil conviver com Jesus, ele é muito respeitoso, mas não se esqueça d’Ele. Feliz e Santo Natal a todos. E rezem por mim!”

Audiência Geral: quebrar o espelho da vaidade e encontrar Deus na humildade

“O nascimento de Jesus” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, 22 de dezembro. Faltando poucos dias para o Natal, o Santo Padre recordou este “acontecimento do qual a história não pode prescindir”.

O Papa sublinhou que “a mensagem dos Evangelhos é clara: o nascimento de Jesus é um acontecimento universal que diz respeito a todos os homens”.

Amados irmãos e amadas irmãs, só a humildade é o caminho que nos conduz a Deus e, ao mesmo tempo, porque nos conduz a Ele, leva-nos também ao essencial da vida, ao seu verdadeiro significado, à razão mais fiável pela qual vale a pena viver a vida.

Sem humildade, estamos “desligados” da compreensão de Deus e de nós mesmos. Os Magos podiam ter sido grandes de acordo com a lógica do mundo, mas tornam-se pequenos, humildes, e por esta mesma razão conseguem encontrar Jesus e reconhecê-lo. Aceitam a humildade de procurar, de partir, de perguntar, de arriscar, de cometer erros.”

Francisco convidou todos os homens e mulheres a irem à gruta de Belém para adorar o Filho de Deus feito homem. “Que cada um de nós se aproxime do presépio montado na sua casa, na Igreja ou onde quer que esteja, e faça uma adoração interior: “Eu acredito que é Deus, que este menino é Deus. Por favor, dê-me a graça da humildade para poder compreender”.

A consciência de que para buscar Deus, para encontrar Deus, para aceitar Deus, é preciso humildade: olhar com humildade a graça de quebrar o espelho da vaidade, da soberba, de olhar para nós mesmos. Olhar para Jesus, olhar para o horizonte, olhar para Deus que vem até nós e toca o coração com aquela inquietação que nos leva à esperança. Feliz e santo Natal!”

No final da Audiência, reiterou a necessidade de um compromisso concreto e geral para enfrentar o fenómeno migratório, especialmente na área do Mar Mediterrâneo, que mais uma vez testemunhou uma nova tragédia no silêncio geral, com 160 refugiados a perderem a vida na faixa de mar entre a Líbia e a ilha italiana de Lampedusa.

JM (com recursos jornalísticos do portal de notícias Vatican News)

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22 de Dezembro de 2021