comprehensive-camels

A Palavra do Papa: a via da humildade, a graça da pequenez, o barco do matrimónio e o migrante corajoso

20211228-a-palavra-do-papa-banner

“Deus não busca força nem poder; pede ternura e pequenez interior”: foi esta uma das principais mensagens do Papa na Missa do Galo. Para além dos momentos de celebração próprios da quadra natalícia, Francisco celebrou ainda a Festa da Sagrada Família com uma carta aos esposos de todo o mundo.

O Papa à Cúria Romana: “A humildade é o caminho para a conversão sinodal”

Humildade: esta foi a palavra preponderante do discurso do Papa Francisco ao se reunir com os membros da Cúria Romana para os votos de Feliz Natal.

Para Francisco, humildade é a palavra que expressa todo o mistério do Natal, é o caminho através do qual Deus escolheu para Se manifestar. Para melhor exemplificar este conceito, o Papa citou o sírio Naaman. General no tempo do profeta Eliseu com fama e glória, por trás da armadura escondia a lepra. Para ser curado, o profeta pediu-lhe uma única coisa, simplesmente banhar-se no rio Jordão.

“Grande lição!”, disse o Papa. “A história de Naaman lembra-nos que o Natal é o tempo em que cada um de nós deve ter a coragem de tirar a própria armadura, desfazer-se das importâncias do cargo, da consideração social, do brilho da glória deste mundo, e assumir a sua própria humildade.

Vindo ao mundo pela via da humildade, disse o Papa, Jesus abre-nos um caminho, indica-nos um estilo de vida, mostra-nos uma meta. A este ponto, Francisco menciona o início do percurso sinodal. Para o Papa, a sinodalidade é um estilo ao qual os primeiros a se converter devem ser quem presta serviço no Vaticano:

“A Cúria não é apenas um instrumento logístico e burocrático para as necessidades da Igreja universal, mas é o primeiro organismo chamado a dar testemunho; e por isso mesmo, na medida em que assume pessoalmente os desafios da conversão sinodal a que é chamada também ela, cresce a sua credibilidade e eficácia. A organização que devemos implementar não é de tipo empresarial, mas evangélico.”

Funcionários do Vaticano: “Deus nasce onde o amor se torna concreto”

Na quinta-feira, 23 de dezembro, o Papa Francisco recebeu os funcionários do Vaticano e os seus familiares para o tradicional encontro para as felicitações natalícias. Francisco iniciou a falar sobre o amor que nasce com Jesus desejando que neste Natal Jesus possa nascer no coração de todos e sobretudo nas famílias e perguntou-se:

E como nasce Jesus? No amor. Um famoso canto sacro também diz: ‘Onde há caridade e amor, há Deus’. Deus nasce ali, nasce onde o amor se torna concreto, se torna proximidade, se torna ternura, se torna compaixão. Ali está Deus”

O Papa Francisco reiterou a importância dos avós e idosos na nossa vida e apelou a que estes não sejam esquecidos ou negligenciados nesta quadra. Recordou os adolescentes e as crianças que sofrem com o isolamento e o ensino à distância e as pessoas que estão sem trabalho.

Ao falar sobre Providência, o Papa disse: “como nos ensina a história da Família Sagrada, a família é o lugar privilegiado onde experimentamos a Providência de Deus”. E concluiu:

Quero desejar-lhes também, a cada uma das suas famílias, precisamente o seguinte: experimentar a mão paterna de Deus que guia os nossos passos nos seus caminhos, para o bem dos cônjuges, para o bem dos filhos, para o bem de toda a família”.

Missa do Galo: neste Natal, pedir a Jesus a graça da pequenez

Pedir a Jesus a graça da pequenez: este foi o convite que o Papa Francisco dirigiu os fiéis do mundo inteiro ao presidir na Basílica de São Pedro à tradicional Missa do Galo.

Na sua homilia, o Pontífice ressaltou os contrastes contidos na narração do nascimento de Cristo: grandeza e pequenez, riqueza e pobreza, nobreza e exclusão são aspetos presentes no Evangelho de Lucas.

Eis a mensagem: Deus não cavalga a grandeza, mas desce na pequenez. A pequenez é a estrada que escolheu para chegar até nós.”

Fixemo-nos no centro do presépio, convidou o Papa: vamos deixar para trás luzes e decorações e vamos contemplar o Menino para nos questionar se somos capazes de acolhê-lo.

É o desafio de Natal: Deus revela-Se, mas os homens não O compreendem. Faz-Se pequeno aos olhos do mundo… e nós continuamos a procurar a grandeza segundo o mundo, talvez até em nome Dele… Deus não busca força nem poder; pede ternura e pequenez interior.”

Eis o que devemos pedir a Jesus no Natal, prosseguiu Francisco: a graça da pequenez.

Pequenez significa acreditar que Deus quer vir às pequenas coisas da nossa vida, quer habitar nas realidades quotidianas, nos gestos simples que realizamos em casa, na família, na escola, no trabalho.  

Pequenez significa também aceitar a nossa fraqueza e erros e se entregar a Ele, na certeza de que Deus nos ama como somos, nas nossas fragilidades.  

Acolher a pequenez significa ainda abraçar Jesus nos pequenos de hoje. Ou seja, amá-Lo nos últimos e servi-Lo nos pobres. São eles os mais parecidos com Jesus. E é nos pobres que Ele quer ser honrado.

Ponhamo-nos a caminho e voltemos a Belém, porque a vida é uma peregrinação, concluiu Francisco. Nesta noite, acendeu-se uma luz, suave, que nos lembra a nossa pequenez. É a luz de Jesus que ninguém jamais apagará.

Urbi et Orbi: a esperança é mais forte que as dificuldades, pois um Menino nasceu para nós

Diálogo é a palavra a partir da qual o Pontífice desenvolve a sua Mensagem de Natal dirigida à cidade e ao mundo, pronunciada do balcão central da Basílica de São Pedro na presença de milhares de peregrinos e turistas de várias partes do mundo.

Depois da Mensagem, o Papa rezou o Angelus, seguido pelo anúncio da concessão da Indulgência Plenária pelo cardeal protodiácono Renato Raffaele Martino, que então passou novamente a palavra ao Santo Padre para a Bênção Urbi et Orbi.

Quando veio ao mundo, na pessoa do Verbo encarnado, Deus mostrou-nos o caminho do encontro e do diálogo” e “como seria o mundo sem o diálogo paciente de tantas pessoas generosas, que mantiveram unidas famílias e comunidades?”, pergunta o Papa.

E ao lançar o seu olhar para o panorama internacional, Francisco observou que contemporaneamente ao “anúncio do nascimento do Salvador, fonte da verdadeira paz, “vemos ainda tantos conflitos, crises e contradições. Parecem não ter fim, e já quase não os notamos”.

E dentro as tragédias esquecidas por todos, o sofrimento das populações da Síria, Iraque, Iemen, em particular das crianças. Mas também o conflito entre israelenses e palestianos, “com consequências sociais e políticas cada vez mais graves”.

Mas no coração da noite, surgiu um sinal de esperança. E neste dia de festa pedimos ao Menino Jesus, “a força de nos abrirmos ao diálogo”, implorando a Ele “que suscite, no coração de todos, anseios de reconciliação e fraternidade.

Angelus: para preservar a harmonia na família devemos combater a ditadura do eu

Rezar juntos diariamente para pedir a Deus o dom da paz, escuta e compreensão recíproca para superar conflitos e dificuldades, converter-se do eu ao tu, nunca ir dormir sem ter feito as pazes. Afinal, é no dia a dia que se aprende a ser família, nela estão as nossas raízes e o que somos hoje como pessoa, é fruto do amor que dela recebemos.

É de conselhos práticos que se articula a reflexão do Papa antes de rezar o Angelus neste domingo, 26 de dezembro, em que a Igreja festeja a Sagrada família que, não é aquela dos santinhos, como observou Francisco, mas uma família que também enfrentou “problemas inesperados, angústias, sofrimentos”.

E o Papa mergulha precisamente naquele contexto familiar para sublinhar aos fiéis e turistas presentes na Praça São Pedro um primeiro aspeto concreto para nossa família: “a família é a história da qual viemos”:

Cada um de nós tem sua própria história, ninguém nasceu magicamente, com uma varinha mágica, cada um de nós tem uma história e a família é a história de onde viemos.”

O Papa destaca então um segundo aspeto concreto para as nossas famílias: “aprende-se a ser família a cada dia”. E volta o seu olhar à realidade da Sagrada Família onde nem tudo é perfeito, “existem problemas inesperados, angústias, sofrimentos”:

Não existe uma Sagrada Família dos santinhos. Maria e José perdem Jesus e angustiados o procuram, para encontrá-lo três dias mais tarde. Eles têm necessidade de tempo para aprender a conhecer o seu filho. O mesmo vale para nós: a cada dia, em família, é preciso aprender a ouvir e a compreender-se, a caminhar juntos, a enfrentar os conflitos e as dificuldades. É o desafio diário, que é superado com a atitude correta, com as pequenas atenções, com gestos simples, cuidando os detalhes das nossas relações.”

Papa aos esposos: Jesus está presente no barco do matrimónio

Neste domingo 26 de dezembro, Festa da Sagrada Família de Nazaré, o Santo Padre enviou uma Carta a todas as famílias do mundo, por ocasião do “Ano da Família Amoris Laetitia”, que teve início dia 19 de março de 2021.

Na missiva, o Papa expressa a sua estima e proximidade, sobretudo neste período tão especial em que vivemos. De facto, afirma que “sempre recorda as famílias nas suas orações, sobretudo durante esta pandemia, que colocou todos a uma dura prova, de modo particular, os mais vulneráveis”.

O Papa chama a atenção dos esposos em relação aos filhos, sobretudo os mais novos, aos quais devem dar exemplo e testemunho de um amor vivo e fiel. Fala da identidade e missão dos leigos na Igreja e na sociedade, no trabalho e na família, na comunidade paroquial e diocesana, segundo os seus carismas e vocações; exorta os esposos a colaborar no âmbito eclesial, de modo particular na Pastoral da Família, na tutela das igrejas domésticas, pois a família é a célula fundamental da sociedade.

O matrimónio tem a missão de guiar um barco instável, mas seguro, por meio dos sacramentos, num mar, muitas vezes, em borrasca. Mas, como aconteceu com os discípulos no Mar da Galileia, o Mestre estava presente e as águas se acalmaram. Hoje, Jesus também está presente no barco do matrimónio, velando pelos esposos e filhos que, somente assim, poderão viver em paz, superar as desavenças e encontrar a solução dos seus muitos problemas.”

Na conclusão da sua Carta, o Santo Padre dirige-se, de modo especial, aos jovens que se preparam para o casamento, convidando-os a seguir o exemplo de São José, a manter a sua confiança na Providência divina e a não hesitar em buscar ajuda nas suas famílias, Igreja e paróquia. Dirige também uma saudação especial aos avós e idosos, que, no período de isolamento, mais sofreram por não poder ver os seus netos e filhos. A família não pode prescindir dos avós, porque são a memória viva da humanidade.

Desmond Tutu: Pesar do Papa

Foi com tristeza que o Papa Francisco recebeu a notícia da morte neste domingo, aos 90 anos, do arcebispo anglicano Desmond Tutu. A sua morte foi anunciada pelo presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, que expressou “em nome de todos os sul-africanos, profunda tristeza pela morte de uma figura essencial na história do país”.

O pesar do Pontífice foi expresso em telegrama assinado pelo cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, e endereçado ao núncio apostólico na África do Sul, Dom Peter B. Wells, onde também ofereceu as condolências à sua família. Consciente do seu serviço ao Evangelho pela promoção da igualdade e reconciliação racial na sua África do Sul”, confia a sua alma à misericórdia amorosa do Deus Todo Poderoso.

O Santo Padre também invocou as “bênçãos divinas da paz e consolação no Senhor Jesus” sobre todos os que choram a sua morte, na certeza da esperança da ressurreição.

Símbolo da resistência ao apartheid, promotor da reconciliação, consciência da África do Sul. Pela sua luta incansável e não violenta contra o regime racista, o arcebispo anglicano Desmond Tutu recebeu, em 1984, o Prémio Nobel da Paz. Ele também apoiou o processo de reconciliação nacional no país e foi um enérgico defensor dos direitos humanos.

Santos Inocentes: defender a inocência das crianças dos Herodes de hoje

A 28 de dezembro é a memória litúrgica dos Santos Inocentes. No Twitter, Francisco convida a rezar e defender as crianças dos “novos Herodes” que destroem a sua inocência.

Os novos Herodes dos nossos dias destroem a inocência das crianças sob o peso do trabalho escravo, da prostituição e da exploração, das guerras e da emigração forçada. #RezemosJuntos hoje por estas crianças e defendamo-las. #SantosInocentes.

Foi o que tuitou o Papa Francisco na sua conta @Pontifex na memória litúrgica dos Santos Inocentes que lembra as crianças de Belém de até dois anos, mortas pelo Rei Herodes para eliminar o Menino Jesus, anunciado pelas profecias como o Messias e novo rei de Israel.

Audiência Geral: a migração de hoje é um escândalo social da humanidade

“São José, migrante perseguido e corajoso” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira.

A família de Nazaré teve que fugir para o Egito, “experimentando em primeira pessoa a precariedade, o medo e a dor de ter que deixar a sua terra”. Francisco sublinhou que “ainda hoje muitos dos nossos irmãos e irmãs são obrigados a viver a mesma injustiça e sofrimento. A causa é quase sempre a prepotência e a violência dos poderosos. Isto aconteceu também com Jesus”.

Através dos Reis Magos, o rei Herodes toma conhecimento do nascimento do “rei dos Judeus”, e a notícia o perturba. “Ele se sente inseguro, ameaçado no seu poder” e manda “matar todas as crianças de Belém de até dois anos. Foi o tempo em que, segundo o cálculo dos Magos, Jesus teria nascido”. Entretanto, um anjo ordena a José: «Levanta-te, toma o menino e a sua mãe, e foge para o Egito; permanece lá até que eu te avise, pois Herodes vai à procura do menino para o matar». “Pensemos nas muitas pessoas que hoje sentem dentro de si esta inspiração: Fujamos! Fujamos porque aqui há perigo”, frisou o Papa.

Para o Papa, Herodes “é o símbolo de muitos tiranos de ontem e de hoje, e para esses tiranos as pessoas não contam, conta o poder. Se eles precisam de espaço de poder, matam as pessoas. Isso acontece hoje”.

A seguir, Francisco sublinhou que “José é o oposto de Herodes: em primeiro lugar, é «um homem justo». Herodes é um ditador. Além disso, demonstra-se corajoso na execução da ordem do Anjo.

A lição que José nos deixa hoje é a seguinte: a vida apresenta-nos sempre adversidades, diante das quais podemos sentir-nos também ameaçados, amedrontados, mas não é mostrando o pior de nós, como faz Herodes, que podemos superar certos momentos, mas agindo como José, que reage ao medo com a coragem da confiança na Providência de Deus”, disse ainda o Papa.

“Rezemos hoje por todos os migrantes, todos os perseguidos e todos aqueles que são vítimas de circunstâncias adversas, sejam circunstâncias políticas, históricas ou pessoais. Pensemos nas muitas pessoas vítimas das guerras, que querem fugir da sua pátria, mas não podem. Pensemos nos migrantes que começam a estrada para serem livres e muitos terminam na rua ou no mar. Pensemos em Jesus nos braços de José e Maria fugindo e vejamos nele cada um dos migrantes de hoje. A migração de hoje é uma realidade diante da qual não podemos fechar os olhos. É um escândalo social da humanidade”, concluiu.

JM (com recursos jornalísticos do portal de notícias Vatican News)

Partilhe nas redes sociais!
29 de Dezembro de 2021