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A Palavra do Papa: o escândalo da manjedoura, os pobres de saúde, o amor paterno e os investigadores inquietos

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Nos últimos dias, o Papa refletiu sobre o Mistério da Encarnação: “Deus está próximo de nós, ao nosso alcance! Ele não vem com o poder de quem causa temor, mas com a fragilidade de quem pede para ser amado.” O pontífice apelou à oração pela liberdade religiosa, aos cuidados espirituais com os doentes e aos pais para que adotem. Pediu-nos para “permaneçamos abertos às surpresas de Deus”.

Ano Novo: “os problemas não desaparecem, mas Deus está conosco”

A 31 de dezembro, Francisco participou nas Vésperas na Basílica de São Pedro, com o canto do Te Deum, em agradecimento pelo ano que passou. A celebração foi presidida pelo Decano do Colégio Cardinalício, cardeal Giovanni Battista Re.

Há motivos para agradecer, não obstante a pandemia. O Papa afirmou que este tempo aumentou em nós o sentimento de perda. Depois de uma primeira fase de reação, em que nos sentimos solidários na mesma barca, difundiu-se a tentação do “salve-se quem puder”. “Mas graças a Deus reagimos novamente, com o sentido de responsabilidade.”

Na sua homilia, o Papa recordou que a liturgia destes dias convida a despertar em nós a maravilha pelo mistério da Encarnação: “é preciso acolher o centro do mistério do nascimento de Cristo e o centro é este: “O Verbo se fez carne e veio habitar entre nós”.

Contemplando o Filho sentimos a proximidade de Deus, que não abandona o seu povo. É o Deus conosco. Os problemas não desaparecem, mas não estamos sós. Ele, o Unigénito, que se faz primogénito entre os irmãos, para reconduzir a todos nós à casa do Pai.”

O convite final do Pontífice é para seguir o Menino: “Sigamo-Lo no caminho quotidiano. Ele dá plenitude ao tempo, dá sentido às obras e aos dias. Vamos confiar nos momentos felizes e naqueles dolorosos: a esperança que Ele nos doa é a esperança que não desilude.”

Santa Maria, Mãe de Deus: “o olhar materno é o caminho para renascer”

O ano de 2022 começou com a celebração da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, na Basílica Vaticana. O Pontífice dedicou a sua homilia a Maria e a todas as mães que, como ela, suportam o “escândalo da manjedoura”.

Esta foi a expressão usada por Francisco para falar do nascimento de Jesus. O Filho de Deus nasce sem nenhuma via preferencial, nem sequer um berço! Como então harmonizar o trono do rei e a pobre manjedoura? Como conciliar a glória do Altíssimo e a miséria de um estábulo?

Hoje a Mãe de Deus ensina-nos a tirar proveito deste choque, pois não se pode ressuscitar sem cruz. “É como um parto doloroso, que dá vida a uma fé mais madura.”

Para superar o choque entre o ideal e o real, é preciso fazer como Maria: guardar e meditar. Aceitar e superar, como fazem as mães mundo afora:

O olhar materno é o caminho para renascer e crescer. As mães, as mulheres olham o mundo não para o explorar, mas para que tenha vida.”

E enquanto as mães dão a vida e as mulheres guardam o mundo, o apelo do Papa é para que todos se empenhem em promover as mães e proteger as mulheres:

Quanta violência existe contra as mulheres! Basta! Ferir uma mulher é ultrajar a Deus, que tomou de uma mulher a humanidade.”

Papa: no Ano Novo peçamos a proteção de Maria

Na manhã do primeiro dia do ano, o Santo Padre rezou a Oração do Angelus, com os fiéis reunidos na Praça São Pedro.

Na sua alocução mariana, o Papa confiou o Ano Novo a Maria, Mãe de Deus, sobre a qual fala o Evangelho da liturgia do dia, que nos repropõe, novamente, o encanto do presépio. Os pastores vão, sem demora, à gruta, mas o que lá encontram? “Encontram Maria, José e o Menino, deitado numa manjedoura”.

Maria, disse o Papa, coloca o Menino diante dos nossos olhos e, sem dizer uma só palavra, nos transmite uma mensagem maravilhosa: “Deus está próximo de nós, ao nosso alcance! Ele não vem com o poder de quem causa temor, mas com a fragilidade de quem pede para ser amado.”

Jesus nasce pequenino e necessitado para que ninguém tenha vergonha de si mesmo: quando experimentamos a nossa fraqueza e fragilidade, sentimos que Deus está bem mais perto de nós, porque assim se apresentou a nós: fraco e frágil. O Deus-Menino veio, não para excluir ninguém, mas para nos tornar todos irmãos e irmãs.”

Sobre o “Dia Mundial da Paz”, que se celebra neste início de ano, o Santo Padre citou uma frase da sua Mensagem para esta ocasião: “A paz é uma dádiva do alto e fruto de um empenho partilhado”:

“Que a Mãe de Deus, Rainha da Paz, nos obtenha, no início deste ano, paz aos nossos corações e ao mundo inteiro”, terminou.

Angelus: “Deus quer habitar no meio de nós”

“O Verbo se fez carne e habitou entre nós”, é a frase do Evangelho de João que o Papa Francisco refletiu no Angelus de domingo, 2 de janeiro, na Praça São Pedro e sugeriu refletirmos diante do presépio sobre os nossos problemas, pedindo ajuda a Deus.

Aprofundou as duas realidades presentes nesta frase: “o Verbo e a carne”. “Verbo”, disse o Papa, “indica que Jesus é a Palavra eterna do Pai, infinita, que existe desde sempre, antes de todas as coisas criadas; e “carne”, por outro lado, indica precisamente a nossa realidade criada, frágil, limitada, mortal”.

Deus deseja encarnar-se. Se o seu coração parece muito poluído pelo mal, muito desordenado, não se feche, não tenha medo. Pense no estábulo de Belém. Jesus nasceu ali, naquela pobreza, para lhe dizer que não tem medo de visitar o seu coração, de viver uma vida desordenada”.

O Papa encorajou os presentes a convidá-Lo oficialmente “para entrar na nossa vida, especialmente nas áreas escuras, nos nossos ‘estábulos interiores’. E falemos-lhe também sem medo dos problemas sociais e eclesiais do nosso tempo, porque Deus ama habitar entre nós”.

O Vídeo do Papa: “liberdade religiosa é valorizar os irmãos nas suas diferenças”

No vídeo com a primeira intenção de oração deste ano, divulgado esta terça-feira (4 de janeiro), o Papa Francisco pede para rezar pelas pessoas que são perseguidas por causa da sua fé.

Como é possível que hoje muitas minorias religiosas sofram discriminação ou perseguição? Como permitimos que nesta sociedade altamente civilizada existam pessoas que são perseguidas simplesmente por professar publicamente a sua fé? Isso não só é inaceitável, é desumano, é insano.”

“A liberdade religiosa não se limita à liberdade de culto, ou seja, a que se possa ter um culto no dia prescrito pelos seus livros sagrados”, ressalta Francisco na mensagem. A liberdade religiosa está ligada ao conceito de fraternidade e para começar a percorrer os caminhos da fraternidade que o Papa tanto insiste há anos, é necessário não só respeitar os outros, mas valorizá-los “nas suas diferenças e reconhecê-los como verdadeiros irmãos”.

“Rezemos para que as pessoas que sofrem discriminação e perseguição religiosa encontrem nas sociedades em que vivem o reconhecimento e a dignidade que nasce de ser irmãos e irmãs”, conclui o Papa.

Segundo o Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo de 2021, mais de 646 milhões de cristãos vivem em países onde a liberdade religiosa não é respeitada.

Dia Mundial dos Doentes: “O doente é sempre mais importante do que a sua doença”

Nesta terça-feira, 4 de janeiro, foi divulgada a Mensagem do Papa Francisco para o XXX Dia Mundial do Doente que será celebrado a 11 de fevereiro de 2022. Este ano, o tema é do Evangelho de Lucas: “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso”, com o subtítulo “Colocar-se ao lado de quem sofre num caminho de caridade”.

“A misericórdia é, por excelência, o nome de Deus, que expressa a sua natureza não como um sentimento ocasional, mas como força presente em tudo o que Ele faz”, começou Francisco.

Quando uma pessoa experimenta na própria carne fragilidade e sofrimento por causa da doença, também o seu coração se sente acabrunhado, cresce o medo, multiplicam-se as dúvidas, torna-se mais impelente a questão sobre o sentido de tudo o que está a acontecer.”

Disto a importância “de se ter ao lado testemunhas da caridade de Deus, que a exemplo de Jesus, misericórdia do Pai, derramem sobre as feridas dos enfermos o óleo da consolação e o vinho da esperança”.

O doente é sempre mais importante do que a sua doença, e por isso qualquer abordagem terapêutica não pode prescindir da escuta do paciente, da sua história, das suas ansiedades, dos seus medos.”

Por fim o Papa escreve sobre a importância dos cuidados espirituais afirmando: “Na verdade, se a pior discriminação sofrida pelos pobres – e os doentes são pobres de saúde – é a falta dos cuidados espirituais, não podemos exonerar-nos de lhes oferecer a proximidade de Deus, a sua bênção, a sua Palavra, a celebração dos Sacramentos e a proposta dum caminho de crescimento e amadurecimento na fé”.

Audiência Geral: “adoção, uma das formas mais elevadas de amor, paternidade e maternidade”

Na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira, 5 de janeiro, realizada na Sala Paulo VI, no Vaticano, o Papa Francisco meditou sobre São José como pai adotivo de Jesus.

Como pai oficial de Jesus, José exerce o direito de impor o nome ao filho, reconhecendo-o juridicamente. Antigamente o nome era o compêndio da identidade de uma pessoa. Dar o nome a alguém ou a algo significava afirmar a própria autoridade sobre o que era denominado.

Acredito que seja muito importante pensar a paternidade hoje, porque vivemos uma época de orfandade notória. É curioso! A nossa civilização é um pouco órfã e se sente essa orfandade. Que São José, no lugar do verdadeiro pai, Deus, nos ajude a entender como resolver o sentimento de orfandade que nos faz muito mal hoje.”

Segundo Francisco, “não é suficiente pôr um filho no mundo para dizer que também somos pais ou mães”. «Não se nasce pai, torna-se. E não se torna pai, apenas porque se colocou no mundo um filho, mas porque se cuida responsavelmente dele. Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outra pessoa, em certo sentido exerce a paternidade a seu respeito», disse o Papa.

O Papa citou, em particular, “todos aqueles que se abrem a acolher a vida através da via da adoção que é um comportamento generoso, bonito. José mostra-nos que este tipo de vínculo não é secundário, não é uma alternativa. Este tipo de escolha está entre as formas mais elevadas de amor e de paternidade e maternidade. Não devemos ter medo de escolher o caminho da adoção, de assumir o “risco” do acolhimento”.

“Hoje, com a orfandade existe um certo egoísmo. Outro dia, eu falava sobre o inverno demográfico que existe hoje. Se vê que as pessoas não querem ter filhos ou têm um e acabou. Muitos casais não têm filhos porque não querem ou tem um só e chega, mas têm dois cachorros, dois gatos que tomam o lugar dos filhos. Sim, é engraçado, entendo, mas é a realidade. Renegar a paternidade e a maternidade diminui-nos, tira a nossa humanidade.”

Peço a São José a graça de despertar as consciências e a pensar nisso: a ter filhos”, disse ainda Francisco, afirmando que “a maternidade e a paternidade é a plenitude da vida de uma pessoa”.

Rezo para que ninguém se sinta sem um vínculo de amor paterno. Que São José exerça a sua proteção e a sua ajuda sobre os órfãos; e que interceda pelos casais que desejam ter um filho”, concluiu o Papa.

No final da audiência geral desta quarta-feira, o Papa Francisco sorriu e aplaudiu a atuação dos artistas do Ronny Roller Circus, uma antiga família circense italiana, apreciando o duro treino por detrás do fascínio deste espetáculo.

Papa: Como os Magos, sonhemos, procuremos, adoremos

Na Festa da Epifania, o Papa Francisco presidiu a celebração da Santa Missa na Basílica de São Pedro. Na sua homilia disse que a viagem dos Magos para Belém leva a interpelarmo-nos: “O que é que levou estes homens do Oriente a porem-se em viagem?” “Eram sábios e astrólogos – continuou – tinham fama e riqueza; de posse de uma tal segurança cultural, social e económica, podiam acomodar-se no que tinham e sabiam, deixando-se estar tranquilos. Mas não; deixam-se inquietar por uma pergunta e um sinal: “Onde está [Aquele] que nasceu?”.

“Mas esta saudável inquietação, que os levou a peregrinar, de onde nasce? Do desejo. Eis o seu segredo interior: saber desejar. Meditemos nisto”, Francisco afirma que “desejar significa manter vivo o fogo que arde dentro de nós e nos impele a buscar mais além do imediato, mais além das coisas visíveis”. E diz que isto deve-se ao facto de Deus nos ter feito assim: empapados de desejo; orientados, como os Magos, para as estrelas”.

Somos aquilo que desejamos. Porque são os desejos que ampliam o nosso olhar e impelem a vida mais além, além duma fé repetitiva e cansada, além do medo de arriscar, de nos empenharmos pelos outros e pelo bem.”

“Será bom perguntar-nos: a que ponto estamos nós na viagem da fé? Não estaremos já há bastante tempo bloqueados, estacionados numa religião convencional, exterior, formal, que deixou de aquecer o coração e já não muda a vida?”. “Na nossa vida e nas nossas sociedades, a crise da fé tem a ver também com o desaparecimento do desejo de Deus”, recordou o Papa.

“A viagem da fé só encontra ímpeto e cumprimento na presença de Deus. Só se recuperarmos o gosto da adoração é que se renova o desejo”, apontou.

Concluindo o Papa disse: “Aqui, como os Magos, teremos a certeza de que, mesmo nas noites mais escuras, brilha uma estrela. É a estrela de Jesus, que vem cuidar da nossa frágil humanidade. Ponhamo-nos a caminho rumo a Ele”. “Como os Magos, levantemos a cabeça, ouçamos o desejo do coração, sigamos a estrela que Deus faz brilhar sobre nós. Como investiguemos inquietos, permaneçamos abertos às surpresas de Deus. Sonhemos, procuremos, adoremos”.

JM (com recursos jornalísticos do portal Vatican News)

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06 de Janeiro de 2022