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A Palavra do Papa: a fraternidade sacerdotal, o sinal de Caná, a Palavra vivida e a revolução da ternura

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A comentar o episódio das Bodas de Caná no Angelus, o Papa disse que Jesus revela o amor de Deus, ou seja, “não chama a atenção para o poder do gesto, mas para o amor que o provocou”. Esta semana, o Papa exortou à ternura, inspirada em São José, e chamou a atenção para as situações de crise na ilha de Tonga, Brasil, Bielorrússia e Filipinas.

Teatinos: “Fraternidade sacerdotal apostólica”

O Santo Padre recebeu na manhã de sábado, na Sala Clementina do Vaticano, os participantes do 164º Capítulo Geral dos Clérigos Regulares Teatinos. Ao saudar o superior geral, que foi reconfirmado no seu cargo, e os demais presentes, Francisco disse “quanto progresso e quanta estrada vocês percorreram com a providência de Deus”!

A seguir, referindo-se ao tema dos trabalhos capitulares “Teatinos para a missão…”, o Papa elogiou a sua escolha, em sintonia com a orientação fundamental da Igreja “sair para evangelizar”, dinamismo impresso por Jesus, que envolve todos os cristãos e comunidades. E explicou:

Para vocês, de modo particular, este dinamismo combina com o carisma de São Caetano Thiene e dos seus cofundadores, que pode ser resumido como uma fraternidade sacerdotal apostólica, fortemente enraizada na vida espiritual e na caridade concreta com os necessitados”.

Como aconteceu com tantos outros santos e santas, São Caetano impressiona-nos pelo seu “salto qualitativo”, que, em termos bíblicos, preferimos chamar “vocação na vocação” ou “segunda conversão”. Trata-se da passagem de uma vida boa e prezada para uma vida santa, repleta daquele toque especial, que vem do Espírito Santo. Este salto de qualidade faz crescer, não só a vida pessoal, mas também a vida da Igreja. Em certo sentido, a “reforma” a purifica e faz emergir a sua beleza evangélica.

Podemos e devemos sempre recorrer a este testemunho, a este “evangelho vivo” para prosseguir o nosso caminho pessoal e comunitário, cientes de que ‘não é possível, para um cristão, conceber a sua missão na terra sem o caminho da santidade’.

“Encorajo-os a seguir as suas pegadas, com docilidade ao Espírito, sem esquemas rígidos, mas bem firmes no essencial: oração, adoração, vida comum, caridade fraterna, pobreza e serviço aos pobres. Tudo isso com coração apostólico e com o desejo evangélico de buscar antes de tudo o Reino de Deus”, disse.

Angelus: se recorremos a Jesus, Ele está pronto para nos reerguer

Na alocução que precedeu a oração do Angelus ao meio dia deste domingo (16 de janeiro), o Papa Francisco deteve-se no Evangelho deste II Domingo do Tempo Comum, que traz o célebre episódio das Bodas de Caná, em que Jesus realiza o seu primeiro milagre, transformando a água em vinho para a alegria dos esposos.

Francisco evidenciou que o relato se conclui assim: “Esse foi o princípio dos sinais que Jesus realizou; ele manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele” (Jo 2,11). “Observamos – disse o Papa – que o evangelista João não fala de um milagre, ou seja, de um evento poderoso e extraordinário que gera maravilhas. Ele escreve que em Caná ocorre um sinal, que desperta a fé dos discípulos.”

Podemos então nos perguntar: o que é um “sinal” de acordo com o Evangelho? “É um indício que revela o amor de Deus, ou seja, não chama a atenção para o poder do gesto, mas para o amor que o provocou.”

O Santo Padre prosseguiu ressaltando que Nossa Senhora percebe o problema e discretamente o aponta para Jesus. E Ele intervém sem clamor, quase sem dar a perceber. Tudo se passa de forma reservada, “nos bastidores”: Jesus diz aos servos para encher as talhas de água, que se transforma em vinho.

Prosseguindo a sua intervenção, Francisco disse que “é bonito pensar que o primeiro sinal que Jesus realiza não é uma cura extraordinária ou um prodígio no templo de Jerusalém, mas um gesto que atende a uma necessidade simples e concreta das pessoas comuns”. É assim que Deus gosta de agir, frisou o Santo Padre.

E se nós, como Maria em Caná, o interpelamos, Ele está pronto para nos ajudar, para nos reerguer. E assim, se estamos atentos a estes “sinais”, somos conquistados pelo seu amor e tornamo-nos seus discípulos.

O Pontífice apontou que há outra característica distintiva do sinal de Caná. “Normalmente o vinho dado no final da festa era o menos bom, o vinho aguado. Jesus, ao invés, faz de modo que a festa termine com o melhor vinho.”

Dito isso, explicou: “Simbolicamente, isto diz-nos que Deus quer o melhor para nós, Ele quer que sejamos felizes. Ele não estabelece limites e não nos pede recompensa. No sinal de Jesus não há espaço para segundos fins, para exigências ao casal. Não, a alegria que Jesus deixa no coração é plena e sem pretensões. Nunca é aguada!”

Tentemos, hoje, procurar nas nossas memórias os sinais que o Senhor realizou na nossa vida, para nos mostrar que Ele nos ama; aquele momento difícil em que Deus me fez experimentar o seu amor… E perguntemo-nos: com que sinais, discretos e solícitos, Ele me fez sentir a sua ternura? Como eu descobri a sua proximidade e me deixou uma grande alegria no coração?”

O Pontífice lembrou ainda a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que se realiza de 18 a 25 de janeiro, que este ano propõe a experiência dos Magos, que vieram do Oriente a Belém para homenagear o Rei Messias.

“Também nós cristãos, na diversidade das nossas confissões e tradições, somos peregrinos no nosso caminho rumo à unidade plena, e aproximamo-nos do nosso objetivo quanto mais mantemos o nosso olhar fixo em Jesus, nosso único Senhor.”

O Pontífice concluiu com uma premente exortação: “Durante a Semana de Oração, ofereçamos também as nossas fadigas e os nossos sofrimentos pela unidade dos cristãos”.

Custódia da Terra Santa: a comunicação deve ajudar a construir fraternidade

Os comunicadores da Custódia da Terra Santa foram recebidos em audiência pelo Papa Francisco esta segunda-feira, 17 de janeiro. O encontro foi realizado por ocasião do centenário da fundação da revista Terra Santa.

Para o Papa, “fazer com que a Terra Santa seja conhecida significa transmitir o ‘Quinto Evangelho’, ou seja, o ambiente histórico e geográfico no qual a Palavra de Deus foi revelada e depois feita carne em Jesus de Nazaré, para nós e para nossa salvação”.

Significa também – continuou – conhecer as pessoas que ali vivem hoje, a vida dos cristãos das diversas Igrejas e denominações, mas também a dos judeus e muçulmanos, para tentar construir, num contexto complexo e difícil como o do Oriente Médio, uma sociedade fraterna”.

Francisco saudou os presentes, agradeceu o seu trabalho e encorajou-os afirmando: “A comunicação, numa época de redes sociais, deve ajudar a construir comunidade, melhor ainda, fraternidade. Eu encorajo-vos a contar sobre a fraternidade que é possível.”

Filipinas e Bielorrússia: a ajudou do Papa aos migrantes

O Santo Padre enviou uma contribuição inicial de 100 mil euros à Igreja das Filipinas para aliviar as consequências do tufão Rai e uma quantia semelhante à Cáritas Polónia para o socorro a pessoas bloqueadas na fronteira com a Bielorrússia.

Por um lado, a catástrofe ambiental que atingiu o coração das Filipinas – pelo menos 400 mortos, dezenas de desaparecidos e 8 milhões de pessoas afetadas em 11 regiões, de acordo com os números da ONU. Por outro lado, o que tem sido chamado de “a fronteira da vergonha”, entre a Bielorrússia e a Polónia onde há meses milhares de migrantes tentam entrar na Europa.

Francisco confiou ao Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral a tarefa de mandar entregar o valor nas Filipinas, com a colaboração da nunciatura apostólica local. Os destinatários serão – segundo um comunicado do dicastério do Vaticano – as “dioceses mais afetadas pela calamidade” e a contribuição, destinada a “obras de assistência” nesta fase de emergência.

Audiência Geral: a revolução da ternura, modo inesperado de fazer justiça

São José, pai na ternura: este foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, 19 de janeiro. Mais uma vez, Francisco falou da “revolução da ternura” e mencionou de modo especial a condição dos encarcerados. “É justo que quem errou pague, mas é ainda mais justo que possa se redimir.”

O Pontífice recordou que não há nos Evangelhos relatos explícitos de como São José exerceu a sua paternidade. Todavia, é possível compreender algo a partir do próprio Jesus, que sempre usou a palavra “pai” para falar de Deus e do seu amor.

Entre as muitas parábolas que tem a figura paterna como protagonista, Francisco citou a do Pai misericordioso e o acolhimento ao filho pródigo, narrada por Lucas.

O filho estava à espera de uma punição, contentando-se em ser tratado como um dos criados; e, ao contrário, vê-se abraçado pelo pai. “A ternura é algo maior do que a lógica do mundo”, comentou o Papa. “É um modo inesperado de fazer justiça.”

Há uma grande ternura na experiência do amor de Deus, disse ainda Francisco, convidando os fiéis a lembrarem quando experimentaram esta ternura e se, por nossa vez, nos tornamos suas testemunhas. A ternura não é uma questão emotiva ou sentimental: é a experiência de sentir-se amados.  Por isso é importante encontrar a Misericórdia de Deus, especialmente no Sacramento da Reconciliação. “Deus sempre nos perdoa, somos nós que nos cansamos de pedir perdão.”

“Sem esta ‘revolução da ternura’, corremos o risco de permanecer prisioneiros numa justiça que não permite erguer-se facilmente e que confunde a redenção com a punição”, disse ainda Francisco, dirigindo o seu último pensamento aos encarcerados:

É justo que quem errou pague pelo próprio erro, mas é ainda mais justo que quem errou possa redimir-se do próprio erro. Não podem existir condenações sem ‘janelas’ de esperança. (…) Rezemos pelos encarcerados, para que nessas ‘janelas’ de esperança encontrem uma saída rumo a uma vida melhor.”

Na conclusão da audiência geral, o Papa Francisco dirigiu o seu pensamento aos habitantes das ilhas de Tonga, atingidos nos últimos dias pela erupção de um vulcão submarino que causou enormes danos materiais.

JM (com recursos do portal Vatican News)

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19 de Janeiro de 2022