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A Palavra do Papa: a fé em crise, o despertador da alma, a escuta do coração e o homem que sonha

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No passado domingo, o Papa instituiu pela primeira vez leitores e catequistas, de acordo com os novos ministérios laicais instituídos. Voltemos a colocar a Palavra de Deus no centro da pastoral e da vida da Igreja! Vamos ouvi-la, rezá-la e colocá-la em prática”, afirma o Pontífice.

Papa: “uma fé que não nos põe em crise é uma fé em crise”

Na manhã de sexta-feira, o Papa Francisco recebeu os participantes da Assembleia Plenária da Congregação para a Doutrina da Fé. O Papa iniciou o seu discurso comunicando que iria partilhar com os presentes algumas reflexões, agrupando-as em torno de três palavras: dignidade, discernimento e fé.

Ao refletir sobre a palavra dignidade o Papa recordou que na nossa época, “marcada por tantas tensões sociais, políticas e até mesmo relacionadas à saúde, há uma tentação crescente de considerar o outro como um estranho ou um inimigo, negando-lhe a verdadeira dignidade”.

Ao falar sobre o discernimento, o Papa referia “a maior necessidade de espiritualidade nos nossos tempos que, porém, nem sempre encontra o seu ponto de referência no Evangelho”, sendo fundamental “na luta contra abusos de todo o tipo” e também no caminho sinodal em curso.

É necessário discernir continuamente opiniões, pontos de vista e reflexões. Não se pode percorrer o caminho sinodal sem discernir.”

Por fim o Papa refletiu sobre a palavra fé. “Sem fé, a presença de crentes no mundo seria reduzida à de uma agência humanitária”.

“Não nos contentemos com uma fé morna e habitual. Colaboremos com o Espírito Santo e uns com os outros para que o fogo que Jesus trouxe ao mundo possa continuar aceso e incendiar o coração de todos”, concluiu.

Santo Irineu é Doutor da Igreja

“Que a doutrina de tão grande Mestre possa encorajar cada vez mais o caminho de todos os discípulos do Senhor rumo à plena comunhão”. Estes são os votos com os quais o Papa assina o Decreto com a data de 21 de janeiro, que declara Santo Irineu de Lyon Doutor da Igreja, com o título de Doctor unitatis.

Nas motivações que antecedem o anúncio, Francisco destaca que Santo Ireneu “era uma ponte espiritual e teológica entre os cristãos orientais e ocidentais. O seu nome, Irineu, exprime aquela paz que vem do Senhor e que reconcilia, reintegrando na unidade”.

Canárias: O encorajamento do Papa aos habitantes atingidos pelo vulcão

O Pontífice gravou um breve vídeo no telemóvel do bispo de Tenerife (uma das ilhas das Canárias), por ocasião da visita ad limina apostolorum do terceiro grupo de bispos da Conferência Episcopal Espanhola, recebidos no Vaticano. Trata-se de bispos das províncias eclesiásticas de Granada, Sevilha e Mérida-Badajoz.

No vídeo, Francisco dirige-se a uma população que está a enfrentar um futuro repleto de incertezas, porque, depois do desastre devastador, milhares de pessoas tiveram que ser evacuadas, perderam as suas moradias e também o emprego.

“Eu acompanhei-os desde o momento da erupção e acompanho-os na reconstrução”, expressou o Papa à população de La Palma.

É difícil, mas não se rendam. Reconstruir significa sempre fazer um passo adiante. Significa dizer que a derrota não tem a última palavra, significa não se cansar de olhar o horizonte.”

“É difícil, mas não abatam”, acrescentou o Papa, concluindo: “Estou convosco e rezo por vós”.

Palavra de Deus: “Apaixonemo-nos pela Sagrada Escritura”

Ouvir, rezar e colocar em prática as Sagradas Escrituras: foram os pedidos do Papa Francisco neste Domingo da Palavra de Deus, em que celebrou Eucaristia na Basílica de São Pedro e em que instituiu pela primeira vez leitores e catequistas.

Na homilia, o pontífice comentou o Evangelho, no qual Jesus lê em frente de todos uma passagem do profeta Isaías, encerrando a leitura com algo inédito: “Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura” (Lc 4, 21). A Palavra de Deus já não é uma promessa, explicou o Papa, mas realizou-se. Em Jesus, fez-Se carne.

Mantendo os olhos fixos em Cristo, Francisco convidou os fiéis a meditar sobre dois aspetos: a Palavra desvenda Deus e a Palavra leva-nos ao homem. Isto é, ao mesmo tempo consola e provoca.

A Palavra de Deus alimenta e renova a fé: voltemos a colocá-la no centro da oração e da vida espiritual!”

Por fim, um pensamento aos leitores e catequistas que foram instituídos nesta celebração:

Apaixonemo-nos pela Sagrada Escritura, deixemo-nos interpelar profundamente pela Palavra, que desvenda a novidade de Deus e leva-nos a amar incansavelmente os outros. Voltemos a colocar a Palavra de Deus no centro da pastoral e da vida da Igreja! Vamos ouvi-la, rezá-la e colocá-la em prática.”

Angelus: “A homilia deve despertar e não adormecer a alma”

Aos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro, o Pontífice comentou este domingo o Evangelho da Liturgia, quando Jesus inaugura a sua pregação. Deixa ainda uma proposta: ler todos os dias um pequeno trecho do Evangelho de Lucas.

Jesus vai até Nazaré, onde cresceu, e participa da oração na sinagoga, lendo um trecho do livro do profeta Isaías. E Jesus assim começa: “Hoje cumpriu-se esta passagem da Escritura”.

Os conterrâneos de Jesus ficaram impressionados com a sua Palavra, intuem que Nele há “algo a mais”, que é a unção do Espírito Santo.

Às vezes, acontece que as nossas pregações e os nossos ensinamentos permaneçam genéricos, abstratos, não tocam a alma e a vida das pessoas. Porquê? Porque não tem a força deste hoje, aquele que Jesus ‘preenche de sentido’ com a potência do Espírito.”

A pregação corre este risco: “Também muitas homilias – digo-o com respeito, mas com dor – são abstratas e ao invés de despertarem a alma, a adormecem”, constatou o Papa, com os fiéis que começam a olhar o relógio e perguntam: “Quando isto vai terminar?”. Sem a unção do Espírito, acrescentou Francisco, escorrega-se no moralismo e em conceitos abstratos; apresenta-se o Evangelho como distante, como se estivesse fora do tempo, longe da realidade.

Mas uma palavra em que não pulsa a força do hoje não é digna de Jesus e não ajuda a vida das pessoas. Por isso, quem prega é o primeiro que deve experimentar o hoje de Jesus, de modo que possa comunicá-lo no hoje dos outros.”

No final, o Papa voltou a manifestar a sua preocupação com as tensões na Ucrânia, “que ameaçam infligir um novo golpe à paz” no país, colocando em discussão a segurança da Europa.

“Faço um forte apelo a todas as pessoas de boa vontade, para que elevem orações a Deus omnipotente, para que cada ação e iniciativa política esteja a serviço da fraternidade humana”, disse Francisco. Diante deste cenário preocupante, o Pontífice propôs que a esta quarta-feira, 26 de janeiro, seja um dia de oração pela paz.

Ouvir o irmão para ouvir a Deus: mensagem do Papa para o Dia das Comunicações

“Escutar com o ouvido do coração” é o título da mensagem do Papa Francisco para o 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais. No texto, o Pontífice analisa a dimensão na escuta em tempos de redes sociais e a sua importância no processo sinodal da Igreja.

Foi divulgada esta segunda-feira, festa de São Francisco de Sales (padroeiro dos comunicadores), a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que este ano será celebrado em 29 de maio.

A escuta corresponde ao estilo humilde de Deus”, escreve o Papa. É essa ação que permite que Deus se revele como Aquele que, ao falar, cria o homem à sua imagem, e ao ouvi-lo, o reconhece como seu interlocutor. “No fundo, ouvir é uma dimensão do amor”, mesmo se às vezes o homem tende a “tapar os ouvidos”.

O Papa alerta para a “surdez interior, pior do que a física”, que diz respeito “à pessoa toda” e que se opõem à relação com os outros. “Não somos feitos para viver como átomos, mas juntos”, acrescenta.

Todavia, Francisco alerta para o oposto da ação de escutar, que é “espreitar”, “bisbilhotar”, sobretudo em tempos de redes sociais, a imposição de “alinhamentos ideológicos sem escuta” que pretendem impor um ponto de vista e a “infodemia”, isto é, fluxos de informações nem sempre fundadas e credíveis, gerando desconfiança na sociedade.

O Papa conclui a mensagem analisando a dimensão da escuta dentro da Igreja:

Quem não sabe escutar o irmão, em breve já não será capaz de ouvir nem sequer Deus.” Na ação pastoral, a obra mais importante é o “apostolado do ouvido”, aponta Francisco. “Dar gratuitamente um pouco do seu tempo para ouvir as pessoas é o primeiro gesto de caridade.”

A dimensão da escuta é ainda mais essencial no processo sinodal há pouco iniciado. “Rezemos para que seja uma grande oportunidade de escuta recíproca.”

“Possamos redescobrir uma Igreja sinfónica, na qual cada pessoa é capaz de cantar com a própria voz, acolhendo como um dom as dos outros, para manifestar a harmonia do conjunto que o Espírito Santo compõe”, termina.

Cónegas de Santo Agostinho: “o desafio da educação integral dos jovens”

Na manhã de segunda-feira, 24 de janeiro, o Papa recebeu as religiosas participantes do Capítulo Geral da Congregação de Nossa Senhora, Cónegas de Santo Agostinho dedicadas particularmente à educação. 

Francisco iniciou o seu discurso expressando a sua proximidade espiritual a todas as Irmãs da Congregação presentes em vários países. E ao falar sobre o carisma educacional a serviço das novas gerações e famílias disse: “Hoje, estamos diante do desafio da formação e educação da pessoa humana. Em fidelidade às intuições evangélicas dos seus fundadores, São Pedro Fourrier e a Beata Alix Le Clerc, vocês estão comprometidas com a educação popular, uma educação na fé, uma educação à justiça e proximidade com os pobres”.

Encorajando-as disse: “Nos vários países em que vocês trabalham encorajo-as a serem discípulas missionárias e comunidades de esperança e alegria.”

Conto com vocês e confio em vocês, a Igreja confia em vocês. Com as vossas palavras, as vossas ações e o vosso testemunho, vocês enviam uma forte mensagem ao mundo que rejeita os vulneráveis”, incentivou o Santo Padre.

São Paulo: “Deus nos dê a coragem da humildade para alcançar a unidade”

“Peçamos a Deus esta coragem, a coragem da humildade, único caminho para chegar a adorar a Deus na mesma casa, ao redor do mesmo altar: disse o Papa Francisco na celebração das Segundas Vésperas desta terça-feira, 25 de janeiro, Solenidade da Conversão de São Paulo, concluindo a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos na Basílica de São Paulo Fora dos Muros.

Tendo agradecido a presença de representantes do Patriarcado Ecuménico, do Arcebispo de Cantuária e de outras Comunidades cristãs, Francisco destacou que neste caminho rumo à plena unidade servem-nos de ajuda os Magos, cujo itinerário tem três etapas: parte do Oriente, passa por Jerusalém e, finalmente, chega a Belém.

Estes sábios não se contentam com os seus conhecimentos e tradições, mas anseiam por mais”. Por isso, disse o Santo Padre, enfrentam uma viagem arriscada, animados pela inquietação da busca de Deus mas são confrontados com a “resistência das forças tenebrosas do mundo”.

Quando chegam a Belém, entram na casa, prostram-se e adoram o Menino. Deste modo termina a sua viagem: juntos, na mesma casa, em adoração. Os Magos antecipam-se assim aos discípulos de Jesus que, diversos mas unidos, no final do Evangelho se prostram diante do Ressuscitado no monte da Galileia.

O Santo Padre concluiu a sua homilia em forma de oração: “nesta tarde, peçamos a Deus esta coragem, a coragem da humildade, único caminho para chegar a adorar a Deus na mesma casa, ao redor do mesmo altar”.

E como os Magos, pediu-nos a coragem de trocar a estrada: “Dai-nos, Senhor, a coragem de trocar estrada, converter-nos, seguir a vossa vontade e não as nossas comodidades; a coragem de avançar juntos, para Vós, que com o vosso Espírito quereis fazer de nós um só”.

Audiência Geral: “pais, não se espantem diante dos problemas dos filhos”. Apelo pela paz na Ucrânia

“São José, homem que sonha” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira, realizada na Sala Paulo VI.

O Papa explicou que “na Bíblia, como nas culturas dos povos antigos, os sonhos eram considerados um meio pelo qual Deus se revelava. O sonho simboliza a vida espiritual de cada um de nós, aquele espaço interior, que cada um é chamado a cultivar e a proteger, onde Deus se manifesta e muitas vezes nos fala”.

Segundo o Papa, “devemos dizer que dentro de cada um de nós não existe apenas a voz de Deus: existem muitas outras vozes. Por exemplo, as vozes dos nossos medos, experiências passadas, das esperanças; e há também a voz do maligno que quer nos enganar e confundir. Portanto, é importante ser capaz de reconhecer a voz de Deus no meio de outras vozes. José demonstra que sabe cultivar o silêncio necessário e tomar as decisões justas diante da Palavra que o Senhor lhe dirige interiormente”.

Para entender como nos coloca diante da revelação de Deus, o Papa retomou quatro sonhos relatados no Evangelho que têm José como protagonista: quando o Anjo ajuda José a resolver o drama que o aflige ao saber da gravidez de Maria, quando a vida do menino Jesus está em perigo e parte para o Egito, quando recebe o sinal para regressar a casa e o quarto sonho quando é avisado para partir para a Galileia.

Na vida fazemos experiência de perigos que ameaçam a nossa existência ou a de quem amamos. Nessas situações, rezar significa escutar a voz que pode fazer nascer em nós a coragem de José para enfrentar as dificuldades sem sucumbir.

Deus não nos promete que não teremos mais medo, mas que, com a sua ajuda, o medo não será o critério das nossas decisões. José experimenta o medo, mas Deus também o guia através do medo. O poder da oração ilumina as situações sombrias.”

A seguir, o Papa recordou “as muitas pessoas que são esmagadas pelo peso da vida e não conseguem mais esperar e nem rezar. Que São José as ajude a abrir-se ao diálogo com Deus, para reencontrar luz, força e paz”.

Francisco recordou também “os pais diante dos problemas dos filhos. Filhos doentes, com doenças permanentes. Quanta dor ali! Pais que veem orientações sexuais diferentes nos filhos, como lidar com isso e acompanhar os filhos e não se esconder no comportamento de condenação. Pais que veem os filhos morrerem por causa de uma doença, e o mais triste, vemos todos os dias nos jornais, os jovens que fazem travessuras e morrem em acidentes de carro. Pais que veem os filhos não prosseguirem na escola, muitos problemas dos pais. Pensemos em como ajudá-los. A esses pais eu digo que não se espantem. Há muita dor, muita, mas pensem no Senhor, pensem em como José resolveu os problemas e peçam a José que os ajude. Nunca condenar um filho”.

No final da Audiência Geral, o Papa convidou a rezar pela paz na Ucrânia, e a fazê-lo muitas vezes durante este dia:

Peçamos ao Senhor com insistência que aquela terra possa ver florescer a fraternidade e superar feridas, medos e divisões. Que as orações e súplicas, que hoje se elevam ao Céu, toquem as mentes e os corações dos responsáveis na terra, para que façam prevalecer o diálogo, e o bem de todos seja colocado acima dos interesses de parte. Rezemos pela paz com o Pai Nosso: é a oração dos filhos que se dirigem ao mesmo Pai, é a oração que nos faz irmãos, é a oração dos irmãos que imploram reconciliação e concórdia.”

JM (com recursos jornalísticos do portal de notícias Vatican News)

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26 de Janeiro de 2022