“Deus, diante dos nossos fechamentos, não retrocede: não coloca freios no seu amor” afirmou o Papa no Angelus de domingo. Os últimos dias têm sido dedicados aos comunicadores, aos religiosos e leigos consagrados. Na Audiência Geral, abordou a “comunhão dos santos”.
Aos comunicadores: contrastar as fake news, mas não isolar os que têm dúvidas
Dirigindo-se aos membros do consórcio internacional da média católica “Catholic fact-checking”, o Papa Francisco convidou a refletir sobre o estilo dos comunicadores cristãos diante de certas questões relacionadas com a pandemia.
Francisco lembrou que o objetivo do Consórcio é “estar juntos pela verdade”. Estar juntos, o trabalho em rede, disse, é fundamental no campo da informação e, num tempo de divisões, já é um testemunho. Hoje, além da pandemia, observou, a “infodemia” espalhou-se, ou seja, “a distorção da realidade baseada no medo, que na sociedade global faz ecos e comentários sobre notícias falsas ou mesmo inventadas”.
O comunicador cristão faz seu o estilo evangélico, constrói pontes, é um artífice da paz e sobretudo na busca da verdade. A sua abordagem não é de oposição às pessoas, ele não assume atitudes de superioridade, ele não simplifica a realidade, para não cair num fideísmo do estilo científico”, afirmou.
A verdade para o cristão, continuou o Papa, não se trata apenas de coisas individuais, mas de toda a existência e também inclui significados relacionais como “apoio, solidez, confiança”. E o único “verdadeiramente confiável e digno de confiança, com quem se pode contar, que é ‘verdadeiro’, é o Deus vivo”. E conclui indicando novamente um estilo preciso de comunicação:
Trabalhar ao serviço da verdade significa, portanto, buscar o que favorece a comunhão e promove o bem de todos, não o que isola, divide e se opõe”.
Novo abraço entre o Papa e Edith Bruck
No Dia da Memória do Holocausto, o Papa encontrou-se pela segunda vez com Edith Bruck, escritora húngara, sobrevivente de Auschwitz. Mais de uma hora de conversa, entre anedotas, recordações e troca de presentes, na presença da sua assistente Olga e do diretor do L’Osservatore Romano, Andrea Monda.
Edith Bruck, 90 anos de idade, é uma preciosa testemunha do nosso tempo. Perante o presente do Papa, um xaile de lã, ficou comovida pela ternura de um homem que nunca escondeu a sua admiração por ela e com quem, como ela diz frequentemente, estabeleceu uma relação de amizade feita de cartas e telefonemas.
O tema central do encontro foi a memória e a importância de a transmitir a esta nova geração de jovens, que desconhece a história e é atormentada pelos fantasmas do racismo e do anti-semitismo que parecem emergir também da web. “Ambos sublinharam o valor inestimável de transmitir à geração mais jovem a memória do passado, também nos seus aspectos mais dolorosos, para não cair novamente nas mesmas tragédias”, relata a Sala de Imprensa vaticana.
A escritora ofereceu ao Papa um pão trançado, cozido em casa. É esse “pão perdido”, o título do seu famoso romance, que a sua mãe cozinhava pouco antes de ser levada pelos nazis, que agora foi apresentado ao Papa como “o pão reeencontrado”. O símbolo, provavelmente, de uma serenidade recuperada apesar de ser viva a memória do mal vivido.
Angelus: diante dos nossos fechamentos, Deus não coloca freios no seu amor
A reflexão do Papa Francisco no Angelus deste IV Domingo do Tempo Comum versa sobre o acolhimento a Deus e aos seus desígnios, e parte do Evangelho de Lucas proposto pela Liturgia do dia, que “narra a primeira pregação de Jesus na sua cidade, Nazaré”, e “o êxito foi amargo”, encontra “incompreensão e também hostilidade”.
Nesta passagem, os conterrâneos de Jesus recusam-no porque Ele não realiza milagres. Jesus pronuncia a célebre frase: “Nenhum profeta é bem recebido na sua terra”. Então porque foi Ele àquela cidade?
Ele, diante dos nossos fechamentos, não retrocede: não coloca freios no seu amor. Vemos um reflexo disso naqueles pais que têm consciência da ingratidão dos seus filhos, mas nem por isso deixam de amá-los e de fazer-lhes o bem. Deus é assim, mas num nível muito mais elevado. E hoje ele convida-nos também a acreditar no bem, a não deixar de fazer o bem.”
“O Senhor pede uma mente aberta e um coração simples”, pois a pessoa não perde “a capacidade de surpreender-se, de maravilhar-se”. Deus convida a “nos purificarmos no rio da disponibilidade e em muitos banhos saudáveis de humildade. É preciso humildade para encontrar Deus, para deixar-se encontrar por Ele”.
Depois do Angelus, o Papa Francisco lembrou as pessoas vítimas da Lepra e fez votos “para que não lhes falte apoio espiritual e cuidados de saúde”. Deixou ainda uma saudação aos salesianos e salesianas, evocando a festa de São João Bosco, “grande Santo, pai e mestre da juventude”.
Ano Novo Lunar: paz, saúde e uma vida serena
“Que no novo ano todos possam desfrutar de paz, saúde e uma vida serena e segura”. Este foi o desejo expresso pelo Papa lembrando que 1 de fevereiro é o início do Ano Novo Lunar celebrado em todo o Extremo Oriente, assim como em várias partes do mundo.
Francisco dirige a sua cordial saudação nesta ocasião, destacando a beleza que se cria “quando as famílias encontram a oportunidade de se reunir e viver juntas momentos de amor e alegria”. E acrescenta: “Infelizmente, muitas famílias não poderão se reunir este ano devido à pandemia. Espero que em breve possamos superar a provação”.
Que, graças à boa vontade dos indivíduos e à solidariedade dos povos, toda a família humana possa alcançar com renovado dinamismo os objetivos de prosperidade material e espiritual”.
Tet, o “Ano Novo Lunar” é a festividade tradicional mais importante para os vietnamitas, mas também para a China, Mongólia, Coreia, Malásia, Singapura e Filipinas. A data muda a cada ano, mas é sempre entre 21 de janeiro e 20 de fevereiro.
Vídeo do Papa: um obrigado às religiosas e consagradas
Na intenção de oração deste mês de fevereiro, o Papa Francisco pede para rezar de maneira especial pelas religiosas e consagradas.
Nesta edição, que contou com o apoio e a colaboração da União Internacional das Superioras Gerais (UISG), Francisco valoriza o papel das mulheres que se dedicam à vida consagrada.
“O que seria da Igreja sem as religiosas e as leigas consagradas? Não se pode compreender a Igreja sem elas”, diz o Papa, convidando a rezar pelas 630 mil religiosas católicas no mundo, segundo as estatísticas publicadas pela Agência Fides em 2021.
Encorajo todas as consagradas a discernir e a escolher o que convém para a sua missão diante dos desafios do mundo em que vivemos. Exorto-as a continuar trabalhando especialmente junto dos pobres, dos marginalizados, de todos os que estão escravizados pelos traficantes; peço-vos especificamente que atuem sobre estes problemas.”
“Obrigado por quem são, pelo que fazem e pelo modo como o fazem”, conclui Francisco.
Institutos Seculares: a fraternidade derrota o vírus do individualismo
No Dia da Vida Consagrada (2 de fevereiro), o Papa Francisco enviou uma carta a Jolanta Szpilarewicz presidente da Conferência Mundial dos Institutos Seculares recordando o 75° aniversário da Constituição Apostólica Provida Mater Eclesia. Neste documento, escreveu Francisco, Pio XII “reconheceu a forma de testemunho que, especialmente desde as primeiras décadas do século passado, estava a espalhar entre católicos leigos particularmente comprometidos”.
Sejam animados, caros membros dos Institutos Seculares, pelo desejo de viver uma ‘santa secularidade’, porque vocês são uma instituição leiga. São um dos carismas mais antigos e a Igreja precisará sempre de vocês”.
“A natureza específica do carisma dos Institutos Seculares chama-os a serem radicais e ao mesmo tempo livres e criativos para receber do Espírito Santo a forma mais apropriada de viver o seu testemunho cristão. Vocês são institutos, mas nunca se institucionalizem!”.
Por fim Francisco, afirma ainda: “A secularidade consagrada é chamada a colocar em prática as imagens evangélicas do fermento e do sal. Sejam um fermento de verdade, bondade e beleza, fermentando comunhão com os irmãos e irmãs ao seu redor, pois somente através da fraternidade o vírus do individualismo pode ser derrotado. E sejam o sal que dá sabor, porque sem sabor, desejo e maravilha, a vida permanece insípida e as iniciativas permanecem estéreis”.
Audiência Geral: a comunhão dos santos mantém unida a comunidade de fiéis na terra e no Céu
“São José e a comunhão dos santos” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira, 2 de fevereiro, realizada na Sala Paulo VI.
Quando confiamos plenamente na intercessão de um santo, ou ainda mais na Virgem Maria, a nossa confiança só tem valor em relação a Cristo. O vínculo que nos une a Ele e entre nós tem um nome específico: “comunhão dos santos”.
Não são os santos que fazem milagres, mas apenas a graça de Deus que atua através deles. Os milagres são feitos por Deus, pela graça de Deus que age através de uma pessoa santa, uma pessoa justa. Isso deve ser claro. Há gente que diz: “Eu não acredito em Deus, mas acredito neste santo”. Não, está errado. O santo é um intercessor, aquele que intercede por nós e o Senhor dá-nos a graça por meio do Santo.”
Então, o que significa a “comunhão dos santos”? Perguntou o Papa. “A comunhão dos santos é a Igreja”. Isso significa que a Igreja “é a comunidade dos pecadores salvos. Ninguém pode ser excluído da Igreja, somos todos pecadores salvos. A nossa santidade é o fruto do amor de Deus manifestado em Cristo, que nos santifica amando-nos na nossa miséria e salvando-nos dela. Graças a Ele formamos sempre um só corpo, diz São Paulo, no qual Jesus é a cabeça e nós somos os membros”.
Graças à comunhão dos santos sentimo-nos próximos dos Santos e Santas que são os nossos padroeiros. Esta é a confiança que nos deve animar sempre a recorrer a eles em momentos decisivos da nossa vida”.
No final da audiência, Francisco lembrou o apelo dos bispos birmaneses pela paz no Myanmar, país asiático que sofreu um golpe militar há um ano e que mergulhou o país numa profunda crise humanitária. “Não podemos olhar para o outro lado diante do sofrimento de tantos irmãos e irmãs”, disse o Papa.
O Santo Padre lembrou ainda o início dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Inverno de Pequim: “O verdadeiro sucesso do desporto é quando cria uma sociedade mais aberta e inclusiva, tornando os atletas, sobretudo os atletas paraolímpicos e refugiados, verdadeiros construtores da paz”.
Papa aos consagrados: abrir os braços a Cristo e aos irmãos, sem deixar roubar a alegria
Três verbos e muitos questionamentos marcaram a homilia do Papa Francisco no dia em que a Igreja celebra a Vida Consagrada, na Festa da Apresentação do Senhor.
Na sua reflexão, o Pontífice inspirou-se no Evangelho do dia, nos dois anciãos Simeão e Ana, de modo especial em três verbos que acompanham a narração: mover, ver e acolher.
Em primeiro lugar, Simeão é movido pelo Espírito: faz arder no seu coração o desejo de Deus.
“Isto é o que faz o Espírito Santo”, explicou Francisco: torna-nos capazes de vislumbrar a presença de Deus e a sua obra, não nas grandes coisas, mas na pequenez e na fragilidade. O Papa então questionou os fiéis, de particular modo os consagrados:
Deixamo-nos mover principalmente pelo Espírito Santo ou pelo espírito do mundo? O Espírito Santo ou a paixão do momento?”
Francisco advertiu para o risco de pensar na consagração em termos de resultados, metas, sucesso, à procura de espaços, de visibilidade, de números. Por trás da aparência de boas obras, podem ocultar-se a traça do narcisismo ou o frenesim do protagonismo.
A renovação passa também pelos olhos, como aconteceu com Simeão, que viu a salvação ao pegar o Menino nos braços:
E nós? Que veem os nossos olhos? Que visão temos da vida consagrada? Muitas vezes, afirmou, o mundo a vê como um «desperdício», uma realidade do passado, qualquer coisa de inútil; o mesmo pode acontecer com os próprios consagrados, que mantêm os olhos voltados para trás, saudosos daquilo que já não existe.”
“Abramos os olhos: através das crises, dos números que faltam, das forças que esmorecem, o Espírito convida-nos a renovar a nossa vida e as nossas comunidades.”
Por fim, o terceiro verbo: acolher. Simeão acolhe Jesus nos braços e pronuncia palavras de louvor. “Deus colocou o seu Filho nos nossos braços, porque o essencial, o centro da fé é acolher Jesus”, disse o Papa.
Se aos consagrados faltam palavras que bendizem Deus e os outros, se falta a alegria, se esmorece o entusiasmo, se a vida fraterna é apenas fadiga, é porque os seus braços já não estreitam Jesus.
O Papa concluiu com palavras de encorajamento para renovar a consagração: “Mesmo que experimentemos fadiga, cansaço e frustrações, façamos como Simeão e Ana, que esperam com paciência na fidelidade do Senhor e não se deixam roubar a alegria do encontro com Ele. Coloquemo-Lo no centro e continuemos para diante com alegria.”
JM (com recursos jornalísticos do portal de notícias Vatican News)