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Juventude/Vida Consagrada: “Acreditas que Deus sabe o que é o melhor para ti? Então de que tens medo?”

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A Igreja celebra hoje o 26.º Dia Mundial da Vida Consagrada (2 de fevereiro). O Departamento da Juventude partilha o testemunho vocacional da Maria, noviça da Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, que nos desafia a não ter medo.

Foi esta a pergunta que mais me desinstalou no início do meu caminho de discernimento. O padre que me acompanhava, diante de todas as questões e preocupações que lhe colocava – sobre os mais variados temas – apanhou-me de surpresa com esta pergunta tão simples: “Maria, acreditas que Deus sabe o que é o melhor para ti?”. Respondi que sim, talvez mais automaticamente do que outra coisa. “Então do que tens medo?”, disse-me ele, “pergunta-Lhe o que sonhou para a tua vida”.

Fui para casa a pensar nessa pergunta: “acreditava, de verdade, que Deus tinha pensado em algo concreto e único para mim?”. Rapidamente percebi que o meu “sim” estava cheio de “mas” e tive de assumir que, apesar de tudo, a força com que acreditava nisso era ainda muito pequenina. Certamente havia uma parte que não dependia só de mim. A partir daí comecei a trazer esta questão para a minha oração com maior seriedade. O que teria Deus pensado para mim? Fosse o que fosse, eu desejava sabê-lo.

Sem que eu percebesse, o Senhor foi-me respondendo a esta pergunta. Na naturalidade do dia-a-dia (no encontro com outros, nas actividades da universidade, nos tempos livres ou em simples conversas com amigos), Deus foi-me falando ao coração. Nas conversas de acompanhamento espiritual e no silêncio da oração fui aprendendo a identificar e interpretar os pequenos sinais de Deus e a forma como o Senhor ia fazendo um caminho comigo. A verdade é que, sem pressas e sem forçar nada, Jesus foi-me atraindo a Si e ao seu modo concreto de viver e estar no mundo.

Depois de terminar o Mestrado de Gestão, trabalhei numa consultora, onde o ritmo de trabalho era muito exigente. Trabalhava até muito tarde e até em alguns fins de semana, mas a verdade é que gostava muito do que fazia! Ao mesmo tempo, por outro lado, sentia que Jesus me chamava a mais. Faltava-me alguma coisa… e isso manifestava-se no desejo, cada vez mais frequente, de simplesmente estar diante d’Ele, na oração, na Adoração ou na celebração da Eucaristia. Com o ritmo de vida que tinha, não era fácil encontrar tempo e espaço para tudo isso. Fazia-me cada vez menos sentido esta divisão porque na verdade, no meu coração, já não tinha muitas dúvidas do que era fundamental para a minha vida.   

A possibilidade de o Senhor me chamar à vida Religiosa, que até então nunca tinha estado nas minhas possibilidades, foi surgindo gradualmente. No início não foi fácil e senti uma enorme resistência: tinha muitos sonhos e planos que não eram compatíveis com esse tipo de vida. Mas, com o tempo, essa possibilidade foi passando de uma simples sugestão a um desejo cada vez mais concreto: inicialmente apenas sabendo que queria entregar toda a minha vida a Deus, sem saber “onde” nem “como”, e mais tarde percebendo que isso passava por ser por me consagrar totalmente a Deus.

Nessa altura, em 2018, não conhecia propriamente nenhuma irmã com quem tivesse grande relação e por isso fui tentando informar-me sobre algumas congregações e os seus carismas. Nesse processo soube de um projecto de voluntariado das irmãs Escravas do Sagrado Coração de Jesus chamado PROACIS e, sem saber bem como, fiz a formação de voluntária, tirei uma licença sem vencimento e fui para Timor-Leste durante 4 meses. Durante esse tempo vivi com uma comunidade de Escravas e participava na sua missão. Aí, uma vez mais, Jesus foi-me atraindo para este modo de vida tão semelhante ao Seu: uma vida toda para Deus, em comunidade e ao serviço. Para além disso, ali, do outro lado do mundo, com irmãs que eu nunca tinha visto antes, sentia-me estranhamente em casa. Em Timor fui percebendo como Jesus me dizia: “este é o teu modo de ser feliz! Este é o caminho que Eu sonhei para ti.”.

Quando voltei para Portugal tudo me parecia já bastante claro. Durante um retiro em silencio (Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola) percebi que Deus me chamava à vida religiosa e, concretamente, a ser Escrava do Sagrado Coração de Jesus. Passados dois meses, em fevereiro de 2019, entrei na Congregação.

Durante estes últimos três anos, já depois de entrar, esta pergunta continua a acompanhar-me: “Maria, acreditas que Deus sabe o que é o melhor para Ti? Então de que tens medo?”. Hoje sinto que respondo de outra forma… não por ter feito muitas coisas, simplesmente por ter permitido que o próprio Senhor mo fosse comprovando. Hoje a minha resposta não é puramente automática, mas vem da experiência concreta de que, em cada dia, sempre que Lhe digo “sim”, experimento a Sua Alegria, a Alegria verdadeira.

Deus sabe, realmente, o que é melhor para cada um! Só precisamos de Lhe perguntar! Viver nesta dinâmica nem sempre é fácil, mas é, sem dúvida, uma graça que precisamos de pedir.

Maria, noviça da Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus

O Noviciado

O noviciado é um tempo de formação, especialmente espiritual, em que se começa a participar da vida da Congregação. Tem como objetivos: a conformação dos critérios de vida com os do Evangelho, o aprofundamento da sua experiência do amor de Cristo e o crescimento no desejo de se consagrar a Ele no Instituto, para partilhar a Sua vida e missão.

Durante esta etapa, vai confirmando a autenticidade da sua vocação e adquirindo a identidade de Escrava. Esta etapa tem uma duração de 2 anos a 2 anos e meio. Atualmente, tanto o Postulantado como o Noviciado realizam-se em Palmela.

Ao terminar o Noviciado, a pessoa entrega-se a Deus pela Profissão Temporal dos votos de castidade, pobreza e obediência. Estes primeiros votos fazem-se por um período de três anos.

 

As Escravas do Sagrado Coração de Jesus

A Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus nasceu em finais do século XIX, em Espanha.

A intenção das suas fundadoras, Santa Rafaela Maria e Madre Pilar, foi criar uma família com uma missão particular na Igreja: reparar o Coração de Jesus, com uma vida centrada na Eucaristia, através da sua celebração e adoração.

A missão centra-se essencialmente na educação evangelizadora, em colégios, nas paróquias, em escolas e bairros, em residências universitárias e em casas de oração.

Hoje existem cerca de 1000 Escravas, espalhadas por 130 comunidades, em 23 países.

Sabe mais aqui.

Departamento da Juventude da Diocese de Setúbal

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02 de Fevereiro de 2022