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A Palavra do Papa: a âncora de salvação, a correção fraterna, o mar das surpresas e a ferida profunda

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Os últimos dias do Papa foram dedicados à fraternidade humana, com apelos à paz, ao cuidado e denuncias ao tráfico humano, especialmente de mulheres. “A fé cristã não é uma forma de exorcizar o medo da morte, pelo contrário, ajuda-nos a enfrentá-la” disse ainda, na Audiência Geral.

Papa: a fraternidade é a âncora de salvação da humanidade

No II Dia Internacional da Fraternidade Humana, estabelecido em 2020 pelas Nações Unidas, Francisco reafirmou que a fraternidade é o único caminho possível para a humanidade ferida por guerras.

A videomensagem foi enviada aos participantes da mesa-redonda realizada na Expo Dubai 2020, com a participação de representantes da Santa Sé e de altos expoentes religiosos da Universidade Al-Azhar, do Cairo. “Ou somos irmãos ou tudo desaba”, afirma.

A pandemia, avança Francisco, demonstrou que ninguém se salva sozinho. Somos todos diferentes, mas todos iguais em dignidade e todos vivemos “Debaixo do mesmo céu”, que é precisamente o tema desta segunda edição.

Segundo o Papa, mesmo “debaixo do mesmo céu”, quem crê em Deus tem um papel a mais a desempenhar, que é ajudar os nossos irmãos a elevar o olhar e a oração ao céu. 

Elevemos os olhos ao Céu, porque quem adora a Deus com coração sincero ama também o próximo.”

O percurso da fraternidade é longo e difícil, constata Francisco, mas é a âncora de salvação para a humanidade. Aos muitos sinais ameaçadores, aos tempos sombrios e à lógica do conflito, é preciso responder com o sinal da fraternidade, convidando o outro a empreender um caminho comum.

Francisco: “Não se pode ficar sepultado pelo mal feito”

“Jamais se deve reduzir o outro pelo seu erro”, porque cometer um erro “é um episódio, um segmento da vida, não a condição única e definitiva”. Pelo contrário, “é necessário ajudar cada pessoa, com amor, a ir além do seu próprio erro”.

Estas são palavras do Papa Francisco na introdução do livro-entrevista “Passiamo all’altra riva” (Passemos para a outra margem) do padre Benito Giorgetta com Luigi Bonaventura, um ex-mafioso agora colaborador da justiça.

Francisco enfatiza sobretudo a importância da “correção fraterna” como um “gesto de amor pelo irmão”. Isto não significa – esclarece – “sentir-se superior ou melhor, mas socorrer e ajudar o outro a superar as suas dificuldades, oferecer o ombro para o seu problema porque naquele momento ele é fraco, frágil e se o seu ombro não estiver ao seu lado, ele cai”.

Além disso, acrescenta, “corrigir significa ‘segurar com’: não censurar os outros pelos seus pecados, mas, ficando próximo, ajudá-los a superá-los, caminhando juntos em direção à cura ou ao seu início”. Com efeito, “o outro será curado porque sentiu o seu amor e sentiu um desejo de amar”. Se deixarmos a outra pessoa no seu erro, sem corrigi-la, tornamo-nos co-responsáveis, se não o ajudarmos, isso equivale a uma omissão de socorro”.

Para Francisco, “as respostas-testemunhos de Luigi Bonaventura, o ex-mafioso, são uma rica exposição da vida atormentada de uma pessoa que, doutrinada e imbuída de máfia, agiu criminosamente, mas são também um vislumbre de luz e vida nova porque, tendo abandonado a lógica do abuso, Luigi abriu-se a uma nova visão”.

Pesar do Papa pelo atentado num campo de refugiados no Congo

Num telegrama assinado pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, dirigido ao presidente Félix Tshisekedi, o Papa expressa solidariedade às vítimas do atentado terrorista contra o centro de refugiados de Ituri “Plaine Savo”, na República Democrática do Congo, um “ato atroz e bárbaro”.

De acordo com a comunicação social, o ataque foi perpetrado por milicianos armados e causou pelo menos 53 mortos e 36 feridos, entre eles numerosas mulheres e crianças.

O Santo Padre condena mais uma vez com veemência este ato atroz e bárbaro que é fonte de grande sofrimento e desolação para o país”, lê-se no texto.

Francisco pede a Deus que “acolha os que morreram na sua paz, luz e dê conforto aos que choram a sua perda”. Em seguida, o Papa “implora os dons divinos de cura e consolo” para os feridos e pede ao Senhor para que dê “coragem e força” para aqueles que os assistem.

Angelus: com Jesus se navega no mar da vida, sem medo

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus este domingo, 6 de fevereiro, com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro, em que a liturgia levava às margens do Lago da Galileia.

“A multidão aglomerou-se ao redor de Jesus enquanto alguns pescadores desiludidos, incluindo Simão Pedro, lavam as suas redes depois de uma noite ruim de pesca. Eis que Jesus entra no barco de Simão; depois, o convida a ir e a lançar de novo as redes”, disse o Pontífice, convidando-nos refletir sobre estas duas ações de Jesus: primeiro ele entra no barco e depois convida a avançar para o lago.

Segundo o Santo Padre, Jesus entra no barco de Simão “para ensinar” a navegar e a pescar “no mar das atividades quotidianas”, nas “noites de redes vazias”: “quantas vezes nós também ficamos com uma sensação de derrota, enquanto desilusão e amargura nascem no coração. Dois carunchos perigosos”.

“O que o Senhor faz então? Escolhe entrar no nosso barco”, pois “de lá ele quer anunciar o Evangelho”, frisou o Papa.

O Senhor ama fazer isso: o Senhor é o Senhor das surpresas, dos milagres nas surpresas; entrar no barco de nossa vida quando não temos nada para oferecer-lhe; entrar em nossos vazios e enchê-los com sua presença; usar a nossa pobreza para anunciar sua riqueza, nossas misérias para proclamar sua misericórdia. Lembremo-nos disso: Deus não quer um navio de cruzeiro, basta-lhe um pobre barco “em ruínas”, desde que o acolhamos, sim acolhê-lo. Não importa qual barco, mas acolhê-lo.”

Assim, o Senhor reconstrói a confiança de Pedro. Entrando no barco, depois de ter pregado, disse-lhe: “Avance para águas mais profundas”.

“Se acolhermos o Senhor em nosso barco, poderemos avançar”, sublinhou o Papa, reiterando que “com Jesus se navega no mar da vida sem medo, sem ceder à desilusão quando nada se pesca e sem se render ao ‘não há mais nada que possa ser feito”.

Aceitemos o convite: afastemos o pessimismo e a desconfiança e partamos com Jesus! Até o nosso pequeno barco vazio testemunhará uma pesca milagrosa.”

No domingo, celebrava-se o Dia Internacional contra a Mutilação Genital Feminina. No fim da oração, o Pontífice recordou que esta prática, difundida em várias regiões do mundo, “humilha a dignidade da mulher e atenta gravemente a sua integridade física”.

Lembrou também o Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas, “uma ferida profunda” e um “flagelo da humanidade”.

“Expresso o meu pesar e exorto todos aqueles que têm a responsabilidade de agir de forma decisiva para impedir tanto a exploração quanto as práticas humilhantes que afligem de modo particular as mulheres e meninas”, disse ainda o Papa.

Por fim, recordou o Dia pela Vida celebrado na Itália, o menino marroquino Rayan que faleceu depois de ficar cinco dias dentro de um poço e John, um migrante ganense de 25 anos que veio para a Itália, mas ao saber que estava com cancro voltou para o seu país para morrer nos braços do seu pai.

Tráfico humano: “uma ferida profunda”

“Cuidar, juntos, homens e mulheres”, foi o apelo deste Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas, na terça-feira, 8 de fevereiro:

“Juntos podemos fazer crescer uma economia do cuidado e combater com todas as forças toda forma de exploração do tráfico de pessoas”, disse Francisco na video-mensagem para o Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas, promovido pela União Internacional das Superioras Gerais (UISG) e pela União dos Superiores Gerais (USG).

Segundo Francisco, “a organização das sociedades em todo o mundo ainda está longe de refletir claramente o facto de que as mulheres têm a mesma dignidade e direitos dos homens. Infelizmente, nota-se que «duplamente pobres são as mulheres que padecem situações de exclusão, maus-tratos e violência, porque frequentemente têm menores possibilidades de defender os seus direitos».”

O Tráfico de pessoas é violência! A violência sofrida por toda a mulher e menina é uma ferida aberta no corpo de Cristo, no corpo de toda a humanidade, é uma ferida profunda que diz respeito também a cada um de nós”, sublinhou o Papa.

Francisco encoraja “toda a mulher e toda menina que se compromete com a transformação e o cuidado, na escola, na família e na sociedade. Encorajo cada homem e cada menino a não ficar de fora desse processo de transformação, lembrando o exemplo do Bom Samaritano: um homem que não teve vergonha de se inclinar sobre o seu irmão e cuidar dele”.

Audiência Geral: pensar na morte ajuda-nos a olhar a vida

“São José, padroeiro da boa morte” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral d quarta-feira, 9 de fevereiro.

Francisco “aprofundou a devoção especial que o povo cristão sempre teve por São José como padroeiro da boa morte”. Essa devoção nasceu “do pensamento de que José morreu com a ajuda da Virgem Maria e de Jesus, antes que ele deixasse a casa de Nazaré”.

Segundo Francisco, “procuramos de todas as maneiras banir o pensamento da nossa finitude, iludindo-nos em pensar que podemos retirar o poder da morte e afastar o temor. A fé cristã não é uma forma de exorcizar o medo da morte, pelo contrário, nos ajuda a enfrentá-la. Antes ou depois todos nós passaremos por aquela porta”.

A seguir, o Papa disse que “verdadeira luz que ilumina o mistério da morte provém da ressurreição de Cristo. Existe uma certeza, Cristo ressuscitou, Cristo está vivo entre nós e esta luz nos espera atrás daquela porta sombria da morte”.

“Prezados irmãos e irmãs, é apenas através da fé na ressurreição que podemos olhar para o abismo da morte sem nos deixarmos dominar pelo medo. Não só: mas também podemos atribuir à morte um papel positivo. De facto, pensar na morte, iluminada pelo mistério de Cristo, ajuda-nos a olhar para a vida com novos olhos”, disse ainda o Papa.

Não tem sentido acumular se um dia morreremos. O que precisamos acumular é caridade, a capacidade de partilhar, de não ficar indiferentes às necessidades dos outros”, afirmou.

O Papa denunciou um problema social do nosso tempo que é o “planeamento da morte” com intuito de “acelerar a morte dos idosos” não lhe dando a medicação que necessitam: “isto é desumano: isto não os ajuda, isto é levá-los à morte mais rapidamente. Isso não é humano nem cristão. Os idosos devem ser tratados como um tesouro da humanidade: eles são a nossa sabedoria.”

No final, Francisco recordou que na próxima sexta-feira, dia 11, celebra-se o Dia Mundial do Doente, recomendando-lhes receber “atendimento médico e acompanhamento espiritual” e pedindo para rezar por eles e seus cuidadores e famílias.

Fez ainda um novo apelo à paz na Ucrânia: “Não esqueçamos – disse – a guerra é uma loucura!” Exortou as comunidades a continuar “a implorar ao Deus da paz para que as tensões e ameaças de guerra sejam superadas através de um diálogo sério”.

Equador, pesar do Papa pelas vítimas das enchentes em Quito

Num telegrama ao bispo da capital equatoriana, Francisco recorda as vítimas e os sobreviventes da lama provocada pelas fortes chuvas, a 31 de janeiro.

No telegrama, divulgado esta, assinado pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, enviado ao arcebispo de Quito, dom Alfredo José Espinoza Mateus, o Papa afirma que ficou “profundamente entristecido ao saber dos desastres naturais que estão a afetar essa amada nação e que causaram muitas vítimas e danos materiais”. O Santo Padre “oferece fervorosos sufrágios pelo descanso eterno dos falecidos”, afirma o texto.

O Papa Francisco “pede ao Senhor que console os que estão em luto e os que sofrem nestes momentos de dor e incerteza, e que sustente com a sua graça todos aqueles que estão comprometidos na busca dos desaparecidos e no processo árduo de reconstrução das áreas devastadas”.

Por fim, o Santo Padre estende a sua oração à Virgem da Apresentação de El Quinche para que “interceda diante de seu filho Jesus Cristo por todos os filhos e filhas do Equador atingidos por esta catástrofe”, e concede com afeto ao povo equatoriano a “consoladora bênção apostólica, como sinal de proximidade espiritual”.

JM (com recursos do portal Vatican News)

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10 de Fevereiro de 2022