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A Palavra do Papa: a proximidade ao estilo de Deus, a visão renovada, as raízes das árvores e a profecia da não-violência

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A intensa semana do Papa passou com constantes e firmes apelos à paz, convocando uma jornada de oração e jejum para a Quarta-Feira de Cinzas. Na sua Mensagem para a Quaresma, afirma: “Não nos cansemos de semear o bem”.

O Papa: quatro “proximidades”, os pilares para uma vida sacerdotal no estilo de Deus

A proximidade a Deus, ao bispo, entre os presbíteros e ao povo: estas são as quatro atitudes “que dão solidez à pessoa” do sacerdote, apresentadas por Francisco no Simpósio “Por uma teologia fundamental do sacerdócio”, promovido pela Congregação para os Bispos.

Num articulado discurso, o Papa Francisco refere que o sacerdote “mais do que receitas ou teorias, precisa de instrumentos concretos para enfrentar o seu ministério, a sua missão e a sua vida quotidiana”.

A lógica da proximidade, esclarece Francisco, permite ao sacerdote “quebrar todas as tentações de fechamento, de autojustificação e de fazer uma vida de ‘solteiro'”, porque o convida a apelar para os outros “para encontrar o caminho que leva à verdade e à vida”.

São quatro dimensões que nos permitem, conclui, “administrar as tensões e desequilíbrios com que temos que lidar todos os dias”, uma “boa escola para ‘jogar em campo aberto’, onde o sacerdote é chamado, sem medo, sem rigidez, sem reduzir ou empobrecer a missão”. Não são “uma tarefa a mais”, mas “um dom” que o Senhor nos dá “para manter viva e frutífera a vocação”.

Não “discursos intermináveis” e teorias “sobre o que deve ser a teologia do sacerdócio”, mas quatro “proximidades”, a Deus, ao bispo, entre os presbíteros e ao povo, que “podem ajudar de forma prática, concreta e esperançosa a reavivar o dom e a fecundidade que um dia nos foram prometidos” como presbíteros e que nos apontam para a “proximidade no estilo de Deus, que está próximo com compaixão e ternura”.

Igrejas Orientais: a humanidade é campeã em fazer guerra, uma vergonha para todos

O Papa Francisco recebeu em audiência, os participantes do plenário da Congregação para as Igrejas Orientais, criada pelo Papa Bento XV.

O pontífice disse que Bento XV “denunciou a incivilidade da guerra como ‘massacre inútil’. A sua advertência foi ignorada pelos Chefes das Nações envolvidas na Primeira Guerra Mundial. Ignorado foi também o apelo de São João Paulo II para evitar o conflito no Iraque”.

Como neste momento, há tantas guerras por toda a parte, este apelo tanto dos Papas quanto dos homens e mulheres de boa vontade, não é ouvido. Parece que o maior prémio da paz deve ser dado às guerras: uma contradição. Estamos apegados às guerras. E isso é trágico. A humanidade, que se orgulha de avançar na ciência, no pensamento, em tantas coisas bonitas, retrocede ao tecer a paz. É campeã em fazer guerra. Isto é uma vergonha para todos: devemos rezar e pedir perdão por este comportamento.”

O Papa elogiou os trabalhos de evangelização das Igrejas Católicas Orientais “que constitui a identidade da Igreja em todas as suas partes, aliás, a vocação de cada batizado. E para a missão devemos escutar mais a riqueza das várias tradições”.

O Papa concluiu, convidando os participantes do plenário a estarem atentos “às experiências que podem prejudicar o caminho rumo à unidade visível de todos os discípulos de Cristo. O mundo precisa do testemunho da comunhão: se escandalizarmos com as disputas litúrgicas, estamos no jogo daquele que é o mestre da divisão”.

Papa: “Devemos aprender a ver com o coração”

Na manhã de sábado, o Santo Padre recebeu os membros da Associação francesa Voir Ensemble (Ver juntos) que reúne numerosas pessoas com deficiência visual que “desejam caminhar juntos para viver em fraternidade a alegria do Evangelho”.

Francisco iniciou o seu discurso propondo uma breve reflexão baseada na Palavra de Deus sobre o episódio do encontro de Jesus com o nascido cego, do Evangelho de João, “de acordo com o nome da Associação, Voir Ensemble”.

A primeira coisa a se notar – disse o Papa – é que o olhar de Jesus nos precede, é um olhar que chama ao encontro, que chama à ação, à ternura, à fraternidade”, acrescentando que “Hoje, infelizmente, estamos acostumados a perceber apenas o exterior das coisas, o aspeto mais superficial”.

Explicando a ação de Jesus diante do cego de nascimento afirma: “Este é o paradoxo: aquele cego, ao encontrar Aquele que é a Luz do mundo, torna-se capaz de ver, enquanto que aqueles que veem, apesar de encontrar Jesus, permanecem cegos, incapazes de ver. Este paradoxo muitas vezes percorre as nossas próprias vidas e as nossas formas de acreditar”.

Para ilustrar o Papa citou Saint-Exupéry, que no seu livro O Principezinho, escreveu: “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”.

Ver com o coração é ver o mundo e os nossos irmãos e irmãs através dos olhos de Deus. Jesus convida-nos a renovar a nossa maneira de ver as pessoas e as coisas.”

Angelus: “como é triste quando povos cristãos pensam em fazer guerra entre si”

No Angelus de domingo, o Papa Francisco falou sobre “as situações difíceis”, que são um teste para nós, ou seja, quando nos deparamos com aqueles que são inimigos e hostis para nós. Como agir? O exemplo vem diretamente de Jesus, quando diz “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam”.

E ainda mais concretamente: “A quem te ferir numa face, oferece a outra”. Para nós parece que o Senhor pede o impossível. “Mas será isso mesmo? Será que o Senhor realmente nos pede coisas impossíveis e injustas?”, pergunta-nos Francisco.

“Dar a outra face não significa sofrer em silêncio, ceder à injustiça. Jesus com a sua pergunta denuncia o que é injusto”, “a mansidão de Jesus é uma resposta mais forte do que a bofetada que recebeu”. “Isso é dar a outra face” e pondera:

Dar a outra face não é o recuo do perdedor, mas a ação de quem tem maior força interior, que vence o mal com o bem, que abre uma brecha no coração do inimigo, desmascarando o absurdo do seu ódio.”

Em seguida o Papa reflete sobre outro ponto: “É possível que uma pessoa venha a amar os seus inimigos? Se dependesse apenas de nós, seria impossível. Mas lembremos que quando o Senhor pede alguma coisa, Ele quer dá-la”.  Então Francisco nos ilumina afirmando: “O que devemos pedir-Lhe? O que Deus tem o prazer de nos dar? A força de amar, que não é uma coisa, mas é o Espírito Santo. Com o Espírito de Jesus, podemos responder ao mal com o bem, podemos amar aqueles que nos ferem. Isso é o que fazem os cristãos”.

“Como é triste quando as pessoas e povos orgulhosos de serem cristãos veem os outros como inimigos e pensam em fazer guerra entre eles!”, concluiu.

Audiência Geral: a velhice é um dom de sabedoria e maturidade para todas as idades da vida

O Papa Francisco iniciou esta quarta-feira um novo ciclo de catequeses, dedicado ao tema do sentido e o valor da velhice.  

Segundo o Papa, “esta idade da vida diz respeito a um verdadeiro “novo povo” que são os idosos”. “Nunca fomos tão numerosos na história da humanidade”, sublinhou Francisco e o “risco de ser descartados é ainda mais frequente: os idosos muitas vezes são vistos como um peso”. “Na primeira fase dramática da pandemia, foram eles que pagaram o preço mais alto. Já eram a parte mais frágil e transcurada”, frisou o Pontífice, aconselhando a ler a Carta do Direito dos Idosos.

A cultura dominante tem como modelo único o jovem adulto, ou seja, um indivíduo que é autodidata e que sempre permanece jovem. Mas é verdade que a juventude contém todo o sentido da vida, enquanto a velhice simplesmente representa o seu esvaziamento e a sua perda?

É verdade isto? Somente a juventude contém o sentido pleno da vida, e a velhice é o esvaziamento da vida, a perda da vida? A exaltação da juventude como a única idade digna de encarnar o ideal humano, aliada ao desprezo pela velhice vista como fragilidade, degradação ou deficiência, foi o ícone dominante do totalitarismo do século XX. Será que esquecemos isso?”

Segundo Francisco, “a aliança entre gerações, que restitui ao humano todas as idades da vida, é o nosso dom perdido e devemos recuperá-lo. Deve ser reencontrado nesta cultura do descarte e nesta cultura da produtividade”.

O Papa sublinhou que é importante a interlocução dos jovens com os idosos e dos idosos com os jovens. “Esta ponte será a transmissão da sabedoria na humanidade”, disse Francisco, esperando que essas reflexões sobre a velhice “sejam úteis a todos nós”.

Não nos esqueçamos que tanto na cultura familiar quanto na social, os idosos são como as raízes da árvore: eles têm toda a história ali, e os jovens são como flores e frutos. Francisco concluiu, dizendo que “se o suco não vier das raízes”, os jovens “nunca poderão florescer. Tudo o que há de bonito numa sociedade está relacionado às raízes dos idosos. O idoso não é um material de descarte, mas uma bênção para uma sociedade”.

Na Audiência geral desta quarta-feira o Papa Francisco falou da sua tristeza sobre o agravamento da situação na Ucrânia e convocou um Dia de oração e jejum pela paz:

“Convido a todos a fazerem no próximo 2 de março, Quarta-feira de Cinzas, um dia de jejum pela paz. Encorajo, de modo especial os crentes a se dedicarem intensamente à oração e ao jejum naquele dia. Que a Rainha da Paz preserve o mundo da loucura da guerra.”

Quaresma: “Não nos cansemos de semear o bem”

Foi publicada na manhã de quinta-feira, 24 de fevereiro, a mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2022. A reflexão sugerida pelo Santo Padre é sobre a exortação de São Paulo aos Gálatas: “Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos” (Gal 6, 9-10a). É um convite para perseverarmos.

No trecho do Apóstolo sobre a sementeira e a colheita o Papa diz: “Temos uma imagem que Jesus muito prezava. São Paulo fala-nos dum kairós: um tempo propício para semear o bem tendo em vista uma colheita. Qual poderá ser para nós este tempo favorável? Certamente é a Quaresma, mas é-o também a nossa inteira existência terrena, de que a Quaresma constitui de certa forma uma imagem. Francisco recorda também que “o primeiro agricultor é o próprio Deus, que generosamente continua a espalhar sementes de bem na humanidade”. Ponderando por fim:

Esta chamada para semear o bem deve ser vista, não como um peso, mas como uma graça pela qual o Criador nos quer ativamente unidos à sua fecunda magnanimidade.”

“Semear o bem para os outros – continua o Santo Padre – liberta-nos das lógicas mesquinhas do lucro pessoal e confere à nossa atividade a respiração ampla da gratuidade, inserindo-nos no horizonte maravilhoso dos desígnios benfazejos de Deus”.

Por isso, “não nos cansemos de rezar. Precisamos de rezar, porque necessitamos de Deus. A ilusão de nos bastar a nós mesmos é perigosa.”

E convida: “Não nos cansemos de extirpar o mal da nossa vida. Possa o jejum corporal, a que nos chama a Quaresma, fortalecer o nosso espírito para o combate contra o pecado. Não nos cansemos de pedir perdão no sacramento da Penitência e Reconciliação, sabendo que Deus nunca Se cansa de perdoar”. O Papa recorda também que não devemos nos cansar de fazer o bem “através duma operosa caridade para com o próximo. Durante esta Quaresma, exercitemo-nos na prática da esmola, dando com alegria”.

Quanto ao terceiro ponto das palavras do Apóstolo, o Papa falou sobre “A seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido”, aqui Francisco pede-nos perseverança, fé. Afirmando que “cada ano, a Quaresma vem recordar-nos que o bem, como aliás o amor, a justiça e a solidariedade não se alcançam duma vez para sempre; hão de ser conquistados cada dia”.

Papa: é necessária uma profecia da não-violência, um desafio para os jovens

Francisco passou mais de uma hora a conversar virtualmente com estudantes universitários da América do Norte, do Sul e Central. O drama da migração, a não-violência, as tecnologias, a relação com os idosos, o cuidado com a Criação e uma Igreja sinodal estiveram entre os principais temas do debate com os jovens.

O Papa Francisco dialogou durante mais de uma hora com os estudantes universitários de toda a América para o encontro sinodal “Construir Pontes Norte Sul”, pensado e organizado pelo Departamento de Teologia da Loyola University, um ateneu jesuíta em Chicago, em colaboração com a Pontifícia Comissão para a América Latina.

Partilhar ideias e iniciativas desenvolvidas em várias latitudes da América é o caminho para construir essas “pontes” que o título do encontro propõe. “Construir pontes é parte integrante da identidade cristã. Cristo vem para construir pontes entre o Pai e nós. Um cristão que não sabe construir pontes esqueceu o seu Batismo”, destacou o Pontífice.

A uma questão sobre a violência, o Papa responde: “Este é o maior desafio que se espera de vocês, a denúncia da violência”, disse aos jovens. “A violência destrói, a violência não constrói, e vemos isso nas ditaduras militares e não militares ao longo da história. Precisamos da profecia da não-violência. É muito mais fácil dar uma chapada quando se leva uma chapada do que dar a outra face”, disse o Pontífice, lembrando o exemplo de Gandhi. “A bondade – acrescenta o Papa – é uma das coisas humanas mais bonitas, nasce da ternura”.

JM (com recursos jornalísticos do portal Vatican News)

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25 de Fevereiro de 2022