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A Palavra do Papa: o despertar da apatia, a alma da empresa, os profetas contra a corrupção e o perdão pela guerra

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Nos últimos dias o Papa, aponta a Quaresma como um tempo para “acordar da letargia interior”. Condenou a violência e tudo o que gera barreiras entre as pessoas, da guerra ao bullying. “Senhor, perdoai-nos a guerra”, foi a oração que Francisco convidou a rezar na Audiência Geral.

Papa: na Quaresma, pedir a graça de despertar da letargia interior

O episódio da Transfiguração proposto pelo Evangelho deste II Domingo da Quaresma foi o tema da reflexão do Papa Francisco no Angelus dominical. O Pontífice comentou um detalhe da cena em que Jesus sobe o monte com Pedro, Tiago e João: a sonolência dos discípulos num momento tão importante, diante do espetáculo único de ver Jesus mudar de aspeto.

Lendo com atenção o Evangelho, explica o Papa, Pedro, João e Tiago adormecem antes que tenha início a Transfiguração, isto é, enquanto Jesus estava em oração. Tratou-se evidentemente de uma oração que se prolongou por muito tempo e os discípulos foram vencidos pelo cansaço. Francisco então questiona: este sono fora de lugar não se parece talvez com muitos dos nossos sonos que nos vêm durante momentos que sabemos ser importantes, como o convívio familiar depois de um dia de intenso trabalho?

O tempo forte da Quaresma é uma oportunidade neste sentido. É um período em que Deus nos quer acordar da letargia interior. Porque – lembremo-nos bem – manter acordado o coração não depende somente de nós: é uma graça e deve ser pedida.”

Os discípulos acordam justamente durante a Transfiguração, talvez devido à luz que emanava de Cristo. Assim como eles, acrescentou o Papa, também nós precisamos da luz de Deus, que nos faz ver as coisas de modo diferente; nos atrai, nos desperta, reacende o desejo e a força de rezar, de olhar para dentro de nós mesmos e de dedicar tempo aos outros.”

“Em nome de Deus, peço-vos: parem com este massacre!” disse com força no Angelus de domingo, nono aniversário de sua eleição como Papa. Recordou as vítimas de Mariupol, a “barbárie da matança de crianças, inocentes e civis indefesos”, pediu o fim daquela que inequivocamente definiu como “a inaceitável agressão armada” antes que “reduza as cidades a cemitérios”, agradeceu pela acolhida de tantos refugiados e pediu a todos para multiplicarem os momentos de oração pela paz.

Na parte final de sua mensagem, Francisco usou palavras claras e firmes sobre o uso distorcido da religião para justificar os massacres em curso: “Deus é o Deus só da paz, não é o Deus da guerra, e quem apoia a violência profana o seu nome”.

Ucrânia: quem governa não aprendeu a lição das tragédias do século XX

O Papa Francisco recebeu em audiência, na segunda-feira, na Sala Clementina, os membros da associação italiana “Alma para o social nos valores da empresa”, fundada há vinte anos com “a finalidade da promoção ética e social”.

“Hoje, mantendo o foco no bem comum, é necessário que a política e a economia, em constante diálogo entre si, se coloquem a serviço da vida, da vida humana e da vida da criação, nossa Casa comum”, ressaltou o Papa, acrescentando:

Para não falar do âmbito geopolítico-militar, onde várias guerras regionais e especialmente a guerra em andamento na Ucrânia, mostram que quem governa os destinos dos povos ainda não aprendeu a lição das tragédias do século XX.”

Os representantes “de pequenas e médias empresas, sabem como é difícil, neste contexto, desenvolver e criar emprego em conformidade com os valores éticos e de responsabilidade social”. “Mas não devemos nos desanimar e nos resignar”, frisou o Papa.

Por fim, um conselho do Papa aos membros da associação que querem ser “alma” no mundo da empresa: “Não se esqueçam de cuidar da sua própria alma, aquela que nos vem de Deus. E para isso é preciso resistir à tentação do ativismo e encontrar tempo para refletir, pensar e contemplar.”

Jovens: tecer laços para construir uma sociedade mais unida e fraterna

Francisco recebeu esta quarta-feira, no Vaticano, antes da Audiência Geral,  um grupo de estudantes e funcionários italianos da Escola “La Zolla” de Milão, por ocasião dos seus 50 anos de fundação.

No seu discurso, o Papa ressaltou que “é importante construir uma comunidade educativa na qual, junto com os professores, os pais possam ser protagonistas do crescimento cultural dos seus filhos” e destacou duas palavras: partilha e acolhimento.

Partilha: não se cansem de amadurecer junto com as pessoas ao vosso redor: colegas de escola, pais, educadores, amigos. Há uma necessidade de “trabalhar em equipa”, de crescer não apenas em conhecimento, mas também em tecer laços para construir uma sociedade mais unida e fraterna. Porque a paz, que tanto precisamos, se constrói artesanalmente através da partilha.”

Na segunda palavra, acolhimento, Francisco frisou que “o mundo de hoje coloca tantas barreiras entre as pessoas. Isto é perigoso, quando se descarta”. “Até mesmo na escola”, ouçam com atenção meninos e meninas, “na escola às vezes há alguns colegas que são um pouco estranhos, um pouco ridículos ou que vocês não gostam: nunca os descartem! Nem bullying: não, por favor, não bullying, nada, somos todos iguais. Mesmo que um companheiro seja um pouco desagradável, coitado, aproximo-me dele com simpatia. Construir sempre pontes, não descartar ninguém, por favor! Não descartar, pois as guerras sempre começam com o descarte. O resultado das barreiras são exclusões, descarte”.

No final do encontro, o Papa pediu a todos para pensar nos “muitos meninos, meninas e adolescentes que estão em guerra, que sofrem hoje na Ucrânia” e no fim rezou por eles com os jovens e famílias presentes.

Audiência Geral: “deter a guerra ou uma eventual catástrofe atómica nos extinguirá”

“A velhice, recurso para a juventude despreocupada” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, na Sala Paulo VI.

A Bíblia diz-nos que “Deus estava tão amargurado por causa da maldade generalizada dos homens, que se tinha tornado um estilo normal de vida, que pensou que tivesse cometido um erro ao criá-los e decidiu eliminá-los”.

Acontece também a nós, “esmagados por um sentimento de impotência contra o mal ou desmoralizados pelos “profetas de desventura”, pensar que era melhor não ter nascido”, disse o Papa, perguntando se “devemos dar crédito a certas teorias recentes que denunciam a espécie humana como um dano evolutivo para a vida no nosso planeta”. Segundo Francisco, “estamos sob pressão, expostos a tensões opostas que nos deixam confusos”.

Por um lado, temos o otimismo de uma juventude eterna, aceso pelo extraordinário progresso da tecnologia, que pinta um futuro cheio de máquinas mais eficientes e inteligentes do que nós, que curarão os nossos males e pensarão nas melhores soluções para não morrermos, o mundo dos robôs. Por outro, a nossa imaginação parece cada vez mais centrada na representação de uma catástrofe final que nos extinguirá. O que acontece como uma eventual guerra atómica! No “dia seguinte”, se ainda houver dias e seres humanos, teremos de começar do zero. Destruir tudo para começar do zero.

Não querendo banalizar o “tema do progresso”, o Papa disse que “parece que o símbolo do dilúvio está a ganhar terreno no nosso inconsciente. De resto, a atual pandemia coloca uma não insignificante hipoteca sobre a nossa representação despreocupada das coisas que importam, para a vida e o seu destino”.

A velhice está na posição adequada para compreender o engano desta normalização de uma vida obcecada pelo prazer e vazia de interioridade: vida sem pensamento, sem sacrifício, sem interioridade, sem beleza, sem verdade, sem justiça, sem amor. A sensibilidade especial dos idosos às atenções, pensamentos e afetos que nos tornam humanos deve voltar a ser uma vocação para muitos. E será uma escolha de amor dos idosos para com as novas gerações.

A bênção de Deus escolhe a velhice para este carisma tão humano e humanizador. Que sentido tem a minha velhice, cada idoso se deve perguntar. Nós, idosos, devemos ser profetas contra a corrupção, como Noé foi o profeta contra a corrupção de seu tempo, porque ele era o único em quem Deus confiava.”

Segundo o Papa, “Noé é o exemplo desta velhice generativa”, pois ele “cuida do futuro da geração que está em perigo. Constrói a arca do acolhimento e faz entrar homens e animais, cuidando da vida “em todas as suas formas”. “A vocação de Noé permanece sempre atual”, concluiu Francisco.

No fim, o Pontífice convidou os presentes a rezar juntos a Deus, Pai de Misericórdia, num veemente pedido de perdão ao Senhor pela guerra em curso na Ucrânia. Francisco leu uma oração escrita pelo arcebispo de Nápoles, D. Mimmo Battaglia, intitulada “Senhor, perdoai-nos a guerra”, à qual o Pontífice fez alguns acréscimos: 

Senhor, perdoai-nos a guerra.
Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de nós, pecadores.
Senhor Jesus, nascido sob as bombas de Kiev, tende piedade de nós.
Senhor Jesus, que morrestes nos braços da mãe num bunker em Kharkiv, tende piedade de nós.
Senhor Jesus, que vedes ainda as mãos armadas à sombra de vossa cruz, tende piedade de nós.
Perdoai-nos, Senhor,
perdoai-nos se, não contentes com os pregos com os quais transpassamos vossa mão, continuamos a beber do sangue dos mortos dilacerados pelas armas.
Perdoai-nos se estas mãos, que criastes para cuidar, se tornaram instrumentos de morte.
Perdoai-nos, Senhor, se continuamos a matar nosso irmão, perdoai-nos se continuamos como Caim a remover pedras de nosso campo para matar Abel. Perdoai-nos, Senhor, se continuamos a justificar a crueldade com nosso cansaço, se com nossa dor legitimamos a crueldade de nossas ações.
Senhor, perdoai-nos a guerra. Senhor, perdoai-nos a guerra.
Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, nós vos imploramos! Detenhais a mão de Caim!
Iluminai a nossa consciência,
que não seja feita a nossa vontade,
não nos abandoneis às nossas próprias ações!
Detenhais-nos, Senhor, detenhais-nos!
E quando tiverdes detido a mão de Caim, tende conta dele também. Ele é nosso irmão.
Ó Senhor, colocai um freio à violência!
Detenhais-nos, Senhor!
Amén.

JM (com recursos jornalísticos Vatican News)

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17 de Março de 2022