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A Palavra do Papa: a sinfonia de povos, o Deus da outra possibilidade, a sede de paz e o catecismo da vida

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Nas intervenções do Pontífice desta semana renovaram-se os apelos à paz e ao diálogo, convidando todos à consagração ao Imaculado Coração de Maria, que ocorre esta sexta-feira, às 16h (hora de Lisboa). “A paz não nivela as diferenças, não: a paz é a harmonia das diferenças”, afirmou.

O Papa: “o poder transformador da educação” para a democracia

Francisco recebeu os membros da Pontifícia Fundação “Gravissimum Educationis”, reunidos em Roma para uma conferência com o tema “Educar para a democracia num mundo fragmentado”.

Na sua intervenção, lembrando a guerra na Ucrânia, o Pontífice afirmou que “a oração pela paz deve ser acompanhada por um paciente compromisso educativo, para que crianças e jovens possam amadurecer a consciência decisiva de que os conflitos não são resolvidos através da violência e da opressão, mas através do confronto e do diálogo”.

Em particular, há duas degenerações da democracia que podem ser combatidas com “o poder transformador da educação”. Uma delas é o totalitarismo, no qual o Estado exerce a opressão ideológica, despojando os direitos fundamentais da pessoa e da sociedade do seu valor, ao ponto de suprimir a liberdade. A outra é o secularismo radical, por sua vez ideológico, “que deforma o espírito democrático de uma maneira mais subtil e insidiosa”.

O Papa fez então três propostas aos membros da Gravissimum Educationis a respeito dos jovens. Antes de tudo, nutrir neles “a sede da democracia”, ajudando-os a compreender e apreciar o valor de um sistema “sempre aperfeiçoável, mas capaz de proteger a participação dos cidadãos, a liberdade de escolha, ação e expressão”. Também se deve ensinar aos jovens que “o bem comum é construído com o amor” e “não pode ser defendido com a força militar”.

Por fim, os jovens devem ser educados para viver a autoridade como um serviço. “Todos nós somos chamados a um serviço de autoridade, na família, no trabalho, na vida social”, recorda Francisco. “Não esqueçamos que Deus nos confia certos papéis não para a afirmação pessoal, mas para que, com o nosso trabalho, toda a comunidade possa crescer”.

O Papa: ser cristão é proteger irmãos que fogem da guerra

O Papa Francisco enviou uma mensagem ao Arcebispo de Vilnius e presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), D. Gintaras Grušas, por ocasião da abertura das Jornadas Sociais Católicas Europeias que se realizaram em Bratislava, na Eslováquia, de 17 a 20 de março.

Na sua saudação inicial Francisco disse “o que estamos a viver nestas últimas semanas não é o que esperávamos após a difícil emergência sanitária causada pela pandemia”. Recordando em seguida que “o grito sofrido por ajuda dos nossos irmãos ucranianos exorta-nos como comunidade de crentes não apenas a refletir seriamente, mas a chorar com eles e a fazer algo por eles; a partilhar a angústia de um povo cuja identidade, história e tradição foram feridas”.

Lamentando que “mais uma vez, a humanidade é ameaçada por um perverso abuso de poder e interesses particulares, que condena pessoas indefesas a sofrer todas as formas de violência brutal”.

A Europa e as nações que a compõem não se opõem, e construir o futuro não significa uniformizar, mas unir-se ainda mais no respeito à diversidade”, refere o Pontífice.

Para os cristãos, reconstruir a casa comum significa ‘tornar-se artífices de comunhão, tecelões de unidade em todos os níveis: não por estratégia, mas pelo Evangelho’. Em outras palavras, precisamos recomeçar do próprio coração do Evangelho: Jesus Cristo e o Seu amor salvador.”

Papa promulga a Constituição que determina a reforma da Cúria Romana

Foi promulgada no sábado, 19 de março, Solenidade de São José, a nova Constituição Apostólica sobre a Cúria Romana e o seu serviço à Igreja e ao mundo Praedicate evangelium: entrará em vigor no dia 5 de junho, Solenidade de Pentecostes.

Fruto de um longo processo de escuta iniciado com as Congregações Gerais que antecederam o Conclave de 2013, a nova Constituição, que substitui a “Pastor Bonus” de João Paulo II – em vigor desde 1 de março de 1989 – é constituído de 250 itens.

O texto sublinha que “a Cúria Romana é composta pela Secretaria de Estado, pelos Dicastérios e pelos Organismos, todos juridicamente iguais entre si”.

Entre as inovações mais significativas está a unificação do Dicastério para a Evangelização da precedente Congregação para a Evangelização dos Povos e do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização e a instituição do Dicastério para o Serviço da Caridade.

No novo documento é reforçado que todos – e portanto também leigos e fiéis leigos – podem ser nomeados em funções de governo da Cúria Romana, em virtude do poder vicária do Sucessor de Pedro: “Todo o cristão, em virtude do Batismo, é um discípulo-missionário na medida em que encontrou o amor de Deus em Cristo Jesus”.

É destacada, em particular, a sinodalidade, como modalidade de trabalho habitual para a Cúria Romana, um caminho já em curso, a ser cada vez mais desenvolvido.

Coral Antoniano: “a paz é uma sinfonia de povos que harmoniza as diferenças”

O encontro do Papa Francisco com as crianças do Pequeno Coral Antoniano foi pontuado por canções que alimentam a esperança mesmo em momentos dramáticos, como o atual. Um encontro dedicado, como sublinha o Pontífice, “às crianças e jovens da Ucrânia”.

Estou feliz que este nosso encontro tenha acontecido precisamente na festa de São José, porque ele nos ensina que nenhum de nós é uma ilha, ninguém, mas fazemos parte de um povo, o povo de Deus. E, graças a Jesus, ao seu imenso amor que nos deu na Cruz, este povo acolhe homens e mulheres de todas as línguas, de todas as nações, de todas as culturas. Como um grande, um grandioso coro!”

“Vocês fazem essa bela experiência de cantar juntos, de criar harmonia com a variedade das suas vozes. Pensem: se as vossas vozes fossem todas iguais, todas idênticas, mas que coro seria? Seria muito chato, até mesmo feio. Que canto sairia disso? Nada. Não haveria nenhuma harmonia, mas apenas um único som chato… Ao contrário, somos todos diferentes e dessa diversidade podemos formar uma sinfonia de vozes. Para formar uma sinfonia de povos. Isso é importante: que todos os povos cantem juntos, que haja paz. E esta é a paz. Ouçam com atenção: a paz não nivela as diferenças, não, a paz é a harmonia das diferenças”, observou.

Dirigindo-se às crianças do pequeno Coral Antoniano, nascido em 1963, o Papa Francisco expressa o seu agradecimento, também extensivo a “todos os que cantaram” neste coro infantil, um dos mais famosos do mundo.

Angelus: onde reinam o amor e a fraternidade, o mal já não tem poder

Dirigindo-se aos milhares de fiéis e turistas presentes na Praça São Pedro, o Papa explicou a passagem do Evangelho que fala das notícias que chegavam a Jesus de mortes devido à violência de Pilatos e da queda da torre de Siloé. Diante destas tragédias, as pessoas queriam saber quem era o culpado. “Talvez essas pessoas fossem mais culpadas do que outras e Deus as puniu?”, perguntavam. Questionamentos, observou Francisco, “sempre atuais”:

“Devemos estar atentos: quando o mal nos oprime, corremos o risco de perder a lucidez e, para encontrar uma resposta fácil para o que não podemos explicar, acabamos culpando a Deus.  E tantas vezes o mal hábito das blasfémias vem disto. Quantas vezes atribuímos-Lhe as nossas desgraças, atribuímos as desventuras no mundo a Ele que, pelo contrário, sempre nos deixa livres e, portanto, nunca intervém impondo-se, apenas propondo-se; a Ele que nunca usa a violência e, de facto, sofre por nós e connosco!”

Assim, especialmente neste tempo da Quaresma, o convite urgente à conversão, e acrescenta:

Gosto de pensar que um belo nome de Deus seria “o Deus da outra possibilidade”: ele sempre nos dá outra oportunidade, sempre, sempre. Assim é a sua misericórdia.”

Neste domingo, o Papa Francisco renovou o apelo às autoridades para encontrar uma solução para a guerra na Ucrânia: “Suplico a todos os atores da comunidade internacional, para que se empenhem realmente para pôr fim a esta guerra repugnante”.

O Papa lembrou ainda a visita que fez no sábado às 19 crianças provenientes da Ucrânia que se encontram no Hospital Infantil Bambino Gesù. São pacientes com patologias diferentes (oncológicas, neurológicas e de outro género) que fugiram nos primeiros dias da guerra e, mais recentemente, meninas com feridas graves causadas por explosões.

Fórum da Água: o mundo tem sede de paz

O Papa Francisco enviou uma mensagem aos participantes do 9º Fórum Mundial da Água sobre o tema da Segurança da Água para a Paz e o Desenvolvimento – que se realiza em Dacar, Senegal, de 21 a 26 de março – assinada pelo cardeal Secretário de Estado do Vaticano Pietro Parolin e lida pelo cardeal Michael Czerny, prefeito interino do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral.

O Papa disse que estava a acompanhar os trabalhos deste encontro internacional com as suas orações para que “possa ser uma oportunidade de trabalhar juntos para a realização do direito à água potável e ao saneamento básico para cada ser humano, e assim contribuir para fazer da água um verdadeiro símbolo de partilha, de diálogo construtivo e responsável em favor de uma paz duradoura”.

Partindo do pressuposto de que o “nosso mundo tem sede de paz”, que é um “bem indivisível”, o convite é para que todo o esforço seja feito para construí-la, através da constante contribuição de todos. Para isso é necessário satisfazer as necessidades essenciais e vitais de cada ser humano.

Convite do Papa aos bispos para Ato de Consagração

O Papa convocou os bispos de todo o mundo para que se unam a si, esta sexta-feira, no Ato de Consagração ao Imaculado Coração de Maria que pede a paz para o mundo, especialmente a Rússia e a Ucrânia.

“Convido-o, querido irmão, a unir-se ao referido Ato, convocando os sacerdotes, os religiosos e os outros fiéis para a oração comunitária nos lugares sagrados, no dia de sexta-feira 25 de março, de modo que o santo Povo de Deus faça, de modo unânime e veemente, subir a súplica à sua Mãe”, escreve Francisco, numa carta divulgada pelo Vaticano.

Rússia/Ucrânia: Papa convoca bispos para Ato de Consagração

Audiência Geral: a fé dos idosos é o “catecismo” da vida para os jovens

Na Audiência Geral, o Papa Francisco deu continuidade às suas catequeses sobre o tema da velhice, propondo o exemplo de Moisés que, no fim de seus dias, proclama o nome do Senhor, transmitindo às novas gerações a herança da sua história vivida com Deus. Como seria bonito, afirma o Papa, se a transmissão da fé ainda se realizasse assim, pela boca dos idosos.

“A escuta pessoal e direta da história, da história de fé vivida, com todos os seus altos e baixos, é insubstituível”. Faz muita falta esta transmissão hoje, e sempre mais, às novas gerações. Porquê? Porque esta civilização nova tem a ideia de que os idosos são materiais de descarte, os velhos são descartados. Esta é a brutalidade! Não, não está certo! A narrativa direta, de pessoa para pessoa, tem tons e formas de comunicação que nenhum outro meio pode substituir.”

Fará bem nos perguntarmos: quanto valorizamos esta forma de transmitir a fé, passando o bastão entre os anciãos da comunidade e os jovens abertos ao futuro?”

“E aqui me vem em mente algo que já disse muitas vezes, mas gostaria de repetir. Como a fé é transmitida? “Ah, aqui está um livro, estude-a”: não! Assim, a fé não pode ser transmitida. A fé transmite-se em dialeto, ou seja, na fala familiar, dos avós aos netos, entre pais e netos. A fé é sempre é transmitida em dialeto, naquele dialeto familiar e experiencial dos anos. Por isso é tão importante o diálogo em família, o diálogo das crianças com os avós que são aqueles que têm a sabedoria da fé.”

“Seria belo se houvesse, desde o início, nos itinerários catequéticos, também o hábito de ouvir a experiência vivida pelos idosos, a lúcida confissão das bênçãos recebidas de Deus, que devemos guardar, e o testemunho sincero das nossas faltas de fidelidade, que devemos reparar e corrigir”.

No final da audiência geral, o Papa falou mais uma vez à Ucrânia martirizada pelos bombardeamentos russos e convidou as pessoas a unirem-se a ele e aos bispos em oração no dia 25 de março, para “pedir confiantemente ao Senhor, com a intercessão de Nossa Senhora de Fátima, o dom da paz”:

Peçamos ao Senhor da vida que nos livre desta morte de guerra: com a guerra tudo se perde, tudo. Não há vitória em uma guerra: tudo é derrota. Que o Senhor envie o seu Espírito para nos fazer compreender que a guerra é uma derrota da humanidade, que precisamos derrotar, todos nós, esta que é uma necessidade que nos destrói, e nos livre dessa necessidade de autodestruição”.

JM (com recursos jornalísticos do portal de notícias Vatican News)

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25 de Março de 2022