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A Palavra do Papa: o Coração de Maria, a festa do reencontro, a cura dos que sofrem e a testemunha sensível

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“Se quisermos que mude o mundo, tem de mudar primeiro o nosso coração” referiu o Papa no ato de consagração da humanidade a Nossa Senhora. Esta semana, o Papa tem recebido vários grupos de indígenas do Canadá, com os quais é necessário fazer um caminho de “cura” e enviou ainda uma ambulância para Lviv, depois de a abençoar no Vaticano.

Francisco: esta guerra é vergonhosa para toda a humanidade

O Papa encontrou-se com a Federação Italiana de Radiodifusão na Sala Paulo VI, que completou 50 anos da sua fundação, encorajando o trabalho de voluntariado na proteção civil e em solidariedade com as pessoas mais frágeis.

A paixão dos radioamadores tornou-se um instrumento eficaz de proteção civil e solidariedade com as pessoas mais necessitadas e frágeis e com os grupos sociais mais vulneráveis. “Isto é muito bonito”, sublinhou o Papa. “É o princípio dos dons, dos talentos, feitos para frutificar para o bem comum”.

O Papa agradeceu o compromisso de serviço às pessoas que fugiram da Ucrânia por causa da guerra. Expressando mais uma vez a esperança e a oração “para que esta guerra termine o mais rápido possível”, ele não deixou de defini-la como “vergonhosa para todos nós, para toda a humanidade”. Por isso, o seu contributo para ajudar estas pessoas é precioso e constitui uma “forma concreta e artesanal de construir a paz”.

Consagração a Nossa Senhora: que cesse esta “guerra cruel e insensata que ameaça o mundo”

Francisco presidiu à celebração penitencial na Basílica de São Pedro na passada sexta-feira, Solenidade da Anunciação do Senhor, no final da qual recitou a oração de Consagração da humanidade ao Imaculado Coração de Maria, em particular a Rússia e a Ucrânia.

O Anjo Gabriel toma a palavra por três vezes para se dirigir à Virgem Maria. “A primeira vez, quando a saúda com estas palavras: «Alegra-Te, ó cheia de graça: o Senhor está contigo». O motivo para rejubilar, o motivo da alegria, é desvendado em poucas palavras: o Senhor está contigo”, disse o Papa na sua homilia.

Segundo Francisco, “muitas vezes pensamos que a Confissão consiste em ir de cabeça inclinada ao encontro de Deus. Mas voltar para o Senhor não é primariamente obra nossa; é Ele que nos vem visitar, cumular da sua graça, alegrar com o seu júbilo. Confessar-se é dar ao Pai a alegria de nos levantar de novo. No centro daquilo que vamos viver, não estão os nossos pecados, mas o seu perdão”.

“Restituamos à graça o primado e peçamos o dom de compreender que a Reconciliação consiste antes de tudo, não num passo nosso para Deus, mas no seu abraço que nos envolve, deslumbra, comove” disse o Pontífice.

Não negligenciemos a Reconciliação, mas voltemos a descobri-la como o sacramento da alegria. Sem nenhuma rigidez, sem criar obstáculos nem incómodos; portas abertas à misericórdia!”

A segunda vez que o Anjo fala a Maria, perturbada com a saudação recebida, é para Lhe dizer: «Não temas». A guerra brutal, que se abateu sobre tantos e que a todos faz sofrer, provoca em cada um medo e consternação. Notamos dentro de nós uma sensação de impotência e inadequação. Precisamos ouvir dizer-nos: «não temas». Mas não bastam as garantias humanas, é necessária a presença de Deus, a certeza do perdão divino, o único que apaga o mal, desativa o rancor, restitui a paz ao coração. Voltemos a Deus, ao seu perdão.

Segundo Francisco, “se quisermos que mude o mundo, tem de mudar primeiro o nosso coração. Para o conseguirmos, deixemos hoje que Nossa Senhora nos leve pela mão. Olhemos para o seu Imaculado Coração, onde Deus descansou, para o único Coração de criatura humana sem sombras. Ela é «cheia de graça» e, portanto, vazia de pecado: n’Ela não há vestígios de mal e, assim, com Ela Deus pôde iniciar uma história nova de salvação e de paz. Naquele ponto, a história deu uma virada. Deus mudou a história, batendo à porta do Coração de Maria”.

Angelus: os pais aproximam-se a Deus que perdoa sempre com alegria

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus este domingo, 27 de março, com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.  

A Liturgia deste domingo narra a Parábola do Filho Pródigo que “nos leva ao coração de Deus, que perdoa sempre com compaixão e ternura. Deus perdoa sempre, somos nós que nos cansamos de pedir perdão a Ele”.

Segundo Francisco, esta parábola “diz-nos que Deus é Pai, que não só acolhe novamente, mas se alegra e celebra o seu filho, que voltou para casa depois de ter desperdiçado todos os seus bens. Nós somos esse filho, e é comovente pensar no quanto o Pai sempre nos ama e nos espera”.

O Papa recordou que na “parábola há também o filho mais velho, que entra em crise diante desse Pai. E isso pode nos colocar em crise também. De facto, dentro de nós há também esse filho e, pelo menos em parte, somos tentados a dar-lhe razão: ele sempre cumpriu o seu dever, não saiu de casa, por isso se indigna ao ver o Pai abraçar novamente o irmão que tinha se comportado mal”.

Destas palavras surge o problema do filho mais velho. No seu relacionamento com o Pai, ele baseia tudo na pura observância dos comandos, no sentido do dever. E a consequência desta distância é a rigidez em relação ao próximo, que não é visto mais como um irmão.”

Segundo Francisco, “neste ponto da parábola, o Pai abre o coração ao seu filho mais velho e expressa-lhe duas necessidades, que não são ordens, mas necessidades do coração: “Era preciso festejar e nos alegrar, porque este seu irmão estava morto, e tornou a viver». Vejamos se também nós temos nos nossos corações as duas necessidades do Pai: festejar e alegrar-se”.

Após a oração mariana, o Papa Francisco fez novamente um apelo pela paz na Ucrânia:

É preciso repudiar a guerra, um lugar de morte onde pais e mães sepultam os seus filhos, onde os homens matam os seus irmãos sem sequer tê-los visto, onde os poderosos decidem e os pobres morrem”.

A seguir, Francisco ressaltou que “a guerra não só destrói o presente, mas também o futuro de uma sociedade”. “Li que desde o início da agressão contra a Ucrânia, uma a cada duas crianças foi deslocada do país. Isto significa destruir o futuro, causando traumas dramáticos nas crianças. Esta é a brutalidade da guerra, um ato bárbaro e sacrílego”, frisou o Papa.

Indígenas do Canadá: “Ele escutou a nossa dor”

O Papa Francisco recebeu, em audiências sucessivas, na Biblioteca Apostólica, grupos de representantes dos povos indígenas canadianos, cerca de 10 delegados dos Métis e cerca de 8 dos Inuit, acompanhados por alguns bispos da Conferência Episcopal do Canadá.

Segundo a nota da Sala de Imprensa da Santa Sé, “cada encontro durou cerca de uma hora e foi marcado pelo desejo do Papa de ouvir e dar espaço às histórias dolorosas contadas pelos sobreviventes”.

Primeiro, Francisco recebeu os membros do Conselho Nacional Métis. Um encontro pontuado por palavras, histórias e recordações, mas também muitos gestos: do Papa e dos próprios indígenas que se viram a percorrer um caminho comum. O da “verdade, justiça, cura e reconciliação”.

Cardeal Krajewski entrega na Ucrânia ambulância doada pelo Papa

Pela segunda vez em poucos dias, o esmoleiro do Papa foi a Lviv para entregar a ambulância abençoada pelo Papa Francisco e destinada às autoridades da cidade ucraniana.

O esmoleiro do Papa, cardeal Konrad Krajewski, não descansa. O purpurado presidiu na tarde de sexta-feira, no Santuário de Fátima, o Ato de Consagração da humanidade, em particular da Rússia e da Ucrânia, ao Imaculado Coração de Maria. Chegou a Roma na manhã de sábado e imediatamente partiu para Lviv, na Ucrânia, com “uma ambulância, doada e abençoada pelo Papa Francisco nos últimos dias”, informou o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni.

Na terça-feira de manhã (28 de março), o veículo foi entregue às autoridades da cidade que o destinarão à estrutura que mais precisar. O responsável da Administração militar padre Maxim Kozic levou a ambulância ao Centro regional de saúde materna e infantil.

Cardeal Naguib: “um exemplo de bom pastor”

O Papa Francisco escreveu um telegrama a Sua Beatitude Ibrahim Isaac Sedrak, Patriarca da Alexandria dos Coptas, pelo falecimento do cardeal Antonios Naguib, Patriarca Emérito da Igreja Católica Copta no Egito.

Francisco escreve: “desejo expressar as minhas condolências a Sua Beatitude, aos sacerdotes, à família do cardeal falecido e a todos os fiéis, assegurando-lhes a minha proximidade na oração na dor, que afetou toda a Igreja patriarcal”.

Recordo deste querido irmão”, escreveu o Papa, “que assumiu ‘Veritas-Caritas’ como lema do seu episcopado por causa da sua fé e zelo sacerdotal, o que o levou a prestar atenção à formação de sacerdotes e fez disso a sua primeira prioridade”.

Também foi recordado no telegrama “o seu generoso compromisso na área do desenvolvimento e do serviço social e que o cardeal emérito chegou a fundar um grupo apostólico dedicado a servir os necessitados e os que sofrem, sendo um exemplo de bom pastor na Igreja. Conclui recordando que o cardeal “foi relator geral na Assembleia Especial para o Oriente Médio do Sínodo dos Bispos”.

Audiência Geral: a velhice é a primeira vítima da perda de sensibilidade

O Papa Francisco continuou o seu ciclo de catequeses sobre a velhice, na Audiência Geral desta quarta-feira, realizada na Sala Paulo VI, que teve como tema “Fidelidade à visita de Deus para a geração futura”.

Os idosos Simeão e Ana estiveram no centro da catequese do Pontífice. A razão de vida deles, “antes de se despedir deste mundo, é aguardar a visita de Deus. Simeão sabe, através de uma premonição do Espírito Santo, que não morrerá antes de ter visto o Messias. Ana vai ao templo todos os dias, dedicando-se ao seu serviço. Ambos reconhecem a presença do Senhor no Menino Jesus, que enche de consolação a sua longa espera e tranquiliza a sua despedida da vida. Esta é uma cena de um encontro com Jesus e de despedida”.

“O que podemos aprender com estas duas figuras de idosos cheios de vitalidade espiritual?”, perguntou o Papa. “Aprendemos que a fidelidade da espera aguça os sentidos. O Espírito Santo faz exatamente isso: ilumina os nossos sentidos, aguça os sentidos da alma, apesar dos limites e das feridas dos sentidos do corpo”, disse Francisco, acrescentando:

O comportamento de um cristão é estar atento às visitas do Senhor, porque o Senhor passa, na nossa vida, com as inspirações, com o convite para sermos melhores.”

De acordo com o Papa, precisamos “de uma velhice dotada de sentidos espirituais vivos e capazes de reconhecer os sinais de Deus, ou seja, o Sinal de Deus, que é Jesus. Um sinal que nos põe em crise, sempre. Jesus sempre nos põe em crise porque é «sinal de contradição», mas que nos enche de alegria”, aceitando que não somos “protagonistas, mas apenas testemunhas.”

Na audiência geral, Francisco saudou os malteses em vista da sua viagem apostólica nos dias 2 e 3 de abril: será uma oportunidade para “ir às fontes do Evangelho” e a uma nação que abre as suas portas para aqueles que “buscam refúgio”. “Nessa terra luminosa serei peregrino nos passos do Apóstolo Paulo” referiu o Pontífice.

No fim, voltou a pedir o fim do conflito na Ucrânia, saudando em particular as crianças acolhidas por duas associações, criadas após o desastre de Chernobyl, e pela Embaixada da Ucrânia junto à Santa Sé.

JM (com recursos jornalísticos do portal de notícias Vatican News)

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31 de Março de 2022