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A Palavra do Papa: a recompensa maior, a estrela da manhã, o anúncio verdadeiro e a civilização do amor

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As celebrações pascais trouxeram gestos e palavras de paz, esperança e reconciliação do Papa Francisco. Na Vigília Pascal, afirmou que “com Jesus, o Ressuscitado, nenhuma noite é infinita; e mesmo na escuridão mais densa, brilha a estrela da manhã.”

O Papa: “A guerra é um sacrilégio, deixemos de alimentá-la”

“Contra a guerra. A coragem de construir a paz” é o livro do Papa Francisco publicado esta quinta-feira junto com o jornal italiano Corriere della Sera. O livro apresenta o diálogo como arte política, a construção artesanal da paz e o desarmamento como uma escolha estratégica.

Na introdução da obra, o Papa lembra a sua peregrinação ao Iraque em 2021 onde foi possível “experimentar o desastre causado pela guerra, violência fratricida e terrorismo”.

“Tantas guerras estão a acontecer no mundo neste momento, causando imensa dor, vítimas inocentes, principalmente crianças. Guerras que provocam a fuga de milhões de pessoas, obrigadas a deixar as suas terras, as suas casas, as suas cidades destruídas para salvar as suas vidas. Essas são as muitas guerras esquecidas, que de vez em quando reaparecem diante dos nossos olhos desatentos” escreveu o Pontífice.

A guerra não é a solução, a guerra é uma loucura, a guerra é um monstro, a guerra é um cancro que se autoalimenta engolindo tudo! Além disso, a guerra é um sacrilégio, que destrói o que há de mais precioso na nossa terra, a vida humana, a inocência dos pequenos, a beleza da criação”.

“A ganância, a intolerância, a ambição de poder, a violência, são razões que impulsionam a decisão bélica, e muitas vezes essas razões são justificadas por uma ideologia bélica que esquece a dignidade incomensurável da vida humana, de cada vida humana, e o respeito e cuidado que lhe devemos” criticou.

Missa Crismal: “Não há recompensa maior que a amizade com Jesus”

O Papa Francisco deu início aos ritos do Tríduo Pascal celebrando a missa do Crisma, na Basílica de São Pedro, com a bênção dos santos óleos e a renovação das promessas sacerdotais.

De facto, disse o Papa na homilia comentando as leituras, “ser sacerdote é uma graça”, “uma graça muito grande”, que todavia não se destina ao próprio sacerdote, mas aos fiéis. E é do Senhor que receberá a recompensa, isto é, o seu Amor e o perdão incondicional dos pecados.

Não há recompensa maior do que a amizade com Jesus. Não há paz maior do que o seu perdão. Não há preço mais elevado do que o seu precioso Sangue: não permitamos que seja aviltado com uma conduta indigna.”

Francisco identificou três espaços de idolatria nos quais o Maligno se serve para enfraquecer a vocação sacerdotal: a mundanidade espiritual, a primazia do pragmatismo dos números e o funcionalismo.

“Queridos irmãos, Jesus é o único caminho para não nos enganarmos no conhecimento do que sentimos e para onde nos leva o nosso coração; é o único caminho para um bom discernimento”, concluiu.

Lava Pés: Deus perdoa sempre!

Francisco foi a uma prisão em Civitavecchia, na periferia de Roma, e realizou o rito do lava-pés a nove homens e três mulheres, de diferentes idades e nacionalidades. Como normalmente faz nesta ocasião, proferiu a sua homilia sem um texto pré-preparado e falou da “simplicidade” do gesto de Jesus: “Que belo seria se isso pudesse ser feito todos os dias e a todas as pessoas”.

O Santo Padre comentou o significado do lava-pés, “uma coisa estranha” neste mundo: “Jesus lava os pés do traidor, aquele que o vende”. E acrescentou: “Jesus ensina-nos isto, simplesmente: vocês devem lavar os pés uns aos outros […] um serve o outro, sem interesse: como seria belo se fosse possível fazer isto todos os dias e a todas as pessoas”.

O Papa lamentou que muitos dos nossos gestos são realizados por interesse. “Ao invés, é importante fazer tudo sem interesse: um serve o outro, um é irmão do outro, um ajuda o outro, um corrige o outro e assim deveria ser feito. E depois, ao traidor, o chama de “amigo” e o espera até ao fim: perdoa tudo. Isso gostaria de colocar hoje no coração de todos nós, inclusive do meu: Deus perdoa tudo e Deus perdoa sempre! Somos nós que nos cansamos de pedir perdão.” Ele pede-nos somente a nossa confiança.

Via-Sacra: Senhor, desarmai a mão levantada do irmão contra o irmão

A Via-Sacra voltou a ser realizada no Coliseu de Roma, com a participação de milhares de fiéis. Um momento tocante foi representado por duas mulheres, uma ucraniana e outra russa, que juntas carregaram a Cruz na XIII Estação, que narra a morte de Cristo.

A Paixão de Cristo encarnada na vida das famílias: o Coliseu de Roma concentrou as alegrias e cruzes dos lares. Adentrando na quotidianidade de pais, avós e filhos, foram tocados temas da atualidade, como a educação, a pobreza, a migração, a pandemia, a doença e também a guerra.

Ao final das 14 estações, o Papa Francisco recitou uma oração ao Pai Misericordioso.

Vigília Pascal: Com Jesus, nenhuma noite é infinita, afirma o Papa

A Vigília Pascal foi presidida pelo Cardeal Giovanni Battista Re e o Papa leu a homilia. A Missa foi precedida pelo sugestivo rito da bênção do fogo no Átrio da Basílica e pela posterior procissão ao som de “Lumen Christi”. Sete catecúmenos de diferentes nacionalidades (italiana, norte-americana, cubana, albanesa) receberam o Batismo.

“As noites de guerra são atravessadas por rastos luminosos de morte. Nesta noite, irmãos e irmãs, deixemo-nos guiar pelas mulheres do Evangelho, para descobrir com elas a aurora da luz de Deus que brilha nas trevas do mundo”, disse o Papa na sua homilia.

Francisco propôs três ações das mulheres que, por primeiro, testemunharam a Páscoa do Senhor: ver, escutar e anunciar.

O Papa frisou que “não é fácil acolher a Páscoa” mas que não podemos fazê-la “se continuamos a morar na morte”.

“Um cristianismo que busca o Senhor entre as ruínas do passado e O encerra no túmulo da rotina é um cristianismo sem Páscoa”, observou, acrescentando que a missão dos fiéis é levar Jesus para a vida de todos os dias, a realizar gestos de paz neste tempo marcado pelos horrores da guerra; a realizar ações de justiça no meio das desigualdades e de verdade no meio das mentiras.

Irmãos e irmãs, a nossa esperança chama-se Jesus. (…) Façamos Páscoa com Cristo! Ele está vivo e ainda hoje passa, transforma e liberta. Com Ele, o mal já não tem poder, o fracasso não pode impedir-nos de recomeçar, a morte torna-se passagem para o início duma nova vida. Porque com Jesus, o Ressuscitado, nenhuma noite é infinita; e mesmo na escuridão mais densa, brilha a estrela da manhã.”

Ao final da homilia, o Papa dirigiu-se ao prefeito de Melitopol, Ivan Fedorov, presente na Basílica na companhia de parlamentares ucranianos, que já havia encontrado antes da celebração: “Nesta escuridão que vivem, senhor prefeito e senhores parlamentares, o breu obscuro da guerra e da crueldade, todos nós rezamos com vocês nesta noite, rezamos pelos muitos sofrimentos. Nós só podemos oferecer a nossa companhia, a nossa oração e dizer-lhes: coragem, acompanhamo-vos. Podemos também dizer-lhes a maior coisa que hoje se celebra: Христос воскрес! (Cristo ressuscitou!).

Urbi et Orbi: Deixemo-nos vencer pela paz de Cristo! A paz é possível

Cerca de 100 mil pessoas participaram da Missa de Páscoa na Praça São Pedro, presidida pelo Papa Francisco, ouviram a sua mensagem pascal e receberam a benção Urbi et Orbi. O pensamento do Pontífice concentrou-se nos vários países e regiões que vivem conflitos.

O Pontífice repetiu as palavras de Cristo contidas no Evangelho de João, diante dos olhos incrédulos dos discípulos: «A paz esteja convosco!».

“Também os nossos olhos estão incrédulos, nesta Páscoa de guerra”, disse o Papa. Com todo o sangue e violência que vimos, temos dificuldade em acreditar que Jesus tenha verdadeiramente ressuscitado. “Terá porventura sido uma ilusão?”, questionou Francisco, que imediatamente respondeu: “Não. Não é uma ilusão!”.

E hoje, mais do que nunca precisamos Dele, no final de uma Quaresma que parece não ter fim. Ao invés de sairmos juntos do túnel da pandemia, demonstramos que existe ainda em nós o espírito de Caim, que vê Abel não como um irmão, mas como um rival.

Por isso temos necessidade do Ressuscitado para acreditar na vitória do amor, para esperar na reconciliação. Só Ele o pode fazer.”

O Papa dirigiu então o seu olhar para todas as realidades que necessitam do anúncio pascal. Falando da “martirizada” Ucrânia, usou termos como “crueldade” e “insensatez” e pediu mais uma vez que não se habitue à guerra. De modo especial, citou o sofrimento das crianças não só ucranianas, mas também “as que morrem de fome ou por falta de cuidados médicos, as que são vítimas de abusos e violências e aquelas a quem foi negado o direito de nascer”.

Pediu paz no Médio Oriente, Ásia e África. Olhando para o continente americano, pediu ao Senhor que assista as populações da América Latina, que, em alguns casos, “viram piorar as suas condições sociais nestes tempos difíceis de pandemia”. Falou também do Canadá, para que o Senhor ressuscitado acompanhe o caminho de reconciliação que a Igreja Católica no país está a percorrer com os povos autóctones.

“Deixemo-nos vencer pela paz de Cristo! A paz é possível, a paz é um dever, a paz é responsabilidade primária de todos!”, concluiu.

Regina Caeli: a falsidade, nas palavras e na vida, leva de volta ao túmulo

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Regina Caeli, na Segunda-Feira da Oitava de Páscoa (18 de abril), conhecida como “Segunda-feira do Anjo”, para lembrar a aparição do anjo às mulheres, anunciando a ressurreição de Jesus.

Segundo Francisco, “os dias da Oitava da Páscoa são como um único dia em que a alegria da Ressurreição é prolongada. Assim, o Evangelho da Liturgia de hoje continua a falar do Ressuscitado, da sua aparição às mulheres que tinham ido ao túmulo”.

Primeiro, ele as tranquiliza com as seguintes palavras: “Não tenham medo”, que vive “agachado à porta dos nossos corações”. O Pontífice convidou a sair “dos túmulos dos nossos medos” e a ir anunciar esta Boa Nova.

O Papa disse que o Evangelho “nos diz que o anúncio pode encontrar um obstáculo: a falsidade. Na verdade, o Evangelho narra “um contra-anúncio”, o dos soldados que haviam guardado o sepulcro de Jesus. Eles são pagos com “uma boa soma de dinheiro” e recebem estas instruções: “Digam isto: ‘Os seus discípulos vieram de noite e o roubaram enquanto dormíamos'”. 

Aqui está a falsidade, a lógica da ocultação, que se opõe à proclamação da verdade. É um lembrete para nós também: a falsidade, nas palavras e na vida, polui o anúncio, corrompe por dentro, leva de volta ao túmulo. A falsidade nos leva para trás, nos leva à morte, ao sepulcro. O Ressuscitado, ao invés, quer nos tirar dos sepulcros, das falsidades e das dependências.”

“Coloquemos essas nossas opacidades diante da luz de Jesus ressuscitado” – diz o Santo Padre – “Ele quer levar à luz as coisas escondidas, para nos tornar testemunhas transparentes e luminosas da alegria do Evangelho, da verdade que nos liberta”.

Após a oração do Regina Coeli o Pontífice desejou mais uma vez Feliz Páscoa a todos os presentes, romanos e peregrinos de vários países:

Que a graça do Senhor Ressuscitado dê conforto e esperança a todos aqueles que sofrem: que ninguém seja abandonado! Que disputas, guerras e conflitos deem lugar à compreensão e à reconciliação.”

Jovens: A vida é bela, não tenham medo!

Com uma vigília na Praça São Pedro, o Papa Francisco encerrou uma peregrinação de jovens das dioceses italianas, organizada pela Pastoral Juvenil da Conferência Episcopal Italiana.

O entusiasmo, porém, não fez esquecer “as densas nuvens que obscurecem o nosso tempo”, “aquela escuridão que assusta a todos”, a “terrível guerra” da qual “muitos dos seus pares” estão a pagar o preço mais alto” e cuja própria existência está comprometida, disse o Santo Padre.

Acontece a todos nós, salienta o Papa, “tocar as nossas fragilidades com as nossas próprias mãos e sentir medo, desamparados, despojados, sozinhos. “A escuridão assusta a todos”, mas o importante é não ter medo, colocar as coisas às claras. A escuridão coloca-nos em crise, disse ainda Francisco, mas o problema é como administrar a crise, não se pode fechar em si mesmo, mas sempre procurar ajuda.

Os jovens não têm a experiência dos grandes, mas em compensação têm “faro”. “Vocês têm fato: não o percam! O faro de dizer “isto é verdade, isto não, isto não está certo”, o faro para encontrar o Senhor. O faro da Verdade. Eu faço votos que tenham o faro de João, mas também a coragem de Pedro.”

O faro, acrescentou o Papa, leva à generosidade: “Não tenham medo da vida, por favor! Tenham medo da morte, da morte da alma, da morte do futuro, do fechamento do coração. Disto vocês devem ter medo. Mas da vida não, a vida é bela. A vida é para ser vivida e para doá-la aos outros, a vida deve ser partilhada com os outros, não para fechá-la, fechá-la em si mesma.”

Audiência Geral: honrar os idosos, reconhecer a sua dignidade

“Honra o pai e a mãe: o amor pela vida vivida” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, realizada na Praça São Pedro.

Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a velhice, dizendo que “as experiências da nossa fragilidade, diante das situações dramáticas e às vezes trágicas da vida, podem acontecer em qualquer momento da existência. No entanto, na velhice podem causar menos impressão e induzir uma espécie de vício, até mesmo de incómodo, nos outros”.

“Na experiência humana comum, o amor – como se costuma dizer – é descendente: não volta à vida que está atrás de nós com a mesma força com que se derrama na vida que ainda está à nossa frente. A gratuidade do amor também aparece nisto: os pais sempre souberam disso, os idosos aprendem isso cedo. No entanto, a revelação abre caminho para uma restituição diferente do amor: é a estrada para honrar quem nos precedeu.”

Honra é uma boa palavra para enquadrar este âmbito de restituição do amor que diz respeito aos idosos. Hoje, redescobrimos o termo “dignidade” para indicar o valor do respeito e do cuidado da vida de qualquer pessoa. Dignidade, aqui, equivale essencialmente a honra”.

“Incentivar nos jovens, mesmo indiretamente, uma atitude de suficiência – e até de desprezo – em relação à velhice, as suas fraquezas e a sua precariedade, produz coisas horríveis. Abre caminho para excessos inimagináveis. Esse desprezo, que desonra os idosos, na verdade desonra a todos nós”, observou.

Segundo o Papa, devemos oferecer “o melhor apoio social e cultural a quantos são sensíveis a esta forma decisiva de “civilização do amor”. Não é uma questão de cosméticos e cirurgia plástica. Pelo contrário, é uma questão de honra, que deve transformar a educação dos jovens em relação à vida e as suas fases”.

JM (com recursos jornalísticos do portal de notícias Vatican News)

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21 de Abril de 2022