comprehensive-camels

A Palavra do Papa: os discípulos capazes, os tecelões da reconciliação e a ponte intergeracional

20220428-a-palavra-do-papa

No Domingo da Divina Misericórdia, o Santo Padre convidou à conversão, à reconciliação e à capacidade de perdoar. “É melhor uma fé imperfeita, mas humilde, que sempre volta a Jesus, do que uma fé forte, mas presunçosa, que nos torna orgulhosos e arrogantes”, disse na recitação do Regina Coeli.

“O importante é renovar as mentes e os corações das pessoas”

O Papa Francisco escreveu o prefácio do livro-entrevista sobre a “Praedicate Evangelium” de autoria de Fernando Prado. Trata-se de uma conversa com o arcebispo hondurenho de Tegucigalpa, cardeal Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga, coordenador do Conselho de Cardeais, sobre a nova Constituição apostólica.

No texto, o Pontífice ressalta que “desde o Concílio Vaticano II, a Igreja católica procedeu a várias reformas da Cúria Romana procurando adequá-la às necessidades dos tempos, da vida eclesial e da receção do próprio Concílio, que continua sendo a bússola”.

Segundo Francisco, “durante as Congregações Gerais que precederam o último Conclave, entre as muitas recomendações, o novo Papa foi fortemente convidado a implementar uma nova reforma da Cúria. Foi visto como algo urgente e necessário. Essa reforma veio de lá. Naquele momento, eu mesmo ousei fazer algumas recomendações, pensando que outro teria de realizá-las. Mas as coisas aconteceram de forma diferente”.

De acordo com o Papa, “as reformas nas estruturas e na organização são necessárias, sem dúvida, mas o que é realmente importante é a renovação das mentes e dos corações das pessoas. Todos nós somos chamados a arregaçar as mangas. E não nos esqueçamos que as leis e os documentos são sempre limitados e quase sempre efémeros. Outros tempos virão. Outras circunstâncias darão ao mundo uma nova cor… E a Igreja, no seu diálogo constante com o mundo, com um pé firmemente plantado nas suas origens e fiel à Tradição, adaptará mais uma vez a sua vida e as suas estruturas humanas às mutáveis condições dos tempos”.

“Assim, a Igreja continuará a oferecer o Evangelho ao mundo de uma nova forma. Esta é a nossa condição, pois acreditamos que “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre”. Assim, nós fiéis de hoje passamos o bastão de revezamento para as gerações futuras”, conclui o Santo Padre.

Fiat: precisamos de discípulos capazes de transmitir a esperança

O Santo Padre recebeu em audiência na manhã de sábado, 23 de abril, na Sala Clementina, os participantes do Simpósio promovido pela Associação “Fiat”: “Nas pegadas do cardeal Suenens – O Espírito Santo, Maria e a Igreja”, um grupo de 120 pessoas.

Dirigindo-se aos membros da Associação, Francisco expressou a sua proximidade espiritual a todos e, com eles, agradeceu ao Senhor pela obra do cardeal Suenens e de Veronica O’Brien, um trabalho que continua hoje no seu apostolado.

“Em fidelidade às intuições evangélicas dos seus fundadores, ressaltou Francisco, vocês estão comprometidos em partilhar o Evangelho com cada pessoa que a Providência coloca em seu caminho”. Dito isso, o Papa acrescentou:

Hoje, a questão da evangelização está no coração da missão da Igreja. Mas hoje é mais explícito; estas duas frases de ouro do Papa Paulo VI: a vocação da Igreja é evangelizar; a alegria da Igreja é evangelizar. Sempre! Mais do que nunca somos todos desafiados a ser protagonistas de uma Igreja em saída, sob o impulso do Espírito Santo. De facto, “uma evangelização com o espírito é uma evangelização com o Espírito Santo, já que Ele é a alma da Igreja evangelizadora”.

O Papa destacou que o mundo está a tornar-se cada vez mais secularizado. Precisamos de discípulos convencidos na sua profissão de fé e capazes de transmitir a chama da esperança aos homens e mulheres deste tempo.

“Caros amigos, a Igreja tem confiança em vocês, disse o Papa, exortando-os a dar, por suas palavras, ações e testemunhos, uma mensagem forte ao nosso mundo, tão pobre em humanidade.”

Francisco aos jovens: sejam missionários da alegria e do amor

Alegres, abertos à nova vida que Jesus dá, prontos para viver uma “caridade discreta e eficaz”, “imaginativa e inteligente”. Francisco oferece “conselhos úteis” aos jovens que encontrou na manhã de sábado, 23 de abril, por ocasião do Simpósio Missionário Juvenil, sobre o tema “De volta ao COMIGI: A missão parte novamente do futuro” e 50 anos após o nascimento do Movimento Juvenil Missionário das Pontifícias Obras Missionárias, hoje “Missio jovens”.

São três verbos que o Papa indica, três pedras angulares para a missão que, diz Francisco, “deve ser vivida todos os dias”.  São elas: “levantar-se, cuidar e testemunhar”, “três movimentos muito precisos” para sustentar o caminho. Levantar-se novamente como o jovem filho da viúva de Naim que havia morrido e que Jesus ressuscita, movido pela dor de sua mãe, “a dor daqueles que sofrem muitas vezes de forma composta e digna, daqueles que perderam a esperança, daqueles que já não veem mais um futuro”. Reanimar para recomeçar uma ação, “para relançar-se rumo a um futuro de vida, cheio de esperança e de caridade para com os nossos irmãos e irmãs”.

“Hoje precisamos de pessoas, especialmente jovens, que tenham olhos para ver as necessidades dos mais fracos – acrescentou o Papa.

Cúria Romana: Nomeações e Motu Próprio

O cardeal jesuíta Michael Czerny e a religiosa Alessandra Smerilli receberam um mandato como prefeito e secretária respetivamente do Dicastério para o Desenvolvimento Humano, nomeações a que se juntam a do padre Fabio Baggio na função de subsecretário e com responsabilidade específica para a Secção de Migrantes e Refugiados e projetos especiais.

Francisco designou o monsenhor Armando Matteo para servir à Secção Doutrinária da Congregação, enquanto monsenhor John Joseph Kennedy cuidará da Seção Disciplinar da Congregação para a Doutrina da Fé.

Foram ainda publicadas esta terça-feira alterações ao Direito Canónico, ao obrigo de um Motu próprio do Santo Padre, explicito na Carta Apostólica Recognitum Librum VI do Papa.

O tema da intervenção de Francisco é em particular o cânon 695 – parágrafo 1 do sexto livro do Código, reformado no ano passado com a Constituição Apostólica Pascite gregem Dei, que trata das sanções penais na Igreja. “Nele”, afirma o Papa, “alguns crimes foram tipificados de maneira diferente, outros novos foram introduzidos e, além disso, a sucessão dos cânones também mudou. Isso requer, a fim de uma concordância com os cânones de outros Livros do Código, uma modificação”.

Festa da Divina Misericórdia: Jesus quer-nos “tecelões” de reconciliação

Tecelões de reconciliação: é o que Jesus espera de nós, disse o Papa Francisco na homilia da missa celebrada na Basílica de São Pedro, no Domingo da Divina Misericórdia. A cerimónia foi presidida pelo presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Dom Rino Fisichella.

O Pontífice comentou o Evangelho deste II Domingo da Páscoa, quando Jesus aparece aos discípulos e mostra as suas chagas. De modo especial, se deteve sobre a saudação “A paz esteja convosco!”, que aparece três vezes neste episódio. 

Trata-se da saudação do Ressuscitado que vem ao encontro de todas as fraquezas e erros humanos, explicou o Santo Padre. Cada exclamação de Jesus corresponde a uma ação da misericórdia divina: dá alegria; desperta o perdão; e consola durante o cansaço.

Na primeira vez, os discípulos estavam a portas fechadas, poderiam ter se sentido envergonhados por terem abandonado Jesus no momento crucial da sua vida. Em vez disso, alegraram-se ao vê-Lo.

“Esta é a alegria de Jesus, a alegria que também nós sentimos ao experimentar o seu perdão”, disse ainda o Papa. A experiência dos discípulos pode ser também a nossa, a desolação após uma queda, um pecado ou um fracasso. Mas ali mesmo o Senhor tudo faz para nos dar a sua paz através de uma Confissão, das palavras de uma pessoa que se aproxima, de uma consolação interior do Espírito, de um acontecimento inesperado e surpreendente.

Sim, a alegria de Deus é uma alegria que nasce do perdão e que traz paz, uma alegria que eleva sem humilhar. (…) Porque nada pode ser como antes para quem experimenta a alegria de Deus!”

Mas ao receber a misericórdia divina, todos os fiéis tornam-se por sua vez dispensadores da mesma misericórdia que receberam. Jesus diz: “A quem perdoardes os pecados, lhes serão perdoados”.

“E hoje e sempre na Igreja, o perdão deve chegar-nos assim, através da humilde bondade de um confessor misericordioso, que sabe que não é detentor de algum poder, mas canal de misericórdia, que derrama sobre os outros o perdão do qual ele primeiro se beneficiou.”

Regina Coeli: “É melhor uma fé imperfeita, mas humilde, do que uma fé forte, mas presunçosa”

O Apóstolo Tomé foi o tema da alocução do Santo Padre que precedeu a oração do Regina Coeli neste II Domingo de Páscoa. Tomé representa todos nós, disse o Papa, e nos ensina que “é melhor uma fé imperfeita, mas humilde, que sempre volta a Jesus, do que uma fé forte, mas presunçosa, que nos torna orgulhosos e arrogantes.”

Assim como ele, disse o Papa, também nós temos dificuldade em acreditar que Jesus ressuscitou. Mas não devemos nos envergonhar, pois Cristo não busca cristãos perfeitos, que ostentam uma fé segura sem jamais duvidar. “Tenho medo quando vejo cristãos ou associações de cristãos que se creem perfeitos.”

A “aventura da fé”, como a definiu Francisco, é feita de luzes e sombras, alternando momentos de consolação e entusiasmo, com cansaços e perdições.

Diante das incertezas de Tomé, observou Francisco, a atitude de Jesus é única: Ele “pôs-se no meio”:

Jesus não se rende, não se cansa de nós, não se assusta com as nossas crises e fraquezas. Ele sempre volta. Jesus volta quando as portas estão fechadas, quando duvidamos, e o faz não com sinais poderosos, mas com as suas chagas.”

Ele espera somente que O chamemos, o invoquemos ou, como fez Tomé, protestemos, apresentando as nossas necessidades e incredulidades. Ele volta porque é paciente e misericordioso, vem para “abrir os cenáculos dos nossos medos”.

Francisco concluiu convidando os fiéis a lembrarem da última vez que viveram um momento de crise e se fecharam nos seus problemas, deixando Jesus de fora. E a prometeram que, da próxima vez, irão em busca de Jesus.

Por fim, renovou o apelo a uma trégua pascal, “sinal mínimo e tangível de uma vontade de paz” na Ucrânia, pedindo que se intensifique a oração.

Missionários: sacerdotes santos e misericordiosos, prontos a perdoar

O Papa Francisco recebeu em audiência na segunda-feira, na Sala Paulo VI, no Vaticano, os Missionários da Misericórdia.

No seu discurso, Francisco disse que desejava reencontrá-los, porque confiou-lhes o ministério de “ser um instrumento eficaz da misericórdia de Deus”. “Vejo que a cada ano o número de Missionários da Misericórdia aumenta. Isto me dá alegria, pois significa que a sua presença nas Igrejas particulares é considerada importante e qualificada”, frisou o Papa.

Francisco agradeceu ao presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, dom Rino Fisichella, após sua saudação introdutória, pois os Missionários da Misericórdia “foi sua invenção” porque “ele viu a necessidade da sua presença na Igreja” a fim de perdoar “sem passar por tantos procedimentos”.

Depois das reflexões dedicadas às figuras de Noé e do profeta Isaías, no centro dos encontros de 2016 e 2018, neste terceiro encontro, que deveria ter sido realizado em 2020, mas foi adiado por causa da pandemia, o Papa propôs como reflexão a figura de Rute, “mulher moabita que, apesar de ter vindo de um país estrangeiro, entrou plenamente na história da salvação. O livro dedicado a ela a apresenta como a bisavó de Davi, e o Evangelho de Mateus a menciona explicitamente entre os ancestrais de Jesus”.

Podemos tirar uma grande lição da atitude de Rute. Ela “não é filha de Abraão segundo o sangue, continua sendo uma moabita e sempre será chamada assim, mas sua fidelidade e generosidade permitem que ela entre no povo de Israel com todos os direitos. De facto, Deus não abandona quem se confia a Ele, mas vai ao seu encontro”, disse Francisco, acrescentando:

Rute revela os traços da misericórdia quando não deixa Noemi sozinha, mas partilha o seu futuro com ela; quando não se contenta em ficar perto dela, mas com ela partilha a fé e a experiência de fazer parte de um novo povo; quando tem a intenção de superar todos os obstáculos para permanecer fiel. O que recebemos é realmente o rosto da misericórdia que se manifesta com paixão e partilha. A figura de Rute é um ícone de como podemos superar as várias formas de exclusão e marginalização que se escondem em nosso comportamento.”

“Através desta figura, também nós somos convidados a captar a presença de Deus na vida das pessoas. O caminho percorrido é muitas vezes árduo, difícil, às vezes até cheio de tristeza. No entanto, Deus se põe neste caminho para revelar seu amor. Cabe a nós, com nosso ministério, dar voz a Deus e mostrar o rosto de sua misericórdia. Depende de nós.”

Patriarca Kirill: sejamos artífices da paz para a Ucrânia devastada pela guerra

“Querido irmão! Que o Espírito Santo possa transformar nossos corações e nos tornar verdadeiros artífices da paz, especialmente para a Ucrânia devastada pela guerra, para que a grande passagem pascal da morte para uma nova vida em Cristo possa se tornar uma realidade para o povo ucraniano, que anseia por um novo amanhecer que ponha um fim às trevas da guerra”. Esta é a passagem central da carta que o Papa Francisco enviou ao Patriarca de Moscovo e de todas as Rússias, Kirill, por ocasião da Páscoa que algumas igrejas católicas e ortodoxas celebraram no domingo, 24 de abril, de acordo com o calendário juliano.

Na carta, Francisco sublinha que neste momento “sentimos todo o peso do sofrimento da nossa família humana, esmagada pela violência, pela guerra e por tantas injustiças”. Apesar disso, escreve, “vamos continuar com o coração agradecido ao Senhor que tomou sobre Si todo o mal e toda a dor de nosso mundo”.

“A morte de Cristo”, continua o Pontífice, “foi o início de uma nova vida e de libertação dos laços do pecado e uma ocasião para nossa alegria pascal, abrindo a todos a passagem do caminho da sombra das trevas para a luz do Reino de Deus”. O convite é para rezar uns pelos outros “para dar testemunho confiável da mensagem evangélica de Cristo ressuscitado e da Igreja como sacramento universal de salvação”, para que “todos possam entrar no reino da justiça, da paz e da alegria no Espírito Santo”.

Audiência Geral: restabelecer a ponte forte entre jovens e idosos

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a velhice na Audiência Geral, desta quarta-feira, realizada na Praça São Pedro. “Noemi, a aliança entre gerações que abre o futuro” foi o tema deste encontro semanal.

A catequese de Francisco foi inspirada no “maravilhoso Livro de Rute, uma preciosidade da Bíblia”, que “ilumina a beleza dos laços familiares: gerados pela relação de um casal, mas que vão além do vínculo do casal” e “contém também um valioso ensinamento sobre a aliança das gerações: onde a juventude se mostra capaz de dar novo entusiasmo à idade madura”.

No início, a idosa Noemi, embora movida pelo afeto das noras, viúvas dos seus dois filhos, é pessimista quanto ao seu destino num povo que não é o seu. Ela encoraja afetuosamente as jovens viúvas a regressarem às suas famílias para reconstruírem a própria vida”, disse o Papa. “Movida pela dedicação de Rute, Noemi sairá do seu pessimismo e até tomará a iniciativa, abrindo um novo futuro para Rute.”

“Noemi, que era amargurada, dizia que o seu nome era amargura, revive, renasce e na sua velhice conhecerá a alegria de desempenhar um papel na geração de um novo nascimento”, disse ainda o Papa, acrescentando:

Vejam quantos “milagres” acompanham a conversão desta idosa! Ela se converte ao compromisso de se tornar disponível, com amor, para o futuro de uma geração ferida pela perda e em risco de abandono. Em vez disso, a fé e o amor permitem que sejam superados: a sogra supera o ciúme do próprio filho amando o novo vínculo de Rute.

“Tudo isso porque a jovem Rute persistiu em ser fiel a um vínculo exposto ao preconceito étnico e religioso”, frisou o Papa, que a propósito da sogra disse que hoje se pensa nela de forma má:

Olhem bem a relação que vocês têm com as suas sogras e se às vezes são um pouco especiais, elas lhe deram a maternidade do seu cônjuge, lhe deram tudo. Ao menos as façam felizes, que continuem a sua velhice com felicidade. E se têm algum defeito que seja corrigido. Digo também a vocês, sogras: cuidado com a língua, porque a língua é um dos pecados mais feios das sogras. Tenham cuidado!”

A seguir, o Papa recomendou aos jovens que conversem “com seus avós, que conversem com os idosos e que os idosos conversem com os jovens”.

No final da Audiência Geral, o Papa recordou o aniversário de canonização de João Paulo II e pediu oração incessante pela paz.

JM (com recursos jornalísticos do portal de notícias Vatican News)

Partilhe nas redes sociais!
28 de Abril de 2022