comprehensive-camels

Sesimbra: Novena, procissão e celebração solene assinalaram a Festa do Senhor Jesus das Chagas

20220505-sesimbra-festa-senhor-jesus-das-chegas (9)

De 24 de abril a 2 de maio decorreu a Novena do Senhor das Chagas, cuja pregação teve como tema geral o valor do Catecismo da Igreja Católica para a formação do cristão adulto. As celebrações concluíram com Eucaristia na Igreja Matriz e procissão pelas ruas de Sesimbra.

No dia 4, dia da festa, a Missa da Exaltação da Santa Cruz foi celebrada pelo Administrador Diocesano, Padre José Lobato, concelebrada pelo Pároco de Santiago-Sesimbra, Padre Manuel Silva, pelo pároco precedente, Padre António Sílvio Couto, e o conterrâneo Padre Tiago Ribeiro Pinto, com os dois diáconos Jonas Cardoso e José Manuel Raposo.

Na homilia, o Padre José Lobato interpretou o sofrimento de Jesus na Cruz não em vez do nosso, mas exemplo para o nosso, pois Ele está a sofrer connosco, a sofrer com os que sofrem, a dar-nos exemplo de Amor. Na Sua condição humana, Ele viu-se rejeitado, traído, humilhado, martirizado… e revelou-nos um Amor puro. Por isso, o centurião O reconhece como Filho de Deus. Ele transforma o nosso coração com a Sua bondade. Olhar para Ele salva-nos.

 

“Os cantos e todo o espírito desta festa anual, de amor reconhecido por tanto Amor de Jesus, tornam-nos disponíveis a ouvir a Sua voz, que soa como um apelo à nossa conversão” lê-se na nota publicada no “Dia do Senhor”, boletim paroquial.

A imagem de Senhor Jesus das Chagas saiu em procissão pelas ruas da vila, depois de dois anos de interregno, enchendo-se a vila de devotos que aguardavam a passagem da célebre imagem, encontrada na praia de Sesimbra em 1534. Durante a procissão houve lugar a sermão e bênção do mar e das embarcações no Largo da Marinha. De seguida, a imagem regressou à Igreja Matriz, onde decorreu pregação e a recitação do Te Deum. Posteriormente, a imagem regressa, em pequena procissão, à Capela da Misericórdia onde fica todo o ano.

 

O culto ao Senhor Jesus das Chagas em Sesimbra remonta ao século XVI, mais concretamente a 4 de maio de 1534, quando, de acordo com a tradição oral passada de geração em geração, a representação do Senhor das Chagas existente na vila terá sido trazida por correntes marítimas durante a afirmação da igreja protestante em Inglaterra, quando todas as imagens católicas foram deitadas ao mar.

A imagem foi encontrada por pescadores nas praias de Sesimbra e encontra-se atualmente na capela da Santa Casa da Misericórdia. Todos os anos, a 4 de maio, a imagem sai e percorre as ruas da vila em procissão, até à Igreja Matriz. A data é feriado municipal.

 

Reflexão: “O Senhor das Chagas venceu a morte e abraçou-nos consigo”

Começamos por uma estrofe do hino litúrgico que se encontra na p. 32 do livrinho publicado em 2005 pelo Padre A. Sílvio Couto, então nosso pároco, e que se intitula «Senhor Jesus das Chagas: descoberta contínua de vida». História, novena e poemas.

Diz a estrofe que nos impressionou pela sua atualidade:

«Porto feliz preparaste
Para o mundo naufragado
E pagaste por inteiro
O preço da redenção,
Pois o sangue do Cordeiro
Resgatou as nossas culpas.
Deus quis vencer o inimigo
Com as suas próprias armas.
A sabedoria aceitou
O tremendo desafio
E onde nascera a morte
Brotou a fonte da vida».

A que atualidade me refiro? Àquela que estamos a viver nestes dias, a invasão da Ucrânia, não pessoalmente, mas acompanhando dia após dia o seu incrível desenvolvimento através da televisão.

No nosso tempo de liberdade e democracia, de direito internacional, de Organização das Nações Unidas, custa-nos a aceitar que um País se sinta no direito de invadir as fronteiras de outro País justificando-se com o temor do outro se aliar com um vizinho mais forte… Então o Direito Internacional não tem valor? Só a força manda no nosso mundo?

O hino fala de «mundo naufragado» e é assim que nós nos sentimos neste momento, vendo toda a devastação que arrasa uma terra antes fértil, um País em progresso, com lindas cidades, um povo livre e feliz… Será possível? Nada consegue parar esta ganância destruidora? Se nos acontecesse a nós?…

Em Sesimbra, estamos a celebrar a novena do Senhor Jesus das Chagas. A sua festa é no próximo 4 de Maio, aniversário do achado da Sua estátua na nossa praia, junto da Pedra Alta, no longínquo 1534.

Por isso, temos o livrinho na mão, e daí nos vem a luz que nos surpreende: «Deus quis vencer o inimigo com as suas próprias armas». As armas do inimigo são a morte. E Deus venceu o inimigo precisamente com a morte, a morte de Seu Filho, «o Cordeiro» pascal, que não pactuou com o inimigo, mas – inocente – se entregou à morte! O Seu sangue, as Suas chagas, «pagaram por inteiro o preço da redenção».

É o que está a acontecer com o povo ucraniano. Na corajosa resistência, com o seu sangue ele está a pagar o preço da redenção. Não sabemos como acontecerá a sua libertação, mas constatamos que através dos seus chefes, com o apoio do seu povo, com a surpreendente ajuda da comunidade internacional, «a sabedoria aceitou o tremendo desafio».

Este desafio está a decorrer… Em campo há um tremendo jogo de forças. Como aconteceu com o Senhor Jesus das Chagas, a força deste povo chama-se AMOR.  AMOR INFINITO. Neste caso à própria pátria, à própria história, à própria liberdade, aos próprios valores… O mundo está impressionado com tanta coragem…

E é só por isso que esperamos que, também para eles, o Amor seja mais forte do que a morte e – como aconteceu a Jesus – da cruz «onde nasceu a morte, brote a fonte da vida».

De 24 a 2 de Maio decorreu a Novena do Senhor das Chagas. No quarto dia, veio pregar um Padre ucraniano, vigário paroquial na Quinta do Conde e Azeitão, o Padre Ivan Petliak, que disse: «Estamos a viver um tempo tão especial para o meu povo, mas também para todo o mundo. Olhamos para as chagas do Senhor, mas sofre agora o mundo inteiro. Depois de duas guerras no século passado, ainda não conseguimos aprender bem o que é a Paz, e o seu valor». Mais adiante, falando da transmissão da Fé, acrescentou: «No nosso mundo a chama da Fé diminui cada dia. É importante descobrir esta chama da Fé, enquanto ela existe nos corações».

Esta «chama» é uma força maior de todas as outras.  É a força que nos inspira o Senhor das Chagas. Ele passou pelo sofrimento e pela morte – por nosso Amor – e por isso ressuscitou. Do nosso «mundo naufragado»… chegou ao «porto feliz», que é o abraço de Seu Pai.

E não chegou sozinho. A sua inocência humana e a sua divindade levaram-no a «pagar por inteiro o preço da (nossa) redenção», a «resgatar as nossas culpas».

Sem Fé não chegaremos ao «porto feliz» que o Senhor das Chagas «preparou para o (nosso) mundo naufragado». Ele já lá chegou com a Sua ressurreição, e pagou por nós, habilitando-nos a chegar lá também, mas não será sem haver da nossa parte uma imersão de amor no Seu Amor, da qual o Batismo é o sinal. E depois, pela vida fora, luta fiel e perseverante entre as tempestades do mar que nos separa do «porto feliz».

Ele diz-nos isto todos os anos na Sua novena. E também se O formos visitar na Capela no momento da dificuldade… Faz-nos refletir e enche-nos de amor e coragem. O Seu Amor venceu a morte e a Sua ressurreição abraçou-nos consigo, quando nela fomos batizados.

Agora, temos de seguir em frente… com Ele!…confiando-Lhe este nosso mundo, para que não naufrague, mas da Cruz, «donde nasceu a morte, brote (ainda e sempre) a força da vida»!

Na nossa novena e na procissão de dia quatro, olhámos com amor para o Seu rosto de sofrimento, e vamos pedir para nós e para o povo ucraniano o «porto feliz» da Salvação, que Ele nos preparou.

Maria Silvina Palmeirim, paroquiana

Partilhe nas redes sociais!
05 de Maio de 2022