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A Palavra do Papa: o serviço do Evangelho, o inverno demográfico, a paz no mundo e a vocação dos avós

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“Judite. Uma jovem admirável, uma velhice generosa” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral da passada quarta-feira, 11 de maio, realizada na Praça São Pedro.

Papa assinalou Dia Mundial das Vocações, destacando «alegria» de servir o Evangelho

O Papa assinalou, no dia 8 de maio, o 59.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que a Igreja Católica celebrou, com o tema “Chamados para construir a família humana”, pedindo que os batizados saibam “dar a vida”.

“Este é o dia em que todos nos devemos sentir, como batizados, chamados a seguir Jesus, a dizer-lhe ‘sim’, a imitá-lo para descobrir a alegria de dar a vida, de servir o Evangelho com alegria e entusiasmo”, declarou, desde a janela do apartamento pontifício, após a recitação da oração pascal do ‘Regina Coeli’.

Francisco destacou que, neste dia e em todos os continentes, “as comunidades cristãs invocam ao Senhor o dom das vocações ao sacerdócio, à vida consagrada, à escolha missionária e ao matrimónio”.

A mensagem de Francisco para esta celebração, divulgada pelo Vaticano, defende a necessidade de superar a ideia de separação entre sacerdotes e leigos, na Igreja Católica, destacando a necessidade de “caminhar juntos” no processo sinodal que decorre até 2023.

“É preciso acautelar-se da mentalidade que separa sacerdotes e leigos, considerando protagonistas os primeiros e executores os segundos, e levar por diante a missão cristã, conjuntamente, leigos e pastores como único Povo de Deus. Toda a Igreja é comunidade evangelizadora”, escreve.

Enquanto continuam a soprar os ventos gélidos da guerra e da opressão, a intenção do Pontífice é refletir sobre o amplo significado da “vocação”, no contexto de uma Igreja sinodal que se coloca à escuta de Deus e do mundo:

“Queremos contribuir para construir a família humana, curar as suas feridas e projetá-la para um futuro melhor.”

Mais apoios para famílias que desejam ter filhos é o desejo do Papa Francisco

O Papa pediu mais apoios para famílias que desejam ter filhos, numa mensagem divulgada ontem, 12 de maio, pelo Vaticano, falando da quebra de natalidade como uma “nova pobreza”.

“Esta é uma nova pobreza que me assusta. É a pobreza gerativa de quem desconta no seu coração o desejo de felicidade, de quem se resigna em diluir as maiores aspirações, de quem se contenta com pouco e deixa de sonhar alto”, assinala, numa intervenção apresentada aos participantes num evento organizado em Roma pela Fundação para a Natalidade e promovido pelo Fórum das Famílias.

“Sim, uma pobreza trágica, porque atinge os seres humanos na sua maior riqueza: colocar no mundo vidas para cuidar, transmitir aos outros com amor a existência recebida”, acrescenta Francisco. O Papa considera que o baixo índice de natalidade representa uma “emergência social”, que compromete o futuro de todos.

A mensagem alerta ainda para “substitutos medíocres” da família, como os negócios, o carro, as viagens ou a “obsessão” pelo tempo livre. “A esperança não pode e não deve morrer esperança”, conclui Francisco, assumindo o desejo de que se possa inverter o “frio inverno demográfico”.

Papa Francisco dirige-se aos peregrinos de Fátima: “levem o desejo ardente de paz no mundo”

Na Audiência Geral da passada quarta-feira, , o Papa saudou os fiéis de língua portuguesa que estão a caminho do Santuário de Fátima para as celebrações do 13 de maio, data da primeira aparição da mãe de Deus aos três pastorinhos.

“O meu pensamento dirige-se também àqueles que, nestes dias, rumam ao Santuário de Fátima, levando a Nossa Senhora as alegrias e as preocupações dos seus corações. Unidos a estes nossos irmãos, também nós confiamos o ardente desejo de paz no mundo à Virgem Maria, que a todos envolve com o seu olhar materno. Que a bênção do Senhor sempre os acompanhe!”, disse o Pontífice.

O Papa Francisco reforçou o convite à oração pela paz, quando se dirigiu aos fiéis de língua alemã: “Mais uma vez, convido-os a rezar o Terço pela paz no mundo. Que o Senhor nos conceda experimentar a sua proximidade nas alegrias e dificuldades do nosso tempo.”

A denúncia da «loucura da guerra» e o sofrimento do povo ucraniano

O Papa reforçou, esta semana, o seu apelo ao fim da guerra na Ucrânia, iniciada a 24 de fevereiro, pedindo que os responsáveis pelo conflito abandonem as armas.

“À Vigem Santa, apresento em particular os sofrimentos e as lágrimas do povo ucraniano. Diante da loucura da guerra, por favor, continuemos a rezar todos os dias o Rosário pela paz”, pediu, após a recitação da oração pascal do ‘Regina Coeli’, desde a janela do apartamento pontifício.

Francisco falava aos milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, associando-se à peregrinação pela paz dos católicos italianos ao Santuário de Pompeia. “Espiritualmente ajoelhado diante de Nossa Senhora, confio-lhe o ardente desejo de paz de tantas populações, que em várias partes do mundo, sofrem com a catástrofe sem sentido da guerra”, disse.

Rezemos pelos responsáveis das nações, para que não percam o sentir do povo, que quer a paz e sabe bem que as armas nunca a trazem”.

“Os avós não são aposentados frágeis, mas pessoas com talentos a serem valorizados”

Judite, uma heroína bíblica, defendeu Israel contra os seus inimigos. “Com sua maneira astuta de agir, ela foi capaz de degolar o ditador que veio contra o país.  Era corajosa, esta mulher, tinha fé”, sublinhou o Papa. “Depois da grande aventura que a vê protagonista, Judite volta a viver na sua cidade, Betúlia, onde vive uma boa velhice. Judite viveu mais de cem anos, uma bênção especial”, sublinhou Francisco, ressaltando que hoje “não é comum, ter muitos anos ainda para viver depois da reforma”. Portanto, como interpretar, como fazer frutificar o tempo da reforma? “Como posso crescer em autoridade, santidade e sabedoria?”, perguntou o Papa.

“Para os avós, uma parte importante da sua vocação é ajudar os filhos na educação das crianças. Os pequeninos aprendem a força da ternura e o respeito pela fragilidade: lições insubstituíveis que, com os avós, são mais fáceis de transmitir e de receber. Os avós, por sua vez, aprendem que a ternura e a fragilidade não são apenas sinais de declínio: para os jovens, constituem passagens que tornam humano o futuro”, disse o Papa Francisco.

“Judite fica viúva cedo e não teve filhos, mas na velhice pode viver um tempo de plenitude e serenidade, consciente de ter vivido a missão que o Senhor lhe confiara. Para ela é o tempo de deixar o bom legado da sabedoria, da ternura, dos dons à família e à comunidade: uma herança de bem e não só de bens. Quando pensamos em herança, às vezes pensamos nos bens, e não no bem que foi feito na velhice e que foi semeado, esse bem que é a melhor herança que podemos deixar”, disse ainda o Papa.

“Na sua velhice, Judite “concedeu a liberdade à sua serva preferida”. Isto é sinal de um olhar atento e humano a quem lhe esteve próximo.” Na velhice, perde-se um pouco da vista, mas o olhar interior torna-se mais agudo. Torna-se capaz de ver coisas que antes passavam despercebidas. É assim: o Senhor não confia os seus talentos apenas aos jovens e aos fortes: tem talentos para todos, à medida de cada um. A vida das nossas comunidades deve saber desfrutar dos talentos e carismas de tantos idosos que já estão reformados, mas são uma riqueza a ser valorizada. Isto requer, da parte dos próprios idosos, uma atenção criativa e nova, uma disponibilidade generosa.

Regina Coeli: “O cristão é filho da escuta”

No IV Domingo de Páscoa, dia 8 de maio, durante o Regina Coeli, o Papa Francisco falou sobre “o Bom Pastor”. Para recordar esta “terna e bela imagem” do pastor com suas ovelhas, o Santo Padre usou três verbos, presentes no Evangelho de João, refletindo sobre eles: escutar, conhecer, seguir.

“Antes de tudo, as ovelhas escutam a voz do pastor. A iniciativa vem sempre do Senhor; tudo parte da sua graça: é Ele quem nos chama à comunhão com Ele. Mas esta comunhão realiza-se se nos abrirmos à escuta. Escutar significa disponibilidade, docilidade, tempo dedicado ao diálogo”. O Papa destacou que a escuta é fundamental para o Senhor, explicando: “O Senhor é a Palavra do Pai e o cristão é filho da escuta, chamado a viver com a Palavra de Deus ao alcance da mão”.

“Escutar Jesus torna-se assim o caminho para descobrir que Ele nos conhece. Aqui está o segundo verbo, que diz respeito ao bom pastor: Ele conhece suas ovelhas”, explicou o Papa, enfatizando que “conhecer no sentido bíblico significa amar”.

Ao refletir sobre o terceiro verbo, o Papa Francisco disse: “As ovelhas que escutam e se descobrem conhecidas, seguem o seu pastor. E quem segue a Cristo, o que faz? Vai para onde Ele for, na mesma estrada, na mesma direção”, recordando ainda que, seguir, significa interessar-se pelos que estão longe, carregar no coração a situação dos que sofrem, saber chorar com os que choram, estender a mão ao próximo e carregá-lo aos ombros.

O estudo da liturgia deve levar a maior unidade eclesial: “Devemos continuar a tarefa de formar para a liturgia para sermos formados pela liturgia”

No encontro de 7 de maio com os membros do Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo de Roma, que se dedica ao estudo da liturgia, o Papa Francisco recordou as três dimensões fundamentais para renovar a vida litúrgica: a participação ativa e fecunda na liturgia; a comunhão eclesial animada pela celebração da Eucaristia e dos Sacramentos da Igreja; e o impulso à missão evangelizadora a partir da vida litúrgica que envolve todos os batizados.

No que se refere à formação a viver e promover a participação ativa na vida litúrgica o Sumo Pontífice disse: “A chave aqui é educar as pessoas para entrarem no espírito da liturgia. E para saber como fazer isso, é necessário estar impregnado desse espírito”.

Sobre este ponto, o Papa disse ainda: “gostaria de sublinhar o perigo, a tentação do formalismo litúrgico: ir atrás das formas, das formalidades e não da realidade, como vemos hoje naqueles movimentos que tentam retroceder e negar o próprio Concílio Vaticano. Neste caso, a celebração é recitação, é algo sem vida, sem alegria”.

Referindo-se ao segundo aspeto, o Santo Padre afirmou que a dedicação ao estudo litúrgico aumenta a comunhão eclesial: “Dar glória a Deus na liturgia reflete-se no amor ao próximo, no compromisso de viver como irmãos e irmãs em situações quotidianas, na comunidade em que me encontro, com seus méritos e limitações. Este é o caminho para a verdadeira santificação”.

Quanto ao terceiro aspeto, que afirma que cada celebração litúrgica se conclui sempre com a missão, o Papa recordou aos presentes: “O que vivemos e celebramos leva-nos a sair ao encontro dos outros, ao encontro do mundo ao nosso redor, ao encontro das alegrias e necessidades de tantos que talvez vivam sem conhecer o dom de Deus. A vida litúrgica genuína, especialmente a Eucaristia, sempre impele-nos à caridade, que é, antes de tudo, abertura e atenção ao outro”.

AS com Vatican News e Agência Ecclesia

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13 de Maio de 2022