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A Palavra do Papa: o contributo dos migrantes, a pobreza demográfica, os reflexos luminosos do Senhor e o profeta do nosso tempo

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“Amar significa isto: servir e dar a vida. Somos chamados a “servir o Evangelho e os irmãos”, a oferecer a nossa vida “sem retribuição, sem buscar nenhuma glória mundana, mas escondido humildemente como Jesus” afirmou o Papa este domingo na canonização de 10 novos santos.

“Os migrantes não são invasores, a sua contribuição enriquece a sociedade”

Foi divulgada na quinta-feira (12 de maio) a mensagem para o 108º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado que será celebrado a 25 de setembro. No texto, o Pontífice enaltece que o trabalho deles, a sua “capacidade de sacrifício, juventude e entusiasmo enriquecem as comunidades que os acolhem”.

É um novo e sentido apelo para mudar a abordagem e a percepção dos “irmãos” migrantes, aquele do Papa na mensagem, que tem como título “Construir o futuro com os migrantes e refugiados”.

O Pontífice entrelaça a sua análise sobre o fenómeno migratório com passagens bíblicas dos Profetas e do Evangelho. A visão subjacente é escatológica, o Reino de Deus, a “Nova Jerusalém”, a morada de Deus e o objetivo da humanidade; o olhar é sobre a atualidade, as “tribulações dos últimos tempos” que nos chamam a renovar o nosso compromisso para construir “um mundo onde todos possam viver em paz e dignidade”.

A construção do Reino de Deus está com eles, porque sem eles não seria o Reino que Deus quer. A inclusão das pessoas mais vulneráveis é uma condição necessária para a cidadania plena.”

Papa pede um novo impulso para que famílias concretizem sonho de gerar filhos

Francisco enviou uma mensagem a um evento realizado em Roma para refletir sobre o baixo índice de natalidade, promovido pela Fundação para a Natalidade e pelo Fórum das Famílias.

“Esta é uma nova pobreza que me assusta”, confessa o Santo Padre, considerando a falta de vocação para gerar filhos uma “periferia existencial no Ocidente” e uma “emergência social”.

É a pobreza gerativa de quem barganha no seu coração o desejo de felicidade, de quem se resigna em diluir as maiores aspirações, de quem se contenta com pouco e deixa de sonhar alto. Sim, uma pobreza trágica, porque atinge os seres humanos na sua maior riqueza: colocar no mundo vidas para cuidar, transmitir aos outros com amor a existência recebida.”

O risco, advertiu o Papa, é se contentar com “substitutos medíocres”, como os negócios, o carro, as viagens, a obsessão pelo tempo livre. Defende política concretas a favor das famílias, dando respostas reais às famílias e jovens.

“A esperança não pode e não deve morrer na espera”, conclui o Pontífice, dizendo que “torce” para que se possa inverter a rota deste “frio inverno demográfico”.

Canonizações: vivamos as tarefas de cada dia em espírito de serviço

O Papa Francisco canonizou dez novos santos durante a missa celebrada na manhã deste domingo, 15 de maio, na Praça São Pedro.

Entre os novos santos estão o carmelita Tito Brandsma, Maria Rivier e Charles de Foucauld.

«Assim como Eu vos amei, amai-vos também vós uns aos outros». Com estas palavras Jesus diz aos seus discípulos o que significa ser cristão. Francisco refletiu sobres os dois elementos essenciais deste mandamento: o amor de Jesus por nós e o amor que Ele nos pede para viver.

«Não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou». Que este anúncio “seja sempre central na profissão da nossa fé e nas suas expressões”, disse Francisco, acrescentando:

“Nunca nos esqueçamos disto! No centro, não está a nossa capacidade nem os nossos méritos, mas o amor incondicional e gratuito de Deus, que não merecemos. No início do nosso ser cristão, não estão as doutrinas e as obras, mas a maravilha de descobrir que se é amado, antes de qualquer resposta nossa.”

Amar significa isto: servir e dar a vida. Somos chamados a “servir o Evangelho e os irmãos”, a oferecer a nossa vida “sem retribuição, sem buscar nenhuma glória mundana, mas escondido humildemente como Jesus”.

“Os nossos companheiros de viagem, canonizados hoje, viveram assim a santidade: abraçando com entusiasmo a sua vocação, de sacerdote, de consagrada, de leigo, gastaram-se pelo Evangelho, descobriram uma alegria que não tem comparação e tornaram-se reflexos luminosos do Senhor na história. Este é um santo ou uma santa: um reflexo luminoso do Senhor na história”, acrescentou sobre os santos canonizados.

No fim da celebração, o Papa disse que o testemunho evangélico dos novos santos “favoreceram o crescimento espiritual e social das suas respetivas nações e também de toda a família humana”.

Obras Missionárias: missão, ardor de uma fé que não se contenta

O Papa Francisco enviou uma mensagem às Obras Missionárias Pontifícias reunidas em Lyon, no Centro Valpré, para a sua Assembleia Geral. Os 120 diretores nacionais das OMP e o seu presidente, D. Giampietro Dal Toso, escolheram encontrar-se nesta cidade francesa porque será lá beatificada no próximo domingo Pauline Jaricot, fundadora de uma das quatro obras missionárias, a Obra de Propagação da Fé.

“O impulso evangelizador nunca falhou na Igreja e o seu dinamismo fundamental sempre permanece. É por isso que eu quis que o Dicastério para a Evangelização assumisse um papel especial na renovada Cúria Romana para promover a conversão missionária da Igreja (Praedicate Evangelium, 2-3), que não é proselitismo, mas testemunho: sair de si para anunciar com a vida o amor gratuito e salvífico de Deus por nós, chamados a ser irmãos e irmãs”, frisa o Pontífice no texto.

Pauline Jaricot gostava de dizer que a Igreja é de sua natureza missionária e que, portanto, cada pessoa batizada tem uma missão; aliás, é uma missão. Ajudar a viver essa consciência é o primeiro serviço das Pontifícias Obras Missionárias, um serviço que realizam com o Papa e em nome do Papa.”

No documento, o Papa propõe três aspetos para o anúncio do Evangelho: a conversão missionária, a oração e a concretização da caridade.

“Queridos irmãos e irmãs que participam da Assembleia Geral das Pontifícias Obras Missionárias, espero que vocês sigam as pegadas deixadas por esta grande missionária, e que se deixem inspirar pela sua fé concreta, a sua coragem audaz e a sua criatividade generosa”, conclui o Pontífice na sua mensagem.

Chemin Neuf: a política é a arte do encontro, reflexão e ação

O Papa Francisco recebeu em audiência na segunda-feira os membros da Fraternidade Política Chemin Neuf, uma comunidade que nasceu em Lyon, em 1972, por iniciativa do seminarista jesuíta Laurent Fabre, que após uma experiência de oração num grupo da Renovação Carismática Católica decidiu trabalhar para construir uma Fraternidade que evangelizasse e trabalhasse para o bem comum.

A política é acima de tudo a arte do encontro. Somos chamados a viver o encontro político como um encontro fraterno, especialmente com aqueles que menos concordam connosco; e isso significa ver naquele com quem dialogamos um verdadeiro irmão, um filho amado de Deus”.

Para o Papa, se não ocorrer este encontro, a política transforma-se num “confronto, por vezes violento, a fim de fazer triunfar as próprias ideias, numa busca de interesses particulares e não do bem comum”.

Francisco disse ainda que “do ponto de vista cristão, a política também é reflexão, ou seja, a formulação de um projeto comum”, tendo como bússola “o Evangelho, que traz ao mundo uma visão profundamente positiva do ser humano amado por Deus.”

“Encontro, reflexão e ação: aqui há um programa de política no sentido cristão”, disse ainda Francisco, ressaltando que a política é «a mais alta forma de caridade», como o Papa Pio XI a definiu.

Trabalho infantil: muitas mãos pequenas privadas de dignidade

Francisco enviou uma mensagem para a 5ª Conferência Global que se realiza em Durban, na África do Sul, que trata da eliminação da exploração do trabalho de crianças e adolescentes.

O Papa pede aos “organismos internacionais e nacionais competentes” um “compromisso maior” para desarraigar “as causas estruturais da pobreza global e a desigualdade escandalosa que continua existindo entre os membros da família humana”.

São milhões de crianças vítimas “da exploração do trabalho que muitas vezes resulta nas piores formas de abuso de outro tipo, crianças privadas “da alegria da sua juventude e da sua dignidade dada por Deus”.

A Santa Sé e toda a Igreja, lembra Francisco, também estão trabalhando para que o fenómeno seja combatido “de forma resoluta, conjunta e decisiva” já que a “medida” com a qual se respeita a “dignidade humana inata” e os direitos fundamentais dos pequenos “expressa que tipo de adultos somos e queremos ser, e que tipo de sociedade queremos construir”.

Audiência Geral: a vítima tem o direito de protestar, diante do mistério do mal

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a velhice, na Audiência Geral desta quarta-feira realizada na Praça São Pedro, que teve como tema “Job. A provação da fé, a bênção da espera”.

Job “não aceita uma “caricatura” de Deus, mas grita o seu protesto perante o mal, até que Deus responda e revele o seu rosto. Deus por fim responde, como sempre de um modo surpreendente: mostra a Job a sua glória, mas sem o esmagar, pelo contrário, com soberana ternura”.

Job, que perde tudo na vida, quando Deus finalmente toma a palavra, é elogiado porque compreendeu o mistério da ternura de Deus escondida por trás do seu silêncio.”

A parábola no livro de Job representa de forma dramática e exemplar o que na realidade acontece na vida. Ou seja, que sobre uma pessoa, uma família ou um povo recaem provações demasiado pesadas, desproporcionais em relação à pequenez e à fragilidade humana.

“Todos nós conhecemos pessoas assim. Ficamos impressionados com o seu grito, mas também muitas vezes nos admiramos com a firmeza da sua fé e amor”, disse Francisco, acrescentando:

Os idosos que “convertem o ressentimento pela perda na tenacidade pela expectativa da promessa de Deus, são uma defesa insubstituível para a comunidade enfrentar o excesso do mal”.

O Papa convidou a olhar para os idosos, para as idosas com amor, os idosos que sofreram muito na vida, aprenderam muito também na vida e no final possuem aquela paz, disse o Papa, “quase mística, ou seja, a paz do encontro com Deus”, concluiu.

Foucauld, profeta do nosso tempo, soube trazer à luz a essencialidade da fé

“O novo Santo viveu o seu ser cristão como um irmão para todos, a começar pelos pequenos. O seu objetivo não era converter outros, mas viver o amor gratuito de Deus, vivendo ‘o apostolado da bondade’”: disse o Papa Francisco ao receber em audiência esta quarta-feira a Associação Família Espiritual de Charles de Foucauld, canonizado no domingo.

O Santo Padre definiu o novo Santo um profeta do nosso tempo, que soube trazer à luz a essencialidade e a universalidade da fé, duas palavras em torno das quais Francisco articulou e desenvolveu seu breve discurso.

Francisco fez votos de que também eles, como o Irmão Charles, continuem a imaginar Jesus caminhando no meio povo, que leva adiante pacientemente um trabalho árduo, que vive na quotidianidade de uma família e de uma cidade. “Como o Senhor fica contente por ver que o imitamos no caminho da pequenez, da humildade, da partilha com os pobres!” – enfatizou.

Antes de despedir-se, o Santo Padre deixou um testemunho seu sobre o novo Santo:

Também eu gostaria de agradecer a São Charles de Foucauld porque a sua espiritualidade me fez muito bem quando eu estudava teologia, um tempo de amadurecimento e também de crise, e que me chegou através do Padre Paoli e através dos livros de Boignot que li constantemente, e me ajudou muito a superar crises e a encontrar uma forma de vida cristã mais simples, menos pelagiana, mais próxima do Senhor. Agradeço ao Santo e dou testemunho disso, porque me fez muito bem.”

JM (com recursos jornalísticos do portal de notícias Vatican News)

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19 de Maio de 2022