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A Palavra do Papa: o ardente desejo da humanidade, a intercessão pela paz e os idosos que são sabedoria

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No fim do mês de Maria, o Papa rezou o terço pela paz na Basílica de Santa Maria Maior. Nos últimos dias, encontrou-se com budistas e judeus, apelou à comunhão nos movimentos da Igreja e mostrou a sua gratidão pela vida e serviço do cardeal Sodano, antigo Secretário de Estado do Vaticano recém falecido.

Budistas da Mongólia: com o diálogo, promover a cultura da paz

O Santo Padre recebeu na manhã de sábado uma delegação de líderes budistas da Mongólia, acompanhada por Dom Giorgio Marengo, prefeito apostólico de Ulaanbaatar, por ocasião do 30º aniversário da Prefeitura Apostólica no país.

Numa saudação aos visitantes, o Pontífice expressou a sua sentida gratidão por esta primeira visita ao Vaticano de representantes oficiais do budismo mongol. Tal visita, disse ele, tem o objetivo de aprofundar as relações de amizade com a Igreja Católica, promover a compreensão mútua e a colaboração para a construção de uma sociedade pacífica. Neste sentido, afirmou:

A paz representa, hoje, o ardente desejo da humanidade. Por meio do diálogo, em todos os níveis, é urgente promover uma cultura da paz e da não violência. O diálogo deve levar todos a rejeitar a violência, em todas as suas formas, inclusive a violência contra o meio ambiente. Infelizmente, ainda há pessoas que continuam a abusar e utilizar a religião para justificar atos de violência e de ódio”.

Neste sentido, falando de um mundo devastado por conflitos e guerras, Francisco frisou que “como líderes religiosos, profundamente arraigados nas nossas respetivas doutrinas religiosas, temos o dever de despertar na humanidade o desejo de renunciar à violência e construir uma cultura de paz”.

“O estudo da história é um caminho precioso para promover a paz”

A história da Igreja é o “lugar de encontro e confronto em que se desenvolve o diálogo entre Deus e a humanidade”. “O historiador do cristianismo deve ter o cuidado de apreender a riqueza das diversas realidades em que, ao longo dos séculos, o Evangelho se encarnou e continua a encarnar-se”.

Foi o que disse o Santo Padre no seu discurso aos membros do Pontifício Comité para as Ciências Históricas por ocasião da sessão plenária. O estudo da história, sublinha Francisco, “é indispensável para o laboratório da paz, como via de diálogo e de busca de soluções concretas e pacíficas para a resolução de conflitos e para conhecer melhor as pessoas e as sociedades”.

“Faço votos que os historiadores contribuam com as suas investigações, com as suas análises das dinâmicas que marcam os acontecimentos humanos, para o início corajoso de processos de confronto na história concreta de povos e Estados”, apelou.

Cursilhos de Cristandade: não “eternizar” os cargos nos movimentos, ninguém é indispensável

Francisco recebeu os membros do Movimento de Cursilhos da Cristandade em Itália que participam da VII Ultreia em Roma, encontro nacional de testemunho e oração. O convite foi à comunhão e evangelização.

O Papa pediu aos cursilhistas que estejam sempre em movimento: “Movimento pela unidade interna e movimento para evangelizar”. Estar em movimento concretamente significa “viver o serviço do anúncio e do testemunho cristão”, “nunca se isolar e nunca fechar”.

Adverte contra uma “coisa má” que é “eternizar os cargos”, ou seja, que é sempre o mesmo ou a mesma.” “Por favor, não!”, diz ele. “Todos são bons, mas nem todos são indispensáveis. Não somos indispensáveis.”

O convite é superar “uma visão meramente horizontal, terrena e materialista da vida, para redescobrir cada vez o novo olhar que a fé em Cristo nos deu sobre tudo: sobre nós mesmos, sobre o mundo, sobre o sentido da existência”.

Regina Caeli: aprendamos a interceder pelos sofrimentos do mundo

Ascensão do Senhor ao Céu e Pentecostes: dois acontecimentos intimamente ligados cuja relação foi metodicamente explicada pelo Papa na sua alocução que precedeu a oração do Regina Coeli neste domingo, 29 de maio.

Francisco começou recordando que a Ascensão, isto é, o retorno de Jesus ao Pai, após cumprida a sua missão terrena, é celebrada neste domingo em vários países.

“Mas, como entender este acontecimento, qual o seu significado?, pergunta. Para responder – explicou – devemos nos concentrar em duas ações que Jesus realiza antes de subir ao Céu: anuncia o dom do Espírito e depois abençoa os discípulos”.

Ao dizer “eu enviarei sobre vós aquele que o meu Pai prometeu”, Jesus “está a falar do Espírito Santo, do Consolador, daquele que os acompanhará, os guiará, os sustentará na missão, os defenderá nas batalhas espirituais”. Explicou ainda Francisco:

Jesus não está a abandonar os seus discípulos. Ao subir ao Céu Jesus, em vez de ficar perto de poucos com o seu corpo, faz-se próximo de todos com o seu Espírito. O Espírito Santo torna Jesus presente em nós, para além das barreiras do tempo e do espaço, para nos tornar suas testemunhas no mundo.”

Ao erguer as mãos e abençoar os apóstolos – a segunda ação – Jesus realiza um gesto sacerdotal: “Sobe ao Pai para interceder em nosso favor, para apresentar-lhe a nossa humanidade. Assim, diante dos olhos do Pai, há e sempre haverá, com a humanidade de Jesus, as nossas vidas, as nossas esperanças, as nossas feridas.”

O convite então do Papa nesta sua reflexão, é para pensarmos no dom do Espírito que recebemos de Jesus para sermos testemunhas do Evangelho: “Perguntemo-nos se realmente o somos; e também se somos capazes de amar os outros deixando-os livres e abrindo espaço para eles. E depois: sabemos ser intercessores pelos outros, isto é, sabemos rezar por eles e abençoar as suas vidas? Ou nos servimos dos outros para nossos próprios interesses?”

Aprendamos isto: a oração de intercessão, interceder pelas esperanças e sofrimentos do mundo, interceder pela paz. E abençoemos com o olhar e com as palavras aqueles quem encontramos todos os dias!”

Francisco lembrou ainda o Dia Mundial das Comunicações, celebrado este domingo, cujo tema desta 56º edição é a escuta: “saber ouvir, deixar que os outros falem tudo, sem interromper – acrescentou – e crescer nessa capacidade”. Na conclusão, o Santo Padre fez o anúncio dos novos cardeais que serão criados no Consistório a ter lugar em 27 de agosto próximo.

Judeus e cristãos: trabalhar juntos para o bem comum

O Papa Francisco recebeu em audiência na segunda-feira uma delegação da B’nai B’rith International, organização judaica que trabalha para melhorar a qualidade de vida das pessoas em todo o mundo, dedicada aos direitos humanos.

De acordo com o Pontífice, “socorrer os últimos, os pobres e os doentes é a maneira mais concreta de promover uma maior fraternidade. Pensando em tantos conflitos e extremismos perigosos, que colocam em risco a segurança de todos, deve-se observar que muitas vezes o maior fator de risco é representado pela pobreza material, educacional e espiritual, que se torna terreno fértil para alimentar o ódio, a raiva, a frustração e o radicalismo”.

Segundo o Papa, “diante da violência, diante da indiferença”, as Sagradas Escrituras “trazem-nos de volta o rosto do irmão”. “A fidelidade ao que somos, à nossa humanidade, é medida pela fraternidade, é medida no rosto do outro”, sublinhou.

Francisco evidenciou a necessidade de promover e aprofundar o diálogo judaico-católico: “avancemos juntos, baseados nos valores espirituais partilhados, a fim de defender a dignidade humana contra toda violência, para buscar a paz”.

Cardeal Sodano: “dons intelectuais e do coração combinados com alto senso do dever”

O Papa Francisco redigiu uma mensagem de pesar pela morte, aos 94 anos, do cardeal Angelo Sodano, ocorrida na noite de sexta-feira, 27 de maio, em Roma. O cardeal ocupou o cargo de Secretário de Estado do Vaticano de 1991 a 2006 e foi decano do Colégio dos Cardeais de 2005 a 2019.

A morte do cardeal Sodano suscita na minha alma sentimentos de gratidão ao Senhor pelo dom deste estimado homem de Igreja, que viveu com generosidade o seu sacerdócio inicialmente na Diocese de Asti e depois, no restante da sua longa existência, ao serviço da Santa Sé”.

O Sumo Pontífice recordou o trabalho do cardeal, especialmente na Cúria Romana e nas representações pontifícias enviadas ao Equador, Uruguai e Chile, observando que também foi beneficiado “pelas capacidades mentais e de coração” de Angelo Sodano.

“Em cada encargo demonstrou ser um homem eclesialmente disciplinado, amável pastor, animado pelo desejo de divulgar em todos os lugares o fermento do Evangelho”.

As exéquias decorreram na Basílica de São Pedro. No final da celebração, o Papa Francisco presidiu o rito da Ultima Comendatio e da Valedictio.

“Cesse o quanto antes a guerra”: a súplica de Francisco à Rainha da Paz

Aos pés do ícone da “Regina Pacis” na Basílica de Santa Maria Maior, o Pontífice deu voz ao anseio da humanidade sedenta de paz: “Esta noite, no final do mês particularmente consagrado a Vós, aqui estamos nós novamente diante Vós, Rainha da Paz, para Vos implorar: concedei-nos a grande dádiva da paz, cesse o quanto antes a guerra”.

O primeiro gesto de Francisco foi oferecer flores que foram colocadas diante da imagem da “Regina Pacis”.

Consagramos ao vosso Imaculado Coração as nações em guerra e pedimos o grande dom da conversão dos corações. Estamos certos de que com as armas da oração, do jejum e da esmola, e com o dom da vossa graça, é possível mudar os corações dos homens e o destino do mundo inteiro”, disse na sua oração inicial.

A cada mistério, uma intenção particular: pelas vítimas inermes, sobretudo crianças e idosos, pelos sacerdotes chamados a levar a esperança de Cristo, pelos médicos e voluntários e pelos torturados e moribundos. Seguiu o canto da Salve Rainha, as Ladainhas Lauretanas e a bênção apostólica, encerrando um mês em que o Papa explicitamente pediu aos fiéis que rezassem diariamente o Terço pela Paz. No final da oração, o Papa saudou brevemente os presentes e regressou ao Vaticano.

Audiência Geral: a velhice não deve ser escondida, é o “magistério da fragilidade”

“Não me abandonar quando minhas forças declinarem” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, 1 de junho, realizada na Praça São Pedro.

Essas palavras do Salmo 71 “encoraja-nos a meditar sobre a forte tensão que habita na condição da velhice, quando a memória das dificuldades superadas e das bênçãos recebidas é colocada à prova da fé e da esperança”.

“O salmista – um idoso que se dirige ao Senhor – menciona explicitamente o facto de que este processo se torna ocasião de abandono, engano, prevaricação e arrogância, que por vezes recaem sobre os idosos”, disse ainda o Papa, acrescentando que esta é uma “forma de covardia em que nos estamos a especializar nesta nossa sociedade”.

Quando ouvimos dizer que os idosos são despojados da própria autonomia, da sua segurança, até das suas casas, compreendemos que a ambivalência da sociedade atual em relação aos idosos não é um problema de emergências ocasionais, mas um traço da cultura do descarte que envenena o mundo em que vivemos.”

De acordo com o Papa, “as consequências são fatais. A velhice não só perde a sua dignidade, como até se duvida que mereça continuar. Assim, todos somos tentados a esconder a nossa vulnerabilidade, a esconder a nossa doença, a nossa idade, a nossa velhice, porque tememos que sejam a antecâmara da nossa perda de dignidade”.

“O ancião do salmo, que vê a sua velhice como uma derrota, redescobre a confiança no Senhor. Ele sente a necessidade de ser ajudado. E dirige-se a Deus. E o salmista idoso invoca: «Salva-me, por tua justiça! Liberta-me! Inclina depressa o teu ouvido para mim! Sejas tu a minha rocha de refúgio, a fortaleza onde eu me salve, pois o meu rochedo e fortaleza és tu!»”, explicou.

“Cada um de nós pode pensar hoje nos idosos da sua família: como eu me relaciono com eles, lembro-me deles, vou visitá-los? Procuro ver se não lhes falta nada? Eu respeito-os? Os idosos que estão na minha família: pensemos na mãe, no pai, no avô, na avó, tios, amigos. Eu cancelei-os da minha vida? Ou eu vou até eles para tomar sabedoria, a sabedoria da vida?”

A velhice chega para todos. E como gostaria de ser tratado ou tratada no momento da velhice, trate os idosos hoje. São a memória da família, a memória da humanidade, a memória do país. Proteger os idosos que são sabedoria.”

No final da Audiência Geral, o Papa Francisco apelou à comunidade internacional para desbloquear a questão dos grãos retidos, devido à guerra em curso, nos portos da Ucrânia:

“É muito preocupante o bloqueio das exportações de trigo da Ucrânia, do qual dependem as vidas de milhões de pessoas, especialmente dos países mais pobres. Dirijo um forte apelo para que sejam feitos todos os esforços para resolver esta questão e para garantir o direito humano universal à alimentação. Por favor, que o trigo, um alimento básico, não seja usado como arma de guerra!”.

JM (com recursos jornalísticos do portal de notícias Vatican News)

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01 de Junho de 2022