comprehensive-camels

A Palavra do Papa: as redes de famílias, a voz das invisíveis, o Deus trino e único e a sabedoria da vida

20220614-a-palavra-do-papa - Cópia

“A Trindade ensina-nos que nunca se pode ficar sem o outro. Não somos ilhas, estamos no mundo para viver à imagem de Deus: abertos, necessitados dos outros e necessitados de ajudar os outros” afirmou o Papa, este domingo, na oração do Angelus.

Vacinas contra a Covid: Papa pede que a África não fique para trás

Francisco usou o Twitter na sexta-feira (dia 10) para reforçar o pedido aos países membros da Organização Mundial do Comércio que adotem medidas que garantam o acesso de vacinas contra o coronavírus a todos, “especialmente às populações de África”.

A mensagem foi publicada por ocasião da 12ª Conferência Ministerial, realizada na sede da Organização Mundial do Comércio, em Genebra, na Suíça, de 12 a 15 de junho:

Uno-me aos Comités Pan-americano e Pan-africano de Juízes para os Direitos Sociais, para pedir à Organização Mundial do Comércio que adote medidas que garantam a todos, especialmente às populações da África, o acesso às vacinas contra a Covid-19.”

O Papa fez uma segunda publicação na conta oficial Pontifex_pt, pedindo novamente um olhar dirigido à África, com o seguinte pedido:

“Um acesso equitativo a vacinas seguras e eficazes é crucial para salvar vidas e meios de subsistência. A África não deve ficar para trás. Ninguém está salvo até que todos estejam salvos.”

Famílias: criar redes para combater as chagas da pornografia e da barriga de aluguel

O Papa Francisco recebeu em audiência, na Sala Clementina, na sexta-feira, os membros da Federação das Associações de Famílias Católicas na Europa, por ocasião dos seus 25 anos de fundação.

Segundo o Pontífice, a Europa e as famílias na Europa, “vivem um momento que para muitos é trágico e para todos é dramático por causa da guerra na Ucrânia”. “Mães e pais, independentemente da sua nacionalidade, não querem guerra. A família é a escola da paz”, disse o Papa, citando um trecho da declaração do organismo.

No seu compromisso quotidiano com as famílias, vocês realizam um serviço duplo: vocês levam a sua voz para as instituições europeias e trabalham para formar redes de famílias em toda a Europa. Esta missão está em total consonância com o caminho sinodal que estamos a viver, a fim de que a Igreja se torne mais família de famílias”, observou o Santo Padre.

Francisco encorajou os membros da Federação das Associações de Famílias Católicas na Europa “a continuarem o seu trabalho em prol do nascimento e da consolidação das redes de famílias. É um serviço precioso, pois há necessidade de lugares, encontros, comunidades em que casais e famílias se sintam acolhidos, acompanhados, nunca sozinhos. É urgente que as Igrejas locais, na Europa e fora dela, se abram para a ação dos leigos e das famílias que acompanham as famílias”.

Apelou à “solidariedade entre gerações” sem a qual não há desenvolvimento sustentável e à criação de políticas que incentivem a natalidade. Denunciou a “chaga da pornografia”, difundida na internet que é “um ataque permanente à dignidade do homem e da mulher”.

“A dignidade do homem e da mulher também está ameaçada pela prática desumana e cada vez mais difundida da “barriga de aluguer”, em que as mulheres, quase sempre pobres, são exploradas, e as crianças são tratadas como mercadorias”, disse ainda o Pontífice.

Por fim, o Papa ressaltou que “a pandemia destacou outra pandemia mais oculta, da qual pouco se fala: a pandemia da solidão” para a qual as redes de famílias são um antídoto.

Mulheres católicas: “Trouxemos-lhe a voz das invisíveis”

Na manhã deste sábado, 11 de junho, o Papa Francisco recebeu o conselho executivo da União mundial das Organizações femininas católicas (Umofc), que no ano passado criou um Observatório mundial, que elaborou um relatório sobre “O impacto da Covid-19 nas mulheres da América Latina e do Caribe”.

Foi uma audiência repleta de afeto, de presentes e brincadeiras (como a que foi feita à tesoureira: “Ah, é ela quem tem o poder!”), mas também com indicações claras para o futuro e o presente das mulheres na Igreja e agradecimentos pelo trabalho feito em favor das “invisíveis” dos cinco continentes.

Os resultados do relatório foram entregues este sábado ao Papa. A 14 de junho, serão apresentados num encontro em Roma com o cardeal Marc Ouellet, presidente da CAL (Comissão para a América Latina). Francisco encorajou a seguir adiante neste trabalho, agora iniciado para o continente africano, e prometeu que em maio de 2023, na véspera da Assembleia Geral da Umofc em Assis, ele receberá todos os membros da organização.

Angelus: “Deus trino e único deve ser mostrado através do testemunho de vida”

Celebrar a Santíssima Trindade não é tanto um exercício teológico, mas uma revolução no nosso modo de vida. Deus, em quem cada Pessoa vive para o outro, não para si mesmo, provoca-nos a viver com os outros e para os outros: disse o Papa no Angelus deste domingo, Solenidade da Santíssima Trindade.

Na alocução que precedeu a oração mariana, Francisco explicou o Evangelho do dia (Jo 16, 12-15), em que Jesus nos apresenta as outras duas Pessoas divinas, o Pai e o Espírito Santo. Do Espírito ele diz: “Não falará de si mesmo, mas receberá o que é meu e vos anunciará”. E depois, a respeito do Pai, ele diz: “Tudo o que o Pai tem é meu”.

Observamos, disse o Santo Padre, que o Espírito Santo fala, mas não de si mesmo: anuncia Jesus e revela o Pai. E que o Pai, o qual possui tudo, porque é a origem de todas as coisas, dá ao Filho tudo o que possui: não guarda nada para si mesmo e dá-se inteiramente ao Filho.

O Papa destacou que celebrar a Santíssima Trindade não é tanto um exercício teológico, mas uma revolução no nosso modo de vida.

Deus, em quem cada Pessoa vive para o outro, não para si mesmo, provoca-nos a viver com os outros e para os outros. Hoje podemos perguntar-nos se nossa vida reflete o Deus em que acreditamos: eu, que professo a fé em Deus Pai e Filho e Espírito Santo, realmente acredito que para viver preciso dos outros, preciso me doar aos outros, preciso servir aos outros? Afirmo isto com palavras ou com a vida?

“O Deus trino e único, queridos irmãos e irmãs – prosseguiu Francisco -, deve ser mostrado assim, com ações antes das palavras. Deus, que é o autor da vida, é transmitido menos através dos livros e mais através do testemunho de vida.”

Para entender melhor isto, disse, pensemos nos nomes das Pessoas divinas, que pronunciamos cada vez que fazemos o sinal da cruz: em cada nome há a presença do outro.

O Pai não o seria sem o Filho; da mesma forma, o Filho não pode ser pensado sozinho, mas sempre como o Filho do Pai. E o Espírito Santo, por sua vez, é o Espírito do Pai e do Filho. Em resumo, a Trindade ensina-nos que nunca se pode ficar sem o outro. Não somos ilhas, estamos no mundo para viver à imagem de Deus: abertos, necessitados dos outros e necessitados de ajudar os outros.”

No final, o Papa lembrou que este dia 12 de junho é o Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil:

“Comprometamo-nos a eliminar este flagelo, para que nenhuma criança seja privada dos seus direitos fundamentais e forçada a trabalhar. A realidade das crianças exploradas para o trabalho é uma realidade dramática que nos desafia a todos.”

Francisco: peço desculpa pela viagem adiada a África

Após o Angelus, o Papa falou sobre a viagem à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul, adiada a pedido dos médicos:

“Gostaria de me dirigir ao povo e às autoridades da República Democrática do Congo e do Sudão do Sul. Caríssimos, com grande pesar, devido a problemas com a minha perna, tive que adiar a minha visita aos seus países, programada para os primeiros dias de julho. Eu realmente sinto um grande pesar por ter tido que adiar esta viagem, que eu tanto prezo. Peço desculpas por isto. Rezemos juntos para que, com a ajuda de Deus e dos cuidados médicos, eu possa estar entre vocês o quanto antes. Estamos confiantes!”

O adiamento foi anunciado pela Santa Sé na sexta-feira, 10 de junho.

“Aceitando o pedido dos médicos – declarou o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni – e para não comprometer os resultados das terapias no joelho ainda em andamento, o Santo Padre, com pesar, é obrigado a adiar a Viagem Apostólica à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul, prevista para realizar-se de 2 a 7 de julho, para uma nova data a ser definida.”

Audiência Geral: os idosos têm a sabedoria da vida

“O serviço alegre da fé que se aprende com gratidão” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira, 15 de junho, realizada na Praça São Pedro.

Dando continuidade ao tema da velhice, Francisco recordou o episódio da cura da sogra de Simão, que ainda não é chamado Pedro, na versão do Evangelho de Marcos.

Segundo Francisco, “a comunidade cristã deve tomar conta dos idosos: parentes, amigos e a comunidade. A visita aos idosos deve ser feita por muitos, juntos e com frequência. Especialmente hoje em dia, o número de idosos cresceu consideravelmente, também em proporção aos jovens, porque este inverno demográfico não faz filhos. E há muito mais idosos e poucos jovens. Devemos sentir a responsabilidade de visitar os idosos que muitas vezes estão sozinhos e apresentá-los ao Senhor com as nossas orações. A vida é preciosa”.

A seguir, o Papa retomou um tema repetido nas catequeses: “A cultura do desperdício parece cancelar os idosos. Sim, não os mata, mas os apaga socialmente, como se fossem um fardo a ser carregado: é melhor escondê-los.”

A sogra de Pedro, antes que os Apóstolos entendessem, ao longo do caminho de Jesus, mostrou-lhes também o caminho. E a especial delicadeza de Jesus, que lhe “tocou a mão” e “inclinou-se delicadamente” sobre ela, deixou claro, desde o início, a sua especial sensibilidade para com os frágeis e os doentes, que o Filho de Deus certamente tinha aprendido com a sua Mãe.

Pobres: “as ameaças recíprocas dos poderosos abafam o grito de paz da humanidade”

Pobres e “empobrecidos” pela “tempestade” da pandemia, indigentes, refugiados e deslocados pela guerra na Ucrânia, onde “a intervenção direta de uma ‘superpotência’” pretende “impor sua vontade contra o princípio da autodeterminação dos povos”. É a todos eles que o Papa Francisco dedica a sua Mensagem para o 6º Dia Mundial do Pobre, a ser celebrado a 13 de novembro.

Um longo documento no qual o Papa condena desde as primeiras linhas uma das principais causas da pobreza no nosso tempo: a guerra. Um “desastre”, escreve, que apareceu no horizonte pouco depois de “uma nesga de céu sereno” ter se aberto após a pandemia. Uma tragédia “destinada a impor ao mundo um cenário diferente”.

Quantos pobres gera a insensatez da guerra”, exclama Francisco. “Para onde quer que voltemos o olhar, constata-se como os mais atingidos pela violência sejam as pessoas indefesas e frágeis.”

Sobre a ajuda e acolhimento aos que fogem do conflito, o Pontífice diz que é preciso não desanimar. Com efeito, a solidariedade é precisamente isso: “partilhar o pouco que temos com quantos nada têm, para que ninguém sofra. Quanto mais cresce o sentido de comunidade e comunhão como estilo de vida, tanto mais se desenvolve a solidariedade”.

Como membros da sociedade civil, mantenhamos vivo o apelo aos valores da liberdade, responsabilidade, fraternidade e solidariedade; e, como cristãos, encontremos sempre na caridade, na fé e na esperança o fundamento do nosso ser e da nossa atividade”.

JM (com recursos jornalísticos do portal Vatican News)

Partilhe nas redes sociais!
15 de Junho de 2022