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A Palavra do Papa: a criação de pontes, o amor que sacia, a fragilidade da velhice e a festa das famílias

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O Papa Francisco esteve presente na abertura do X Encontro Mundial das Famílias. “Deixem-se transformar por Jesus, para que também vocês possam transformar o mundo e torná-lo «casa» para quem tem necessidade de ser acolhido, para quem precisa encontrar Cristo e sentir-se amado”, disse às famílias participantes.

Viver “conectados” é criar pontes, afirma Francisco aos paulinos

O Papa esteve em audiência com os membros da Sociedade de São Paulo (paulinos) que realizaram capítulo geral em Roma com o tema «Deixai-vos transformar mudando o vosso modo de pensar» (Rm 12,2).

Segundo o Pontífice, trata-se de um grande desafio para os paulinos, de modo especial, cujo carisma é a comunicação. Não é suficiente utilizar os meios de comunicação para propagar a Boa Nova, mas integrar esta mesma mensagem na nova cultura criada pela modernidade.

Depois dos primeiros tempos de “euforia” pelas novidades tecnológicas, há a consciência de que não basta viver “em rede” ou “conectados”, mas é preciso ver até que ponto a nossa comunicação, enriquecida pelo ambiente digital, efetivamente cria pontes e contribui para a construção da cultural do encontro.”

O modelo para os paulinos permanece sempre o Apóstolo, que não foi um “herói isolado”, mas sempre agia em colaboração com os seus companheiros. Este estilo de companheirismo deve inspirar também os membros da Congregação, disse Francisco, propondo duas palavras para a reflexão dos capitulares: sinodalidade e comunicação.

Angelus: Só Jesus pode saciar a nossa fome de amor

Diante de milhares de fiéis na Praça São Pedro, o Papa Francisco falou sobre a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, celebrada no domingo em Itália e noutros países. A Eucaristia, instituída na Última Ceia, foi como o ponto de chegada de um percurso, durante o qual Jesus a antecipou mediante alguns sinais, sobretudo a multiplicação dos pães.

Jesus cuida da multidão que o seguiu para ouvir a sua palavra e se libertar de vários males. Abençoa cinco pães e dois peixes, parte-os, os discípulos distribuem e todos «se saciaram». “Na Eucaristia, cada um pode experimentar esta amorosa e concreta atenção do Senhor. Quem recebe com fé o Corpo e o Sangue de Cristo não só come, mas sacia-se”, explicou o Papa, detendo-se sobre estes dois aspetos: comer e saciar-se.

“A nossa adoração eucarística tem a sua comprovação quando cuidamos do próximo, como faz Jesus: ao nosso redor há fome de alimento, mas também de companhia, de consolação, de amizade, de bom humor, de atenção, a nossa fome de evangelização. Isto encontramos no Pão eucarístico: a atenção de Cristo às nossas necessidades, e o convite a fazer o mesmo com quem está ao nosso lado. É preciso comer e dar de comer”, explicou Francisco.

Certamente precisamos de nos alimentar, acrescentou o Pontífice, mas também de nos saciar, ou seja, de saber que a nutrição nos é dada por amor.”

Antes de se despedir dos fiéis na Praça São Pedro, o Papa Francisco voltou a dirigir o seu pensamento à martirizada Ucrânia e à população que está a sofrer, pedindo à multidão que se interrogasse sobre o que está a fazer pela Ucrânia. Uniu ainda a sua oração aos bispos de Myanmar, país que continua em guerra interna, pedindo a atenção da comunidade internacional.

“Não nos esqueçamos da tragédia na Síria e dos cristãos no Médio Oriente”

O Papa Francisco recebeu em audiência, na segunda-feira, os membros do Sínodo da Igreja greco-melquita. Os greco-melquitas são católicos de rito bizantino cuja presença é forte no Médio Oriente.

A Igreja greco-melquita pediu para “celebrar a sua convocação anual em Roma, nos túmulos dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, dos muitos mártires que deram suas vidas por fidelidade ao Senhor Jesus”, explica o Papa.

Lembrou os cristãos que vivem na “amada e martirizada Síria”: “em mais de uma ocasião, encontrei e ouvi histórias de jovens sírios que vinham aqui, e fiquei impressionado com o drama que carregavam dentro de si, pelo que viveram e viram, mas também pelos seus olhares, quase sem esperança, incapazes de sonhar com um futuro para sua terra.”

Não podemos permitir que a última faísca de esperança seja tirada dos olhos e corações dos jovens e das famílias! Portanto, renovo o meu apelo a todos aqueles que têm responsabilidade, dentro do país e da comunidade internacional, para que seja alcançada uma solução equilibrada e justa para a tragédia na Síria”.

Mundo digital: “deve ser habitado por cristãos com formação adequada”

Como viver “A Igreja no mundo digital” (tradução livre de “La Chiesa nel digitale”)? Quem apresenta ferramentas e propostas para desmistificar esse caminho é Fabio Bolzetta, editor e presidente da Associação Italiana de Webmasters Católicos (WeCa), num livro produzido pela Editora Tau e com o encorajamento do Papa Francisco que escreveu o prefácio da obra – o primeiro guia prático para os católicos dentro da web.

O Papa faz menção no prefácio aos sacerdotes que, “com criatividade”, durante a pandemia “fizeram bom uso das tecnologias e das redes sociais” para manter o contato dos fiéis com a Palavra de Deus ao oferecer a possibilidade de assistir à missa ou mesmo envolvê-los em ações de caridade. Também existiram “erros e excessos”, comenta Francisco, “mas quando essas tentativas se concentraram na mensagem a ser comunicada, e não no protagonismo do comunicador, devemos reconhecer que foram úteis”.

Fala sobre a importância de uma formação adequada para se trabalhar com medias digitais dentro da Igreja, também devido “os riscos envolvidos no uso dessas ferramentas. Há muito a ser feito para aprender a ouvir; e para envolver e formar os jovens, nativos digitais, que sejam capazes de revitalizar os sites das paróquias”.

A web e as redes sociais podem ser habitadas por quem testemunha a beleza da fé cristã, por quem propõe histórias de fé e vivida pela caridade, por quem comunica com a linguagem de hoje a extraordinária novidade do Evangelho, e por quem escuta como os apóstolos e os discípulos aprenderam a fazer com Jesus.”

A contribuição deste livro, assim termina o prefácio do Papa, é valiosa para fazer crescer a consciência sobretudo dos mais jovens sobre o melhor uso do espaço virtual que não deve substituir, mas ajudar “as nossas relações sociais em carne e osso”.

Armas Nucleares: “respeitar acordos de desarmamento nuclear não é fraqueza, mas fonte de força”

Esta terça-feira, uma mensagem do Papa Francisco foi lida por D. Paul Richard Gallagher, Secretário Vaticano para as Relações com os Estados, na abertura da primeira reunião, em Viena, dos Estados membros do Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares.

O uso de armas nucleares é imoral, mas também a sua simples posse. É enganoso e autodestrutivo pensar que a segurança e a paz de alguns estão desconectadas da segurança e da paz dos outros”, afirmou.

No documento, Francisco destaca como a situação entrou em colapso nos últimos cinco anos, desde que a conferência diplomática foi convocada para negociar o Tratado: “O mundo – escreve ele – parece estar numa encruzilhada. A visão corajosa deste instrumento jurídico, fortemente inspirada em argumentos éticos e morais, aparece cada vez mais atual”.

O apelo, fortemente reiterado pelo Papa, é de “calar todas as armas e eliminar as causas dos conflitos através de um incansável recurso às negociações”. “Aqueles que fazem a guerra… esquecem a humanidade”, reitera.

O Santo Padre convida todos, cada um com o seu papel ou status, a cooperar “sinceramente” no esforço de “banir o medo e a expectativa ansiosa da guerra das mentes dos homens”. A responsabilidade é “a nível público, como Estados membros da mesma família de nações”, mas também “a nível pessoal, como indivíduos e membros da mesma família humana e como pessoas de boa vontade”.

Audiência Geral: testemunhar Cristo até mesmo na fragilidade da velhice

Na catequese sobre a velhice, na Audiência Geral desta quarta-feira, realizada na Praça São Pedro, o Papa Francisco meditou sobre o diálogo entre Jesus ressuscitado e Pedro, na conclusão do Evangelho de João. “É um diálogo comovente, do qual transparece todo o amor de Jesus pelos seus discípulos e também a sublime humanidade da sua relação com eles, em particular com Pedro: uma relação terna, mas não insípida, direta, forte, livre e aberta. Uma relação de homens na verdade.”

“Durante o debate de Jesus com Pedro, encontramos duas passagens que tratam da velhice e da duração do tempo: o tempo do testemunho e o tempo da vida.” Jesus adverte a Pedro: quando tu eras jovem, eras autossuficiente, quando ficaste velho já não serás tão senhor de ti mesmo e da tua vida”, disse o Papa, sublinhando que agora está a andar de “cadeira de rodas”!

Mas é assim, a vida é assim: com a velhice chegam todas essas doenças e nós temos que aceitá-las como elas vêm, certo? Não temos a força dos jovens! E até o seu testemunho, diz Jesus, será acompanhado por esta debilidade.”

Deve ser testemunha de Jesus mesmo na fraqueza, na doença e na morte. Há uma bela passagem de Santo Inácio de Loyola que diz: “Assim como na vida, também na morte devemos dar testemunho de discípulos de Jesus.” O fim da vida deve ser o fim da vida de discípulos: de discípulos de Jesus que nos fala sempre de acordo com a idade que temos.

O Papa ressaltou que “gosta de falar com os idosos olhando-os nos olhos: eles têm aqueles olhos brilhantes, aqueles olhos que falam mais do que as palavras, o testemunho de uma vida. E isso é bonito, temos de conservá-lo até ao fim. Seguir Jesus assim, cheios de vida”.

O Papa convidou a olhar e ouvir os idosos, e “ajudá-los para que possam viver e expressar a sua sabedoria de vida, que possam dar-nos o que eles têm de bonito e bom”.

Famílias: “vivam com os olhos voltados para o Céu”

O 10° Encontro Mundial das Famílias foi aberto, na tarde desta quarta-feira, com o Festival das Famílias, na Sala Paulo VI, no Vaticano.

O Pontífice iniciou o seu discurso, recordando os “acontecimentos que transtornaram as nossas vidas nos últimos tempos: primeiro, a pandemia e, agora, a guerra na Europa, que se juntou às outras guerras que afligem a família humana”. O Papa agradeceu ao cardeal Farrell, ao cardeal Donatis e a todos os colaboradores tanto do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida quanto da Diocese de Roma, cuja dedicação tornou possível este encontro.

A seguir, Francisco agradeceu a todas as famílias presentes que vieram de várias partes do mundo, de modo particular as famílias que deram o seu testemunho: “Obrigado, de coração! Não é fácil falar a um público tão amplo acerca da própria vida, das dificuldades ou dos dons maravilhosos, mas íntimos e pessoais, que vocês receberam do Senhor. Os seus testemunhos serviram de «amplificadores»: deram voz à experiência de muitas outras famílias no mundo que, como vocês, vivem as mesmas alegrias, inquietações, tribulações e esperanças.”

Depois, o Papa dirigiu-se às famílias presentes na Sala Paulo VI e aos casais e famílias do mundo, fazendo-lhes sentir a sua proximidade onde quer que se encontrem e na sua condição concreta de vida. Convidou os participantes a tentarem caminhar juntos, “juntos como esposos, juntos na sua família, juntos com as outras famílias, juntos com a Igreja”.

“Queridos amigos, cada uma das suas famílias têm uma missão a cumprir no mundo, um testemunho a dar. De modo particular nós, os batizados, somos chamados a ser «uma mensagem que o Espírito Santo extrai da riqueza de Jesus Cristo e dá ao seu povo». Deixem-se transformar por Ele, para que também vocês possam transformar o mundo e torná-lo «casa» para quem tem necessidade de ser acolhido, para quem precisa encontrar Cristo e sentir-se amado. Devemos viver com os olhos voltados para o Céu; como diziam os Beatos Maria e Luigi Beltrame Quattrocchi aos seus filhos, ao enfrentar as canseiras e as alegrias da vida, «olhemos sempre do telhado para cima»”, finalizou Francisco.

JM (com recursos jornalísticos do portal Vatican News)

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22 de Junho de 2022