comprehensive-camels

A Palavra do Papa: a beleza da família, a perseverança cristã, uma Igreja Aberta e os mestres da ternuna

20220701-a-palavra-do-papa

Nos últimos dias e antes da habitual pausa para férias, o Papa encerrou o 10º Encontro Mundial das Famílias, abençoou o pálio dos novos arcebispos metropolitas e publicou a carta apostólica “Desiderio desideravi” com o intuito de redescobrir a beleza da Liturgia.

Defender a beleza da família

Na tarde de sábado, 25 de junho, o Papa Francisco voltou a encontrar-se com as famílias na Missa de encerramento do X Encontro Mundial, celebrada na Praça São Pedro e presidida pelo prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, cardeal Kevin Farrel. Após passar de papamóvel entre os presentes, Francisco dirigiu-se ao adro da Basílica, sentando-se à direita do altar. A homilia, no entanto, foi lida pelo Santo Padre.

O Papa lembrou os momentos do Encontro Mundial, fazendo referência à “riqueza de experiências, propósitos, sonhos, como não faltaram também as preocupações e as incertezas”.

“Agora apresentamos tudo ao Senhor e pedimos-Lhe que vos sustente com a sua força e o seu amor. Sois pais, mães, filhos, avós, tios; sois adultos, crianças, jovens, idosos; cada qual com uma experiência diversa de família, mas todos com a mesma esperança feita oração: Que Deus abençoe e guarde as vossas famílias e todas as famílias do mundo”, acrescentou.

Todos vós, esposos, ao formar a vossa família, com a graça de Cristo fizestes esta corajosa opção: não usar a vossa liberdade para proveito próprio, mas para amar as pessoas que Deus colocou junto de vós. Em vez de viver como «ilhas», fizestes-vos «servos uns dos outros». Assim se vive a liberdade em família!”

A família – sublinhou o Papa – é o lugar do encontro, da partilha, da saída de si mesmo para acolher o outro e estar junto dele. É o primeiro lugar onde se aprende a amar. Não deixemos que seja poluída pelos venenos do egoísmo, do individualismo, da cultura da indiferença e do descarte, perdendo assim o seu ADN que é o acolhimento e o espírito de serviço.

O amor que viveis entre vós seja sempre aberto, comunicativo, – finalizou o Papa – capaz de «tocar com a mão» os mais frágeis e os feridos que encontrardes pelo caminho: frágeis no corpo e frágeis na alma. De facto, é quando se dá que o amor, incluindo o amor familiar, se purifica e fortalece.

Angelus: perseverar no bem, mesmo diante das contrariedades

“Com a ajuda da Virgem Maria, tomar a firme decisão de Jesus de permanecer no amor até o fim, de não sermos vingativos e intolerantes quando surgem dificuldades”: este foi o pedido do Papa Francisco antes de rezar o Angelus no 13º Domingo do Tempo Comum, dirigido aos milhares de fiéis e turistas reunidos na Praça São Pedro.

A inspirar a sua reflexão, a passagem do Evangelho do dia onde Lucas fala da decisão de Jesus de partir para Jerusalém, naquela que seria a sua última viagem. Motivo pelo qual, era necessária uma decisão firme, determinada.

Ao contrário do que pensam os discípulos, “cheios de entusiasmo ainda demasiado mundano”, Jesus sabe que é rejeição e morte que o esperam em Jerusalém”:

Ele sabe que terá que sofrer muito; e isso requer uma firme decisão. É a mesma que devemos tomar também nós, se quisermos ser discípulos de Jesus. Porque devemos ser discípulos de Jesus com seriedade, com decisão verdadeira, não como dizia uma idosa que conheci: “cristãos em água de rosas”. Não, não, não! Cristãos decididos Em que consiste essa decisão?”

E é precisamente o episódio que o evangelista Lucas narra logo em seguida, que nos ajuda a compreender isso.

De facto, um povoado de samaritanos não acolheu Jesus, pois soube que ele se dirigia a Jerusalém, uma cidade adversária. Os apóstolos Tiago e João ficam indignados e sugerem que Jesus castigue aquelas pessoas fazendo descer fogo do céu, mas Jesus não aceita:

Jesus, ao contrário, segue outro caminho, não o caminho da raiva, mas aquele da firme decisão de seguir em frente, que, longe de se traduzir em dureza, implica calma, paciência, longanimidade, sem, no entanto, afrouxar minimamente o compromisso de fazer o bem. Este modo de ser não denota fraqueza, mas, ao contrário, uma grande força interior.”

“Peçamos então a Jesus a força de ser como Ele, de segui-lo com firme decisão neste caminho de serviço. De não ser vingativos, de não ser intolerantes quando surgem dificuldades, quando nos gastamos pelo bem e os outros não entendem isso, antes ainda, quando nos desqualificam. Não: silêncio e em frente”, concluiu.

Papa: as novas comunidades devem crescer com sua própria cultura

Na manhã de segunda-feira (27 de junho), o Papa Francisco recebeu os membros do Caminho Neocatecumenal no Vaticano. O Papa iniciou recordando aos presentes a missão que Jesus deu a todos: “‘Ide, dai testemunho, pregai o Evangelho’. E a partir daquele dia, os apóstolos, os discípulos, o povo, todos partiram com a mesma força que Jesus lhes havia dado: é a força que vem do Espírito. ‘Ide e pregai… Batizem…’”.

Mas sabemos que, uma vez batizada, a comunidade nascida desse batismo é livre, é uma nova Igreja; e devemos deixá-la crescer, ajudá-la a crescer à sua maneira, com a sua própria cultura… É essa a história da evangelização.”

“E este trabalho, esta riqueza multicultural do Evangelho – continuou Francisco – que nasce da pregação de Jesus Cristo e se torna cultura, é um pouco a história da Igreja: muitas culturas, mas o mesmo Evangelho. Tantos povos, o mesmo Jesus Cristo. Tantas boas vontades, o mesmo Espírito. E a isso somos chamados: a ir adiante com o poder do Espírito, levando o Evangelho nos nossos corações e nas nossas mãos.”

“Este espírito missionário – disse ainda Francisco aos Neocatecumenais – de se deixar enviar, é uma inspiração para todos vocês. Agradeço-vos por isto e peço docilidade ao Espírito que vos envia, docilidade e obediência a Jesus Cristo na sua Igreja. Tudo na Igreja, nada fora da Igreja. Esta é a espiritualidade que deve sempre nos acompanhar: pregar Jesus Cristo com a força do Espírito na Igreja e com a Igreja.”

Com Pedro e Paulo, ser uma Igreja aberta a todos, livre e humilde

Pedro, Paulo e a sinodalidade: assim foi a homilia pronunciada pelo Papa Francisco no dia 29 de junho, Solenidade dos Santos Apóstolos.

Na Basílica Vaticana, pontífice abençoou os pálios destinados aos arcebispos metropolitanos de recente nomeação, entre eles D. José Cordeiro, novo Arcebispo de Braga. A celebração foi presidida pelo Papa, que contudo não conduziu a liturgia eucarística devido ao problema no joelho.

Na sua homilia, comentou as leituras que oferecem o testemunho dos dois grandes Apóstolos, condensado em duas frases: “Ergue-te depressa” (At 12, 7) no que diz respeito a Pedro; e “combati a boa batalha” (2 Tm 4, 7) em referência a Paulo. Tendo diante dos olhos estes dois aspetos – convidou o Papa –, perguntemo-nos que podem eles sugerir à Comunidade Cristã de hoje, empenhada no processo sinodal em curso.

Despertar e erguer-se: é uma imagem significativa para a Igreja, disse o Papa. Também nós somos chamados a erguer-nos depressa para entrar no dinamismo da ressurreição e deixar-nos conduzir pelo Senhor ao longo dos caminhos que Ele nos quiser indicar.”

Francisco alertou para a mediocridade espiritual, quando às vezes a Igreja é dominada pela preguiça ao invés de se lançar para horizontes novos, citando algumas expressões do Padre Henri de Lubac, que falava de “cristianismo clerical”, “cristianismo formalista”, “cristianismo mortiço e endurecido”.

A proposta do futuro Sínodo é exatamente o contrário, afirmou Francisco, que chama a ser uma Igreja que se ergue em pé, não dobrada sobre si mesma, mas capaz de olhar mais além, de sair das suas prisões para ir ao encontro do mundo. Uma Igreja sem correntes nem muros, livre e humilde. Uma Igreja que se deixa animar pela paixão do anúncio do Evangelho e pelo desejo de chegar a todos, e a todos acolher. O Pontífice ressaltou este termo de Jesus: “todos”, pedindo que a Igreja esteja nas encruzilhadas do mundo, pronta a acolher a todos, pecadores ou não. As portas são para acolher e não para “dispensar” os fiéis.

“Esta palavra do Senhor deve ressoar, ressoar na mente e no coração: todos! Na Igreja há lugar para todos. E muitas vezes nós nos tornamos uma Igreja de portas abertas, mas para dispensar as pessoas, para condená-las.”

Angelus: o caminho da fé passa por momentos de provação

Nesta quarta-feira, 29 de junho, Solenidade dos Santos Pedro e Paulo Padroeiros de Roma, o Papa Francisco falou no Angelus sobre as palavras que Pedro dirige a Jesus na sua profissão de fé.

“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Francisco afirma que “é uma profissão de fé, que Pedro pronuncia não com base na sua compreensão humana, mas porque Deus Pai a inspirou nele. E que para que estas palavras entrem profundamente na sua vida, há antes um período de “aprendizagem” da fé, que afetou os apóstolos Pedro e Paulo, assim como acontece com cada um de nós. Explicando:

Nós também acreditamos que Jesus é o Messias, o Filho do Deus vivo, mas é preciso tempo, paciência e muita humildade para que a nossa maneira de pensar e agir adira plenamente ao Evangelho.”

O Papa afirma que Pedro logo sentiu isso porque após Jesus ter anunciado que iria sofrer e ser condenado à morte Pedro rejeita esta perspetiva, que considera incompatível com o Messias.

“Pensemos nisso: não nos acontece a mesma coisa? Repetimos o Credo, o rezamos com fé; mas diante das duras provações da vida, tudo parece vacilar. Estamos inclinados a protestar contra o Senhor, dizendo-lhe que não está certo, que deve haver outros caminhos mais retos e menos cansativos.”

“O caminho da fé não é um passeio, nem para Pedro nem para Paulo, para nenhum cristão. É exigente, às vezes árduo: mesmo Paulo, tendo se tornado cristão, teve que aprender pouco a pouco, especialmente através de momentos de provação.”

Desiderio desideravi: “Chega de polémicas sobre a liturgia, redescubramos sua beleza”

Com “Desiderio desideravi”, a Carta Apostólica ao Povo de Deus, Francisco convida a superar quer o esteticismo que se compraz somente na formalidade externa, como o desleixo nas liturgias: “Uma celebração que não evangeliza e não é autêntica”.

Uma Carta Apostólica ao povo de Deus sobre a liturgia, para recordar o significado profundo da celebração eucarística tal como emergiu do Concílio e para convidar à formação litúrgica. O Papa Francisco publica “Desiderio desideravi”, que com os seus 65 parágrafos reelabora os resultados da sessão plenária do Dicastério do Culto Divino em fevereiro de 2019 e segue o Motu Proprio “Traditionis custodes”, reafirmando a importância da comunhão eclesial em torno do rito resultante da reforma liturgia pós-conciliar.

Não se trata de uma nova instrução ou de um diretório com normas específicas, mas sim de uma meditação para compreender a beleza da celebração litúrgica e o seu papel no evangelizar. E é concluída com um apelo: “Abandonemos as polémicas para ouvirmos juntos o que o Espírito diz à Igreja, mantenhamos a comunhão, continuemos a nos maravilhar com a beleza da liturgia”.

A fé cristã, escreve Francisco, ou é encontro com Jesus vivo ou não é. E “a Liturgia garante-nos a possibilidade de tal encontro. Não precisamos de uma vaga recordação da Última Ceia: temos necessidade de estar presentes nessa Ceia”.

O Papa acrescenta: “Gostaria que a beleza do celebrar cristão e das suas necessárias consequências na vida da Igreja, não fosse deturpada por uma superficial e redutiva compreensão do seu valor ou, pior ainda, de sua instrumentalização a serviço de alguma visão ideológica, seja ela qual for”.

É importante, explica ainda o Papa, educar para a compreensão dos símbolos, cada vez mais difícil para o homem moderno. Uma maneira de fazer isso “é certamente aquele de cuidar da arte de celebrar”, que “não pode ser reduzida à mera observância de um aparato de rubricas e nem mesmo pode ser pensada como uma criatividade imaginativa – às vezes selvagem – sem regras. O rito é por si só norma e a norma nunca é um fim em si mesma, mas sempre a serviço da realidade mais elevada que ela quer salvaguardar”.

Francisco observa então, que nas comunidades cristãs, o seu modo de viver a celebração “está condicionado – no bem e, infelizmente, também no mal – de como o pároco preside a assembleia”. E elenca vários “modelos” de presidência inadequados, ainda que de sinal contrário: “rigidez austera ou criatividade exasperada; misticismo espiritualizante ou funcionalismo prático; pressa ou lentidão enfatizada; descuido desleixado ou excessivo refinamento; afabilidade superabundante ou impassividade hierática”. Todos os modelos que têm uma única raiz: “um personalismo exasperado do estilo celebrativo que, às vezes, expressa uma mania mal disfarçada de liderança”.

O Papa conclui a carta pedindo a “todos os bispos, presbíteros e diáconos, aos formadores dos seminários, professores de faculdades teológicas e escolas de teologia, a todos os catequistas, que ajudem o povo santo de Deus a aproveitar o que sempre foi a fonte primária de espiritualidade cristã “, reiterando o que está estabelecido em “Traditionis custodes”, para que ” a Igreja possa elevar, na variedade das línguas, uma só e idêntica oração capaz de exprimir a sua unidade” e esta única oração é o Rito Romano resultante da reforma conciliar e estabelecido pelos santos pontífices Paulo VI e João Paulo II.

Vídeo do Papa: rezemos pelos idosos, mestres da ternura no meio de um mundo habituado à guerra

No vídeo de intenção de oração que Francisco confia a toda a Igreja para este mês de julho, o convite para rezar pelos idosos, para que a experiência e a sabedoria deles ajudem os jovens a olhar para o futuro com esperança.

“Não podemos falar da família sem falar da importância que os idosos têm entre nós”: assim Francisco começa “O Vídeo do Papa” de julho com a intenção de oração que Francisco confia a toda a Igreja Católica através da Rede Mundial de Oração do Papa.

Neste mês, e falando em primeira pessoa, o Pontífice pede para rezarmos especialmente pelos idosos, uma geração numerosa:

Nunca fomos tão numerosos na história da humanidade, mas não sabemos como viver esta nova etapa da vida: para a velhice há muitos planos de assistência, mas poucos projetos de vida. Os mais velhos têm frequentemente uma sensibilidade especial para o cuidado, para a reflexão e o afeto. Somos, ou podemos nos tornar, mestres da ternura. E quanto! Precisamos, neste mundo habituado à guerra, de uma verdadeira revolução da ternura.”

E num contexto de um mundo com muitas feridas, Francisco volta a destacar o papel fundamental da geração mais velha:

“Rezemos pelos idosos, para que se tornem mestres da ternura, para que a sua experiência e sabedoria ajudem os mais jovens a olhar para o futuro com esperança e responsabilidade.”

JM (com recursos jornalísticos do portal Vatican News)

Partilhe nas redes sociais!
01 de Julho de 2022